"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 08, 2011

CELEIRO DE FALCATRUAS. FALTA SABÃO E ESCOVÃO E SOBRA SALIVA.

Está para ser testada a real intenção da presidente da República de limpar a barra de seu governo.

O Ministério da Agricultura está se revelando um celeiro de irregularidades tão pródigo quanto a autoestrada da corrupção pavimentada na pasta dos Transportes.

Mas fica cada vez mais claro que a "faxina" anunciada há duas semanas por Dilma Rousseff não passa de mero golpe de marketing.

Neste fim de semana, pipocaram reportagens mostrando o descalabro que grassa na Agricultura. A mais incisiva foi publicada na revista Veja e resultou na demissão, ainda no sábado, do número 2 da pasta:
o secretário-executivo Milton Ortolan.

Homem de extrema confiança do ministro Wagner Rossi, com quem trabalha há 25 anos, ele caiu por ver seu nome associado à desenvolta atividade do lobista Júlio Fróes.

Mais uma vez, revelou-se a existência de práticas espúrias envolvendo a negociação de bens públicos em favor de interesses privados. No caso de Fróes, os aliados do petismo chegaram ao requinte de franquear sala, computador e secretária para que o lobista despachasse dentro do órgão - mais especificamente na sua Comissão de Licitação - e redigisse documentos oficiais em que o beneficiado era uma empresa representada por ele mesmo.

"Mesmo sem nenhum vínculo formal com a pasta, o lobista cuida dos processos de licitação, redige editais, escolhe empresas prestadoras de serviços - e, ao fim de cada trabalho bem-sucedido, distribui pacotes de dinheiro aos funcionários [do Ministério da Agricultura].

Em outras palavras, paga propina aos que o ajudam a tocar seus negócios escusos.
O lobista faz tudo isso com o conhecimento e o aval da cúpula do órgão. E, segundo suas próprias palavras, com a autorização de seu amigo, o ministro Wagner Rossi", sintetiza Veja.

Acossado por mais um fim de semana de denúncias deste calibre, o Planalto teve de sair a campo ontem para expressar, por meio de nota oficial, "confiança" na atuação de Rossi. É um mau sinal para o ministro: no início de julho, a mesma "confiança" foi manifestada pela presidente da República em relação a Alfredo Nascimento, que, dois dias depois, foi demitido do Ministério dos Transportes...

Assim como os Transportes, a pasta comandada por Wagner Rossi tem sua central de falcatruas: a Companhia Nacional de Abastecimento, a Conab. Seu orçamento de R$ 2,8 bilhões para este ano pode não ser tão vistoso quanto o do Dnit, com seus mais de R$ 17 bilhões, mas é suficiente para atiçar a sanha de corruptos e corruptores.

A Conab foi transformada num "cabide de empregos", esquadrinhado pela Folha de S.Paulo no domingo. Também O Globo mostrou que sobrenomes vistosos de próceres do PMDB e do PTB são comuns na lista de cargos do órgão distribuídos entre afilhados políticos e aliados - muitos dos quais sequer se dão o trabalho de dar expediente por lá.

Os descalabros na Conab datam da época em que o atual ministro da Agricultura comandava o órgão, entre junho de 2007 e março de 2010.

Para alimentar as bocas sedentas por cargos, cevadas pela estratégia de poder do PT, Wagner Rossi mais do que quadruplicou o número de cargos de confiança na empresa, que passaram de 6 para 26 no intervalo de menos de três anos.

Até presidente de time de futebol do interior paulista ganhou cargo lá.

Seguidas vezes, a associação de servidores da Conab alertou o Palácio do Planalto para a ocupação política da empresa, mas o máximo que a assessoria de Dilma fez foi remeter as denúncias para que o Ministério da Agricultura tomasse ciência delas.

Pôs o lobo para cuidar do galinheiro. Resta claro que, no feudo do PMDB e do PTB, o ímpeto da "faxina" da presidente parece não ter fôlego para prosperar.

O desdém da presidente da República por zelar pelo bem público contrasta com sua dedicação a detalhes insignificantes do dia a dia de governo. Já virou folclore em Brasília o afinco com que Dilma se lança a conferir listas de convidados, de passageiros de voos presidenciais e de ingredientes de menus servidos em solenidades.

Também viceja entre seus subordinados o incômodo por ver projetos importantes mantidos na gaveta em razão da demora da presidente em dar-lhes aval, como mostrou ontem O Estado de S.Paulo.

