"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 09, 2014

O povo na rua

Nova onda de protestos pipocou ontem pelo país. 
São justas no conteúdo ao expressarem frustração com promessas sempre reiteradas e jamais cumpridas. Mas equivocam-se na forma, ao aviltar propriedades e depredar patrimônio que serve ao público. A presidente da República, porém, acabou chancelando os atos mais violentos, na tentativa de vestir o figurino da mudança que as pesquisas cada vez mais dizem que não lhe cabe.

Falta pouco mais de um mês para o início da Copa do Mundo.
 E o que o governo mais temia ameaça se concretizar: 
o retorno das manifestações por serviços públicos mais decentes, justamente na época em que o país estará em maior evidência mundial. 
Ontem, pipocaram protestos por todo o país. 
Parece que o povo começou a voltar para a rua.

Tem para todos os gostos. 
Houve marchas e bloqueio de vias em São Paulo, 
transporte público parado no Rio, 
funcionários públicos em greve em Fortaleza e Salvador, 
rodoviários de braços cruzados em Florianópolis, 
Campinas e no Grande ABC.
Segundo a Folha de S.Paulo, desde fins de março ocorrem em média cinco protestos por dia ao redor do país. O caldeirão está em ebulição.

Se muitas das manifestações são justas no conteúdo, algumas são especialmente equivocadas na forma. Por mais que haja frustração generalizada com o legado que a Copa traria e não trouxe e revolta pela montanha de dinheiro público que foi consumida em estádios e em benefícios privados ligados ao torneio, nada justifica arruaças como as vistas ontem nas duas principais cidades brasileiras.

Invadir prédio de construtoras e pichar paredes de escritórios com palavras de ordem, como aconteceu no movimento dos sem-teto em São Paulo, e quebradeira de quase 500 ônibus no Rio não são práticas aceitáveis numa sociedade democrática.

A desordem merece repúdio. 
Mas ontem se viu foi brindada com gestos amenos e espaço na agenda concedido pela presidente da República aos mesmos que promoveram os atos acintosos na capital paulista. Está errado.

Em campanha desabrida por um novo mandato, Dilma Rousseff tenta transformar tudo em dividendo eleitoral. A turma da baderna é aliada do PT, mas a candidata é, antes de tudo, a primeira mandatária do país. 
Que sinal passa para a população ao distribuir sorrisos a quem, horas antes, aviltara propriedades?

Motivos para protestar, os sem-teto até têm. 
O Minha Casa Minha Vida é um fracasso retumbante naquilo que era seu maior objetivo: 
diminuir a falta de moradia para famílias pobres.

Apenas 15% das 1,2 milhão de habitações prometidas para famílias com renda até três salários mínimos foram concluídas, mostrou O Estado de S. Paulo em janeiro. Não há perspectiva de melhora, mas o governo petista prefere acenar com uma terceira fase do programa, antes de sequer passar perto de entregar o que prometeu.

Sobre a qualidade dos serviços públicos e o parco legado em termos de melhoria da qualidade de vida nos nossos grandes centros que adviria da realização da Copa, é ocioso tratar. Basta olhar em volta e constatar a distância entre as expectativas criadas desde que o Brasil foi escolhido pela Fifa, em 2007, e a realidade atual. Quase nada aconteceu.

Dilma provavelmente recebeu as lideranças do movimento de sem-teto ontem em São Paulo em mais uma tentativa de tentar encaixar-se no figurino da mudança pela qual os brasileiros – e nem só os que têm disposição de ir para as ruas – clamam. Mas sua capacidade de ludibriar os eleitores está escasseando.

Pesquisa que o Datafolha divulga hoje – com alta de Aécio Neves nas intenções de voto – mostra que continua cada vez mais elevado o clamor de pessoas que querem ver o Brasil mudar. Já são 74% os que pensam assim e não é à petista que eles mais associam a capacidade de atender seu anseio.


Segundo a pesquisa, Aécio tem mais capacidade de fazer as mudanças que o país pede do que a presidente em busca de um segundo mandato. Hoje, 19% atribuem esta qualidade ao tucano e apenas 15% a Dilma.

Há dois meses, os percentuais eram invertidos: 

10% viam mais preparo no tucano e 19% na petista.
O vetor da mudança mudou.

O mesmo levantamento mostra Dilma com marca recorde de avaliação ruim ou péssima de sua gestão. Agora, 26% da população qualifica seu governo desta maneira, mais que os 25% aferidos no auge dos protestos de junho passado. 
É este caldo que alimenta a mais nova onda de protestos que parece se prenunciar. Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

COPA DAS COPAS PARA OS IDIOTAS ! COM LUCRO GARANTIDO VELHACOS ALERTAM : Fifa avisa aos torcedores que vão à Copa: o Brasil não é a Alemanha


A Fifa alerta aos milhares de torcedores estrangeiros que, nas próximas semanas começarão a desembarcar no Brasil para a Copa: não adotem os mesmo comportamentos e o mesmo planejamento como se estivessem na Alemanha na Copa de 2006. Quem reconhece isso é o próprio secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke.

