"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 23, 2012

Pagot se desfilia do PR : - Valdemar disse para mim que quem tinha de vencer era a Delta -

O ex-diretor geral do geral Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, pediu sua desfiliação do PR nesta segunda-feira. Pagot foi demitido do cargo no início da gestão da presidente Dilma Rousseff por denúncias de corrupção.

Pagot é mais uma das figuras envolvidas no escândalo do contraventor Carlinhos Cachoeira. Gravações da Polícia Federal mostram que o grupo de Cachoeira teria tramado uma maneira de afastar Pagot do cargo de diretor-geral do Dnit.

No dia 10 de maio do ano passado, Cachoeira disse ao então diretor da Delta para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu, que plantou as informações contra Pagot na imprensa. As informações e uma entrevista com o ex-diretor do Dnit foram publicadas pela revista Época.

- Enfiei tudo no r... do Pagot - diz Cachoeira na gravação.

Pagot foi apadrinhado pelo senador Blairo Maggi (PR-MT) para ocupar o o cargo no Dnit.

Afastamento de Pagot foi comemorado por grupo de Cachoeira

A revista "Veja" publicou reportagem em 2 de julho de 2011 na qual informou que representantes do PR, do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, e funcionários da pasta e de órgãos ligados à pasta montaram um esquema de superfaturamento de obras e recebimento de propina por empreiteiras. Logo após a publicação da denúncia, a presidente Dilma Rousseff determinou o afastamento dos funcionários citados na reportagem. O afastamento de Pagot foi comemorado pelo grupo de Cachoeira.

- Fui surpreendido por ter sido afastado através de uma negociata de uma empreiteira com um contraventor - disse Pagot à revista Época, alegando não saber da articulação de Cachoeira para tirá-lo do cargo.

- Isso serviu para que fosse ditado meu afastamento. É um verdadeiro descalabro completou.

O próprio Pagot na entrevista lista quatro episódios que geraram conflitos entre ele e a empreiteira, embora a empresa tenha apresentado crescimento em sua gestão.

Num deles, a Delta subcontratou uma empresa sem consentimento do Dnit, que abriu processo administrativo contra a empreiteira. Em outro caso, o órgão questionou a espessura do concreto na obra da rodovia BR-163, em Serra de São Vicente, em Mato Grosso. Como era menor que a prevista no contrato, o que poderia provocar desgaste precoce, a Delta teve de repavimentar a estrada.

Ainda segundo Pagot, a Delta não justificou os atrasos no início das obras do Trecho Manilha-Santa Guilhermina da BR-101, no Rio. O último caso de descontentamento listado pelo ex-diretor foi o fato de a Delta estar entre as insatisfeitas com o resultado da licitação de obras de duplicação da BR-060, em Goiás.

Pagot afirma que a Delta contava com o empenho de um grupo de parlamentares aliados. Réu no escândalo do mensalão, o deputado federal Valdemar Costa Neto (SP) - presidente de honra do PR e que tinha grande poder nas decisões do Ministério dos Transportes teria procurado o então diretor-geral do Dnit para falar sobre a licitação da Travessia Urbana de Ubatuba (SP).

- Valdemar disse para mim que quem tinha de vencer era a Delta - afirma Pagot.

O lobby de Valdemar não vingou. O deputado nega ter feito pressão junto a Pagot.

O Globo

E POR FALAR EM SECA ... A indústria da seca

O Nordeste está, novamente, penando com a falta d'água. A impiedosa seca que atinge a região reforça a constatação dos equívocos que envolvem a bilionária obra da transposição do rio São Francisco. É a típica situação em que os recursos públicos são empregados para fazer proselitismo, e não para o que deveriam:
melhorar a vida das pessoas.


Atualmente, 261 municípios nordestinos estão em situação de emergência. Os principais estados atingidos são Bahia,
Pernambuco,
Piauí,
Rio Grande do Norte
e Sergipe - onde a presidente da República desembarcará hoje com um séquito de ministros para discutir a seca com governadores da região.


A estiagem está dizimando a produção agrícola - a maior parte de subsistência - do Nordeste. Em Pernambuco, por exemplo, 95% das lavouras, principalmente de milho e feijão, já se perderam.

Cerca de 100 mil produtores foram atingidos e cerca de 300 mil toneladas de alimentos deixaram de ser cultivados. Também os rebanhos bovino, caprino e ovino, que somam seis milhões de cabeças, estão sob ameaça.


Cerca de 2,5 milhões de pessoas em 595 municípios nordestinos estão recebendo água por meio de carros-pipa controlados pelo Exército. Não é um contrassenso que isso esteja acontecendo numa região onde estão sendo despejados R$ 8,2 bilhões justamente para prover água?

Mais que mil palavras, a dura realidade enfrentada atualmente pelos nordestinos escancara a falsidade do discurso petista.

A transposição do rio São Francisco foi apresentada ao país como a redenção do déficit hídrico no semiárido e no sertão do Nordeste. Mas até hoje não passou de mera peça de publicidade, e de péssima qualidade.


O mais grave é que, possivelmente, o drama da falta d'água na torneira não será resolvido com as obras da transposição. Apenas 4% da água desviada pelos canais será usada para consumo humano.

Em contrapartida, 70% da água transposta irá para irrigação em grandes projetos de exportação e 26% para uso industrial.


Pior ainda, os nordestinos vão pagar muito caro pela pouca água que chegará a suas casas. O custo do metro cúbico de água a ser futuramente fornecida por meio dos canais da transposição é estimado pelo governo em R$ 0,15, ou quase dez vezes o preço médio cobrado no país.

