"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 17, 2012

ANTRO GAZETAL E REMUNERADO ! COMUNICADO AO POVO BRASILEIRO : Câmara muda regra e deputados poderão faltar nas segundas e sextas


O plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, em votação simbólica, projeto de resolução que altera o regimento da Casa e formaliza a prática de sessões esvaziadas às segundas e sextas-feiras. 

O regimento da Casa previa sessões ordinárias durante os cinco dias da semana, mas, na grande maioria das vezes, as sessões deliberativas só são realizadas entre terça e quinta-feira.

- É a oficialização da gazeta. Agora, às segundas e sextas, é gazeta para todo mundo. É um estímulo à desmoralização da Câmara - criticou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR).

Em nota, o presidente da Câmara, Marco Maia, criticou as declarações de Rubens Bueno. Segundo ele, a acusação do parlamentar é mais um devaneio de quem desconhece o Regimento da Câmara dos Deputados e a prática legislativa. O deputado fala sem ter conhecimento pleno do processo legislativo.

Se o deputado Rubens Bueno tivesse inteligência emocional, procuraria se informar sobre o funcionamento do Parlamento em outros países e descobriria que o Legislativo brasileiro é um dos poucos que funciona cinco dias por semana durante o ano todo, diz Maia.

A alteração do regimento diz que as sessões ordinárias serão realizadas, uma vez ao dia, de terça a quinta-feira. Diz ainda que às segundas e sextas, haverá sessões de debates, "de forma idêntica às ordinárias". O regimento manteve a possibilidade de convocação de sessões extraordinárias, em qualquer dia.

A alteração do regimento foi incluída na terça-feira de última hora na pauta de votação da sessão. No microfone do plenário, o líder do PPS deixou claro que o partido era contra o projeto. A votação foi simbólica e, como se trata de alteração do regimento da Câmara, não tem que ser aprovada pelo Senado, ou seja, está em vigor.

Na prática, é muito difícil a realização de sessões de votações às segundas e sextas, mas a modificação tem o poder de evitar um outro questionamento. Hoje, para efeitos de corte nos subsídios dos salários, a Câmara considera apenas a falta em dias de sessões com votação.

A Constituição Federal, no entanto, em seu artigo 55, inciso III, estabelece que um dos motivos de perda de mandato de deputado e senador a ausência em um terço das sessões ordinárias realizadas, salvo em caso de licença ou missão autorizada. Embora hoje isso não seja considerado, a modificação do texto evitará qualquer tipo de questionamento futuro neste sentido.

Supremo rejeita denúncia contra Garotinho por compra de votos e ELE-wandowski e Gilmar Mendes batem boca

Em meio a um bate-boca entre os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, por seis votos a um o Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou denúncia contra o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), acusado de envolvimento na compra de votos durante a eleição de 2004 em Campos, quando Geraldo Pudim era o candidato. 

Os ministros, por ampla maioria, entenderam que não havia provas do envolvimento do deputado na suposta fraude. Para eles, o fato de Garotinho ser presidente regional do PMDB à época não comprovaria que ele tivesse conhecimento de algum esquema irregular, como asseverava o Ministério Público. A ministra relatora Rosa Weber foi a única a aceitar a denúncia.

Lewandowski e Mendes se desentenderam ainda durante a votação se o processo deveria ser desmembrado ou não, porque somente Garotinho tinha direito a foro privilegiado pelo fato de ser deputado federal.
Lewandowski defendeu que as pessoas que não tinham esse benefício deveriam responder às acusações em primeira instância e, assim, garantir, se fosse o caso, direito à revisão do processo.  

Gilmar e outros quatro ministros discordaram.
Para embasar seu voto, Gilmar observou que Lewandowski, em situação semelhante, em outra ocasião, havia votado pelo não desmembramento.
Foi o suficiente para o ministro se irritar.

- Se Vossa Excelência insistir em me corrigir, porque eu não sou aluno de Vossa Excelência, eu não vou admitir nenhuma vez mais, senão vamos travar uma comparação de votos - disse Lewandowski, alterado.

Vossa Excelência pode fazer a comparação que quiser. E Vossa Excelência não vai me impedir de me manifestar no plenário em relação a pontos que estamos em divergência - devolveu Mendes.

