"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 20, 2011

ELES CONTINUAM ALOPRANDO

Uma das obsessões do PT é tentar reescrever a história. O partido exercita isso num âmbito mais geral quando desdenha de tudo o que aconteceu no Brasil antes de 1º de janeiro de 2003.

Mas se dedica à missão com ímpeto redobrado quando o objetivo é acobertar os ilícitos que seus partidários praticam. Assim tem sido com o mensalão e com o escândalo dos aloprados.

Mas, a julgar pelo que revelou a revista Veja nesta semana, será difícil para os petistas continuar a varrer a sujeira para debaixo do tapete. A edição mostra como caciques do PT se articularam para tentar prejudicar a eleição de José Serra ao governo de São Paulo em 2006.

Um petista graduado deu nome e sobrenome a quem comandou toda a farsa: Aloizio Mercadante, o atual ministro da Ciência e Tecnologia do governo Dilma Rousseff.

O autor das revelações publicadas pela Veja não é um pé de chinelo qualquer. Trata-se de Expedito Veloso, ex-diretor de gestão de riscos do Banco do Brasil e atual secretário adjunto de Desenvolvimento Econômico do governo petista do Distrito Federal. Ele também integrou o núcleo central da campanha à reeleição de Lula em 2006.

Segundo a revista, "em conversas com colegas de partido, [Expedito] garantiu que o verdadeiro mentor, o principal beneficiário e um dos arrecadadores de dinheiro para montar toda a farsa foi o ex-senador e atual ministro da Ciência e Tecnologia Aloizio Mercadante. (...) Ele, inclusive, era o encarregado de arrecadar parte do dinheiro em São Paulo". Está tudo gravado.

Tem-se claro como a bandidagem era praticada nas altas esferas do petismo, ao contrário do que o presidente da República disse à época, quando a Polícia Federal apreendeu R$ 1,7 milhão que seriam usados para forjar um dossiê contra tucanos: "É coisa de aloprados".

Nada disso: é coisa de petistas.

O PSDB já adiantou que o caso precisa ser reaberto pela PF. O Ministério Público deve ser acionado e Mercadante, convocado para falar no Congresso, assim como a testemunha-chave, Expedito Veloso.

Tudo para o bem da moralidade no país. Mas é possível que um governo que se aferra tanto a manter tudo em sigilo, como o atual, faça de tudo para impedir a apuração.

Mercadante chegou a ser indiciado pela PF à época do episódio, por ser considerado o único beneficiado pelo esquema - ele disputou e perdeu em primeiro turno a eleição para Serra. Mas a acusação acabou anulada por falta de provas.

O que se soube agora é mais que suficiente para que as mais de 2 mil páginas do processo não morram em arquivos da Justiça Federal.

O momento em que a revelação de Veja vem à tona é dos mais propícios para quem luta pela preservação do interesse público no país. Com desenvoltura crescente, os petistas têm se mostrado cada dia mais empenhados em tentar transformar em miudeza de opositores os vários episódios de roubalheira dos quais o PT foi protagonista.

Para começar, uma das missões declaradas do principal líder do PT é "provar" que o pior escândalo da história recente do país, o mensalão, "foi uma farsa". Depois que deixou a Presidência da República, Lula dedica-se à tarefa com afinco incomum, como fez neste fim de semana em Sumaré, num encontro partidário.

Para o líder petista, o mensalão só ocorreu por causa da "desunião" do PT à época. Ou seja, para Lula, o duto que durante anos exauriu cofres públicos para comprar apoio parlamentar no Congresso nunca se constituiu num problema ético; o erro foi meramente tático.

Quando o principal dirigente de uma legenda diz isso, seus seguidores se sentem à vontade para fazer o mesmo. Neste estado de coisas, compactuar com o malfeito torna-se natural.

A ponto de, recentemente, a agora ministra-chefe da Casa Civil ter dito, com a maior desenvoltura, que a defesa dos partidários envolvidos no mensalão se justificaria pelo fato de eles terem agido em prol do projeto de poder do PT e não em busca de enriquecimento próprio, como fazia Antonio Palocci.

Diz-se que Lula deixou para Dilma uma herança maldita em termos de desarranjo nas contas públicas, de infraestrutura capenga, de descontrole de preços. Tudo isso é verdade. Mas seu pior legado é a leniência com o malfeito, com as irregularidades, com o mau uso dos recursos públicos.

