"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 13, 2013

De: Ucho Haddad – Para: Dilma Rousseff – Assunto: inflação, popularidade e ousadia


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Dilma, há dias deparei-me com uma fotografia sua, com detalhes do rosto, e confesso que levei um susto. Não estou aqui a falar de beleza, mas da capacidade de realizar milagres de alguns “companheiros”.
Vocês, sempre magnânimos, conseguem coisas inimagináveis.

Sem fugir da foto, lembro que pela primeira vez, olhando para o seu rosto, percebi que determinadas peles têm uma afeição amadeirada.
Você pode estar estranhando, Dilma, mas é isso mesmo:
sua face é lenhosa, para ser econômico e cavalheiresco nas palavras.

Depois dessa constatação, cá estou a pensar como você se submeteu a uma cirurgia plástica facial. Será que o seu médico é marceneiro nas horas vagas?
É possível!

Dilma, não adianta acionar o mau humor e me xingar, pois é assim, como dona de uma face lenhosa – viu como sou elegante e cavalheiro –, que mais da metade do Brasil lhe vê. Como alguém que não desgruda um segundo sequer do vidro de óleo de peroba.

A sua capacidade de travestir a verdade – de novo estou sendo elegante – é impressionante. Você contaria o óbvio com uma tranquilidade que chega a assustar.

Sem ao menos exibir qualquer manifestação de rubor facial.
O que me leva a concluir que você é do ramo, que nasceu para a política.

Dilma, você estava em Portugal, fingindo preocupação com a crise econômica que balança a União Europeia, quando o instituto Datafolha revelou a queda da sua popularidade. Esse assunto foi tratado no colóquio redacional anterior, mas resolvi retomá-lo porque a desfaçatez que brota do seu interior é tão desmedida quanto assustadora.

Ainda em Lisboa, um dos seus estafetas disse que a pesquisa era irrelevante e que os resultados precisavam ser analisados com calma.

Certo de que a pesquisa não é irrelevante, segui a orientação do seu bajulador e fui à pesquisa. Conclui que sua situação é muito mais complexa do que se imagina. Para quem foi apresentada ao eleitorado tupiniquim como “a gerentona” – agora inoperante – você está em péssimos lençóis.

Você mal chegou de Portugal e já tratou de consertar o estrago. Reuniu um punhado de gente desavisada no Palácio do Planalto e anunciou a concessão de empréstimos da ordem de R$ 18 bilhões para que os inscritos no programa “Minha Casa, Minha Vida” comprem móveis e eletrodomésticos.

Mesmo assim, você e os companheiros se irritam quando alguém os acusa de assistencialistas. Pensei com carinho no assunto e cheguei à conclusão que vocês têm razão. Acusá-los de assistencialismo é um golpe covarde contra o raciocínio mais tosco existente sobre a face da Terra.

Longe do assistencialismo, o que vocês fazem é comprar antecipadamente uma eleição com o dinheiro do contribuinte, que sequer é avisado no momento do assalto. Ou seja, vocês agem como se o dinheiro dos brasileiros fosse o cofre do Adhemar. Lembra-se desse caso?

Dilma, o dinheiro que você separou para ampliar o curral eleitoral do PT é do povo brasileiro, não do seu partido. Quem paga imposto não tem obrigação de financiar geladeira, televisão e sofá a quem quer que seja. Se você quer fazer graça com o eleitorado pensando na corrida presidencial de 2014, que faça com o seu dinheiro, com a própria cartola, não com o chapéu do contribuinte.

Confira o meu raciocínio e veja se entendi. Os brasileiros que pagam impostos trabalharam de janeiro a maio deste ano para manter uma carga tributária que é responsável por 35% do PIB, mas você se acha
 no direito de, em junho, saquear parte do dinheiro para ficar bem na foto.

A tranquilidade com que você, Dilma, decide o destino de R$ 18 bilhões leva qualquer incauto a acreditar que o Brasil está vivendo o seu melhor momento, quando na verdade cambaleia à beira do precipício da crise.

Aliás, Dilma, você teve a ousadia de dizer que a inflação está sob controle e que a economia está de evento em popa. Em qual país você vive, Dilma? Pelo menos metade do planeta quer saber o endereço desse paraíso, pois no Brasil a herança maldita deixada por um fugitivo de nome Lula simplesmente transformou o país do futuro na tragédia de sempre.

“Não há a menor hipótese de o governo não ter uma política de controle e combate à inflação”. Eis o que você disse no Palácio do Planalto diante de uma plateia amestrada. Quer dizer, então, que a inflação está controlada? Sendo assim, Dilma, convido você a me acompanhar ao supermercado.

Para que não seja trucidada por esses loucos que garantem que a inflação voltou, sugiro que use uma máscara qualquer. Desde que você prometa não imitar o andar do John Wayne, pois do contrário será uma enorme confusão.

Que o PT é dado às palhaçadas todos sabem, mas essa sua vocação para humorista de “stand up” é novidade. Dilma, você passa no Tesouro Nacional, manda separar parte de um dinheiro que não lhe pertence, empunha o microfone palaciano, aciona a máquina de mentir e todos lhe aplaudem. Isso é incrível, mas também é um atentado contra o bom senso.

Explica o “up grade” da sua conhecida e insuportável arrogância.

Dilma, voltando à face lenhosa, é preciso maneirar nos absurdos que você fala por aí, pois seus discursos estão com o prazo de validade cada vez mais curto. Você fala uma bobagem qualquer no meio da tarde e no começo da noite o mercado financeiro lhe aponta o indicador e a chama de mentirosa.

