"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 19, 2015

LATIFÚNDIO DE NULIDADES

Num ministério de 39 pastas, é significativo que um quarto delas possa ser objeto de mudança com menos de três meses de gestão.

 É um governo que só serve a si mesmo
A fugaz passagem de Cid Gomes pelo Ministério da Educação diz muito sobre a qualidade das escolhas e sobre os critérios que orientam a montagem da equipe de governo de Dilma Rousseff.

Na "pátria educadora", o ministro ontem demitido fez tudo menos o bem para a área que deveria comandar. Mas Gomes não destoa do resto do time. Sob o comando da presidente petista, a Esplanada é um latifúndio de nulidades.

Nos 76 dias em que chefiou o MEC, Cid Gomes conseguiu instalar a balbúrdia no Fies, o programa que financia cursos universitários; paralisar o Pronatec, antes vitrine das propagandas dilmistas; e levar boa parte das universidades federais à penúria.

A pasta da Educação também perdeu R$ 7 bilhões no orçamento deste ano e tornou-se a mais prejudicada pela tesoura do ajuste fiscal. Não se ouviu de Dilma uma palavra de reprovação a estes descaminhos.

A presidente terá agora de escolher o quinto ministro da Educação a ocupar o cargo em pouco mais de quatro anos. Não há política educadora que resista. Não surpreende que a gestão de Cid "parecia uma transição que não terminava nunca", como resumiu O Globo.

A saída do ministro da Educação deve precipitar a reforma ministerial de um governo que sequer completou 80 dias. Se todas as peças que estão sendo cogitadas no xadrez político neste momento forem mexidas, nada menos que dez pastas mudarão de mãos.

Estão na dança desde nulidades absolutas, como a Secretaria da Pesca, até a mais importante pasta da Esplanada, a Casa Civil. Podem mudar também os titulares da Defesa, das Relações Institucionais, da Integração Nacional, do Turismo, da Comunicação Social, da Aviação Civil, da Ciência e Tecnologia e dos Portos.

Num ministério mastodôntico de 39 pastas, é muito significativo que um quarto delas já possa ser objeto de alteração decorridos menos de três meses de gestão. A constatação óbvia é: Afinal, para que servem tantos ministérios, tantos cargos, tantos partidos a compor a instável base de sustentação no Congresso? As possíveis respostas são as mais desabonadoras possíveis.

Mas uma delas pode ser encontrada nas pregações que Rui Falcão fez ontem em reunião fechada com a bancada de deputados petistas. O presidente do PT deu sua receita para aplacar a pressão sobre o governo: cortar as verbas publicitárias de veículos que "apoiaram" e "convocaram" as manifestações de domingo.

O "caos político" e a nulidade da equipe de governo são traduzidos à perfeição quando se vê o presidente do partido do governo sugerir que dinheiro público seja usado na mesma "guerrilha política" que a Secretaria de Comunicação defendera em documento vazado anteontem. Não restam dúvidas: estamos diante de um governo que só serve a si mesmo.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

“Fiz vários depósitos para Fernando Collor”, disse Youssef

Em delação premiada complementar, feita em fevereiro deste ano, o doleiro Alberto Youssef, personagem central da Lava Jato, afirmou ao Ministério Público Federal que entregou diversas vezes dinheiro para o senador e ex-presidente (1990/1992) Fernando Collor (PTB-AL). A delação, dividida em vários depoimentos, foi gravada em vídeo. O arquivo com as imagens de Youssef depondo foi incluído nos autos da Lava

O senador e ex-presidente Fernando Collor nega ‘qualquer relação’ com Youssef. O doleiro disse que funcionários seus entregaram quantias em espécie na casa do parlamentar em Alagoas e em um apartamento em São Paulo. Segundo Youssef, um emissário de Collor teria ido a seu escritório receber dinheiro. O ex-presidente é investigado pelo Supremo Tribunal Federal.

“Eu fiz vários depósitos para o Fernando Collor e isso já faz algum tempo. Creio que 2010, 2011, não me lembro. Não sei precisar a data”, disse Youssef. “Não sei especificar exatamente os valores. Mas teve vez que foi R$ 200 mil, R$ 300 mil. Sempre mais ou menos nesses valores.”
O procurador-geral da República Rodrigo Janot aponta “indícios veementes” de crimes de lavagem de dinheiro e evasão de divisas envolvendo Collor. Ele pediu que o senador seja ouvido para que “apresente sua versão sobre os fatos”.

Na petição encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), em que pede investigação sobre o envolvimento de Collor com o doleiro Alberto Youssef, o chefe do Ministério Público apontou a existência de comprovantes de depósitos bancários apreendidos com o doleiro.

Youssef afirmou que um emissário seu foi a Alagoas ‘umas 4 ou 5 vezes’ entregar dinheiro a Collor e que um emissário do senador foi a seu escritório buscar dinheiro ‘umas 4 ou 5 vezes ou mais’. O doleiro disse que nunca teve contato diretamente com o parlamentar, apenas com o funcionário dele.

Segundo ele, um ex-ministro de Collor, que chama de PP, pediu para que desse dinheiro ao senador. Youssef afirma que o ex-ministro foi seu cliente de 2008 até sua prisão (em março de 2014) e tinha uma conta com ele. O doleiro está preso na carceragem da PF em Curitiba, base das investigações da Lava Jato.

“O meu relacionamento com o Collor nessa questão de valores sempre foi por intermédio do PP. Nunca teve outra pessoa que tivesse pedido pra eu entregar alguma coisa ao Collor”, disse. “(PP) tinha conta corrente comigo e pediu que eu fizesse um depósito nessa conta, que era do Fernando Collor. Como também pediu que eu entregasse dinheiro em espécie na casa do Fernando Collor”, afirmou.

Youssef falou ainda que ‘neste meio de políticos que eu frequentava, se dizia que o Collor tinha uma diretoria na BR”. “Qual diretoria era e qual diretor indicado por ele eu não posso dizer, porque eu não sei.”

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Por Julia Affonso, Beatriz Bula e Talita Fernandes