 “Não apareça (no Brasil) achando que é a Alemanha”, disse. 
Segundo ele, foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a CBF de Ricardo Teixeira que insistiram que a Copa teria de ocorrer em todo o país e que as seleções não poderiam jogar apenas em uma região.
Para o futuro, Valcke aponta que a experiência da Fifa no Brasil deve levar a entidade a exigir que as futuras sedes se comprometam de uma forma mais rigorosa às exigências da entidade antes de ganhar o direito de sediar o evento.

Em uma conversa com agências internacionais nesta semana em Zurique, ele admitiu que, desta vez no Brasil, os torcedores não poderão nem dormir em seus carros ou em barracas como fizeram em 2006 na Alemanha e nem usar trens para ir de uma sede a outra.
O CEO da Fifa é claro em alertar que, em 2014, quem mais vai sofrer durante a Copa do Mundo no Brasil por conta das distâncias, falta de estrutura, preços altos, insegurança e falta de transportes são os torcedores. ”Eu sei que é difícil falar sem criar uma série de problemas. Mas minha mensagem para os torcedores é de que tenham certeza de que tenham tudo organizado quando viagem ao Brasil”, disse.

“Não há como dormir na praia, porque é inverno. Garanta sua acomodação. Não há como chegar com um mochila e começar a andar. Não existem trens, não se pode dirigir de uma sede à outra”, alertou.

“Não apareçam no Brasil pensando que é a Alemanha, que é fácil se mover pelo país. Na Alemanha, você poderia dormir no carro. No Brasil não”, disse. ”O maior desafio será para eles (torcedores)”, disse. “Não será para a imprensa, não será para os times e nem dirigentes. Será para os torcedores”, alertou.

Ele admitiu que, em 2009, a Fifa sabia dos limites do Brasil em relação à infra-estrutura de aeroportos. Mas a aposta era de que haveria tempo suficiente para que todas as reformas fossem feitas. “Sabíamos disso. Mas isso era em 2009 e podemos esperar que você tem cinco anos para um país garantir que as estruturas estejam instaladas para entregar o que havia sido acordado”.

Lula – 
Valcke deixou claro que a decisão de estruturar a Copa da forma que ela vai ocorrer não foi ideia da Fifa. Segundo ele, foi o governo brasileiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Ricardo Teixeira que fizeram questão de insistir com a Fifa de que a Copa teria de ocorrer em doze cidades e que as seleções não poderiam ficar em apenas uma região do País. A Fifa pede apenas oito sedes.
“É verdade que você multiplica os riscos ao ter mais estádios. Mas tivemos uma situação em que tínhamos um governo e um presidente, que naquele momento era Lula, que te explicam que a Copa deve ser para todo o Brasil, e não apenas para poucas cidades”, disse.

Valcke também deixou claro que o pedido para que a Copa se estruturasse dessa forma também veio de Ricardo Teixeira.

O dirigente da Fifa admite que o “lógico” seria dividir os 32 times em quatro grupos regionais, justamente para evitar que tivessem de sair de Manaus e jogar em Porto Alegre, de São Paulo à Recife. “Isso evitaria que eles tivessem de se mover para outras zonas do país”, declarou.

Mas a Fifa acabou sendo obrigada a abandonar a ideia de dividir o país em quatro, justamente por conta da insistência da CBF e do governo de que a seleção brasileira iria percorrer o Brasil em seus jogos.

Segundo Valcke, esse também foi um pedido do Brasil. “Eles não queriam que o Brasil jogasse apenas em uma parte do país”, disse. O problema é que, para o calendário da Copa funcionar, todos então teriam de viajar. Valcke, em 2007, foi pago pela CBF como consultor para ajudar a preparar a candidatura brasileira.

Valcke ainda apontou que a mudança de governo no Brasil no meio da preparação também afetou o andamento do processo. “Encaramos uma eleição geral no Brasil e não foi fácil sair de Luiz Inácio Lula da Silva para uma nova presidente. Sempre leva algum tempo para um novo governo entrar nos assuntos e tivemos também um número elevado de mudanças de ministros”, disse. Um deles, Orlando Silva, acabou caindo por conta de suspeitas de irregularidades.
Futuro –
 Valcke não escondeu que a experiência no Brasil o leva a pensar que a Fifa, para as futuras Copas, deve adotar uma nova postura e exigir maiores compromissos do país sede. “Deve ser pelo menos parte do processo de candidatura que haja compromisso do país em uma série de pontos”, declarou.

Uma opção, segundo ele, é de que haja uma decisão vinda do Poder Legislativo sobre esses compromissos, e não apenas do presidente no momento da escolha do país. “Não pode ser apenas a decisão do presidente ou de um ministro. Mas deve ser apoiado pelo senado, congresso ou assembleia nacional”, disse. Isso, segundo ele, evitaria “potenciais conflitos”.

Valcke ainda se queixou da imprensa, apontando que ele havia se transformado na pessoa que é sempre citada quando há uma crítica a ser feita. Ele citou um estudo que avaliou que, em 63% dos casos, a imprensa apenas reproduziu comentários negativos que ele teceu sobre a Copa do Mundo.

Jamil Chade
Estadão