Igualmente inquietante é a forma deselegante com que Dilma trata os integrantes de sua equipe, desde ministros a assessores, de acordo com o que divulgou O Globo.

O que se tem de concreto é uma presidente atrapalhada com as lides cotidianas do mais importante cargo da República. Dilma dedica atenção demais ao que merece importância de menos.

Naquilo que realmente interessa - varrer a sujeira da corrupção para fora do aparelho estatal e punir corruptos e corruptores - suas intenções manifestas não correspondem aos fatos.

Neste governo, falta sabão e escovão e sobra saliva.

Fonte: ITV

Inflação de serviços supera IPCA e sobe 9,4% em 12 meses

A inflação dos serviços atingiu em julho o pior nível desde a implantação do regime de metas em 1999 ao registrar alta de 8,8% em 12 meses, sem levar em conta os preços da alimentação fora de casa.

Quando esse item é incluído, a inflação dos serviços sobe e atinge 9,4%. No mesmo período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 6,87%.


A desaceleração nos preços dos serviços entre junho e julho não animou os especialistas. A alta passou de 0,60% para 0,42% no período. Com a inclusão dos restaurantes, o recuo do índice foi de 0,55% para 0,52%.

"Já esperávamos uma pressão menor devido aos reajustes mais baixos em aluguéis, condomínios e serviços bancários", diz Thiago Carlos, da Link Investimentos.
"Mas creio que essa é uma retração pontual", afirma ele.


Para Thiago Curado, da Tendências Consultoria, a intensa demanda por serviços deve continuar no segundo semestre, o que manterá os preços pressionados. "Com o aumento esperado de 14% para o salário mínimo em 2012, os sindicatos terão fôlego para pedir aumentos reais", explica o economista, que prevê alta de 8,4% nos serviços em 2011, contra IPCA de 6,6%.

Arícia Martins e Francine De Lorenzo | De São Paulo Valor Econômico

" TODOS OS PARTIDOS TEM TELHADO DE VIDRO".


Desde que surgiu como um personagem central do escândalo do mensalão, em 2005, o ex-deputado federal Roberto Jefferson tornou-se uma espécie de especialista em esquemas de corrupção em Brasília.


Agora, mesmo sem mandato parlamentar, o presidente nacional do PTB está acompanhando de perto as denúncias sobre partidos da base aliada no governo Dilma Rousseff.

Com o know-how e a desenvoltura de quem já pontificou num escândalo histórico, ele diz não ver semelhança entre esses casos recentes e o mensalão. Em entrevista à ISTOÉ, Jefferson afirma que o PT "rompeu limites éticos", sendo o primeiro partido a usar a máquina pública para captar recursos.

"Hoje todos os partidos têm telhado de vidro", acredita. Para ele, que considera normal o "loteamento político", está fazendo falta uma certa etiqueta: "Não pode é pôr o partido dentro do ministério para captar."

O ex-deputado faz elogios à ação de limpeza da presidente Dilma(telhado?), mas garante que o PTB não quer nada em troca. "Vamos aju­dá-la a atravessar essa tempestade, sem pedir contrapartida."(sic)

Se demonstra boa vontade com a presidente, Jefferson fica exaltado ao falar sobre o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no STF. Tem certeza de que Barbosa pedirá sua condenação.

E desde já sai atirando:
"O Joaquim Barbosa não é um homem do Tribunal, ele quer aplauso em botequim." Apesar do ataque ao relator, o ex-deputado reconhece que cometeu delito eleitoral de caixa 2. Mas não aceita a acusação de corrupção e lavagem de dinheiro.


Istoé -O sr. acredita que essas denúncias que derrubaram a cúpula do Ministério dos Transportes são sinais de um novo mensalão?

Roberto Jefferson - Não. Aquele esquema que o PT montou para comprar apoio parlamentar morreu. Como o PT não queria dividir o poder com ninguém, preferia pagar para ter apoio nas votações. Com o PTB e os outros partidos a conversa era de aluguel mesmo. Já outra coisa era o João Paulo Cunha, que, sendo do PT, não precisava receber dinheiro para votar com o governo. Ele sacou do esquema do Marcos Valério para quitar dívidas de campanha. Hoje em dia a sociedade está mais atenta. No caso do PR, o mais provável é que o partido estava fazendo caixa.

Istoé -Para quê?

Roberto Jefferson - Pagando dívidas de campanha ou fazendo caixa para as eleições, pois não se ganha eleição neste país sem estrutura.

