"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 22, 2015

ENQUANTO ISSO NO PAÍS DOS VELHACOS... Brasil importa energia da Argentina pelo segundo dia consecutivo

O Brasil voltou a importar energia da Argentina para fazer frente ao consumo intenso no país. Nesta quarta-feira (21), pelo segundo dia consecutivo, uma carga do país vizinho foi enviada por uma interligação no Rio Grande do Sul.

Na última terça (20), um dia depois do apagão que atingiu 11 Estados e o Distrito Federal, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) autorizou a transferência de energia. Foi a primeira vez que o governo Dilma Rousseff usou um acordo firmado em 2006 com o país vizinho, projetado para funcionar em situações de emergência. As últimas importações ocorreram em novembro e dezembro de 2010.

Vale destacar que a compra da energia não envolve pagamento em dinheiro e não há uma definição de preço. Ela é paga com energia posteriormente, em caso de necessidade do país vizinho, em um sistema de crédito e débito.

Na importação desta quarta, o volume foi menor, de 90 MW médios ao longo do dia, mas que chegou no horário de pico em 798 MW. O demanda por energia no horário de pico, registrado às 15h29, foi de 84.292 MW em todo o país.

A região Sudeste/Centro-oeste, considerada uma só pelo ONS, mais uma vez bateu o recorde de consumo no horário de pico na última quarta-feira, de 51.864 MW, superando a marca alcançada no dia do apagão, segunda-feira (19), de 51.596 MW. As informações constam do IPDO (Informativo Preliminar Diário de Operação), boletim feito diariamente pelo ONS, de quarta (20), publicado na manhã desta quinta (22).

O calor intenso registrado desde 2014 fez mudar o horário de pico de consumo de energia no país, antes no início da noite, para entre 14h e 15h.

Na terça, o país chegou a importar 998 MW no horário de pico –o suficiente para abastecer 2 milhões de pessoas–, registrado naquele dia às 14h48. Ao longo do dia, a importação média foi de 165 MW.

A transferência de energia entre os dois países ocorre por meio de contrato firmado em 2006. Há acordos do mesmo tipo com o Uruguai e o Paraguai. A energia da Argentina entra por meio de uma interligação em Garruchos (RS).

Em nota divulgada na última quarta-feira (20), o ONS explicou que o intercâmbio "vem sendo adotado em diversos momentos ao longo da vigência do acordo" entre os países.

As últimas vezes em que o país importou da Argentina, porém, foram em novembro e dezembro de 2010. Desde então, não houve transações de nenhum dos dois lados.

A operação chama a atenção porque, além de a Argentina viver atualmente um problema energético mais grave que o do Brasil, tanto o ONS quanto o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, afirmaram, depois do apagão, que havia folga de energia no sistema brasileiro.

"Estão buscando alternativas para ampliar a oferta de energia, em vez de falar para a população economizar no consumo. Essa importação corrobora a hipótese de que o sistema não está com essa folga toda", disse o doutor em energia elétrica e professor titular da Universidade Federal de Itajubá (MG) José Wanderley Marangon.

A carga foi destinada especificamente ao sistema Sudeste/Centro-Oeste, que, tanto no dia do apagão quanto no dia seguinte, o da importação da carga argentina, não tem produzido energia suficiente para atender a sua demanda.

HISTÓRICO

Nesta terça-feira (20), apesar da importação de energia, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, afirmou que não houve apagão. "O que houve foi um corte preventivo feito pelo operador para evitar o desligamento de maiores proporções", disse.

E o ministro Eduardo Braga (Minas e Energia) voltou a afirmar também terça que o apagão não ocorreu por falta de energia, mas por uma sequência de desligamentos.

A posição do ministro tentou se sobrepor ao fato de que, segundo o próprio ONS, houve um recorde de consumo de energia minutos antes de o desligamento ocorrer.

A alegação também foi feita em um momento em que os reservatórios estão historicamente mais baixos para um mês de janeiro e diante desta nova temporada de seca em meio ao período chuvoso.

LUCAS VETTORAZZO/Folha

Tempestade de Juros

Na eleição, um dos bordões preferidos de Dilma era que a oposição “planta inflação para colher juros”. A realidade está mostrando quem semeou os ventos que ora dão em tempestade

Enquanto a falta de chuvas exaure reservatórios e agrava a crise hídrica, uma tempestade de juros torna quase insuportável o custo do dinheiro no país. A perversa combinação de inflação altíssima e crescimento baixíssimo levou o Banco Central dar mais uma esticada na taxa básica ontem. O céu é o limite.

A Selic subiu agora para 12,25% ao ano. É a terceira vez desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff que o governo dela aumenta a taxa - a primeira aconteceu apenas três dias depois da votação que deu vitória à petista. Segundo o discurso eleitoral, apertar a política de juros era coisa de banqueiro. Vê-se que é coisa do PT.

O Brasil de Dilma e do PT é uma jabuticaba num mundo em que quase todas as economias cortam, e não ampliam, os juros. Desde outubro, já são 1,25 ponto percentual de alta, o que representa custo anual adicional de R$ 19 bilhões apenas para rolar a dívida pública. Desde que a Selic voltou a subir, a partir de abril de 2013, a elevação é de cinco pontos.

A taxa real (ou seja, descontada a inflação projetada) brasileira é hoje a segunda maior do mundo, de acordo com a consultoria Moneyou/UpTrend. Com nossos 5,4%, só perdemos para a Rússia, que recentemente teve que dar uma paulada em seus juros básicos para fazer frente ao derretimento das cotações de petróleo - sua maior, quase única, riqueza.

O BC tomou a decisão de forma unânime ontem e eliminou a "parcimônia" de seu comunicado posterior à reunião. A leitura de quem entende do assunto é de que os juros vão continuar subindo no Brasil. A dúvida é se só mais um pouquinho (0,25%) ou mais um tantão (há quem fale em mais um ponto ao longo dos próximos meses).

Não é apenas a taxa básica de juros - a mais baixinha de todas - que aumenta. O crédito também se torna muito mais restrito na praça. A partir de hoje, o IOF cobrado em operações de empréstimos dobrará, para 3%. Na semana passada, os juros de financiamentos imobiliários já haviam sido fortemente reajustados.

Mesmo com a escalada, o principal inimigo da política monetária mantém-se incólume. Desde que a alta da Selic foi retomada, as expectativas de inflação não cederam; pelo contrário, aumentaram bastante: de 5,46% para 6,67% nos próximos 12 meses. Com o tarifaço e o "impostaço" em marcha, já se dá de barato que os preços vão subir em média 7% neste ano.

Na campanha eleitoral, um dos bordões preferidos da presidente era de que a oposição "plantava inflação para colher juros". A realidade está mostrando quem semeou os ventos que ora dão em tempestade. É preciso dizer que a alta dos juros é apenas mais uma das inúmeras ocorrências da temporada de estelionatos eleitorais que começou logo após a vitória de Dilma Rousseff nas urnas e perdura até hoje?


Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela