"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 23, 2014

Na guerra de versões, sucumbe o país

Os petistas se dedicam atualmente a travar uma guerra de versões em torno das responsabilidades de cada um em torno da devastação que tem se abatido sobre a Petrobras. Trata-se, na realidade, do retrato da maneira com que o PT vem lidando com o patrimônio dos brasileiros nos últimos 12 anos.
 Assim como todo o aparato estatal, a empresa é vista por eles apenas como objeto de desejo e alvo de cobiça por cargos, contratos e verbas.

A guerra de versões que cerca a compra da refinaria de Pasadena por um valor faraônico conduz a uma constatação imediata:
 a Petrobras vem sendo gerida de maneira descuidada, caótica e irresponsável pelos petistas. Numa gestão séria não se ouviria o bater de cabeças que ora protagonizam a presidente Dilma Rousseff e os executivos da companhia.

Chega a ser patético ver pessoas que estiveram ou estão à frente da maior estatal brasileira, dona de um patrimônio de cerca de R$ 350 bilhões, onde trabalham mais de 80 mil pessoas, se digladiando para jogar a culpa pela ruína da companhia umas nas outras. Seria patético se não fosse trágico e deplorável.

Dilma, 
Luiz Inácio Lula da Silva, 
Graça Foster, 
José Sérgio Gabrielli, 
Nestor Cerveró, 
Paulo Roberto Costa: 
são todos responsáveis por uma gestão que só pode ser classificada como temerária e devem responder pelo que fizeram. Se a Petrobras vive hoje as dificuldades que enfrenta, se fez negócios ruinosos como vem se tornando a sua tônica, a responsabilidade é de todos eles.

A entrevista de Gabrielli a’O Estado de S.Paulo, publicada no domingo, é apenas mais um capítulo de uma história de desacertos e desvios que está acabando com a Petrobras. A cada nova declaração, a cada nova versão resta mais evidente a irresponsabilidade com que a companhia veio sendo conduzida pelos petistas nestes últimos 12 anos.

Nas explicações dadas por Gabrielli e pelos demais gestores, a Petrobras parece surgir às vezes como mero brinquedinho. A empresa vale hoje apenas uma fração do que chegou a valer? É apenas uma contingência de mercado – que, aliás, no setor de petróleo em todo o mundo só a companhia brasileira experimenta, como explica Miriam Leitão em sua coluna de hoje n’O Globo.

O compromisso dos petistas com a saúde e o vigor da Petrobras é nenhum. 
A empresa é vista por eles apenas como objeto de desejo e alvo de cobiça por cargos, contratos e verbas quase sempre bilionárias. O que mais explicaria a companhia ter hoje um de seus ex-diretores na cadeia, algo inédito nos seus 60 anos de história? Com o PT, a maior empresa pública do país virou caso de polícia.

Toda esta guerra de versões apenas reforça a necessidade de investigar a fundo o que tem se passado na Petrobras nos últimos anos. Se os petistas, a presidente da República, os gestores e ex-gestores da empresa querem mesmo esclarecer os fatos, uma comissão parlamentar de inquérito no Congresso é o melhor caminho.

Se tem mesmo interesse no bem da Petrobras e na sua recuperação, o governo petista deveria deixar de se opor à CPI proposta pelo Congresso e reclamada pela sociedade. Quem é a favor do Brasil e da Petrobras deve ser favorável a saneá-la e a livrá-la de quem só lhe vê como butim. Nada melhor do que a CPI para apurar as responsabilidades que eles tanto atribuem uns aos outros.

A Petrobras é símbolo daquilo que o país, se bem governado, pode vir a ser. 
É símbolo do que o país, quando mal gerido, está se tornando. 
Por isso, sua importância simbólica neste momento crucial em que os brasileiros estão prestes a começar a escolher os novos destinos para nossa nação.

Tem que acabar o tempo em que um patrimônio dos brasileiros como é a Petrobras é tratado como propriedade de uma casta política. Tem que acabar o triste interregno de ocupação desmesurada do aparato estatal para servir a fins partidários. Tem que chegar ao fim a nefasta experiência do PT no comando do Brasil.

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

SEM O MARQUETINGUE DOS VELHACOS ! EXPECTATIVA x REALIDADE : Petrobrás devolve pela 1ª vez uma área do pré-sal


Sofrendo grande pressão sobre sua gestão, entre denúncias de irregularidades e alto endividamento, e com prazo apertado para ampliar a produção, a Petrobrás optou por devolver a área em que realizou a primeira perfuração do pré-sal. 

O bloco BM-S-10, na Bacia de Santos, foi entregue no último mês à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), após a estatal não ter cumprido os prazos para declaração de comercialidade da área.

É a primeira vez que a companhia devolve uma área de pré-sal. 

A decisão foi vista pelo mercado como um sinal de que a estatal está revendo suas prioridades de exploração para cumprir os investimentos previstos.
 A meta é dobrar sua produção até 2020, atingindo quatro bilhões de barris de óleo por dia. Para tanto, a companhia já revê a política de conteúdo local com objetivo de acelerar a entrega de embarcações para a campanha exploratória.

Em nota, a estatal informou que seus estudos indicaram a "inviabilidade" do desenvolvimento econômico do bloco. A descoberta do óleo no bloco foi anunciada em 2005, na área chamada de Parati, próxima aos campos de Lula e Sapinhoá. Na época, a Petrobrás havia avaliado o óleo como de boa qualidade, leve e de maior valor comercial. A descoberta foi feita por amostragem em poços com profundidade de mais de 5 mil metros.

Pelo cronograma, ela deveria apresentar até 2012 os estudos sobre dimensão e características do reservatório para, em seguida, declarar a comercialidade. Segundo a ANP, isto não foi feito e o bloco retomou ao portfólio da agência reguladora, podendo ser concedido a outro consórcio interessado.

"Nesse momento, a Petrobrás tem muita coisa para fazer, o que demanda muito investimento e também mão de obra e equipamentos. Então ela pode estar traçando prioridades para as áreas onde considera mais interessante", avalia o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie). "A sua situação econômica gera uma pressão para refinar essas prioridades", completa.

O consultor também destaca que as parceiras também enfrentam situações econômicas difíceis no mercado internacional. O consórcio era formado pela Petrobrás (65%) com as empresas portuguesas BG (25% ) e Partex (10%). O contrato para exploração da área foi assinado com a ANP em 2001, na segunda rodada de licitações da agência.

"A perfuração dos poços levou um ano em função das dificuldades da área, que tem uma camada muito espessa de sal", avalia o geólogo Carlos Jorge Abreu, professor da UNB especialista em petróleo. "Houve tempo suficiente para ter uma solução para a área. Tudo indica que não era interessante, para a empresa, desenvolver esse bloco, talvez por razões econômicas", completa.

Em nota, a estatal informou que analisou as informações sobre a área em conjunto com as empresas parceiras. A avaliação era que os reservatórios tinham natureza "heterogênea e desconectada" o que "inviabilizava a implantação de projeto para o desenvolvimento econômico dessa descoberta".


Antonio Pita - Agência Estado