"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 08, 2010

NOVA ELEIÇÃO E FIM DE UM TABU.


A partir de hoje, quando recomeça a propaganda eleitoral na televisão e no rádio, se saberá de que forma e com que intensidade a campanha do tucano José Serra assumirá o legado do governo Fernando Henrique, aceitando enfim, à sua maneira, o desafio da candidata Dilma Rousseff e do seu mentor, o presidente Lula, de confrontar o atual período com o que o antecedeu.

Foi o que os seus principais aliados - a começar do ex-governador mineiro e senador eleito Aécio Neves - defenderam enfaticamente no encontro que marcou a largada para o segundo turno, anteontem em Brasília, com a presença dos governadores e parlamentares eleitos pela coligação oposicionista.

(...)

O mantra de Serra era discutir quem tinha de fato visão, experiência e capacidade para "fazer mais" no pós-Lula. Não funcionou.

Se dependesse exclusivamente disso, Dilma seria a esta altura a presidente eleita do Brasil, graças ao seu patrono.

(...)

Salvo na 25.ª hora por mudanças para as quais não contribuiu - a migração de votos dilmistas para Marina Silva e a preferência pela candidata verde de muitos dos até então indecisos -, Serra acabou premiado com a chance de, na pior das hipóteses, perder ganhando no tira-teima do dia 31.

Até hoje, nenhum candidato a presidente e raros candidatos a governador conseguiram virar o jogo no segundo turno. Ainda que o retrospecto se confirme, a oposição pelo menos sairá da peleja com a coluna vertebral no lugar se fizer com que a coerência prevaleça sobre a conveniência.

Se não exatamente com essas palavras, foi seguramente com esse espírito de catar o touro à unha que os serristas partiram para a nova empreitada.

"Seja mais Serra do que marketing", exortou, sob intensos aplausos, o ex-presidente e senador eleito, Itamar Franco.

Trata-se de adaptar a estratégia de comunicação ao foco político da campanha - e não o contrário. E esse foco só se firmará se o candidato se dispuser a ir além da rememoração das realizações de sua trajetória para encaixá-las na moldura da ideologia que as inspirou - e que chegou ao poder com Fernando Henrique.

"Não precisa esconder ninguém", aconselhou Itamar.

"Devemos defender isso com altivez e iniciar o segundo turno falando dele", apontou por sua vez Aécio Neves, credenciado por seu sucesso nas eleições mineiras a ocupar um lugar central na campanha pelo Planalto.

O ex-governador mostrou, ele próprio, o que isso significa - e o que Serra não disse no horário eleitoral.

"Não teria havido o governo Lula se não tivesse havido o governo Itamar, com a coragem política de lançar o real, e se não tivesse havido o governo FHC, que consolidou e abriu a economia", começou, antes de encarar a questão até aqui tabu.

"Se querem condenar as privatizações, estão dizendo a cada cidadão brasileiro que pegue o celular no seu bolso, na sua bolsa e jogue na lata de lixo mais próxima", provocou.

"Foi a privatização do setor que permitiu a universalização de acesso da população, por exemplo, à telefonia celular."

Abertas as comportas, Serra lembrou que "o governo Lula continuou a privatizar", citando os casos do Banco do Estado do Maranhão e do Banco do Estado do Ceará, no primeiro mandato.

"Se privatizou, não era tão contra."

Ao devolver a bola para o campo do adversário, o PSDB finalmente virou a página da equivocada conduta no segundo turno de 2006, quando o então candidato Geraldo Alckmin ficou na defensiva diante da propaganda lulista que o acusava de desejar a privatização da Petrobrás e do Banco do Brasil.

Nesse sentido, o segundo turno de agora é, sim, uma nova eleição.

O Estado de S. Paulo

A VOLTA DO PESADELO.

IPCA chega a 0,45% em setembro, pressionado pela alta dos alimentos. Alguns produtos já começam a deixar os carrinhos de compras dos brasileiros.

Para analistas, o BC tem um dilema:
subir os juros, frear a inflação e atrair ainda mais dólares,
ou deixar a Selic onde está


Após três meses na lona, a inflação voltou a incomodar o bolso do brasileiro e a embalar os seus piores pesadelos.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,45% entre agosto e setembro.


Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os vilões do mês foram os alimentos, grupo de produtos responsável por mais da metade desse encarecimento.

Em 12 meses, a carestia chegou a 4,7%, valor que já supera em 0,2 ponto percentual o centro da meta definida pelo Banco Central.

No levantamento, a capital do país foi o destaque negativo.


Alimentar-se em Brasília ficou 1,79% mais caro em setembro e os preços, no geral, subiram 0,8% quase o dobro da média nacional.

Consumidor

Enquanto economistas debatem a questão cambial e os efeitos de possíveis altas nos juros, o consumidor amarga a perda do poder de compra e reclama do encarecimento dos alimentos, que têm diminuído a fartura que havia se tornado habitual na mesa dos brasileiros.

Cleber Francisco da Silva, 32 anos, recorre a produtos de marcas diferentes das que costumava comprar para tentar driblar o aumento de preços e vai a mais de um supermercado fazer pesquisas.

Silva tem uma renda mensal de R$ 2,5 mil e uma despesa de cerca de R$ 800 para encher a despensa da casa onde mora com a esposa, uma filha, uma sobrinha e a mãe.

“O açúcar e as frutas mais caros vão me obrigar a comprar sucos adocicados. Também vou procurar carnes mais baratas”, disse.




Victor Martins Correio Braziliense

O INFERNO ASTRAL DA PETROBRAS .


A conclusão da maior oferta de ações da história poderia ter sido um alívio para a Petrobras, que enfim se veria livre da especulação que atingiu seus papéis meses antes do fim da operação.

Mas os últimos pregões têm mostrado que a expectativa era infundada.

As ações da Petrobras caíram ontem para o menor preço desde março de 2009, o maior recuo entre as principais produtoras de petróleo do mundo.

No mês, perderam 7,3%, em 20 dias, 13% e no ano, 30%.

A estatal passou da quarta empresa mais valiosa no mundo, no início de setembro, para a 11ª colocação, com valor de mercado de US$ 203,05 bilhões.

Petrobras manteve-se ladeira abaixo ontem, movimento que começou com a revisão para baixo de projeções de preços e, em alguns casos, de recomendações, e passou a ser alimentado por uma onda de boataria envolvendo irregularidades na companhia.

As ações da estatal chegaram a cair quase 5%, mas reduziram as perdas no fim do dia, ao atrair compradores técnicos.
As preferenciais (PN, sem voto) fecharam com queda de 2,16%, negociadas a R$ 25,30, menor preço desde março de 2009.

As ordinárias (ON, com voto) cederam 2,98%, a R$ 28,31.

O volume financeiro do papel superou os R$ 2 bilhões.Rodrigo Campos, da Fator Corretora, afirma que o fluxo de notícia negativa, que afastou o investidor estrangeiro que já não estava contente com o processo da capitalização, começa a espantar o local.

Ninguém quer se arriscar, já que, no curto prazo, a ação deve continuar pressionada.

Pior para o Ibovespa, já que Petrobras representa 11,25% da carteira teórica. Ontem, o índice recuou 0,88%, caindo abaixo dos 70 mil pontos.

Alessandra Bellotto Valor Econômico

SOS BRASIL : O AFLORAMENTO DAS METÁSTASES DO PARTIDO TORPE NA PETROBRAS.

Ilustração Toinho de Passira

Diretor de Gestão Corporativa da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), estatal ligada ao Ministério de Minas e Energia, lbanês César Cássel tem a Petrobras como cliente de sua empresa particular de eventos.

Cássel é ligado à candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, desde que ela foi secretária de Energia do Rio Grande do Sul.

Sua empresa, a Capacità Eventos Ltda., assinou com a Petrobras, em 2008, dois contratos no valor total de R$ 538.755,65. Cássel está na EPE desde 2005, a convite da então ministra Dilma. Cássel disse que tem 1% de participação na Capacità.

A mulher dele, Eliana Azeredo, é diretora-geral da empresa.

Ontem, rumores acerca da publicação de reportagens sobre irregularidades na Petrobras derrubaram ações da companhia na Bovespa.

A ação ordinária fechou em queda de 2,98%.