Istoé -E isso não é corrupção?

Roberto Jefferson - Não quero usar uma expressão tão violenta. É uma atitude mais pragmática. A Dilma já deixou claro que não compactua com esse tipo de ação política. Já o Lula era mais tolerante e o PT, mais condescendente. Dilma é diferente. Ela não suja a sacristia.

Istoé -Todo partido que ocupa um ministério faz o mesmo?

Roberto Jefferson - Bem, não posso dizer que todos fazem, mas a maioria faz. E sem cautela. É preciso entender que a relação de partidos com empreiteiras e outros agentes que compõem interesses do governo é algo natural. É assim que funciona o mundo. A questão é ter equilíbrio. Não pode é o deputado despachar de dentro do ministério. Isso é um equívoco absoluto.

Istoé -Se há loteamento político dos ministérios e estatais, qual é o limite dos partidos?

Roberto Jefferson - Se o empresário quer ajudar o partido, tudo bem, vai lá e faz a doação. Não pode é botar o partido dentro do ministério para captar. Há um limite ético que foi rompido lá atrás pelo PT. Hoje todos os partidos têm telhado de vidro. O PR errou porque perdeu a cautela. A presença do presidente de honra do partido, o deputado Valdemar Costa Neto, dentro do ministério presidindo licitação é uma burrice sem tamanho.

Istoé -Profissionalizar a gestão não é o ideal?

Roberto Jefferson - Claro que sim, mas sem tirar a política disso. Eu temo o discurso que a mídia está fazendo de só colocar técnico. Já foi assim na ditadura. Acontece que os burocratas também se corrompem e, às vezes, denunciam os políticos porque têm interesse no conflito.

Istoé -O financiamento público de campanha ajudaria a evitar esses esquemas de corrupção?

Roberto Jefferson - Financiamento público é um escândalo. Sou contra. Defendo é que se pare de bater no financiador privado, que hoje é visto como bandido. O doador privado tem presunção de culpa. É preciso entender que não existe almoço grátis, nem na relação entre marido e mulher. Manda a mulher negar amor ao marido durante um mês para ver se ele paga as contas dela!
(...)
Istoé -O PTB apoiaria uma CPI dos Transportes?

Roberto Jefferson - Nunca! Tenho horror a CPI. Só serve para politizar o fato. A CPI vai paralisar o governo da Dilma, vai fraturar a base de apoio, gerar ressentimentos e torná-la refém do PT. Ela precisa de apoio para governar, ou vai ficar nas mãos do PT.

Istoé -Mas, se a Polícia Federal não abre um inquérito, a CPI não seria uma saída para esclarecer as denúncias?

Roberto Jefferson - A PF não abre inquérito porque não tem elementos para isso. A própria Dilma já reconheceu que nem todos os demitidos são culpados. É preciso um fato jurídico relevante para que a PF investigue. Além disso, a Dilma não vai a lugar nenhum com um governo policial. O que ela precisa é de um novo articulador. Ela perdeu o Antônio Palocci, e nem a Gleisi Hoffmann ou a Ideli Salvatti são habilitadas para essa função. Falta um algodão entre cristais.

Istoé -Recentemente, a Procuradoria-Geral da República apresentou seu parecer final sobre o mensalão, pedindo a condenação de 26 réus. O sr. acredita no julgamento?

Roberto Jefferson - Penso que o processo está indo bem, apesar de o ministro-relator Joaquim Barbosa ter faltado muito e atrasado os trabalhos. Ele era o presidente do inquérito, mas faltava, faltava e faltava. Tanto que o STF se reuniu e falou para ele: "Volta a trabalhar ou fica no botequim." Ele faltava com dor de coluna, mas aparecia no botequim. E depois botava a culpa no processo democrático da defesa. Mas acho que agora está chegando a bom termo. O procurador-geral Roberto Gurgel apresentou suas alegações finais e as defesas estão agora fazendo as suas. Vai ter muita gente condenada.

Istoé -O sr. teme ser condenado?

Roberto Jefferson - Me preocupo por causa do Zé Dirceu, pois fui cassado para satisfazer um acordo entre o PSDB e o PT. Eles precisavam dar uma cabeça de cada lado. Cometi um delito eleitoral ao fazer caixa 2? Sim, e nunca neguei isso. Mas me acusar de corrupção e lavagem de dinheiro não tem fundamento. O problema é que a condenação criminal é moral, e isso não aceito. Até porque eu avisei os ministros do Lula um ano antes. Falei com o Miro Teixeira, o Ciro Gomes, o Aldo Rebelo...
(...)
Istoé - O sr. espera um julgamento técnico no Supremo?

