"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 30, 2011

NO DIA DO TRABALHADOR, A FESTA DOS PELEGOS DE POLÍTICOS "TRABALHISTAS".

Houve tempo em que dirigentes sindicais responsáveis faziam do dia 1.º de maio um momento de reflexão sobre os problemas que atormentavam os trabalhadores.
Em muitos países, a data foi transformada no Dia do Trabalhador para homenagear aqueles que dedicaram a vida à defesa dos direitos de seus parceiros de trabalho.

Nos últimos anos, porém, as centrais sindicais brasileiras transformaram o Dia do Trabalhador num pretexto para festas e discursos demagógicos, desvirtuando seu significado original.


Dinheiro para festejar não lhes falta.
Além da generosa fatia a que têm direito na partilha do dinheiro extraído anualmente do bolso dos trabalhadores na forma de imposto sindical, o que lhes garante mais de R$ 100 milhões por ano, as centrais obtiveram patrocínio de empresas estatais e de algumas companhias privadas para realizar sua festança deste domingo.


Estima-se que as duas grandes festas das centrais sindicais em São Paulo - uma liderada pela Força Sindical, com o apoio de outras quatro entidades, outra preparada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) - custarão R$ 5 milhões.

Alguns artistas renomados, outros nem tanto, políticos e sindicalistas se apresentarão para cerca de 2 milhões de pessoas, atraídas não para discutir as grandes questões que afetam o mercado de trabalho e angustiam os trabalhadores, mas para ver seus artistas prediletos e concorrer a prêmios valiosos, como 20 automóveis novos.

Seria muito bom se a realidade justificasse tanta festa.
As condições de trabalho e de vida no Brasil e no mundo mudaram radicalmente em relação àquelas que prevaleciam no fim do século 19, quando a data foi escolhida para homenagear os trabalhadores.
E continuam a mudar para melhor. Mas problemas novos surgiram.


Nos últimos anos, o avanço da tecnologia na indústria e no setor de serviços e a internacionalização das atividades econômicas e financeiras impuseram mudanças profundas nas relações do trabalho, num processo de desregulamentação que enfraqueceu os vínculos formais entre empregador e empregado.

Com muito raras exceções, os líderes sindicais não entenderam as transformações no mundo do trabalho, no exterior e no Brasil.
Continuam presos a velhas palavras de ordem, que repetem como se quisessem ter a sensação do cumprimento de seu dever.

Há dias, os dirigentes das centrais sindicais apresentaram ao presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), a lista do que consideram prioritário. Os pontos são velhos conhecidos:
redução da jornada de trabalho, eliminação do fator previdenciário e regulamentação do trabalho terceirizado.


Nada disseram sobre problemas graves do mercado de trabalho, que não lhes parecem causar preocupação. Alguns são tão antigos como o Brasil e outros são bastante recentes.
Mas as lideranças sindicais parecem alheias às mudanças que ocorreram diante de seus narizes.


Pretendendo representar os trabalhadores em nome dos quais dizem atuar, na realidade as centrais representam, no máximo, metade dos brasileiros que vivem de seu trabalho.
Dados recentes mostram que a informalidade no mercado de trabalho vem diminuindo, mas, ainda hoje, 51,5% das pessoas que vivem de seu trabalho não têm registro em carteira.
Não contam com nenhum direito trabalhista e, por omissão dos sindicatos, não têm direito nem mesmo à sindicalização.


Os que mais precisam de apoio dos sindicatos são por estes inteiramente ignorados, como mostra o fato de terem sido surpreendidos pela recente onda de revoltas nos canteiros de obras de usinas hidrelétricas.
Não sabiam o que ocorria em algumas das maiores aglomerações de trabalhadores do País.


Além disso, eles nada têm feito para treinar os trabalhadores de suas bases para as novas demandas do mercado de trabalho. Há empregos, mas é cada vez maior a falta de trabalhadores qualificados para ocupá-los.

É preciso preparar os trabalhadores, mas, para os sindicatos, esse não é problema deles, como não são muitos outros. Por isso, a festa de Primeiro de Maio deixou de ser a festa dos trabalhadores para virar a festa das lideranças sindicais.

- O Estado de S.Paulo

abril 29, 2011

A INCÓGNITA DOS AEROPORTOS.


Ninguém sabe ao certo o que esperar da proposta do governo de privatizar os aeroportos do país. A intenção - correta - foi anunciada pelo ministro-chefe da Casa Civil numa sessão solene, a primeira reunião do Conselhão, ocorrida anteontem.

Mas os detalhes, onde o diabo se esconde, só serão conhecidos nas próximas semanas ou meses. O modelo pode demorar mais do que o desejável para sair e pode, também, resultar em um monstrengo em que ao contribuinte restará pagar a conta.
Possivelmente, a privatização dos terminais magnetizará a atenção da opinião pública nos próximos meses.

O assunto interessa à classe média que hoje pena nos nossos caóticos aeroportos. Interessa a companhias e empresas atraídas por negócios bilionários. Interessa ao governo, doido para se livrar do ônus dos atrasos e da má organização que hoje impera no setor sob a égide da Infraero, mastodonte de 20 mil funcionários.


O foco atual recai em especular qual, ou quais, sistema será adotado pelo governo Dilma Rousseff. Por ora, conhece-se apenas o elogiável propósito de fazer as concessões, que, especula-se, podem vir por meio de distintos modelos de exploração.

Mas desconfia-se que o PT, viciado por décadas de cacoete antiprivatista, claramente não saiba como agir. Aí é que mora o perigo: o governo tende a improvisar onde não cabe.
Uma empreitada desta envergadura destina-se a ser um marco na evolução econômica do país.

Como aconteceu, por exemplo, nas comunicações. O governo de Fernando Henrique Cardoso percebeu a exaustão do decadente modelo estatal e partiu para enfrentar o desafio de alterá-lo.
Diante da constatação, montou um arcabouço legal abrangente e criterioso.

Tudo foi feito com metas de qualidade e atendimento, incumbências aos investidores. O resultado foi uma verdadeira revolução, não só no setor como na economia como um todo. Onde estaríamos hoje sem celulares e internet - cuja expansão o governo federal agora quer novamente avocar para si, mas cuja implementação foi, mais uma vez, adiada ontem?


A mudança no setor aéreo exige fôlego semelhante. É preciso instituir-se um marco legal que exprima regras claras e estáveis para que o investimento venha, mas, principalmente, para que o usuário tenha seus direitos respeitados na forma de atendimento de qualidade.

Mas, na pressa com que se vê obrigado a agir, o governo federal poderá acabar atendendo um dos interesses, mas relegando o outro.
Por ora não se sabe, por exemplo, se as concessões abrangerão somente a construção de terminais de passageiros ou também pistas e áreas de estacionamento.

Não se sabe se irão estender-se às estruturas já existentes nos aeroportos ou apenas às novas expansões. Sabe-se apenas que agora o governo quer fazer tudo rápido, para tentar remediar a lambança das deficiências que já existem e de atrasos que se avizinham.


Não foi por falta de aviso que os problemas nos aeroportos vicejaram. A oposição sempre defendeu a exploração privada como melhor alternativa para o bom funcionamento dos terminais aéreos do país. Disse isso com todas as letras na campanha eleitoral do ano passado.

O mesmo PT que então achincalhou a proposta apresentada agora a acolhe. Fosse honesto, pediria desculpas aos eleitores que enganou.
Resta a dúvida de como o cristão novo se comportará na missa. Premido pela pressa, o governo tende a lançar mão de remendos.

Em lugar de terminais duradouros, os puxadinhos, como preveem os planos atuais da Infraero. Na mais provável das hipóteses, o custo irá às alturas: quando se paga com urgência, como na situação à qual a inércia e os dogmas do PT nos conduziram, o preço sai bem mais caro.


O governo promete soltar os editais referentes às concessões dos cinco principais aeroportos brasileiros - Cumbica (SP), JK (DF), Confins (MG), Viracopos (SP) e Galeão (RJ) - até julho. Pelo grau de improviso que se viu até hoje, pode ser que não consiga: em São Gonçalo do Amarante (RN), primeiro aeroporto concedido à iniciativa privada no país, a Casa Civil levou seis meses para publicar o decreto com o modelo a ser adotado, primeiro passo do cronograma; até hoje a licitação ainda não saiu.

É bom ficar atento ao que o governo federal fará doravante. Bem administrados, aeroportos tendem a ser excelente negócio - só a exploração comercial das instalações já produz receita de monta para as empresas que os operam.

O risco maior é o filé ir para as empresas e o osso sobrar na mão do Estado, que, a depender do arcabouço montado, ainda pode arcar com custos de obras, manutenção e melhoramentos em vários aeroportos.

De boas de intenções, o inferno está cheio.


Fonte: ITV

SETOR PÚBLICO : GASTO COM JURO SOMA R$ 58,9 bi NO 1º TRIMESTRE


O setor público registrou em março gasto com juros de R$ 20,549 bilhões, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira, 29, pelo Banco Central.
O governo central teve, no período, despesa de R$ 13,645 bilhões;
os governos regionais, de R$ 6,487 bilhões,
e as empresas estatais, de R$ 417 milhões.

No primeiro trimestre de 2011, a despesa com juros do setor público somou R$ 58,945 bilhões, o equivalente a 6,30% do PIB.

Mais uma vez, o governo central se destaca, com gastos de R$ 40,876 bilhões (4,37% do PIB), seguido dos governos regionais, com R$ 17,072 bilhões (1,83% do PIB) e das estatais, com R$ 996 milhões (0,11% do PIB).

Nos 12 meses encerrados em março, a conta de juros do setor público registra gasto de R$ 208,913 bilhões, o correspondente a 5,53% do PIB.

Até fevereiro, o saldo em 12 meses era de R$ 205,373 bilhões (5,50% do PIB).
O governo central teve nos 12 meses terminados em março gasto de R$ 134,778 bilhões (3,57% do PIB),
os governos regionais, de R$ 71,182 bilhões (1,89% do PIB),
e as estatais, de R$ 2,953 bilhões (0,08% do PIB).

Célia Froufe e Fabio Graner/Agência Estado

IGP-M DE ABRIL SOBE 0,45%.

Quem for renegociar o contrato de locação de imóveis nos próximos meses deve preparar o bolso. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços — Mercado
(IGP-M) em abril subiu 0,45%, segundo os dados divulgados ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Nos últimos 12 meses, o indicador acumula avanço de 10,60%, patamar considerado alto para os segmentos que utilizam o parâmetro em suas negociações.
Embora tenha desacelerado em relação aos 0,62% registrados em março, o índice totaliza alta de 2,90% no ano.

O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) apresentou taxa de variação de 0,29% em abril de 2011.
No mês anterior, a taxa foi de 0,65%.
O índice relativo aos Bens Finais variou 0,71%, em abril.

Em março, este grupo de produtos mostrou variação de 0,77%.
Contribuiu para a desaceleração o subgrupo alimentos in natura, cuja taxa de variação passou de 7,37% para 4,68%.
Excluindo-se os subgrupos alimentos in natura e combustíveis, o índice de Bens Finais (ex) registrou variação de 0,24%.
Em março, a taxa foi de 0,10%.


O índice referente ao grupo Bens Intermediários variou 0,58%.
Em março, a taxa foi de 0,57%.
O subgrupo materiais e componentes para a manufatura registrou acréscimo em sua taxa de variação, que passou de 0,56% para 0,79%, sendo o principal responsável pela aceleração do grupo.

No estágio inicial da produção, o índice de Matérias-Primas Brutas variou -0,57%, em abril.
Em março, o índice registrou variação de 0,61%.
Os principais responsáveis pela desaceleração do grupo foram os itens:
algodão (em caroço) (8,81% para -3,96%),
laranja (5,00% para -13,65%)
e café (em grão) (11,58% para 2,39%).

Ao mesmo tempo, registraram-se acelerações em itens como:
soja (em grão) (-6,20% para -2,85%),
suínos (-9,73% para 7,89%)
e cana-de-açúcar (1,25% para 3,88%).


O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) apresentou variação de 0,78%, em abril de 2011. Em março, a variação foi de 0,62%.
Cinco dos sete grupos componentes do índice registraram acréscimos em suas taxas de variação, com destaque para Transportes (1,15% para 1,75%).

As principais influências partiram dos itens:
gasolina (0,89% para 4,32%)
e álcool combustível (6,73% para 13,45%).


Também apresentaram avanços em suas taxas de variação os grupos:
Alimentação (0,69% para 0,87%),
Vestuário (0,78% para 1,02%),
Saúde e Cuidados Pessoais (0,62% para 0,86%)
e Educação, Leitura e Recreação (0,18% para 0,39%).