Lewandowski declarou que era a segunda vez, em 15 dias, que Mendes o questionava sobre seu jeito de votar.
- É a segunda vez que Vossa Excelência faz, em menos de 15 dias. Eu não sou aluno de Vossa Excelência. Sou professor na mesma categoria - continuou Lewandowski.


- Vossa Excelência faz como quiser. O que está sendo dito aqui é que há decisões tomadas. Vossa Excelência está se revelando muito sensível. A tradição indica que nós devemos ter o hábito de conviver com críticas - disse Gilmar Mendes.

O presidente do STF, Carlos Ayres Brito, tentou contemporizar:
- Aqui ninguém diminui ninguém intelectualmente.


O Globo

ENQUANTO ISSO... Criação de empregos caiu 28% em setembro, com 150.334 vagas. Essa é a 2ª queda consecutiva na geração de postos de trabalho.

 O mercado formal de trabalho criou 150.334 vagas em setembro, o que representa uma queda de 28% em relação ao mesmo mês do ano passado, quando foram gerados 209.078 postos de trabalho. 

Os dados constam no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho (MTE) divulgados nesta quarta-feira.
Essa é a segunda queda consecutiva na geração de vagas formais no país: em agosto, haviam sido criadas 100,9 mil vagas, uma redução de 47% na geração de vagas.

No acumulado no ano, os novos empregos com carteira assinada somam 1,574 milhão, já considerando dados ajustados com informações entregues pelas empresas fora do prazo até agosto. A criação de vagas acumulada no ano tem queda de 24% ante o ano passado no mesmo período, quando foram geradas 2,079 milhões de vagas.

Ministros mudam votos, condenando Duda e Zilmar por evasão de divisas


O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Carlos Ayres Britto, deu início à trigésima-sétima sessão de julgamento do mensalão com a intenção de retomar a leitura dos votos sobre o item 7 da denúncia - que trata sobre lavagem de dinheiro por parte de réus ligados ao PT.

Mas, antes de pronunciar sua opinião, o ministro Gilmar Mendes mudou seu voto sobre o item 8, proferido na segunda-feira, e passou a condenar os réus Duda Mendonça e Zilmar Fernandes pelo crime de evasão de divisas.

Neste posicionamento, o ministro foi seguido por Joaquim Barbosa, que também reformou seu voto. O relator chegou a anunciar que poderia alterar sua oipinião, dada a fragilidade da denúncia do Ministério Público.

Ao reformar seu voto - que não altera o resultado da sentença - Mendes argumentou que os depósitos na conta do publicitário no exterior aconteceram ao longo de nove meses, coincidiram com atos ilícitos, e são provenientes de crimes contra a administração pública:

- O pagamento veio da empresa de Valério. No princípio não era limpo nem lícito. O que em princípio é lícito é o seu crédito junto ao PT. Examinando os extratos da Dusseldorf, vê-se que ela recebeu depósitos em março de 2003 - relembra o ministro.

- A licitude de seu crédito não lhe confere o direito de receber de qualquer forma ou maneira. A dívida não pode ser liquidada de uma maneira lícita. Como destacava Magalhães Noronha, verifica-se o título mesmo que seja injusto, O credor aceita a coisa que sabe ser produto de crime.

O Globo

MAIS BRASIL REAL : Censo 2010: apenas 52,2% dos lares brasileiros são considerados adequados

 Apenas 52,2% dos lares brasileiros são considerados adequados pelo IBGE, de acordo com novos dados do Censo 2010, divulgados nesta quarta-feira. 

Para ter esse status, o domicílio precisa ter abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo direta ou indireta e com até dois moradores por dormitório.

Em 2000, a parcela era de 43,9%. 
Na Região Norte, o percentual cai para 16,3% e no Nordeste, 35%. 

Os domicílios sem qualquer desses serviços somam 4,1% (2,325 milhões) e o restante é semi-adequado, quando há alguma das características. 
Os percentuais de domicílios inadequados onde viviam crianças de 0 a 6 anos eram altos no Norte (18,6%) e Nordeste (14,5%).

Quando se olha por raça, os brancos moram em domicílios melhores. 
São 63% contra 45,9% dos pretos morando em casas equipadas com os serviços públicos mais básicos. 

Em 2000, eram 53,9% e 34% respectivamente. 

Quanto menor a renda, menor a parcela de domicílios adequados:
 o rendimento médio dos domicílios adequados era de R$ 3.537,95, enquanto o dos inadequados era de R$ 708,94.