Punir a alta esfera do partido que criminosamente contratou bandidos para prejudicar adversários representará um passo importante para implodir esta cultura nefasta que vem prosperando no país à sombra do petismo.

Fonte: ITV
Eles continuam aloprando

BRASIL O PARAISO DA TAPEAÇÃO

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O Brasil vem se tornando, nos últimos anos, uma espécie de paraíso mundial da tapeação.

O grande responsável por mais essa realização nacional é o governo, ou quem manda no governo, com o desenvolvimento de técnicas cada vez mais avançadas e eficientes para convencer a opinião pública de que coisas que todo mundo está vendo não existem - ou que existem coisas que ninguém consegue ver.

Isso ajuda, e muito, todas as vezes que aparece uma história feia, que o governo quer esconder, ou quando ele decide fabricar uma história bonita, para mostrar méritos que não tem.


Quase sempre a plateia acredita na mágica, bate palmas e diz, nas pesquisas de popularidade, que o governo é ótimo - ou, então, não mostra maior interesse no assunto, nem nas fábulas que a propaganda oficial está lhe contando.
Não acredita nem desacredita; apenas não liga.

O resultado é que o Brasil, hoje em dia, se transformou num dos países onde é mais fácil para o governo passar qualquer tipo de conto do vigário no público em geral.

E a célebre "malandragem brasileira", onde foi parar?

O brasileiro, segundo rezam as nossas lendas, mitos e folclore, gosta de se imaginar no papel do sujeito esperto.
(...)
Mas, se o brasileiro é tão esperto assim, por que está sempre no papel do otário em todo relacionamento que tem com o governo?
Por que o ex-presidente da República, por exemplo, tem certeza de que vão acreditar nele quando diz que o mensalão, um dos casos de corrupção mais bem comprovados da história brasileira, simplesmente não existiu?

Deveria acontecer o contrário, justamente:
o povão, com todo o seu jogo de cintura, não se deixaria enganar por uma conversa dessas. A explicação para o fenômeno pode ter sido sugerida da trinta anos atrás, talvez, pelo samba Homenagem ao Malandro, de Chico Buarque de Holanda.
(...)
O fato é que vão se multiplicando em ritmo cada vez mais rápido, e com audácia cada vez maior, as histórias milagrosas para explicar todo tipo de coisa que não tem explicação. O clima, no fim, acaba ficando cômico.

Uma das demonstrações mais recentes disso foi dada pelo ex-presidente Lula - um dos catedráticos na matéria, sem dúvida.

Na sua atual carreira de palestrante para grandes empresas, que a cada negócio fechado o faz subir mais um degrau no mundo dos milionários brasileiros, Lula fez uma conferência para a Tetra Pak, multinacional do ramo de embalagens; recebeu, pelas informações disponíveis, 200000 reais.

Não se trata, Deus nos livre, de "consultoria" do tipo que acaba de levar o ex-ministro Antonio Palocci à sua segunda ruína; é só palestra, certo?

Mas acabou surgindo, nesse caso da Tetra Pak, uma questão enjoada: a empresa pediu ao ex-presidente que conseguisse uma redução de impostos para as embalagens de leite, e ele se comprometeu a tratar do assunto "com o companheiro Mantega".

Estaria certa uma coisa dessas - um ex-presidente receber dinheiro de uma empresa e advogar para que ela pague menos imposto? Perguntado, Lula disse que estava batalhando para "levar leite de qualidade para a casa das pessoas".

Ou seja, ele pede a todos que acreditem no seguinte: seu real interesse não foi receber os 200000 da Tetra Pak, nem atender ao pedido da empresa; o que realmente queria era ajudar o povo a comprar leite.

Qual é o problema? Alguém aí vai duvidar?

Palocci, como se sabe, caiu pelo conjunto da obra, mas um dos seus piores momentos foi meter-se numa história de devolução de impostos para uma construtora.

Deve haver alguma diferença com o caso da Tetra Pak, claro. Qualquer hora dessas talvez nos digam qual é.

J.R. Guzzo Veja
E a malandragem ?