Sem abandonar a foto, creio que o prazo de validade dos seus discursos só ganha daquele prometido após a cirurgia plástica que o marceneiro lhe fez. Afinal, as mentiras que você balbucia são tão acintosas que chegam a enrugar a madeira facial.

E PT saudações, sempre com algumas gotas de óleo de peroba!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista político, cronista esportivo, escritor e poeta. 
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A velha no castelo

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Dilma Rousseff acha que tudo de ruim que está acontecendo no país é fruto da imaginação alheia ou, pior ainda, de torcida contrária. É possível que a vida palaciana e o ar de Brasília estejam lhe afetando seriamente a percepção da realidade.

Viver encastelada dá nisso.

A presidente aproveitou solenidade destinada a anunciar um programa que incentiva o consumo num momento em que as lojas já não dão conta de suprir as encomendas - e, com isso, incha ainda mais o balão da inflação - para criticar os críticos de seu governo. Comparou-os ao Velho do Restelo, personagem de Camões em "Os Lusíadas".

Segundo ela, seriam eles incorrigíveis pessimistas que enxergam o que ninguém mais vê:
um país próspero,
estável, equilibrado
e sem qualquer entrave ao desenvolvimento e ao aumento de bem-estar de sua população.

Provavelmente, gente que não deve estar assistindo a propaganda do governo nos rádios e nas TVs...

Estes velhos de literatura também devem ser, quem sabe, gente que não consegue comprar tomate na feira porque seu preço mais que dobrou nos últimos meses. Gente que teve que tirar o filho da escola porque a mensalidade subiu quase 50% nos últimos quatro anos. Gente que vê sua poupança para a aposentadoria minguar à medida que a desconfiança dos investidores em relação à solidez do país cresce e derruba os rendimentos. 


Aparentemente sem antes ter besuntado a face com óleo de peroba, Dilma afirmou: 
"A situação real em que o Brasil vive é de inflação sob controle, contas públicas sob controle". Em que castelo a nossa presidente vive? Deve ser o mesmo habitado por Guido Mantega, aquele que fica perguntando "onde está a crise?" por aí...

Dilma disse também que "não há a menor hipótese" que o governo dela "não tenha uma política de controle e combate à inflação". Pode até ser que a presidente tenha alguma iniciativa para segurar os preços, mas o problema é que ela simplesmente não funciona. Basta perguntar para o nosso Banco Central por que ele está tendo que arrochar os juros brasileiros na contramão de todo o resto do mundo.

A verdade é que não há rumo nem lógica alguma nas ações da gestão de Dilma. No mesmo momento em que seu ministro da Fazenda diagnostica - enfim! - que o problema do país é investimento de menos e consumo demais, a presidente decide conceder subsídio para compra de eletrodomésticos e mobília. 

Na mesma hora em que investidores e agências de classificação apontam temor com o crescente descontrole das contas públicas, a chefe da nação determina que o Tesouro emita mais títulos e aumente ainda mais sua dívida para que mutuários possam jogar fora o seu fogão, um item presente em 98,5% dos lares brasileiros, e comprem um sofá novo.

Só neste ano, o Tesouro já foi autorizado a emitir mais R$ 45 bilhões em dívida nova em operações sempre escamoteadas pelo governo petista de forma a não aparecerem nos indicadores de endividamento público. No entanto, a dívida bruta brasileira caminha para superar neste ano 60% do PIB, ultrapassando a marca dos demais Brics e os limites de prudência.


A presidente e seus auxiliares parecem dar de ombros a tudo isso. A linha de crédito anunciada ontem pelo governo custará R$ 18,7 bilhões, mas nenhuma autoridade federal sabe exatamente de onde o dinheiro virá. "A explicação do governo sobre o custo do novo programa só aumentou as dúvidas", resumiu o Valor Econômico. 
 
Uma parte dos recursos será composta por R$ 8 bilhões em novos créditos concedidos à Caixa Econômica Federal, que, há apenas dois meses, recebera injeção de outros R$ 13 bilhões. Sabe-se agora que o banco também ficará dispensado de recolher dividendos à União pelos próximos anos, conforme medida provisória publicada ontem à noite.

Com manobras desta natureza, a Caixa já se tornou sócia de frigorífico, 
fabricante de autopeças, 
de bens de capital, 
processador de minério, 
entre outras empresas privadas, como mostrou ontem O Estado de S.Paulo. 

Como um dos principais motores da publicidade oficial, o banco também já é o terceiro maior anunciante do país. 
Até onde esta balbúrdia vai?

Como estes montantes não são suficientes para cobrir o valor e as condições camaradas previstas na nova linha de financiamento, uma boa dica é: 
que tal olhar para o dinheiro dos trabalhadores depositado no FGTS? 
É de lá que o governo está tirando recursos utilizados para tocar o Minha Casa Minha Vida, sem que, porém, o Tesouro honre sua parte e ressarça o fundo. Estima-se que a gatunagem já ultrapasse R$ 4,8 bilhões, e continua subindo.

Ninguém é contra ações que visem melhorar as condições de vida da população brasileira, em especial a mais pobre. 
Mas não dá para concordar com iniciativas de governo que busquem, em primeiro lugar, recuperar a popularidade presidencial. Não se admite que, sob o manto das boas intenções, Dilma faça o diabo apenas de olho na sua reeleição.

Antes de qualquer coisa, a presidente da República deveria reconhecer o momento de dificuldade, que não é exclusivo do Brasil e alastra-se pelo mundo.

Um diagnóstico realista e honesto seria o primeiro passo para superar os obstáculos que dificultam o dia a dia do brasileiro comum, que, ao contrário da presidente, não vive isolado em castelo.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
A velha no castelo