Diretor de estatal do Ministério de Minas e Energia é sócio de empresa com contratos com Petrobras

Diretor de Gestão Corporativa da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), estatal ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME), Ibanês César Cássel tem a Petrobras como cliente de sua empresa de eventos.

Ligado à candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff,assinou dois contratos com a estatal do petróleo no total de R$538.755,65 em 2008 desde que ela foi secretária de Energia, Minas e Comunicações no Rio Grande do Sul nos anos 90, Cássel , por meio da Capacità Eventos Ltda, sediada em Porto Alegre.

A Capacità tem Cássel como sócio e a mulher dele, Eliana Azeredo, como diretora-geral. Um dos contratos foi assinado sem licitação. Informações sobre Ibanês Cássel, entre outros rumores de denúncias que afetariam a Petrobras, circularam no mercado ontem e derrubaram as ações da empresa.

Cássel assumiu o cargo estratégico na EPE em 2005, convidado pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff.

Um dos contratos com a Petrobras (número 4600285827), de R$438.755,65, refere-se à inauguração da plataforma P-53, em 18 de setembro de 2008 em Rio Grande (RS), com a presença do presidente Lula.

Houve licitação pelo modelo de carta-convite, no qual pelo menos três empresas precisam ser convidadas para a disputa.

A Petrobras também foi cliente da Capacità no contrato de patrocínio do evento "Porto Alegre - Uma visão de futuro", realizado pela Câmara Municipal de Porto Alegre em 2008 e que tratou de "diversos temas relacionados à vida urbana das cidades".

Este contrato (número 4600283697) foi assinado sem licitação e somou R$100 mil. A Petrobras se valeu do decreto 2745 de 1998 - que flexibilizou as regras para licitação - para não abrir uma concorrência.

Cássel: "Não tenho ingerência na Capacità"

No Portal da Transparência do governo federal, consta o primeiro contrato entre a Capacità e a União em 2005, com a Casa da Moeda. No ano seguinte, a empresa assinou contratos de R$753 mil com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Os contratos visavam à "administração da unidade" e à "formulação e avaliação da política de desenvolvimento agrário".

Este último contrato foi assinado no mesmo ano em que Guilherme Cassel assumiu o MDA. O ministério disse que, apesar do sobrenome, ele não tem parentesco com Ibanês Cássel, e que os contratos foram assinados por pregão eletrônico para "organizar, produzir e pagar cachês de artistas que atuaram na 2ª Conferência Internacional de Reforma Agrária".

O GLOBO enviou por e-mail uma lista de perguntas para Ibanês Cássel, que respondeu a apenas parte delas, de forma genérica. Ele diz que tem 1% de participação na Capacità Eventos, adquirida antes de sua posse na EPE.

- Tal participação foi analisada, antes da minha nomeação, pelos órgãos competentes e não constitui impedimento de ordem legal ou de qualquer natureza para o exercício do cargo - disse, por e-mail.

Cássel confirmou ter sido convidado pela então ministra para o cargo na EPE e afirmou que "minhas relações com Dilma Rousseff decorrem dessas experiências profissionais". Disse ainda que "não participou da administração da Capacità" nem tem "ingerência sobre os contratos por ela celebrados."

A assessoria de Dilma informou que a Capacità não presta serviços para sua campanha.

A diretora-geral da Capacità Eventos, Eliana Azeredo, mulher de Cássel, negou interferência do marido ou qualquer favorecimento:

- O Ibanês tem um 1%. Não atua na gestão. A Petrobras fez uma licitação em São Paulo com várias empresas e eu ganhei com o menor preço. Não vejo nada errado. É licitação.

Sobre o contrato de organização do seminário em Porto Alegre, ela disse que a Capacità foi "recebedora de patrocínio de um contrato para pagar fornecedores".

Não é a primeira vez que o nome da EPE aparece ligado a denúncias. No mês passado, no rastro do escândalo de tráfico de influência que derrubou Erenice Guerra da Casa Civil, foi descoberto que a estatal tinha contrato com o escritório Trajano & Silva, onde Israel Guerra, filho da ex-ministra Erenice, costumava despachar. Uma irmã de Erenice trabalhou na EPE.

Bruno Villas Bôas e João Guedes* O Globo