Nestes grupos, os destaques foram:
carnes bovinas (-2,47% para 0,08%),
calçados (0,07% para 1,20%),
medicamentos em geral (0,33% para 1,56%)
e passagem aérea (-9,28% para 2,64%), respectivamente.


Em sentido oposto, apresentaram decréscimos em suas taxas de variação os grupos:
Habitação (0,47% para 0,37%)
e Despesas Diversas (0,49% para 0,45%).

Nestas classes de despesa, vale destacar o comportamento dos preços dos itens: aluguel residencial (0,75% para 0,08%)
e mensalidade para TV por assinatura (0,19% para -0,15%), respectivamente.


O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrou, em abril de 2011, variação de 0,75%, acima do resultado de março, de 0,44%.
Dos três grupos componentes do índice, apenas Mão de Obra apresentou aceleração, tendo a taxa avançado de 0,27%, em março, para 1,16%, em abril.

Em sentido inverso, a taxa do grupo Materiais e Equipamentos passou de 0,64% para 0,40%, enquanto o grupo Serviços recuou de 0,46% para 0,21%.



Cálculo
Com o reajuste atrelado ao IGP-M, um imóvel alugado por R$ 1 mil até abril passa a custar R$ 1.106 a partir de de maio e pelos próximos 11 meses.
Se o aluguel era, por exemplo, de R$ 800, passará a valer R$ 884,80.


De acordo com o Secovi-SP (sindicato da Habitação), uma forma simples de realizar o cálculo é a utilização do fator de reajuste que, multiplicado pelo valor de locação vigente, indicará o valor do novo aluguel.


Para contratos com aniversário em abril e pagamento em maio, considera-se 1,1095 como fator, como pode ser observado na tabela abaixo:



Reajuste de contratos
AniversárioPagamentoFator
JaneiroFevereiro1,1132
FevereiroMarço1,1150
MarçoAbril1,1130
AbrilMaio1,1095
MaioJunho1,1060




Correio e Gestor Imobiliário

abril 28, 2011

DOIS MANDATOS DE MUITA CACHAÇA, APADRINHAMENTO, APARELHAMENTO, EMPREGUISMO CLIENTELISTA, PARTIDARIZAÇÃO. ENFIM, ASSENHOREAMENTO.ACABOU? NÃO!

O grande crescimento do contingente do funcionalismo público é uma das marcas dos dois mandatos de Lula.
Em servidores concursados, houve 115 mil admissões, elevando o quadro total para a faixa do milhão de pessoas.
Uma das justificativas foi a substituição de empregados terceirizados.


Mas, a julgar pela evolução de despesas com este tipo de prestação de serviços, aconteceu o oposto:
por exemplo, apenas com terceirizados contratados para o trabalho de copa e cozinha, nestes oito anos, o gasto subiu 245% acima da inflação.

As cifras em valores absolutos não são grandes dentro de um Orçamento contabilizado às centenas de bilhões, mas o percentual é sugestivo e coerente com uma política de rápida e desbragada expansão de gastos com pessoal.

O inchaço foi em todas as máquinas burocráticas dos três poderes.
Enquanto em 2002 a folha de salários dos servidores foi de R$75 bilhões, no ano passado atingiu a R$184 bilhões, mais de 80% de crescimento real.

Outra justificativa:
ampliação e melhoria dos serviços públicos.

Não se tem notícia nem de uma, nem de outra.
A oferta de serviços continua deficiente, assim como a qualidade.

Há informações de ampliação de quadros em áreas de fato vitais, como a Educação - escolas técnicas e universidades federais - e Saúde.

Mas, principalmente neste último setor, o governo continua deficiente, enquanto volta e meia há quem insista com a volta da CPMF, como se o problema pudesse ser resolvido pela injeção de mais dinheiro do contribuinte numa estrutura mal gerenciada, regida por normas esclerosadas e inspiradas no corporativismo.


Outra válvula da gastança com pessoal são os chamados "cargos de confiança", preenchidos, em geral, por apadrinhamentos, vínculos pessoais e/ou ideológicos e políticos.
Eram 18 mil em 2002, aproximavam-se dos 22 mil no final da Era Lula.
A estatística fornece a medida do aparelhamento, em alguns casos, e da conversão de áreas do governo em cabides de emprego a serviço do clientelismo, em outros.

Da equipe da Pasta do Desenvolvimento Agrário, convertida em capitania hereditária de "movimentos sociais", 63% são de servidores comissionados, nomeados sem concurso, numa canetada, ou 330 pessoas com remuneração quase sempre superior à dos funcionários de carreira.


No Ministério da Pesca, outro bunker companheiro, os cargos ditos de confiança são quase 60% do quadro total de 602 pessoas.

Em Minas e Energia, sob influência de José Sarney, os postos comissionados são 68% do total de cargos da Pasta.

Esta é outra faceta da má administração de pessoal e despesas nestes últimos oito anos.

Não houve preocupação com a qualidade do atendimento às demandas da sociedade, em todos os campos, e bilhões serviram para consolidar alianças político-eleitorais com corporações sindicais do funcionalismo, além de partidarizar ministérios e órgãos subordinados.

O Globo

"As leis são como as teias de aranha que apanham os pequenos insetos e são rasgadas pelos grandes." (Sólon) . POIS É, NADA DEMAIS!

A gente não pode querer o padrão japonês, pelo qual o dirigente político ou empresarial se suicida quando é apanhado fazendo alguma coisa muito errada.

A verdade é que nem os japoneses de hoje seguem essa regra.

O comportamento em geral anda mais frouxo.
Mas os nossos políticos inventaram algo radical nessa linha, o "não tem nada de mais".


O senador Requião arranca o gravador das mãos de um repórter porque se sentiu ameaçado pelas perguntas.
O presidente da Casa, José Sarney, explica mais ou menos assim:
pois é, melhor que não tivesse acontecido, mas também não vamos exagerar, o Requião ficou nervoso, é assim mesmo.

Restrição à liberdade de imprensa?
Imagine! Que é isso?
Um assalto com violência física?
Imagine!
Só arrancou um gravador, nem deu um soco, nem nada.

De onde se pode concluir:
se um repórter se irritar com um pronunciamento de Sarney e achar que o senador está incomodando, fica autorizado a arrancar-lhe o microfone.