Roberto Jefferson - Ah, espero sim. O problema é que tenho uma visão muito particular sobre o relator. Penso que ele não sentencia para o direito, mas joga para a galera. O Joaquim Barbosa não é um homem do Tribunal, ele quer aplauso em botequim. Ele se coloca acima dos demais ministros, como se fosse corregedor. Mas não acho que seja um grande jurista. Tenho para mim que foi para o STF na cota racial e não por notório saber jurídico. Quer ser político, atravesse a rua, inscreva-se num partido e vá disputar uma eleição. Fazer demagogia com sentença é golpe baixo.

Istoé -O sr. acha que o Lula sai candidato em 2014?

Roberto Jefferson - Penso que sim. E acho que a Dilma devia assumir isso. Dizer que não é candidata à reeleição e que seu compromisso é com a reforma eleitoral e a reforma tributária. Era uma maneira de ela se liberar dessas pressões pequenas, sem se render ao toma lá da cá da política.

Claudio Dantas Sequeira e Octávio Costa

ELES FABRICAM SINDICATOS! "SÃO GANGUES QUE SE APROPRIAM DOS RECURSOS DOS TRBALHADORES".

A trajetória do ex-jornaleiro Carlos Lupi, que virou presidente do PDT e ministro de Estado, é um exemplo do quanto a política e os movimentos sociais no Brasil são capazes de transformar a vida de um cidadão.

Foi a disciplinada militância de Lupi nos partidos e nos sindicatos que consolidou seu caminho até o Ministério do Trabalho.
E desde que assumiu a pasta, em 2007, Lupi, associado ao deputado federal Paulinho da Força (PDT), ainda teve fôlego para tornar-se personagem de um novo milagre:
o da multiplicação de sindicatos.

Em apenas três anos de sua gestão no Ministério, foram concedidos 1.457 registros sindicais e há outros 2.410 pedidos em trâmite na Secretaria de Relações do Trabalho.


Nos primeiros seis meses deste ano, o ministro autorizou o funcionamento de 182 entidades sindicais, tanto de trabalhadores como patronais. Ou seja, em média surge um novo sindicato a cada dia no Brasil.

Em vez de alta produtividade associativa, no entanto, parece haver uma situação de descontrole total na concessão de registros, como indicam uma avalanche de impugnações por parte de sindicatos históricos e o acúmulo de processos na Justiça do Trabalho.

Há sinais contundentes de que a fabricação de sindicatos, federações e confederações vem atendendo a interesses políticos e partidários, não apenas trabalhistas.

Denúncias, recebidas por ISTOÉ, indicam inclusive a existência de um balcão de negócios por trás da concessão das cartas sindicais, que chegariam a custar R$ 150 mil no mercado negro da burocracia federal.


A presidente da Federação Nacional dos Terapeutas (Fenate), Adeilde Marques, relata um episódio definitivo para revelar o tratamento diferenciado que estaria ocorrendo na burocracia federal.

Quem paga, segundo ela, vai para o topo da fila das concessões de cartas sindicais. Quem se recusa a entrar no esquema pode ficar esperando indefinidamente pelo registro.

Ela conta que, ao buscar a regularização da entidade junto ao Ministério do Trabalho, em Brasília, foi encaminhada ao escritório do sindicalista Miguel Salaberry, ligado à Social Democracia Sindical, hoje a nova central UGT, União Geral dos Trabalhadores.
"Me pediram R$ 5 mil para que a carta sindical saísse mais rápido", afirma.

Indignada, Adeilde pediu apoio da Força Sindical.
Foi pior.
Em conversa com o próprio presidente da central em Sergipe, Willian Roberto Cardoso Arditti, o "Roberto da Força", Adeilde foi informada de que a carta sindical poderia custar até R$ 40 mil.
"Eu me recusei a pagar", garante.


Roberto da Força é o mesmo personagem que aparece em denúncia da presidente do Sindicato dos Servidores Municipais de Nossa Senhora do Socorro, Edjane Silveira.

Ao Ministério Público Federal, ela disse que não quis pagar o pedágio e trocou a Força Sindical pela CUT.
Em retaliação, Roberto criou, com aprovação do Ministério, um clone do sindicato de Edjane com um nome quase idêntico: o Sindicato dos Servidores do Município de Nossa Senhora do Socorro (Sindispub).

