"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 18, 2011

A BURACA "DAZ OBRA" DO CACHACEIRO E A SUA GERENTONA DE NADA E COISA NENHUMA NA FALÁCIA DO : "PARA O BRASIL CONTINUAR MUDANDO".


Maria José e os outros 105,4 milhões de brasileiros, mais da metade da população nacional com renda familiar entre R$ 1,2 mil e R$ 5,1 mil, sentem no bolso o mal da inflação.

A escalada dos preços, principalmente de alimentos e serviços, está corroendo o orçamento dessa gente.

Nos últimos 12 meses, o custo da alimentação e das bebidas saltou 10,41%, bem acima da inflação média do período, de 7,23%.

O vestuário e o transporte também subiram:
9,37% e 5,67%, respectivamente.

No caso da moradia, a elevação foi de 6,42%.
Diante dessa realidade, as famílias da classe média — que se tornaram mais exigentes nos últimos tempos, lotaram supermercados, passaram a viajar de avião e a comprar computadores, carros e imóveis — terão de rever os hábitos.


Maria José já está sentindo o baque da mudança.
Em sua casa, são cinco pessoas sustentadas por uma renda total de R$ 4 mil por mês.

Para se adequar a um cenário que preocupa o Brasil e ameaça empurrar milhões de pessoas de volta para a pobreza, ela passou a controlar as despesas na ponta do lápis.

"Estamos gastando mais com alimentação. Não posso cortar, por exemplo, as frutas da minha neta. O jeito foi diminuir as viagens a deixar faltar produtos na mesa", diz.


Motivos não faltam para tamanha cautela.
Dados do Data Popular revelam que os compromissos mais pesados da classe média estão relacionados justamente às categorias mais impactadas pela inflação.

Alimentação, habitação e transportes consomem, juntos, 62% do orçamento dos lares.

O impacto final da inflação, contudo, varia bastante. Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), explica que a alta dos serviços, que incluem viagens, hotelaria e restaurantes, prejudica, sobretudo, os menos abastados.

"Cada 10% de aumento na inflação implicam queda de 6% no poder de compra da população que está no topo da pirâmide, nas classes A e B. Nas demais, com esse mesmo aumento nos preços, o poder de consumo cai 8%", calcula.


Tendência
Até para ficar bela está mais caro.
Nos últimos 12 meses, serviços pessoais, que incluem cabeleireiro,
manicure
e costureira dispararam 11% —
os serviços, em geral, subiram 9%.

Os números já pesam no bolso das mulheres da classe média. Estima-se que 60% delas frequentem salões de beleza regularmente. Entre 2002 e 2011, o gasto desse público com beleza saltou 228%, de R$ 6 bilhões para R$ 19,7 bilhões.


As perspectivas não são boas. Para Elson Teles, economista-chefe da Máxima Asset Management, a alta nos serviços tende a se manter. "As elevações devem continuar acima da inflação", prevê.

Ele observa, ainda, que o reajuste do salário mínimo aguardado para o início de 2012, de 13,6%, pressionará mais os preços, pois os prestadores tendem a repassar tal correção à clientela.

"Pessoas que ascenderam à classe média e passaram a consumir com vigor devem sofrer. A remuneração aumenta e, consequentemente, cresce também a procura por bens. Mas a oferta não acompanha", diz.

Na economia, o resultado dessa equação é óbvio:
mais inflação.


Menos luxo
Ninguém, contudo, assiste ao aumento de preços parado.

A reação dos consumidores às turbulências no mercado costuma ser imediata, explica Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular.

Primeiro, em vez de abrir mão de uma certa categoria de artigos, o brasileiro opta por itens mais baratos.

"Em todas as classes sociais, antes de excluir algo do carrinho de compras, a opção é trocar a marca. Mas isso também é diferente em cada camada da população", diz.


Para driblar os aumentos dos preços, as famílias da classe média trocam os produtos mais caros pelos mais em conta no caso dos produtos supérfluos — entram na lista requeijão, iogurte, sobremesas, leite, congelados, biscoitos, sorvetes e geleias.

As da classe A, por sua vez, fazem a migração, mas apenas dos produtos de limpeza e da cesta básica, como arroz, feijão e macarrão.

Elas preferem manter a qualidade nas categorias que lhes dão status social. "No caso da classe D, o impacto é maior. Em vez de comprar dois quilos de carne, leva-se apenas um para casa", observa Meirelles.


Troca de marcas
Na visão de especialistas, os brasileiros precisam se preparar. Se os preços continuarem a subir, para fechar as contas no fim do mês, em vez de apenas trocar as marcas, a classe média terá que suprimir itens da lista de compras.

Para não tirar o alimento da mesa, primeiro deverá cortar o lazer, que responde por apenas 2% do orçamento, conforme números do Data Popular. É justamente o que a família de Maria José já está fazendo.

"Eu e meu irmão íamos todo fim de semana a shoppings e a barzinhos. Gastávamos sem nos preocupar. Mas, agora, a diversão teve de ser sacrificada. Estamos saindo só uma vez por mês", diz Andrezza Lopes Faria, 24 anos, filha mais nova da dona de casa.