Violação à imunidade parlamentar?
Imagine!

A pergunta que irritou Requião era sobre sua aposentadoria como ex-governador do Paraná - assunto que também está na categoria "não tem nada de mais".

O sujeito fica no cargo quatro anos ou, vá lá, cansativos oito anos, e leva uma aposentadoria integral.
Nenhum trabalhador comum consegue isso, mas, e daí?

Reparem:
o beneficiado acha que nem precisa justificar a vantagem obtida às custas do dinheiro dos cidadãos. Toma o gravador de quem pergunta e ainda se diz vítima de uma ofensa pessoal.

Passo seguinte, o repórter tenta levar o caso para a Corregedoria do Senado, mas não vai dar.
Sabe o que é, explica Sarney, ainda não deu para nomear o corregedor, então não há quem possa receber a denúncia.


Atenção, portanto, senadores:
o jogo está inteiramente liberado, os senhores e as senhoras podem tomar microfones, agredir fotógrafos, roubar o quanto quiserem, mas, cuidado, tem limite, é só enquanto não tem corregedor.
Isso aqui é sério!


Se ela pode

A chefe da Polícia Rodoviária Federal, Maria Alice, perdeu a carteira de motorista. Estourou o limite de 30 pontos.
E só entregou a carteira depois de notificada e denunciada.


Qual o problema?
Entre outras explicações, disse que o carro em nome dela, e que foi apanhado na série de infrações, é usado por outros membros da família.
Daí o acúmulo de multas.


Ou seja, não tem nada de mais.

Mas, reparem:
estão nos dizendo que a chefe da PRF e mais seus familiares não cumprem as leis do trânsito.
E que, mesmo assim, ela tem condições de chefiar a polícia cuja função é cuidar para que os cidadãos respeitem aquelas regras.


Isso tudo em um país cuja cultura de trânsito reza o seguinte:
você decide se pode passar um sinal vermelho, estacionar em baixo da placa de proibido, parar na fila dupla etc.

O argumento:
não pode, certo, mas, sabe como é, eu estava atrasado, precisava pegar uma encomenda ali mesmo, a criança não pode ficar esperando na porta da escola.

Não tem nada de mais.

Multado?
Denuncie a indústria de multas.
Há um novo excelente argumento:
se a chefe da PRF cometeu mais de 30 pontos...

Se ele pode

O senador Aécio Neves foi apanhado numa blitz no Rio, de madrugada. Sua carteira estava vencida. E os policiais estavam aplicando o bafômetro nos motoristas interceptados.

A assessoria do senador explicou, primeiro, que ele não sabia que a carteira estava vencida.
Ah!, então está tudo bem.
Se ele soubesse que a carteira estava vencida, aí sim, seria grave.


Portanto, se a polícia lhe apanhar com a carteira de outra pessoa, você pode alegar: puxa, seu guarda, não sabia que não era a minha.

Carteira de motorista vale por cinco anos, de modo que é até normal uma pessoa menos organizada não perceber que está vencida.
Mas um senador da República tem que fazer tudo direitinho, não é mesmo? E, apanhado no erro, dizer que não sabia só piora a situação.


E por que não fez o teste do bafômetro?
Não foi necessário, explica sua assessoria, porque o senador contratou um motorista para dirigir o carro a partir daquele momento.


Tudo considerado, e se Maria Alice, ela mesma, a chefe da PRF, apanhá-lo em excesso de velocidade, você explica:

1) não sabia qual era o limite de velocidade;
2) não é mais necessário multar porque você voltou a rodar abaixo do limite;
3) o carro é da família;
4) todo mundo desrespeita a regra, inclusive a senhora sabe quem.

E, se ela insistir na multa, sinta-se ofendido, arranque o talonário e a processe por bullying.
Se ainda assim for multado, peça aos senadores Sarney e Requião um projeto de lei de anistia para reparar essa injustiça.

Não tinha nada de mais.

Carlos Alberto Sardenberg O Globo

abril 27, 2011

A DISTÂNCIA ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA NO GOVERNO DA "FRENÉTICA E EXTRAORDINÁRIA"

É bem-vinda a disposição do governo Dilma de combater "diuturnamente e noturnamente" a inflação, conforme afirmado ontem pela presidente da República perante o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

É também mais que bem-vinda a decisão,
anunciada ontem, de conceder os principais aeroportos do país à exploração privada. O problema é a distância entre o discurso petista e a prática.

O governo aproveitou a primeira reunião do Conselhão - um balaio de gatos que junta dezenas de lideranças empresariais, sindicalistas, artistas e gente de todo o tipo - para reafirmar o compromisso com o combate à inflação.

O que mais espanta é que, nesta altura do campeonato, com os preços em franca disparada, ainda se esteja tendo de perder tempo em tentar convencer o público com o gogó, ao arrepio de ações concretas.


Mais grave ainda é que Dilma, Fazenda e Banco Central agora se manifestam em uníssono, atribuindo a inflação a fatores globais.
Apontam todos para o culpado errado.

Guido Mantega chegou a dizer que não estamos tão "mal na foto", embora os próprios dados que apresentou ontem indiquem que a escalada de preços no Brasil só perca para as da Índia, Rússia e Argentina.


O diagnóstico é equivocado porque o país sofre com uma inflação diretamente resultante da leniência do governo passado, que disparou os gastos públicos e incentivou crédito e consumo além da conta para eleger a atual presidente.

Ou seja, ao fator global, que efetivamente existe, juntam-se razões absolutamente domésticas. Paga-se hoje o que poderíamos chamar de "custo Dilma", vitimando principalmente os mais pobres e quem vive de salário em geral.


Isso é fato, que até a presidente enfim admitiu ontem, embora meio a contragosto: "Além dessas pressões internacionais, hoje, nós sabemos também - e não vamos esconder esse fato - que a nossa inflação subiu devido a choques internos", registrou a Folha de S.Paulo.
A postura contrasta com o que ela vinha defendendo - inclusive em sua mais enfática manifestação recente sobre o assunto, na entrevista que deu ao Valor Econômico em março.


Os números oficiais confirmam o peso desproporcional e fundamental do gasto público na atual disparada de preços.
Mantega escancarou-os ao Conselhão ontem. No ano passado, em que o país crescia vigorosamente, foi praticada uma política fortemente expansionista e as despesas públicas subiram quase 20%.