No comando desse Sindispub clonado está Joanes Albuquerque de Lima, que também preside outros sindicatos locais da Força Sindical.

"Mesmo provando que o sindicato de Edjane já existia desde 2001, a Secretaria de Relações do Trabalho arquivou nosso processo de pedido de registro sindical", reclama o advogado João Carvalho.


Há uma coleção de casos estranhos.
Em São Paulo, o camelô José Artur Aguiar conseguiu fundar o Sindicato dos Trabalhadores em Casas Lotéricas, mesmo sem nunca ter trabalhado na atividade (o registro é contestado na Justiça).

Em outro episódio, o Sindicato de Empresas de Desmanche de Veículos (Sindidesmanche), entidade patronal ligada à Força, ganhou sua carta sindical apesar de seus dirigentes – Mario Antonio Rolim, Ronaldo Torres, Antonio Fogaça e Vitorio Benvenuti – também comandarem, na outra ponta, uma entidade de trabalhadores, o Sintseve, que reúne inspetores técnicos em segurança veicular.
O objetivo da multiplicação de entidades não é difícil de entender.


MANIFESTAÇÃO
Nesta semana, a Força Sindical reuniu 17 mil pessoas
em São Paulo para pedir redução da jornada de trabalho

Sindicalistas brigam para pôr as mãos na contribuição sindical dos trabalhadores.
Só em 2010, R$ 1,2 bilhão foi arrecadado, sendo que 60% da bolada parou nos cofres dos sindicatos,
15% nas federações,
5% nas confederações
e 10% nas centrais de trabalhadores.


A criação de sindicatos clones é a maneira mais rápida de decidir a parada.

Quando reconhece um novo sindicato, o Ministério do Trabalho fornece o código que permitirá à entidade ter acesso a uma conta-corrente na Caixa Econômica em que serão depositados os recursos do imposto sindical recolhido daquela categoria. Automaticamente, então, o novo sindicato passa a ser dono do cofre.

O sindicalista Raimundo Miquilino da Cunha, presidente da Federação dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo, tem um bom exemplo de como funciona a clonagem oficial de entidades.

A federação comandada por ele, fundada há quase 30 anos, tem 24 sindicatos e representava cerca de 400 mil trabalhadores, a maioria frentistas.

Este contingente acabou abocanhado pela Força Sindical a partir da criação de sindicatos estaduais de frentistas. A tarefa de multiplicação coube a Antonio Porcino, dirigente da Força e ex-prefeito de Itaporanga (PB).

Ele criou o Sindicato dos Empregados em Postos de Serviço de Combustíveis e Derivados de Petróleo de São Paulo, depois ajudou a fundar sindicatos de frentistas em vários Estados, inclusive no Rio de Janeiro.

"O Lupi participou da inauguração do sindicato dos frentistas no Rio antes que a certidão sindical fosse publicada no "Diário Oficial" ", acusa Miquilino da Cunha.


O esquema que permite a clonagem e o fatiamento de entidades sindicais começou em 2008, a partir da Portaria 186, que estabeleceu novas regras para o registro sindical.

O texto tinha por princípio combater a unicidade sindical nas entidades de grau superior (federações e confederações), mas acabou retalhando o movimento sindical e servindo aos interesses da Força e do PDT.

A Secretaria de Relações do Trabalho, responsável pela concessão das cartas sindicais, foi comandada até o ano passado por Luiz Antonio de Medeiros, que deixou o posto para concorrer nas eleições.


Mesmo fora da pasta, ele continua operando por intermédio da técnica Zilmara Alencar e de seu chefe de gabinete, o delegado aposentado Eudes Carneiro, que representa Lupi em reuniões sindicais e inaugurações de entidades.
Carneiro é tesoureiro do Sindicato Nacional dos Delegados de Polícia Federal (Sindepol).

Questionado por ISTOÉ, Lupi negou que haja interferência política na liberação dos registros. "O papel do ministério é de mediação", diz ele.
Na opinião do ministro, a Portaria 186 "democratizou" o movimento sindical.


Não é o que pensam outros históricos sindicalistas como o ex-governador gaúcho Olívio Dutra. Para ele, a política de Lupi não passa de um "democratismo sindical", que estaria "estilhaçando a representação dos trabalhadores e favorecendo barbaridades".

Claudio Dantas Sequeira Isto é