Segundo a pesquisa, aumentou a presença de televisão, geladeira e máquina de lavar roupa nos três níveis de adequação.

Domicílios adequados por raça, comparação 2000-2010
Foto: Editoria de Arte
Editoria de arte O Globo

Tem rabo de gato. Focinho de gato. Olhos de gato. Pelo de gato. Mia como um gato. Teori Zavascki : Indicado ao STF defende foro privilegiado em sabatina no Senado

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou, nesta quarta-feira, a indicação do ministro do Superior Tribunal de Justiça Teori Zavascki para o Supremo Tribunal Federal. Foram 18 votos favoráveis e uma abstenção.

A votação no plenário do Senado deve ocorrer depois do segundo turno das eleições. Teori Zavascki foi indicado pela presidente Dilma Rousseff para a vaga, após aposentadoria do ministro Cézar Peluso.

Na sessão, Zavascki defendeu a manutenção do foro privilegiado para autoridades:
- No julgamento de uma autoridade existem forças que atuam contra e a favor. Os tribunais superiores têm capacidade de reagir com mais imparcialidade.

Ele também defendeu o poder de investigação do Ministério Público.

- No meu entender não existe monopólio da polícia judiciária para investigar, senão teríamos dificuldade de explicar as CPIs, Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) , CGU (Controladoria-Geral da União) e Banco Central. E a ação penal pode ser instaurada independente de inquérito policial. O Ministério Público pode investigar e oferecer denúncia sem inquérito.

O ministro criticou a publicidade dada ao processo de tomada de decisões do Supremo:
- O excesso de exposição não colabora para as boas decisões. Esse sistema brasileiro é inédito. Em geral, nas cortes de Justiça, as decisões são tomadas em sessões reservadas e depois são publicadas bem fundamentadas.

Durante a primeira sessão para sabatiná-lo, em setembro, a oposição e senadores independentes da base aliada obstruíram a sabatina porque queriam a garantia de que Zavascki, atualmente ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), não participaria do julgamento do mensalão.

O temor era que ele pedisse vistas do processo.

Na ocasião, Zavascki deixou a questão em aberto, afirmando que a decisão sobre a participação no julgamento do mensalão não é do ministro, mas do colegiado do STF:
- Quando se trata de um julgamento colegiado, não é um eventual juiz que chega a um tribunal que vai determinar quando ou onde vai participar. Existem regras. E essas regras são controladas pelo órgão colegiado.

O STF segue firme e forte

 
Engana-se quem imagina que a absolvição dos publicitários Duda Mendonça, marqueteiro da campanha de Lula de 2002, e sua sócia Zilmar Fernandes, das acusações de lavagem de dinheiro e evasão divisas, significa um arrefecimento da "tendência condenatória" do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da Ação Penal 470(mensalão).

Em primeiro lugar, porque não existe nenhuma "tendência" predominante a conduzir o comportamento dos magistrados, que até agora, e mais uma vez, proferiram seus votos com base no entendimento judicante de cada um, sempre claramente explicitado, a respeito do conjunto probatório existente nos autos.

Em segundo lugar, mas não menos importante, a inclusão de Duda Mendonça e de sua sócia no processo do mensalão foi um flagrante equívoco técnico do Ministério Público, que os ministros do Supremo trataram de corrigir.

Seu contrato com o PT, para prestação de serviços de marqueteiro na eleição presidencial de 2002, evidentemente nada tinha a ver com os "contratos" de compra de votos para apoio ao governo eleito naquele ano que já produziram tantas condenações no julgamento da Ação Penal 470(mensalão) do STF.

É natural que um grande número de cidadãos brasileiros, em proporção certamente inédita para o julgamento de uma ação penal, esteja acompanhando atentamente as sessões da Suprema Corte e, para usar a expressão apropriada, comemorando a condenação dos principais réus.

Não porque estes estejam vinculados a esta ou aquela corrente política ou facção partidária, mas pelo simples fato de que, pela primeira vez na história brasileira, um grande grupo de criminosos de colarinho-branco, integrado por destacados líderes políticos e prósperos empresários - "uma grande organização criminosa que se posiciona à sombra do poder", nas palavras do decano ministro Celso de Mello -, é levado às barras de um tribunal para aprender que a Justiça trata igualmente a todos os cidadãos e, nesse sentido, não hesita em acabar com a impunidade dos poderosos.