A maior parte dos diagnósticos sugere que é preciso desacelerar gastos e, consequentemente, a economia para conter a inflação, unanimemente tida como o mal maior a ser evitado.
Mas neste ano as despesas do governo voltarão a crescer com força:
mais 7,1%, ou quase o dobro do que o crescimento projetado para o PIB. Segundo Mantega, é para "não matar a galinha dos ovos de ouro".
Desdenha ele que a inflação é capaz de dizimar todo o galinheiro.


A distância entre a preocupação com a inflação e as ações da equipe econômica também pode ser verificada por outro aspecto:
os juros, principal arma para debelar preços.
Cristiano Romero mostra hoje no Valor Econômico que o último aumento, decidido na semana passada, na realidade resultou numa taxa de juro real mais baixa do que a que vigorava dois meses atrás.


Em princípio de março, a taxa real estava em 6,88% ao ano e agora caiu para 6,65%, considerando os juros futuros de 360 dias e as expectativas de inflação para os próximos 12 meses.
A despeito de a inflação só ter aumentado, o juro de hoje é praticamente o mesmo de janeiro. "Em resumo, o quadro é este:
enquanto os agentes do mercado acreditam que a inflação será maior neste e no próximo ano, o BC pratica juro real menor para enfrentar o problema".


As contradições petistas também se manifestam na intenção de conceder os aeroportos à iniciativa privada, agora oficializada. Trata-se de medida tão aguardada quanto sistematicamente postergada pelo PT ao longo dos últimos oito anos.
As concessões sempre foram demonizadas na gestão Lula, com aval da então chefe da Casa Civil e hoje presidente da República.


A pressa de agora justifica-se pelo cenário de caos que já se vive nos aeroportos brasileiros e que só tende a aumentar.
Dos 67 terminais administrados pela Infraero, cinco já deverão ser concedidos até julho, com investimento de R$ 4 bilhões.
Mas, mesmo quando estiverem prontas, as obras de reforma dos terminais já chegarão defasadas:
daqui até a Copa, o fluxo de passageiros deve crescer 45%, superando em muito as projeções da Infraero.


Tanto no caso da inflação quanto no dos aeroportos, o PT está tendo de dobrar-se aos fatos. O partido está vendo seu discurso ser superado pela dura realidade.
Tanto melhor para o país que dogmas perniciosos para a sociedade brasileira sejam abandonados em favor dos interesses da população.
O importante é que este novo discurso seja incorporado à prática cotidiana do governo.


Fonte: ITV

A TOCA DAS RAPOSAS : O CONGRESSO NACIONAL.

O novo Senado tomou posse há quase três meses, mas somente ontem, depois de cobrado pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal a fazer uma advertência ou censurar publicamente o senador Roberto Requião (PMDB-PR) por este ter tomado um gravador das mãos de um jornalista, o presidente José Sarney (PMDB-AP) providenciou a instalação do Conselho de Ética da Casa, o que deve ocorrer hoje de manhã.

Dos 15 titulares indicados pelos partidos para compor o órgão de caráter disciplinar, encarregado de zelar pela observância dos preceitos de ética e decoro, pelo menos oito respondem a processos ou inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).
E outros tantos já se envolveram em polêmicas.


Os que têm contas a prestar no Supremo são os peemedebistas Renan Calheiros (AL),
Romero Jucá (RR) e Valdir Raupp (RO),
além de Mário Couto (PSDB-PA),
Gim Argello (PTB-DF),
Jayme Campos (DEM-MT),
Acir Gurgacz (PDT-RO) e Antonio Carlos Valadares (PSB-SE).


Se não bastassem os processos a que respondem na Justiça, alguns desses titulares já foram alvo de mais de um processo no próprio Conselho de Ética.
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, por exemplo, respondeu a cinco representações em 2007, que se transformaram em dois processos por quebra de decoro, mas foi absolvido em plenário.


O senador peemedebista teve que renunciar ao cargo de presidente do Senado, mas acabou absolvido pelo plenário em ambos os processos.
No primeiro, Renan era acusado de ter usado recursos de uma empreiteira para pagar despesas pessoais.
No segundo, respondeu à denúncia de que teria usado laranjas na compra de um grupo de comunicação em Alagoas.

"Renan tem capacidade moral para assumir"

Lobão Filho (PMDB-MA), outro titular indicado para compor o Conselho de Ética e que também já foi citado em denúncias de irregularidades, saiu em defesa do líder de seu partido:
- Renan, no meu entendimento, tem capacidade técnica e moral para assumir qualquer cargo no Senado. Sofrer um julgamento em qualquer instância e ser inocentado lhe permite qualquer coisa.
E ele não só foi absolvido duas vezes pelo plenário, como também pelo povo do seu estado, que o reelegeu no ano passado.

Lobão acrescentou que recebeu a missão de compor o Conselho de Ética a contragosto:
- É uma missão extremamente desagradável. Julgar seu par não é fácil nunca. Sempre tem um componente emocional.

Já o senador João Alberto (PMDB-MA) não se incomodou com a convocação feita por Renan para que não só integrasse o Conselho como assumisse o seu comando. Ele deverá ser eleito hoje presidente do Conselho pela terceira vez.

Em todas as ocasiões em que ocupou o cargo, ajudou a salvar companheiros de partido. Em 2001, por exemplo, apresentou um voto em separado contra a cassação de Jader Barbalho (PMDB-PA), que acabou renunciando ao mandato temendo perder os direitos políticos.


- Para assumir essa missão é preciso ter muito equilíbrio - disse João Alberto, que já adiantou que não pretende tomar qualquer iniciativa contra Requião. - Ao contrário da Corregedoria do Senado, o Conselho precisa ser provocado para agir.
Sarney, aliás, indicou ontem o senador Vital do Rego (PMDB-PB) para ser o novo Corregedor do Senado. O cargo estava vago desde a morte do senador Romeu Tuma, no ano passado. Assim, caberá a ele responder à representação protocolada ontem pelo Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal contra Requião.

Na vice-presidência do Conselho de Ética dverá ser mantido Gim Argello (DF), atual líder do PTB, que já ocupava a vaga na legislatura passada.

Quando assumiu o mandato em 2007, após a renúncia do ex-governador Joaquim Roriz, ele foi alvo de representação por estar entre os investigados pela Operação Aquarela, da Polícia Civil de Brasília, sobre desvios no Banco de Brasília (BRB).