Custo Brasil não deixa PIB dobrar: sem problemas de infraestrutura e a elevada carga tributária, PIB per capita iria de US$ 10 mil para US$ 21,6 mil

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O Brasil poderia mais que dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante, dos atuais US$ 10 mil para US$ 21,6 mil, e atingir níveis de países como Coreia do Sul e Portugal, se reduzisse as ineficiências que tiram a competitividade do País, aponta estudo da LCA Consultores.

"Falta de infraestrutura e complexidade do sistema tributário, que exige 2.600 horas por ano das empresas só para pagar impostos, dividem o primeiro lugar no pódio dos principais obstáculos para ampliar a competitividade", diz o economista responsável pelo estudo, Bráulio Borges.

Para chegar a essa conclusão, Borges identificou, com base em análises estatísticas, quais são os fatores cruciais para o deslanche da competitividade e constatou seis pontos fracos que pesam no PIB per capita.

Além da conhecida falta de infraestrutura, estão nesse rol o tempo gasto pelas empresas para pagar impostos, a carga tributária sobre o lucro das companhias, o tempo para fazer valer o cumprimento dos contratos, o custo para exportar e o tempo para lidar com licenças em geral.

O economista explica que, para calcular o PIB per capita "perdido" pelo Brasil, levou em conta informações disponíveis do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e do Fórum Econômico Mundial para um grupo de 131 países. Concluiu que, se o Brasil tivesse indicadores para esses seis quesitos equivalentes à media desse grupo de países, conseguiria agregar US$ 11,6 mil ao PIB per capita anual.

Tempo.
As 2.600 horas por ano que as empresas brasileiras gastam para cumprir o rito da burocracia no pagamento de impostos faz do País o campeão mundial nesse quesito, ante uma média 284 horas para esse grupo de 131 países.
Essa ineficiência reduz em US$ 8,1 mil o PIB per capita do Brasil em relação à média dos 131 países, destaca Borges.


Apesar de não ter essa ineficiência traduzida em números, as empresas sentem na prática o impacto da burocracia. A fabricante de autopeças Bosch, por exemplo, tem dois departamentos só para isso, conta a gerente de tributos da empresa, Sheila Pieroni.

No departamento tributário, 11 funcionários acompanham diariamente com lupa as mudanças na legislação nos 27 Estados brasileiros para adequar o sistema de recolhimento de impostos da companhia às mudanças.


"Sendo bem otimista, saem dez novas legislações por dia nas quais são alteradas as formas de tributação do produto", conta a advogada. Ela diz que o trabalho aumentou depois da implantação da substituição tributária, sistema que atribui aos fabricantes a responsabilidade pelo pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devido pelo seu cliente.
"Antes acompanhávamos a legislação de três Estados, onde estavam localizadas as fábricas."


Além do departamento tributário, a empresa tem um departamento fiscal.
É uma equipe de quase 50 pessoas encarregadas de apurar os tributos. Sheila conta que uma mesma informação - por exemplo, o valor recolhido de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) - é remetida à Receita Federal de quatro formas diferentes:
eletronicamente, por meio do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped);
em papel, que é a nota fiscal;
na Declaração de Tributos Federais, que é mensal
e na declaração de Imposto de Renda, anual.


O excesso de burocracia pesa também no Grupo Orsa, um dos gigantes do setor de embalagens de papelão. Sergio Amoroso, presidente do grupo, diz que tem pelo menos 30 pessoas nas áreas contábil, de controladoria e jurídica só para cuidar da burocracia.
"Poderia ter meia dúzia de pessoas se fosse outro país. É gente que é paga para cumprir o custo burocrático do Estado ineficiente", afirma.


O empresário cita como exemplo de ineficiência o fato de a sua empresa ter de manter um hospital, o serviço de bombeiros, de abastecimento de água e de coleta de lixo em Monte Dourado, distrito de Almeirim, no norte do Pará, na divisa com o Amapá, onde a companhia tem uma fábrica de celulose.

Licenças.
Outro ponto que impacta negativamente a competitividade do País é o tempo para lidar com licenças em geral. De acordo com o estudo, são 411 dias no Brasil, ante 210 dias, que é a média dos 131 países.


"Há licenças no Brasil que são absurdas", diz Amoroso. Para ilustrar a afirmação, ele conta o caso do linhão que vai levar energia elétrica da usina de Tucuruí, no Pará, até Macapá, no Amapá.
Segundo o empresário, a empresa que ganhou a licitação conseguiu a licença do Ibama para fazer a limpeza da área.


