"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 20, 2010

O USO E FINALIDADE DO ENVELOPE NA ADMINISTRAÇÃO DA CASA VIL.

Parece não ter fim a torrente de escândalos que inunda o governo Lula e, mais especificamente, a pasta que até outro dia foi chefiada por Dilma Rousseff.

A turma da ex-ministra e agora pretendente a presidente da República está enredada nas mais tenebrosas transações. Caraca!

Nas explicações do PT e do governo, a candidata não sabia de nada do que acontecia em torno de sua antiga sala no Palácio do Planalto.

Lula, muito menos.

E eram coisas pesadíssimas, como tráfico de influência, cobrança de propina, nepotismo descarado e até mesmo a farta distribuição de pacotes de dinheiro vivo como pagamento de corrupção.

Ao mesmo tempo, a campanha eleitoral atribui à petista qualidades de grande executiva.

Dá para acreditar?

Das duas uma: ou Dilma é uma péssima administradora, incapaz de perceber o que se passa sob seu nariz, ou então tem tudo a ver com este mar de lama que assola o Planalto.

Com qual versão ficar?

A mais nova reportagem da revista Veja joga mais luz nos subterrâneos petistas. Deixa claro que no governo Lula o país deixou de ter uma Casa Civil, substituída por uma verdadeira casa da mãe Joana - ou será da "tia" Dilma, como a chamavam os alopradinhos de Erenice Guerra?

(...)

Nunca é demais lembrar que Erenice Guerra e Dilma Rousseff são unha-e-carne.

Estiveram lado a lado desde os primeiros momentos do governo Lula, ainda antes da posse.

São quase oito anos juntinhas.

A pergunta que não quer calar é: onde estava Dilma enquanto esta rede de falcatruas se expandia? Na melhor das hipóteses, estaria inaugurando pedras fundamentais e obras inacabadas do PAC ou em algum palanque pelo Brasil afora. Seria, assim, uma administradora tremendamente incapaz.

A outra alternativa - que, convenhamos, é bem mais provável - é ainda pior: Dilma conhecia tudo o que se passava sob seu nariz.

Já se sabe que muitas das reuniões ocorreram no quarto andar do Palácio do Planalto.

Em sua edição de ontem, a Folha de S. Paulo mostrou que o nome de "tia" Dilma era utilizado pelos meninos de Erenice para avalizar as transações.

A candidata petista recusa-se a esclarecer as dubiedades que cercam o caso. Chama a descoberta do balcão de negócios montado na Casa Civil de "factóide".

Mostra-se, cada vez mais, um envelope fechado, que provavelmente esconde dentro uma má surpresa para o destinatário.

Ninguém sabe ao certo o que Dilma pretende para o país, já que se recusa a por no papel e divulgar seu programa de governo - algo que "nunca" acontecerá, segundo o responsável por coordenar a sua elaboração, o czar obscurantista Marco Aurélio Garcia.

É o velho horror petista à luz.

A forma mais efetiva de avaliar o que Dilma nos reserva é mirar suas atitudes pregressas e as escolhas que fez.

Suas nomeações são um primor:

Erenice, Silas Rondeau (defenestrado do Ministério de Minas e Energia sob suspeita de irregularidades),

Milton Zuanazzi (responsável por lançar a Anac no voo cego que resultou na morte de centenas de passageiros nos dois maiores acidentes aéreos da história brasileira),

Fernando Pimentel (o ex-prefeito de Belo Horizonte especializado em dossiês criminosos).

E por aí afora.

Sobre o que esperar de um governo Dilma (toc, toc, toc, bate na madeira) há outras indicações, tão ou mais explícitas.

Vocalizadas pelo "companheiro de armas" José Dirceu, elas dão conta de que, com Dilma, o PT vai finalmente implantar seu real projeto de poder, em que, entre outras coisinhas, provavelmente a imprensa não disporá de tanta liberdade quanto hoje.

Palavras do "chefe da quadrilha" do mensalão petista.

Mesmo com todo o esforço do PT para esconder quem realmente é sua candidata, pouco a pouco os eleitores brasileiros tomam conhecimento de uma realidade nada agradável.