É compreensível, portanto, que os petistas, à frente o Grande Chefe, não se conformem com a decisão da Suprema Corte e não se inibam, os mais afoitos, na insensatez de tentar desqualificar o julgamento, com base nos mais despropositados argumentos:
desde o delírio conspiratório, que atribui tudo o que os contraria ao conluio das "elites" com a "mídia conservadora", até o patético apelo à pieguice que verte lágrimas pelo "passado de lutas" de alguns dos condenados.

Um colegiado que tem 7 de seus atuais 10 membros nomeados por governos petistas não pode, obviamente, ser acusado de tendencioso contra o PT.

Mas os petistas reclamam que a condenação de José Dirceu, por exemplo, baseou-se em elementos "fora dos autos", uma vez que no processo não haveria prova documental de que o ex-número dois tenha tido alguma coisa a ver com o mensalão.

Mas os mesmos petistas, o número dois inclusive, não hesitam em apresentar como argumento em defesa de Dirceu e de Genoino a história de lutas, prisões e torturas vivida por ambos no combate à ditadura militar e a favor da redemocratização do País.

Ou seja:
os ministros deveriam julgar Dirceu e Genoino fora dos autos, em homenagem a seu passado de lutas.

O principal argumento de Lula e seus comandados, implícito em suas manifestações, é o de que os fins justificam os meios e assim, considerando tudo o que nos últimos 10 anos tem sido feito a favor dos oprimidos pelas elites, o mensalão deve ser considerado, no máximo, um malfeito perfeitamente desculpável, porque colocado a serviço de uma causa muito maior:
a redenção do povo brasileiro.

Colocada nesses termos, essa pode parecer uma caricatura da posição petista. Mas foi exatamente o que afirmou dias atrás o ministro Gilberto Carvalho, ao minimizar a influência do mensalão nas eleições municipais:
"A população tem muita sabedoria para julgar e entender que o que vale é a prática de um projeto que está mudando o País, diminuindo a pobreza".

Quer dizer:
o mensalão não vale.
Não tem a menor importância.
Não significa coisa alguma.
O que vale é o PT no poder. 

O Estado de São Paulo

JÁ QUE O "MARQUETINGUE" SE DIVORCIOU DO brasil maravilha DOS FARSANTES, UM POUCO DE BRASIL REAL : Um lustro de baixo crescimento


Geralmente, no último trimestre de cada ano, a opinião pública fica atenta ao que os diferentes meios de comunicação destacam como as perspectivas econômicas mais prováveis para o ano seguinte.

Instituições e agentes econômicos apresentam os seus prognósticos sobre as principais variáveis macroeconômicas:
a taxa de crescimento,
a taxa de inflação,
o nível de desemprego,
o balanço de pagamentos, etc.

No atual contexto da economia brasileira, trata-se de antecipar o futuro da crise que está nos envolvendo de maneira inequívoca e inexorável.
Dispõe-se, atualmente, de um amplo conjunto de roteiros metodológicos alternativos para a análise dos estados futuros de uma economia.

Esses roteiros vão desde o tratamento do futuro como extrapolação do comportamento recente das variáveis econômicas até o tratamento do futuro como algo desconhecido ("cisnes negros") que estaria além dos atuais níveis de conhecimento e da experiência de analistas.

Contudo, muito se aprendeu com as inúmeras crises econômicas que se seguiram no pós-2.ª Guerra Mundial, desde a depressão econômica de 1929.
Os roteiros metodológicos mais confiáveis apresentam os futuros a partir de cenários. Cenários não são projeções, mas mapas de possibilidades e opções particularmente úteis para contextos de rápidas mudanças e inflexões.

Mal elaborados, podem levar a sérios erros de planejamento e a graves consequências sociais.

Muitas vezes, ao construir o cenário futuro de uma economia, as restrições e condicionalidades, internas e externas, que a ela se impõem acabam por se constituir num imperativo determinante de suas perspectivas imediatas e mediatas. Os graus de liberdade para formular e implementar políticas públicas se reduzem e "o que fazer" fica limitado apenas pelo "como fazer".

Esta parece ser a situação atual dos ventos dominantes sobre a economia brasileira: os limites do possível se encolheram. O governo federal dispõe de limitado nível de controle sobre uma política fiscal anticíclica de defesa dos níveis de emprego e de renda, por diversos motivos.