Agora é preciso outra licença para transportar a madeira.
"Olha o absurdo: falta uma licença de algo que já está autorizado."


Profissionais que lidam diretamente com a questão das licenças ambientais admitem que um "cipoal" de exigências e a falta de definição de áreas de competências entre os organismos públicos atrasam as liberações.

Mas eles ponderam que grande parte dos estudos ambientais não tem a atualidade necessária para atender aos projetos, na maioria das vezes complexos.

Márcia De Chiara, de O Estado de S. Paulo

A Realpolitik e a utopia.

Três historinhas, sendo a primeira muito conhecida.

Condenado à morte por corromper a juventude, Sócrates, o filósofo, recusou a oferta para fugir de Atenas sob o argumento de que seu compromisso com a polis não lhe permitia transgredir as regras.

Os gregos cultivavam o respeito à lei.

Lúcio Júnio Bruto, fundador da República Romana, libertou seu povo da tirania de Tarquínio, derrubando a monarquia.

Mais tarde, executou os próprios filhos por conspirarem contra o novo regime. Pregava o poeta Horácio:
"Doce e digno é morrer pela Pátria".


Outro romano, rico e matreiro, conta Maquiavel no Livro III sobre os discursos de Tito Lívio, deu comida aos pobres por ocasião de uma epidemia de fome e, por esse ato, foi executado por seus concidadãos.

O argumento:
pretendia tornar-se um tirano.
Os romanos prezavam mais a liberdade do que o bem-estar social.


Os relatos sugerem a seguinte pergunta:
qual dos três personagens se sairia melhor caso o enredo ocorresse dentro do cenário da política contemporânea?

O terceiro, sem dúvida.

Não seria executado por alimentar a plebe, mas glorificado, mesmo que por trás da distribuição de alimentos escondesse a intenção de alongar um projeto de poder. Essa é a hipótese mais provável em países, como o Brasil, de forte tradição patrimonialista e com imensas parcelas marginalizadas e carentes.


A moldura acima oferece uma leitura de dois mundos.
O primeiro é regrado por princípios e valores, dentre os quais se destacam o compromisso com o bem comum e com a vida harmoniosa, a obediência às leis, a defesa da moral e da ética, a grandeza da Pátria.

Tem que ver com a paradisíaca ilha da Utopia, que o inglês Thomas Morus descreveu:
uma terra de paz e tranquilidade onde os habitantes não têm propriedade individual e absoluta e trocam de casa a cada dez anos, ganhando por sorteio o espaço que lhes cabe.

Esse Estado perfeito é o espelho da cidade divina, em contraposição à cidade terrestre. Esta, mais afinada com o universo esboçado por Maquiavel, se inspira no princípio "os fins justificam os meios".

O florentino prega a noção de que o povo é dotado de razão, sendo capaz de decidir o seu destino. Sonha com a liberdade. Para conquistá-lo o príncipe deve usar os meios que se fizerem necessários.

Transparece aqui a lógica maquiavélica:
ideologias e valores morais devem ceder lugar aos instrumentos que podem garantir a hegemonia ou o equilíbrio da balança do poder.
Ou, para usar a expressão de Weber, a ética da ação deve prevalecer sobre a ética da consciência.


Pois bem, o desenho pode ser projetado para entendermos a presente quadra político-institucional vivida pelo País, na qual se tem expandido a massa crítica sobre a voracidade dos atores políticos, partidos e dirigentes.

Como é sabido, na abertura dos ciclos administrativos, a crise crônica entre os Poderes Executivo e Legislativo alcança altos níveis de tensão. O fato é que os novos governantes tendem a rebater pressões e demandas por cargos e espaços no vasto território da administração federal, feitas pelos parceiros.

Tem sido assim desde os tempos de Sarney, em 1985.
Com Lula viu-se a mesma gangorra. Ora o governo ganhava mais fôlego no Parlamento, ora faltava oxigênio.
Até o momento em que o próprio presidente passou a fazer articulação política.


No caso do atual governo, a sístole tem-se apresentado de maneira mais intensa em razão da identidade técnica da presidente. Dilma Rousseff toma precauções para não se tornar refém da esfera política.

Neste ponto se abre uma polêmica, por sinal, bastante azeitada por intérpretes de nossa política, que batem de maneira insistente na tecla da "voracidade dos partidos aliados".