Dilma revela-se péssima administradora, sem um programa de governo explicitado, aliada dos mais atrasados e danosos políticos do país, conivente por anos com um enorme esquema de corrupção montado

dentro de seu gabinete.

Isso não é café pequeno.


A DESENVOLTURA DA POLÍTICA TIRIRICA DO ÉBRIO E SUA CONTINUIDADE NUM POSSÍVEL MANDATO DA "COISA"

O estado normal de Lula, em política, está cada vez mais abalado, rumo à anormalidade.

Ele distorce, a seu favor e de seus amigos, tudo que é ruim.
A ruindade, para Lula, são os outros, não, por exemplo, a aberração de suas leniências e afeições políticas, nacionais e internacionais.

Em Filósofos na tormenta, Elisabeth Roudinesco fala dos filósofos franceses engajados.
De um deles, Georges Canguilhem, conta que, depois de formado em filosofia, estudou medicina e fez pesquisa sobre o normal e o anormal (patológico), em termos de saúde e política.

Para Lula, seus amigos, que notoriamente não prestam, são pessoas maravilhosas. Elucubrações psicológicas à parte, ele vangloria-se de descobrir gente boa, como criador de políticos geniais e honestos.

Mas tais criaturas são moeda falsa, como o Bolsa Família, que oculta o desemprego real do país.

Sem ela, quantos desempregados seríamos?
Por que, então, proibir que o bolsista trabalhe?
Isso é escravidão disfarçada!

Outra mentira vem do Amapá.
A polícia prendeu o governador e seu candidato à sucessão como patifes, sob cartaz no qual posavam com Lula.


A ex-ministra Dilma Rousseff, julgada por ele a fina flor do preparo para governar o país, preside o Conselho Administrativo da Petrobras.


É eficiente?
Pois, por incúria, ela não zelou pela plataforma da empresa, cujos dutos estão enferrujados e podem gerar uma tragédia.

Amigo de Lula, o governador Sérgio Cabral, do Rio, na última eleição de prefeito da capital carioca, a fim de derrotar o candidato Gabeira, decretou, malandramente, feriado a sexta-feira pré-domingo eleitoral, para estimular a fuga de eleitores rumo à região dos lagos.

Lula deve ter achado o golpe do amigo uma boa safadeza, que tirou votos de Gabeira.

O infalível Lula teve de livrar-se de muitos aliados, pelos quais pusera a mão no fogo. Um, indiciado como chefe da quadrilha do mensalão; outros, incompetentes. Para alguns Lula gravou elogios mentirosos.

Após falar em “extirpar” o DEM, como Hitler e Stalin faziam, Lula, para fugir à classificação ruim de Canguilhem, deve estancar a lama que surge, de novo, na Casa Civil, e lamentar os tiriricas que macularão o Congresso e o tornarão mais frágil.

.Se o próprio Lula não quis tiriricá-lo!

Rubem Azevedo Lima Correio Braziliense

O BRASIL DO ÉBRIO E O SEU "ESTADO" .

Pode procurar em qualquer lugar do Brasil de hoje, em qualquer setor da economia, e você vai encontrar empresários, executivos e administradores empenhados em alcançar ganhos de produtividade.

É a resposta correta ao ambiente de estabilidade macroeconômica.

Se o planejamento não será destruído pela inflação, se os lucros não serão devorados por uma moeda sem valor, então vale a pena - na verdade se torna obrigatório - buscar eficiência dentro do próprio negócio.

Agora, imaginem a sensação dessa gente de bem, do lado moderno do País, ao verificar que uma boa conexão em Brasília vale mais do que a criatividade e o esforço físico das pessoas envolvidas nas empresas.

O "capitalismo de compadres" tem esse efeito destruidor sobre o espírito empreendedor, sem o qual nenhum país vai para a frente.

De que adianta ter uma boa ideia e preparar um bom projeto se, para levá-lo adiante, precisa-se de uma decisão ou de um favor de alguém do governo?

A conexão para viabilizar o projeto acaba se tornando mais importante do que o próprio projeto.