O pedido, porém, acabou arquivado pela Mesa Diretora sob alegação de que a denúncia referia-se a fatos anteriores ao mandato.
No fim do ano, Argello renunciou ao posto de relator do Orçamento da União, sob acusação de ter atuado para liberar emendas para empresas fantasmas.

Adriana Vasconcelos O Globo

PETROBRAS : FUNDO SOBERANO PERDE R$1,5 bi

A resistência da equipe econômica em aceitar um reajuste do preço da gasolina provocou este mês uma perda de R$1,5 bilhão no patrimônio líquido do Fundo Soberano do Brasil (FSB), que tem como principal investimento as ações da Petrobras. Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a rentabilidade do fundo está negativa em 7,72% em abril até o dia 25.

O FSB tem 57% de seu patrimônio aplicados em ações ordinárias (ON, com voto) da Petrobras e outros 23% em papéis preferenciais (PN, sem voto) da companhia. As ações da Petrobras registraram, porém, quedas de 10,02% e 8,17%, respectivamente, este mês até o dia 25.

O tombo dos papéis está relacionado à pressão do governo para que a Petrobras mantenha os preços dos combustíveis mesmo que seus custos tenham subido com a alta do petróleo no mercado internacional.

O patrimônio do FSB encolheu, assim, de R$19,717 bilhões no último dia útil de março para R$18,194 bilhões no dado mais recente. Criado para evitar que o país sofra choques externos, o fundo tem ainda aplicações no Banco do Brasil (9% do patrimônio) e em títulos do governo (11% restantes).

(Bruno Villas Bôas, com agências internacionais)

abril 26, 2011

NA GOVERNANÇA DO ( P) ARTIDO (T) ORPE : O PAÍS DE TODOS OS SALAFRÁRIOS E AMIGOS DO CANALHA.

Uma das entidades que mais firmou convênios com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), a Oxigênio Desenvolvimento de Políticas Públicas e Sociais, deixou de capacitar milhares de alunos, mesmo tendo recebido integralmente os repasses de dinheiro do MTE.

Desde 2004, a Oxigênio assinou convênios que somam R$ 23,3 milhões, o último deles em janeiro deste ano.
Um dos dirigentes da organização sediada em São Paulo é o petista Francisco Dias Barbosa, o Chicão, amigo e ex-companheiro do ex-presidente Lula no sindicato dos metalúrgicos.

Auditorias da Controladoria-Geral da União (CGU) em três convênios da Oxigênio com o MTE — todos eles já pagos — identificaram que a entidade deixou de capacitar uma grande quantidade de alunos.

No primeiro convênio, de R$ 5,92 milhões, a Oxigênio se absteve da qualificação de 1.120 trabalhadores.
A CGU constatou “multiplicidade de registros de alunos em dois ou mais cursos”.
O curso, na área de construção civil, era voltado a famílias beneficiadas pelo Bolsa Família.

O mesmo problema foi identificado no outro convênio, de R$ 1,62 milhão, com a mesma finalidade do anterior.

“Há uma baixa taxa de execução do convênio e uma alta taxa de evasão. Apenas 29 alunos foram qualificados”, cita a auditoria da CGU.
Num terceiro convênio, de R$ 4 milhões, os auditores constataram multiplicidade de registros de 807 capacitados.

O curso deveria qualificar 5,4 mil trabalhadores em São Paulo (SP), Porto Alegre (SP) e Brasília. Problemas como os detectados na execução dos convênios da Oxigênio são constantes no programa de qualificação do MTE, como o Correio já revelou numa série de reportagens, publicadas em fevereiro e março deste ano.

Direcionamento na seleção de entidades, favorecimento político-partidário, baixa execução dos convênios e diversos tipos de fraudes colocam em xeque o Plano Setorial de Qualificação (Planseq).

Correio/Web

O DRAGÃO DA INFLAÇÃO CONTRA A EX-GUERRILHEIRA.


Dilma diz que todas as atenções do governo estão voltadas ao combate à inflação. Mas até agora nenhuma medida se mostrou eficaz para segurar os preços


No Distrito Federal, o preço da gasolina pega fogo.
Depois de seguidas altas, já passou dos R$ 3.
Ovo,
tomate,
cebola,
pimentão,
carne…
Tudo está mais caro.
E, pouco a pouco, um monstro que parecia banido do país voltou a por as garras de fora e desafia o governo.


Em guarda, a presidente Dilma expressou preocupação com a fera.
“Todas as nossas atenções estão voltadas para o combate acirrado à inflação”, disse, ontem, após tomar vacina contra a gripe.

Para 2011, o governo estabeleceu como teto da inflação um IPCA — índice oficial que mede o custo de vida — de 6,5%.
Pelas projeções do mercado, a mais de oito meses do fim do ano, o indicador já bate nos 6,34%.
E caminha célere para superar a meta.


Preocupada, a presidente diz que o governo não se curvará à escalada dos preços. Mercado já vê alta de 6,34%

Nada do que o governo fez até o momento foi suficiente para salvar as expectativas de inflação do pessimismo de especialistas e consumidores.

Até mesmo as projeções para 2012 foram contaminadas e já superam o centro da meta (4,5%) — por enquanto, estão em torno de 5%.
A situação se agravou a tal ponto que a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a se manifestar.

Em uma tentativa de afugentar a descrença que se abateu sobre o combate à carestia, ontem ela admitiu que a escalada de preços não é mais tolerável e ainda classificou o fenômeno como algo impossível de ser ignorado.


“Nós (o governo) temos imensa preocupação com a inflação.
Não haverá hipótese alguma que o governo se desmobilize diante dela.
Todas as nossas atenções estão voltadas para seu combate acirrado”, disse Dilma, antes de se reunir com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Mas, questionada se haveria o anúncio de novas medidas com o intuito de conter a alta de preços, ela preferiu não se pronunciar.

O tema dominou a agenda com o auxiliar. Na pauta, discutiu-se a continuidade da estratégia das ações alternativas aos juros — o que já vem ocorrendo — para conter o encarecimento do custo de vida.


A moderação do Banco Central, depois de ter reduzido a alta dos juros durante a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, foi o que colocou lenha na fogueira da descrença do mercado em relação ao BC.
Foi também o que forçou Dilma a entrar em campo.

Enquanto a autoridade monetária promoveu um ajuste de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), o mercado pedia 0,50, como sinal do compromisso para frear a carestia.