Denuncia-se, ainda, a criação de dificuldades por parte dos atores políticos para obter facilidades, e o fisiologismo, apresentado como traço indelével das siglas.


Esse é o ponto nevrálgico.
É possível governar sem o concurso do agrupamento partidário na administração? Impossível. Sem o apoio dos partidos da base o chamado presidencialismo de coalizão soçobrará na missão.

Qual é a medida do bom senso na distribuição das fatias do bolo do poder?

Primeira regra:
avaliar o peso relativo dos entes partidários.
Segunda:
selecionar perfis adequados e condizentes para as estruturas governativas.
Aristóteles, em suas reflexões sobre política, dá uma pista:
"Quando diversos tocadores de flauta possuem mérito igual, não é aos mais nobres que as melhores flautas devem ser dadas, pois eles não as farão soar melhor; ao mais hábil é que deve ser dado o melhor instrumento".
Trata-se de meritocracia.
Terceira:
preservar e preencher as áreas econômicas com perfis técnicos.
Quarta:
controlar, cobrar resultados.


Críticas são procedentes quando se enxerga a apropriação da res publica pelo bolso privado. Ou em caso de ineficiência dos gestores.
Para tanto há sistemas de controle, a partir do Tribunal de Contas da União e dos promotores públicos.

Portanto, nem lá nem cá.
As demandas partidárias devem ser contempladas com critério.
Partidos que ganham devem participar da administração.

Esse, porém, tem sido o calcanhar de Aquiles da presidente Dilma, ou, se quiserem, o abacaxi a ser descascado pela ministra Ideli Salvatti.
A imagem com que se defronta o governo é a de encruzilhada, onde se bifurcam duas estradas.

Uma leva os atores políticos à ilha de Thomas Morus.
Onde rezarão pela cartilha da ética, da moral, da lei, da harmonia.
Aí se ergue o altar da política como deveria ser.

A outra os conduz ao espaço da política como ela é.
Mundo de Maquiavel.
Pleno de demandas,
pressões,
pedidos,
obras,
interesses.

Essa é a terra dos nossos "ismos":
mandonismo,
nepotismo,
grupismo,
familismo,
caciquismo,
patriarcalismo,
todos sementes do patrimonialismo.


Sugestão:
uma confissão do escritor de O Príncipe com o santo que escreveu A Utopia.


Gaudêncio Torquato
JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP, CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO TWITTER: @GAUDTORQUATO

"MISERÁVEIS ENTRE MISERÁVEIS" 10 MILHÕES VIVEM COM R$39.

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Uma população estimada em 10,5 milhões de brasileiros - equivalente ao Estado do Paraná - vive em domicílios com renda familiar de até R$ 39 mensais por pessoa. São os mais miseráveis entre 16,267 milhões de miseráveis - quase a população do Chile - contabilizados pelo governo federal na elaboração do programa Brasil sem Miséria.


Lançado no dia 3 de maio como principal vitrine política do governo Dilma Rousseff, o programa visa à erradicação da miséria ao longo de quatro anos.


Dados do Censo 2010 recém-divulgados pelo IBGE que municiaram a formatação do programa federal oferecem uma radiografia detalhada da população que vive abaixo da linha de pobreza extrema, ou seja, com renda familiar de até R$ 70 mensais por pessoa - que representam 8,5% dos 190 milhões de brasileiros.


A estimativa dos que sobrevivem com até R$ 39 mensais per capita é a soma dos 4,8 milhões de miseráveis que moram em domicílios sem renda alguma e 5,7 milhões de moradores em domicílios com rendimento de R$ 1 a R$ 39 mensais. Estima-se que outros de 5,7 milhões vivem com renda entre R$ 40 e R$ 70 mensais por pessoa da família.

Os números calculados pelo Estado são aproximados e levam em conta o número médio de 4,8 moradores por domicílio com renda familiar entre R$ 1 e R$ 70 mensais.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social com base no Censo 2010, há 4 milhões de domicílios miseráveis no País.

Em 1,62 milhão desse total vivem famílias que não têm renda. Em 1,19 milhão de moradias a renda familiar é de R$ 1 a R$ 39 mensais per capita e em outro 1,19 milhão as famílias vivem R$ 40 a R$ 70.