Vamos logo fazer as ressalvas de praxe: é claro que o mercado não funciona sem o Estado, as leis, os controles e as garantias institucionais; é claro que é indispensável a atuação dos governos em educação, saúde, segurança, transporte; é claro que é razoável a presença do Estado estimulando, de algum modo, setores novos da economia ou setores mais complicados.

Mas é claro também que o Estado no Brasil vai muito além desses pontos. Isso se manifesta em vários níveis. Os dois primeiros separam a atuação do Estado como regulador e fiscalizador da ação direta na economia.

No primeiro nível estão, por exemplo, as agências reguladoras.

No segundo estão as estatais, os bancos e as empresas públicas, além do próprio governo quando atua como construtor de estradas, portos, hidrelétricas, etc.

Certamente, em todos esses níveis de intervenção estatal pode haver eficiência e espírito público. Imaginem, por exemplo - para ir ao limite -, que os diretores das agências e das estatais fossem contratados no mercado por competentes e reconhecidas consultorias privadas de gestão de recursos humanos.

Absurdo?

De jeito nenhum.

Isso é até bastante comum pelo mundo afora. O atual presidente do banco central de Israel, Stanley Fischer, um economista americano, foi contratado assim, numa espécie de concorrência global.

Aliás, basta abrir as páginas de classificados da revista The Economist: toda semana aparecem editais oferecendo vagas de diretores e presidentes de companhias públicas em diversos países, sem restrição de nacionalidade para os candidatos.

O Brasil, e especialmente no governo Lula, está no lado exatamente oposto. As nomeações são politizadas, cargos repartidos na base de apoio. Isso escancara as portas do "compadrio" e da pura e simples corrupção.

Reparem, um diretor de estatal ou de agência, contratado pela competência, terá compromissos com os resultados fixados por ocasião da admissão.

Por exemplo: a diretoria dos Correios terá como objetivo dobrar o faturamento em tantos anos e reduzir o prazo de entrega da correspondência em tantas horas. Cumpriu, recebe o prêmio; não cumpriu, está fora.

Um diretor nomeado pelo partido tem compromisso com o partido e com os companheiros em geral.

Note-se que o presidente Lula consagrou como correta a tese de que é preciso colocar os companheiros e aliados, por critérios políticos, nos postos de governo, nas agências reguladoras e nas companhias públicas.

O compromisso com o partido ou com o presidente pode ser cumprido de maneira legal, mas mesmo assim causando danos.

O governo pode impor programas e obras, sem roubalheira, mas que só se justificam política e eleitoralmente.

Por exemplo, a Petrobrás, tempos atrás, apresentou ao presidente Lula um plano de investimentos mais modesto.

O presidente mandou ampliar para os gigantescos programas atuais. É grande o risco de a empresa estar se metendo em projetos caros demais, de baixa rentabilidade.

Lula também está forçando os bancos públicos a aumentarem seus empréstimos, desde para grandes empresas escolhidas pelo governo até para famílias comprarem a casa própria.

Os empréstimos podem ser ruins e o dinheiro pode não voltar.

Por que dizemos "pode"?

Porque isso só se saberá mais à frente. Mas o precedente é este: estatais e bancos (incluindo o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal) quebraram exatamente com esse tipo de política econômica.

Já vimos esse filme.

E notem.

Os dirigentes, nomeados politicamente, nem pensam em contestar as ordens vindas do governo.

Neste caso, temos erros de política. Mas esse sistema inevitavelmente acrescenta a corrupção.

Para dizer francamente, quanto mais Estado na economia, mais corrupção.

Exemplo?

Os países socialistas, de economia inteiramente estatal, bateram todos os recordes de corrupção e ineficiência.

O governo FHC havia saneado estatais e bancos e introduzido regras técnicas e de mercado para seu funcionamento.

O governo Lula repolitizou tudo.

Com as consequências que já vemos por aí. Se conseguiram estragar os Correios - com ineficiência e corrupção -, por que não conseguiriam estragar a Petrobrás ou a Caixa Econômica Federal?

É isso aí: nessas atividades econômicas, quanto menos Estado, melhor. Deixem nas mãos dos empreendedores privados.

São mais eficientes do que os amigos do rei.

E não roubam.

Carlos Alberto Sardenberg - O Estado de S.Paulo

Quanto mais Estado, mais corrupção

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