Como o aperto maior não veio, especialistas avaliaram que a crise entre os analistas financeiros e a instituição deve se acirrar.


“O BC colocou em xeque sua própria credibilidade. Está jogando toda responsabilidade para as medidas macroprudenciais, que não têm histórico de eficiência”, avaliou Rossano Oltramari, analista-chefe da corretora XP Investimento.

Cenário ruim
A publicação semanal do Boletim Focus, do Banco Central, que divulga a média das estimativas de aproximadamente 100 instituições financeiras para a economia brasileira, evidencia a crise de credibilidade. Pela sétima vez seguida, o levantamento elevou a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011.

Em 12 meses até 15 de abril, o índice oficial já acumula alta de 6,44%. E caminha a passos largos para o limite estabelecido como teto da meta de inflação (6,5%): registrou 6,34% na semana passada e, na visão de economistas, vai piorar depois de a Selic não ter sido elevada no patamar esperado pelo mercado.


Especialistas alertam que o resultado do Focus ainda não captou a última decisão do Copom, já que a coleta de informações terminou antes de o BC anunciar a taxa de juros básica de 12% na semana passada.
“Por isso, a tendência é piorar”, explicou Elson Teles, economista-chefe da Máxima Asset Management.

A inflação real também continua pressionada.
Enquanto o governo enfrenta dificuldades para contê-la e convencer os analistas, os consumidores amargam uma mesa menos farta.


Frustração
A dona de casa Mara Almeida, 33 anos, é um exemplo.
Esposa de servidor público, ela conta que tem realizado cortes severos no orçamento familiar.
“Normalmente, gasto cerca de R$ 700 em compras no mercado, mas neste mês estou levando apenas R$ 400”, contou.

Na avaliação dela, alimentação e limpeza foram as principais vilãs para as contas de sua família.

“Os legumes subiram bastante, mas são itens que não faltam na mesa de ninguém. O preço das carnes também está muito salgado. Lá em casa, a gente gosta muito de fazer um churrasco no fim de semana, mas se mantivermos isso, vamos acabar estourando o orçamento”, disse.


Apesar da insatisfação, Mara tem esperança de que o cenário de alta dos preços se reverta. “Tomara que mude. Eu me sinto um pouco frustrada, porque votei na Dilma e achava que os preços de várias coisas, como o dos combustíveis, se manteriam parados por um bom tempo, mas até agora só vi subida”, reclamou.

A esperança da dona de casa, entretanto, deve demorar um pouco para se confirmar. Para Teles, o IPCA fechado de abril, com anúncio aguardado para 6 de maio, vai mostrar que o custo de vida encareceu 0,80%.
“O número é bastante alto.

Está pressionado pelos preços de combustível, alimentação, vestuário e saúde, por conta de reajuste de remédios”, disse.


Victor Martins, Sílvio Ribas e Fábio Monteiro Correio Braziliense

BRASIL SEGUE MUDANDO E "PROGREDINDO" : DÍVIDA PÚBLICA FEDERAL EM MARÇO FECHOU EM R$1,695 trilhão


A disparada da inflação criou mais uma dor de cabeça para a equipe econômica:
o encarecimento da dívida pública federal.

Segundo relatório divulgado ontem pelo Tesouro Nacional, o custo médio da dívida em 12 meses vem subindo gradativamente e saltou de 9,6% ao ano, em março de 2010, para 11,76%, no mês passado.

Os índices de preços corrigem hoje cerca de 30% do estoque e, quando sobem, afetam o endividamento não apenas nessa parcela, mas também na atrelada à Selic - hoje, 32,3% do total.
Em março, o custo médio da dívida subiu 0,06 ponto percentual devido às altas do IPCA e da Selic.

A dívida subiu 1,39% em março e fechou o mês em R$1,695 trilhão.
O aumento ocorreu devido a uma emissão líquida de títulos públicos no valor de R$6,87 bilhões e à incorporação de R$16,39 bilhões em juros que corrigem o estoque. Do valor total, R$1,611 trilhão corresponde à dívida mobiliária interna e R$83,53 bilhões, à externa.

Segundo o relatório do Tesouro, os títulos prefixados aumentaram a participação na dívida, passando de 33,63% do total em fevereiro para 34,56% em março.
Já os títulos corrigidos pela Selic reduziram sua parcela no endividamento de 33,33% para 32,34% no mesmo período.

Os papéis indexados a índices de preços, por sua vez, passaram a responder por 28,33% do total (contra 28,05% em fevereiro).
A parcela da dívida corrigida pela Selic está hoje acima da meta fixada pela equipe econômica para a composição do estoque - entre 28% e 32% em 2011.

Martha Beck O Globo

abril 25, 2011

PARA O BRASIL CONTINUAR MUDANDO... EM MARCHA LENTA MAS COM O "CAIXA GORDO".

Feriados deveriam ser um momento de descanso em meio a dias de dedicação ao trabalho.
Mas, nesta Semana Santa, para milhares de brasileiros a merecida pausa foi marcada por longas esperas, contratempos em estradas e filas em aeroportos que vão se tornando rotineiras.
Sem investimentos à altura, a infraestrutura do país caminha cada vez mais para um "paradão".


Exemplo sintomático da situação de caos na estrutura de transporte brasileira ocorreu na BR-381, no trecho que liga Belo Horizonte a Governador Valares, em Minas Gerais. Às vésperas do feriado, o que era mais do que previsível ocorreu:
uma ponte cedeu por falta de manutenção rotineira do DNIT.

O tráfego, um dos mais pesados do país por se tratar de uma rota industrial e turística, teve de ser desviado e os motoristas purgaram congestionamentos de dezenas de quilômetros.


A BR-381 é uma das mais perigosas do país, registrando quase uma morte por dia. Os planos para sua reforma foram deixados de lado na era Lula - e onde estavam continuam.
Mas o que ocorreu nesta que é uma das mais temidas "rodovias da morte" do país é apenas um dos vários incidentes que se tornaram rotina nas estradas brasileiras.

Dinheiro para investir não falta, inclusive na forma de recursos tributários específicos para o setor. O que falta é competência para bem aplicá-los.


Poucos sabem, mas existe um tributo especialmente destinado a custear melhorias na infraestrutura e na malha viária: a Cide-Combustíveis.
Ele vem de parte do preço que o consumidor paga pela gasolina vendida nos postos. No ano passado, foram arrecadados R$ 8 bilhões.