O seu nível de endividamento bruto cresceu muito, quando nele se incorpora o endividamento público indireto por meio dos repasses do Tesouro ao BNDES e às outras instituições financeiras federais. O grau de comprometimento e de vinculação das receitas do governo federal é muito acentuado com as despesas de pessoal e de custeio, com as políticas sociais compensatórias, com os serviços da dívida, etc.

Daí os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) estarem quase todos empacados em seus cronogramas físicos e financeiros.

Finalmente, a capacidade de gestão e de implementação da máquina administrativa do governo federal é precária, sitiada por processos de corrupção administrativa e por interesses velados.

Mesmo quando a queda na taxa de juros dá um alívio nas despesas com os serviços da dívida, a avalanche das despesas correntes ocupa de prontidão os espaços de novos investimentos em infraestrutura econômica indiretamente produtivos.

Por outro lado, as restrições e condicionalidades do setor externo de nossa economia têm assumido um caráter dramático nos últimos meses.
A crise internacional deixou de ser espacialmente localizada, para se tornar interdependente e consanguínea, levando ao desalento a maioria das economias nacionais, sem respeitar o seu padrão de estabilidade ou suas potencialidades de crescimento.

Crises globais são mais dramáticas em termos de duração, amplitude e volatilidade do que os ciclos de negócios típicos do período pós-2.ª Guerra Mundial, tanto nas economias avançadas quanto nas economias emergentes.
E crises bancárias internacionais muitas vezes resultam em ondas de moratórias nacionais poucos anos mais tarde.

Neste contexto, não seria exagero sugerir que o lustro que se estende até 2015 poderá ser de traumático baixo crescimento para a economia brasileira, contendo espasmos ocasionais de expansão de curta duração seguidos de instabilidades regressivas.

Paulo R. Haddad O Estado de S. Paulo
Um lustro de baixo crescimento

ESTIRPE TORPE = Kit mentira



A cada dois anos, mais ou menos quando o inverno vai chegando ao fim e a primavera se aproxima, o PT abre sua caixa de ferramentas, dispara a fazer terrorismo e a assacar mentiras.
 
Não se trata de eventos fortuitos:
são as armas que o partido dos mensaleiros usa recorrentemente no período eleitoral. Este ano não está sendo diferente. 
 
O país assiste, perplexo, à deslavada intromissão da máquina petista nas campanhas às prefeituras municipais. Incitada por seu tutor, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff pôs o governo dela a serviço das candidaturas petistas e também lançou mão, com gosto, do kit mentira do PT.

O arsenal inclui as mistificações de sempre em torno das privatizações, o anúncio de medidas populistas que depois não se efetivam, a manipulação de verbas orçamentárias e o emprego de bens públicos em favor de um aparelho partidário - prática que se consagrou no mensalão, ora sobejamente condenado pelo Supremo Tribunal Federal.


Com sua sede desmesurada pelo poder, este ano o PT está indo fundo no kit mentira. Vejamos.

No início de setembro, por ocasião da data de comemoração dos 190 anos da independência do país, Dilma ocupou rede nacional de rádio e TV para fazer proselitismo político. Comportando-se como militante partidária, atacou adversários e, com pompa e circunstância, anunciou aos brasileiros uma boa notícia que, se concretizada, só se materializará daqui a meses.

Soube-se agora, porém, que o que era acintoso tornou-se farsesco. No pronunciamento à nação, a presidente prometeu uma queda de 20%, em média, nas tarifas de energia praticadas no país. Eis que, ontem, o governo admitiu que a conversa da redução das tarifas não é bem assim: "Não posso garantir que dará 20%",
(disse ) Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética.

Ocorre que, ato contínuo ao pronunciamento-comício de 7 de setembro, para conseguir a desejada redução das tarifas o governo impôs às empresas do setor draconianas e intempestivas regras de renovação dos contratos de concessão que simplesmente instauraram o caos num segmento-chave para o futuro do país.

O novo modelo, que balizará contratos com duração de 25 anos, foi enviado ao Congresso na forma de medida provisória, ou seja, com obrigatoriedade de ser apreciado a toque de caixa. No Parlamento, já recebeu mais de 400 propostas de emendas e não se sabe com que irá sair de lá. 
A despeito disso, as companhias de energia estão tendo que tomar decisões que afetam seu futuro pelas próximas décadas em cima de simples conjecturas.