Além da baixíssima renda, os extremamente pobres têm em comum o fato de viverem em domicílios com pelo menos um tipo de carência por serviços básicos, como energia elétrica, abastecimento de água, rede de saneamento ou coleta de lixo.


Ranking.

O Estado com o maior número absoluto de miseráveis é a Bahia, onde estão 2,4 milhões, ou 14,8% da população extremamente pobre. Os baianos miseráveis são 17,7% dos habitantes do Estado.
No Maranhão, no entanto, está a maior proporção de miseráveis.

Um em cada quatro moradores vive com renda familiar per capita entre zero e R$ 70 - um total de 1,7 milhão de pessoas, que representam 25,7% da população.
Seis Estados (PA, MA, CE, PE, BA e SP) têm, cada um, mais de 1 milhão de moradores em extrema pobreza. Juntos, eles concentram 9,4 milhões de miseráveis, ou 58% do total.

São Paulo.
Estado mais populoso do País, São Paulo tem 1,084 milhão de pessoas que vivem em domicílios em situação de pobreza extrema - o que representa só 2,6% do total de habitantes.


A pesquisadora Lena Lavinas, do Instituto de Economia da UFRJ, especializada no estudo da pobreza, acredita que em um ano seja possível "alcançar as pessoas que, embora indigentes, ficaram de fora do programa Bolsa Família". "O importante é que não haja cotas ou limites para os municípios. Todas as pessoas devem ser cobertas."

"Isso vai funcionar melhor ou pior dependendo da competência dos municípios e da capacidade de articulação dos Estados", afirma. A economista lembra que outra etapa do Brasil sem Miséria será suprir carências das famílias como acesso a serviços básicos e à educação.

"Essa dinâmica toma mais tempo, é um processo mais longo", afirmou.
Para calcular a renda média das famílias extremamente pobres, o IBGE levou em conta apenas as que têm algum tipo de rendimento, entre R$ 1 e R$ 70.

Essa população tem renda familiar média de R$ 40,70 mensais - uma longa distância de mais de R$ 30 para, segundo os critérios do governo, passar de miserável a pobre (renda familiar per capita de R$ 71 a R$ 140 mensais).


A contagem feita em 2010 aponta a existência de agrupamentos de moradias miseráveis mesmo nas cidades em que a população tem alta renda.
São José do Rio Preto (SP) é um exemplo.

Embora a renda familiar média seja de R$ 1.161,86 mensais por pessoa, há lá um conjunto de 867 domicílios extremamente pobres em que a renda média dos moradores é de apenas R$ 18,83 mensais per capita.


Grandes capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, com alta renda média da população, também registram grupos de famílias com baixíssima renda.
Entre 20.075 famílias paulistanas na faixa de extrema pobreza, o rendimento médio domiciliar era de R$ 43,08.

Há 101 mil miseráveis (com renda entre R$ 1 e R$ 70, excluídos os que não têm renda) na capital (0,9% da população). Em números absolutos, é a maior concentração de pessoas extremamente pobres do País.

O Estado de São Paulo

"É NOIS ?" MINISTRO BUFÃO DO GOVERNO MAMBEMBE .


O ministro Guido Mantega chamou a imprensa na semana passada para alardear: o risco americano, ou seja, o risco de se aplicar em títulos do governo americano, é maior que o risco Brasil.

E isso, acrescentou, se explicava pela fraqueza da economia americana e pela fortaleza da nossa; pelo fracasso da política econômica lá deles e pelo sucesso da dele, Mantega.


(...)

Pois na semana passada o CDS americano de um ano custava mais que o papel brasileiro equivalente. Viram só?

Qual é o outro lado da história?

Não foi o risco Brasil que diminuiu, foi o americano que subiu.
E por razões políticas.
Nos EUA, republicanos, que têm a maioria no Congresso, se recusam a aprovar uma lei proposta por Barack Obama que aumenta o teto da dívida americana, já no limite.

Nessa circunstância, o governo americano não pode emitir títulos novos para pagar os que estão vencendo e mais os juros.
O que vai acontecer?
O governo vai pagar em dólares (monetizar a dívida, encher o mercado mundial de mais moeda desvalorizada)?
Teria recursos para isso?
Ou vai atrasar os pagamentos?