Nesse novo contexto econômico, o comércio também já sabe que venderá menos para a classe média.
"Bens de maior valor agregado, como automóveis e eletroeletrônicos de última geração, já não estão saindo tanto", reconhece o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro Junior.

Ele explica que a redução do prazo dos financiamentos faz com que a prestação se eleve acima da capacidade de pagamento de parte expressiva dos consumidores.


O professor de finanças da FGV e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Fábio Gallo Garcia, ressalta que os brasileiros não imaginam o que vem pela frente. A dica, diz, é colocar as contas no lugar: "As despesas contornáveis devem ser revistas, como a academia de ginástica e as idas ao cinema", ressalta.

O conselho de Cristina Helena Pinto de Mello, professora da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), é para que os brasileiros não façam novos compromissos no fim do ano.

O 13º salário, por exemplo, pode ser guardado para emergências. "O momento é de cuidado, de alerta. O brasileiro deve pensar mais antes de tomar decisões e deve gastar com consciência para não se colocar em situação difícil", analisa.


Riscos do retrocesso
O governo está preocupado com os problemas vividos pela nova classe média. O medo é de que a crise atual corroa a renda dessa camada da população, cuja ascensão foi um dos motes da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010.
De olho nas eleições municipais de 2012, a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República planeja lançar, até o fim do ano, um conjunto de medidas que impeçam o retorno do novo estrato social aos antigos padrões de pobreza.


Cristiane Bonfanti e Ana Carolina Dinardo Correio Braziliense
(Colaborou Vânia Cristino)


A REPÚBLICA DA VADIAGEM REMUNERADA : "Horinha" a mais que custa caro


A Câmara estava cheia e o painel registrava que 464 deputados apareceram em plenário na última terça-feira.

Às 19h, a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), que presidia a Mesa Diretora naquele momento, prorrogou a sessão por mais uma hora.
É a partir desse horário que se forma uma fila de servidores no térreo do Anexo IV, um prédio a 500m do plenário, afastado das dependências reservadas à rotina legislativa da Casa — ali, as luzes já estão apagadas e as salas fechadas.

Esses funcionários têm único objetivo:
faturar horas extras mesmo sem ter trabalhado.
Os servidores, que já encerraram o expediente e estão longe da Câmara, monitoram se a Presidência da Mesa vai prorrogar a sessão. Prorrogada, deslocam-se para o térreo do Anexo IV para registrar a presença nos dois pontos de controle biométrico próximos aos balcões das companhias aéreas — há outros desses pontos próximos ao plenário, esses sim utilizados por quem de fato está em atividade.

Eles têm até as 19h20 para concretizar a fraude.
Depois, precisam aguardar até as 20h30 para marcar a saída e garantir o pagamento no contracheque.

Alguns aguardam o relógio marcar 20h30 dentro do carro, acompanhados das famílias.


Uma hora extra custa entre R$ 90 e R$ 134, conforme o cargo. Apesar de a Câmara ter investido R$ 2,8 milhões no sistema biométrico de registro de ponto para acabar com as fraudes, o Correio esteve no térreo do Anexo IV na noite de terça-feira e flagrou o drible dos servidores na norma.

Eles chegam pela garagem — muitos com roupas informais, destoantes do vestuário habitual da Câmara —, registram o ponto e aguardam o horário da saída.

A Casa já desembolsou, somente neste ano, R$ 33 milhões com o pagamento de horas extras.


A assessoria de imprensa da Câmara diz que há dois tipos de adicionais:
as horas extras propriamente ditas, com um custo de R$ 2,3 milhões, e as sessões noturnas, principalmente às terças e às quartas, que já custaram R$ 31,1 milhões.

No primeiro grupo, estão seguranças e técnicos que estendem a jornada de trabalho, inclusive no fim de semana. No outro estão os servidores flagrados pelo Correio. "Historicamente, o valor registrado neste ano está na média dos dois anos anteriores", justifica a assessoria.


A irregularidade flagrada na Câmara é uma das razões para os gastos com horas extras no Legislativo serem tão altos. Mas o dispêndio com serviços extraordinários faz parte da rotina administrativa nos Três Poderes, independentemente das fraudes detectadas.

Um levantamento dos pagamentos extraordinários do Executivo,do Legislativo e do Judiciário mostra que a União tem desembolsado em acréscimos salariais valores semelhantes a todo o montante gasto em 2010 na erradicação do trabalho infantil.

Em 2011, as horas extras dos Três Poderes custaram R$ 270 milhões, segundo informações da execução orçamentária obtidas até a primeira quinzena de setembro.


O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), do Ministério do Desenvolvimento Social, recebeu durante todo o ano passado R$ 290 milhões para a proteção de crianças.


A cifra das despesas com serviços extraordinários é uma prévia.
Histórico de gastos da União com horas extras mostra que o governo tem desembolsado uma média de R$ 500 milhões anuais com a rubrica.


O valor é duas vezes maior do que o orçamento do Ministério da Pesca e equivale aos recursos direcionados a grandes programas, como o assentamento de trabalhadores rurais, proteção aos povos indígenas e segurança de voo e controle do espaço aéreo.


Josie Jeronimo, Vinicius Sassine e Júnia Gama Correio Braziliense