Neste primeiro trimestre, já entraram mais R$ 2 bilhões no caixa do
Leão.
Mas o dinheiro continua servindo apenas para engordar o caixa do Tesouro.


O governo do PT tem dificuldade para transformar os fartos impostos cobrados dos brasileiros em melhorias e mais bem-estar para a população.
Ao mesmo tempo, resiste a abrir espaço para que a iniciativa privada cuide da nossa infraestrutura. Até hoje, apenas 4,8 mil km de rodovias foram concedidos, o que equivale a somente um terço do que é considerado passível de concessão no país.


Mas o excesso de tráfego e as más condições das estradas não foram o único empecilho com o qual os motoristas se depararam no feriadão. Os brasileiros estão começando a conviver com um "apagão de combustíveis", conforme descreveu
O Estado de S.Paulo em sua edição de sábado.
Em muitos postos, a gasolina simplesmente desapareceu, confirmando o que a própria Petrobras havia admitido há alguns dias.


O que está ocorrendo é que está faltando etanol no país, segundo maior produtor mundial deste combustível. Com isso, os preços do álcool explodiram, empurrando a demanda dos motoristas por gasolina.
Já em 2010 o consumo superara a produção brasileira em 11% e neste ano tende a sangrar ainda mais a balança comercial.


A despeito de toda a parolagem publicitária, o Brasil continua dependendo da importação de petróleo e derivados. A tão propalada autossuficiência nunca existiu de fato.
Neste ano, a balança de derivados de petróleo deverá registrar déficit de US$ 18 bilhões. Em 2010, o rombo atingira US$ 13 bilhões, ou quatro vezes mais do que no início da década.


Tudo considerado, o que se vê hoje é um país absolutamente despreparado para enfrentar o grande salto adiante que precisa ser dado.
O PT diz que "retomou o planejamento estratégico".

Não é o que se percebe, onde quer que se vá por este país afora.
Por terra, por mar, pelo ar, está tudo cada vez mais parado.
Feriado no Brasil virou motivo de cansaço.


Fonte: ITV

PETROBRAS "BLUE CHIP" : A OPÇÃO ARRISCADA. Ações da estatal já caem até 9,6% no mês. Em 12 meses, tombo chega a 20,7%

O futuro das ações da Petrobras está mais uma vez nas mãos do governo. Os desentendimentos públicos entre o Ministério da Fazenda e a estatal sobre o reajuste dos preços dos combustíveis afetaram os papéis da companhia nas últimas semanas. Só este mês até a última sexta-feira, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da estatal já acumulam queda de 7,79% e as ordinárias (ON, com voto), 9,63%.

Os analistas estão agora divididos entre os que acreditam no aumento de preços da gasolina - e acreditam, portanto, numa alta das ações da empresa a curto prazo - e os que temem uma resistência do governo por causa do controle da inflação, o que afetaria o balanço, a cotação dos papéis e a distribuição de dividendos da estatal.

Nos últimos 12 meses, o recuo é grande:
20,18% (PNs) e 20,73% (ONs). Foi justamente em abril do ano passado que a Petrobras confirmou que iria fazer a operação de capitalização, para fazer frente aos investimentos na exploração do petróleo da camada do pré-sal. As incertezas em relação ao processo derrubaram as ações.

Mas, depois que a megaoperação de R$120 bilhões foi finalizada, foi a vez de temores em relação ao alto endividamento da empresa derrubarem os papéis. Agora, a pancada vem da discussão em torno do preço da gasolina:

- O mercado não gosta de ingerência política em qualquer empresa, como aconteceu com a Vale recentemente. Por isso, quando o petróleo subiu, a Petrobras ficou para trás - afirma Márcio Macedo, da Humaitá Investimentos.

Os preços internacionais do petróleo começaram a subir no início deste ano depois da onda de protestos populares em países árabes, que estão entre os maiores produtores mundiais. O barril do tipo leve negociado na Bolsa de Nova York, por exemplo, escalou de US$91,40 em 31 de dezembro do ano passado para US$111,45 na última sexta-feira, um avanço de 22%.

Nesse mesmo período, as ações das grandes petrolíferas foram beneficiadas.
Foi o caso da Exxon Mobil (17,14%),
Petrochina (7,76%)
e Royal Dutch Shell (2,79%), que repassaram preços.
Já os papéis PN da Petrobras recuaram 3,14%, e os ON, 3,04%.


William Alves, analista da XP Investimentos, explica que os atuais níveis de preço do petróleo no mercado internacional vão afetar a rentabilidade da Petrobras, com impacto na distribuição dos lucros aos investidores.
Isso porque a Petrobras passou a importar mais gasolina no primeiro trimestre deste ano, pagando um preço mais alto pelo produto.

- Essa gasolina comprada mais cara lá fora é vendida mais barata aqui no mercado doméstico. E, assim, aumentam os custos da Petrobras em um momento em que a empresa precisa gerar caixa para dar conta de grandes investimentos - explica o analista da XP. - E isso pode afetar os resultados que a Petrobras vai divulgar sobre o primeiro trimestre.

Analistas não acreditam em queda forte do petróleo

Segundo cálculos do consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), a Petrobras deixou de ganhar mais de R$1 bilhão nos últimos meses porque não repassou às distribuidoras a alta do petróleo.

Sem repasse nos preços, papéis são opção arriscada

Os analistas têm apostado suas fichas na redução da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Uma redução do imposto compensaria o reajuste da gasolina para as distribuidoras para não haver pressão sobre a inflação.

- A visão de curto prazo para a Petrobras melhorou nos últimos dias. É maior agora a chance de um reajuste, até porque existe uma escassez de etanol no mercado interno, o que encareceu o produto. E esse custo precisa ser repassado de alguma forma - afirma Max Bueno, analista da Spinelli Corretora.

Mas analistas também alertam que, como ainda há risco de não haver o repasse do aumento de custos para os combustíveis, os papéis da Petrobras podem ser uma opção mais arriscada. E lembram que não é a primeira vez que a atuação do governo interfere no rumo das ações.

- Isso pesou muito porque os 5 bilhões transferidos pelo governo para a Petrobras, a chamada cessão onerosa, aumentou muito os riscos da companhia - explica Marcio Macedo, da Humaitá Investimentos.

Bruno Villas Bôas O Globo