Mas o kit mentira do PT não se limita a ludibriar o cidadão com promessas temerárias ou com medidas inconsequentes. Inclui também dizer uma coisa em cima dos palanques e fazer outra no governo. É o caso, mais uma vez, das privatizações. 


 Este ano, depois de décadas negando o óbvio, o PT dobrou-se à evidência de que privatizar faz bem ao país. Mas bastou o período eleitoral chegar para os partidários de José Dirceu e seus mensaleiros tirarem do armário a velha fantasia antiprivatista, como fez ontem Fernando Haddad em São Paulo.
 

O neófito petista "acusou" José Serra de ter "a privatização na veia", numa referência ao bem sucedido modelo adotado no município e no estado de São Paulo que põe instituições como o Hospital Sírio-Libanês para cuidar (bem) da prestação de serviços de saúde à população mais carente, atendida pelo SUS.
 

O Sírio é o mesmo hospital onde Lula se curou do câncer na laringe. Seus tratamentos de ponta e sua reconhecida competência jamais seriam acessíveis a pobres sem que existisse o sistema adotado em São Paulo para a gestão da saúde. Haddad não apenas o critica, como propõe agora acabar com o modelo, o que pode simplesmente fechar o acesso de quem mais precisa a serviços de saúde de excelência.

Mas nem é preciso ir muito longe para rebater o mais novo pupilo de Lula em sua fantasia antiprivatista. Seu próprio partido cuida disso: ontem, em um seminário em São Paulo, o ministro Fernando Pimentel anunciou que o governo federal está apenas esperando "passar as eleições" para anunciar novas privatizações de aeroportos e portos, informou (O Globo). 


 Afinal, o PT é contra ou a favor de um serviço mais bem prestado aos cidadãos brasileiros?  O kit mentira dos petistas completa-se com a manipulação das verbas públicas, como mostra o Correio Braziliense

O Orçamento da União virou arma para os petistas tentarem ganhar eleições no grito: dos R$ 343 milhões empenhados pelo governo federal para emendas individuais neste ano, 93% foram para deputados e senadores de partidos aliados.

Outro caso escabroso é o anúncio de obras milionárias para Manaus, feito ontem por Dilma em audiência no Planalto. Como parte do pacote embusteiro, na próxima segunda-feira a presidente irá à cidade para tentar socorrer a candidata apoiada pelo PT - que no primeiro turno teve metade dos votos do tucano Arthur Virgílio e quase ficou fora da disputa.

As eleições são ocasiões em que a população renova sua confiança nas instituições e sua fé numa vida melhor. O PT e seus candidatos, porém, preferem distorcer o que deveria ser uma festa da democracia. 

A cada dois anos, a cada pleito, exercitam o que mais sabem fazer:
enganar, com um monte de mentiras, a boa-fé dos brasileiros.
O voto é a melhor, mais verdadeira e eficiente resposta a este embuste.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Kit mentira

A disputa do anjinho e do diabinho


Em quem devo acreditar? 
No anjinho que sussurra no meu ouvido direito ou no diabinho que me provoca do lado esquerdo? 

O anjinho abana-me com suas asas e diz que o Brasil é um país que já deu certo e está no caminho de se tornar uma liderança mundial. 

O diabinho espeta-me com seu tridente e tenta convencer-me de que estamos negligenciando, como sempre fizemos, os nossos problemas estruturais. 

O anjinho cantarola que o mensalão está sendo julgado pelo STF com plena independência, o que comprova que o Brasil tem instituições que são maiores e mais perenes que os governos e os partidos no poder. 

O diabinho argumenta que vivenciamos uma perda de qualidade institucional e o elevado número de votos nulos, em branco e abstenções nas eleições municipais comprova que grande parte da população credita pouca confiança às instituições políticas. 

O anjinho exalta as ações do Estado no combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas, que se estão tornando mais sofisticadas e complexas. 

O diabinho faz pouco caso das ações de controle nas fronteiras e lembra que comprar armas de fogo no mercado negro é mais fácil e barato que comprar antibiótico na farmácia. 

O anjinho orgulha-se dizendo que foram tomadas medidas decisivas para estimular o crescimento da indústria no País, com elevação de tarifas, exigências de conteúdo nacional e desoneração tributária. 