É mais provável que os republicanos estejam apenas esticando a corda, de modo a arrancar outras coisas do presidente Obama. Mas, enquanto isso, o CDS deles subiu, piorou no curtíssimo prazo. E vai cair quando se resolver o embrulho político.

E foi tudo.
Não decorre daí que o Brasil está melhor.
Se estivesse, a taxa básica de juros aqui - os 12,25% do Banco Central - não seria a maior do mundo, disparada. A taxa real de juros não seria de 5,5% ao ano, enquanto está em torno de zero em boa parte do mundo e é negativa em muitos países, inclusive nos EUA.


Para colocar os títulos da dívida de dez anos, os EUA pagam 2,9% ao ano e o governo brasileiro paga 4,7%, em dólares. Para se financiar em reais, o governo brasileiro paga 12,3% ao ano, e o Tesouro americano paga 0,5% em moeda local.


Juros elevados num mundo de juros baixos exibem o sintoma da doença brasileira. Por que não caem? Essa é a pergunta que o ministro Mantega deveria responder. É nisso que deveria estar trabalhando.

(...)

Eis algumas histórias de que tomei conhecimento nos últimos dias:

o advogado Eduardo Fleury, de São Paulo, estava numa conference call com clientes de uma empresa americana, preparando novos investimentos no Brasil. Estavam quebrando a cabeça para descobrir como superar as variadas barreiras burocráticas.
Após algumas horas de conversa,
o CFO americano comenta:
"Mas será que vale a pena isso tudo?";


o diretor de uma empresa industrial alemã conversa com possíveis parceiros numa fábrica em São Paulo:
"Mas por essas contas, o custo de produção no Brasil é 30% maior que na Alemanha. É isso mesmo?";


de um executivo francês que trabalha no Brasil e tem família em Santos:
"Pelo telefone fixo, é mais caro falar de Santos para São Paulo do que de Paris para São Paulo. Como pode?";


de outro:
"O Brasil tem tudo para produzir energia - rios, quedas d"água, ventos, petróleo, biocombustíveis e até minério de urânio. E tem também a energia mais cara do mundo. Como pode?";


um operador do JP Morgan, nos EUA, comentando com brasileiros:
"O Brasil tem prazo de validade, vai até a Copa. Depois, todo mundo vai rever investimentos".


E, por falar nisso, também ficamos sabendo que funcionários do governo brasileiro procuraram recentemente colegas alemães para buscar informações sobre a preparação da Copa. "Agora!?" - foi a resposta (e o espanto) dos alemães.

A Copa tem sido uma das preocupações centrais do governo Dilma - e precisa mesmo ser assim. Há atrasos em todos os projetos e na organização geral. O Congresso ainda está votando a lei que regulamenta (e simplifica) as licitações de obras ligadas ao campeonato. O BNDES já tem os recursos para financiar estádios, mas a falta de alguma coisa (projeto, licitação, licença, contratos, etc.) tem bloqueado os empréstimos para obras cruciais.

Na reforma do Maracanã, por exemplo, o governo do Rio está utilizando recursos próprios para não deixar as obras paradas enquanto espera o dinheiro do BNDES. Gasta, assim, verbas orçamentárias que deveriam ser destinadas a escolas, hospitais, segurança (os bombeiros!) e unidades de pacificação.

Em São Paulo, a Odebrecht iniciou a terraplenagem do estádio do Corinthians por sua conta e risco. Simplesmente não há contrato assinado para as obras e a Câmara de Vereadores da cidade ainda está votando a lei que concede as reduções de impostos sem as quais o estádio não é viável. A Fifa vai anunciar a cidade da abertura da Copa agora em julho.

E assim segue a ciranda.
Foram impressionantes a inação e a incapacidade do governo Lula de colocar o evento num ritmo forte e seguro.
O caso dos aeroportos é o mais visível.

O que o atual governo percebeu - que o setor público não tem nem os recursos nem a capacidade para tocar as obras e os serviços necessários - estava amplamente demonstrado por analistas independentes desde que o Brasil ganhou o direito de sediar a Copa.


Mas, além desse caso, por toda parte se encontra uma falha de governo - do federal, dos estaduais e dos municipais.
Estamos de novo num ambiente do quebra-galho.
A Copa vai sair assim, no puxadinho.
Mas não se faz um país assim.
Os problemas da Copa também são um sintoma.


Carlos Alberto Sardenberg O Estado de S. Paulo
"É NOIS"