O diabinho, embora consciente da importância da indústria em qualquer economia, lembra que no Brasil ela é protegida desde os tempos de Juscelino Kubitschek e o consumidor paga essa conta com produtos mais caros e obsoletos, e que esse não é o setor da economia mais dinâmico na geração de empregos. 

O sangue sobe à cabeça do anjinho, que se enfurece e argumenta que a inovação tecnológica nasce na indústria e se espalha pelas demais áreas. Por isso é necessário que existam políticas de estímulo ao setor industrial. 

O diabinho, plácido, lembra que inovação depende de educação e nesse quesito o País não tem muito o que falar. 

O anjinho, mais revoltado que nunca, diz que jamais se investiu tanto em universidades federais e que o Programa Ciência sem Fronteiras vai revolucionar a ciência brasileira. 

O diabinho, mais calmo que nunca, lembra que no Brasil prevalece o modelo em que a ciência (universidades) e a inovação (setor privado) são separadas, não estimulando multinacionais a investir em inovação aqui e levando as universidades a gerar ciência de retorno de longo prazo duvidoso. 

O anjinho procura se acalmar e lembra que o Brasil é um dos poucos países do mundo que está crescendo, segue em ritmo de pleno emprego e, ao mesmo tempo, tem saúde e previdência universal para sua população. 

O diabinho exalta a geração de empregos no País e ri da ingenuidade do anjinho: qual o sentido de um sistema de saúde universal em que os recursos dos contribuintes se perdem numa longa cadeia de desvios e corrupção? 
E de que vale a universalidade da previdência hoje, sabendo que o sistema precisa ser reformado, dados o envelhecimento da população e a queda da taxa de natalidade? Não estaríamos, pergunta o diabinho, garantindo bem-estar acima do necessário às gerações atuais e extraindo-o das futuras? 

O anjinho volta a ficar empolgado com o diálogo e saltita de alegria ao dizer que o País pôs em prática um dos mais bem-sucedidos programas de distribuição de renda do mundo, o Bolsa-Família. 

O diabinho, sem pestanejar, concorda com a importância do programa, mas retruca que de nada adianta distribuir renda sem reformar uma estrutura tributária que pune as pessoas de menor renda, pois são elas que poupam menos e gastam maior parcela da sua renda com consumo. 

O anjinho regozija-se com o ciclo virtuoso por que passa a economia brasileira, com redução da taxa de juros, controle da inflação e grande crescimento do mercado de crédito. 

O diabinho diverte-se com o otimismo do anjinho e lembra que o Brasil não é um país pró-negócios e que boa parte do setor privado quer manter o emaranhado de leis e exigências existentes porque o custo Brasil o mantém protegido e livre de competição. 

O anjinho, ainda maravilhado com o sucesso econômico que é o Brasil, discursa sobre os grandes avanços em infraestrutura que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está promovendo e defende a política do governo de permitir concessões privadas de longo prazo em setores controlados por empresas estatais. 

O diabinho praticamente perde as estribeiras porque, assim como ele reconhece que há avanços, o anjinho precisa concordar que a eficácia do PAC é muito baixa e as concessões privadas nos aeroportos são uma prova de que o modelo defendido não vai promover os investimentos necessários nem melhorar os serviços para a população. 

O anjinho, que já havia entendido que o diabinho estava devotado a irritá-lo, lembra que o País é uma liderança mundial em ascensão e está exercendo seu poder por meio de cooperação internacional, transferência de tecnologia e internacionalização das empresas nacionais, sem uso de poder militar, como fazem os EUA, nem do modelo colonizador, como fizeram os países europeus. 

O diabinho diverte-se com a inocência do anjinho e argumenta que o destino de qualquer potência de recursos naturais, como é o caso do Brasil, mesmo que não queira, é ser catapultado ao posto de liderança mundial. 

Anjinho e diabinho já estavam cansados do debate e minha cabeça, cheia de ouvir argumentos opostos. Ambos estavam certos. 

Mas se é verdade que o Brasil está avançando muito, e também é verdade que o País ainda tem diversos problemas para enfrentar, é o diabinho que tem mais razão. Apontar os desafios, portanto, é mais importante que ovacionar cegamente as conquistas. 

É o diabinho que opto por escutar. 

André Meloni Nassar O Estado de S. Paulo