Além do marketing deslavado, nada justifica a obsessão do governo petista pelas obras da transposição. O Nordeste carece, sim, de auxílio do poder público federal, mas não na forma de imagens manipuladas de TV.
O que se pede é condições de vida mais dignas.


Há muito que o governo central poderia fazer para auxiliar a região, como incentivo a bem sucedidos projetos de conservação da água, apoio à formação de cooperativas de produtores, construção de estradas vicinais para escoamento da safra.

Mas a megalomania petista preferiu torrar bilhões numa obra envolta em polêmica - e que, aliás, tem na Construtora Delta, sempre ela, um de seus maiores executores.

A transposição é um dos maiores contratos da empresa - que, desde 2004, recebeu R$ 3,7 bilhões do governo federal - dentro do PAC.


Em fevereiro, Dilma Rousseff visitou canteiros da transposição. Sua intenção era, com o olho do dono, fazer a obra engordar e acelerar. Nada, porém, mudou. Hoje, três lotes (3, 4 e 7) estão abandonados e terão de ser licitados novamente.

Tudo isso depois de a obra ter ficado 71% mais cara e ter tido em 2011, o primeiro da atual gestão, seu pior avanço: apenas 5%.


A presidente e sua trupe de ministros terão de suar a camisa para mostrar que estão agindo adequadamente para minorar o drama da falta d'água no Nordeste. Da forma como as iniciativas têm sido tomadas, parece que o que mais interessa ao PT é manter a região sob cabresto, numa perpetuação da nefasta indústria da seca.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
A indústria da seca

" SOBRIEDADE E FOCO " OU PIZZA OU PUNIÇÃO ?


Futebol,
medicamentos,
combustíveis,
narcotráfico,
obras públicas,
entidades filantrópicas,
apoio parlamentar
e patrocínio de estatal.
Se na maioria das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) o resultado fica muito aquém do que espera a sociedade, com poucos dos envolvidos recebendo punições por seus erros, algumas comissões trouxeram à tona grandes escândalos e impediram maiores prejuízos aos cofres públicos.


Confira as principais CPIs ao longo da história da política brasileira:


1953 – Última Hora
» A primeira CPI se formou para investigar as operações de crédito realizadas entre o governo de Getúlio Vargas e o jornalista Samuel Wainer, que tinha lançado dois anos antes o jornal Última Hora. Presidido pelo deputado Carlos Castilho Cabral (PSP-SP), durante cinco meses o grupo ouviu 27 testemunhas, mas os trabalhos acabaram sem nenhuma denúncia. Durante a CPI, a oposição chegou a sugerir o impeachment do presidente.

1988 – Corrupção
» Somente com o fim da ditadura, o Congresso voltou a instalar uma CPI. No mesmo ano da promulgação da Constituição de 1988, um grupo foi criado para apurar supostas irregularidades no repasse de verbas em troca de apoio político. A investigação envolveu o então presidente José Sarney (PMDB-AP) e seu secretário particular, Jorge Murad. O relatório final apontou crimes de responsabilidade, mas o texto foi arquivado por falta de provas.

1992 – O "esquema" PC Farias
» Instalada depois das denúncias de Pedro Collor, irmão do então presidente Fernando Collor de Mello, contra Paulo César Farias (foto), tesoureiro de campanha do presidente, a CPI do "esquema PC" foi uma das poucas que atingiu seu objetivo. Ao final, comprovou o favorecimento de companhias em obras públicas, a venda de favores e a abertura de empresas fantasmas. Um mês depois, parlamentares apresentam pedido de impeachment de Collor.

1993 – Anões do Orçamento
» Uma comissão mista foi formada para investigar políticos acusados de incluir emendas no orçamento da União para enriquecimento ilícito. Foram denunciados direcionamento de verbas públicas para entidades filantrópicas ligadas a parentes e laranjas e recebimento de propinas. O esquema foi revelado por José Carlos Alves, que era chefe da Secretaria do Orçamento Federal. Seis deputados foram cassados e quatro renunciaram.

1996 – Precatórios
» A CPI foi instalada no Senado para apurar problemas na emissão de títulos precatórios, negociados por prefeituras. O esquema foi descoberto em Santa Catarina e Pernambuco. Depois apareceram irregularidades envolvendo o então prefeito de São Paulo, Celso Pitta (foto). O relatório final indiciou 17 pessoas e 161 empresas. Pitta e Paulo Maluf, que também foi envolvido, foram condenados à perda dos direitos políticos.

1999 – Judiciário
» O desvio de R$ 169,5 milhões veio à tona durante a CPI instalada para investigar denúncias de corrupção nos tribunais. O juiz Nicolau dos Santos Neves (foto) e o senador Luiz Estevão (DF) foram acusados de desvios de recursos para a construção de novo prédio do tribunal. O parlamentar perdeu o mandato dois anos depois. O juiz Nicolau dos Santos foi condenado a 26 anos e seis meses de cadeia por estelionato, peculato e corrupção passiva.

1999 – Narcotráfico
» Com mais de 800 pessoas indiciadas, entre elas 16 deputados, seis desembargadores, empresários e policiais, a CPI durou dois anos e investigou crimes de corrupção e tráfico de drogas em vários estados do país. Apesar de gerar novos projetos para reduzir a ação do crime organizado, os resultados práticos foram criticados por aqueles que acompanharam os trabalhos, uma vez que vários denunciados ainda não receberam qualquer punição.

2003 – Banestado
» "Termina em clima de pizza, de festa, em clima de Natal, ficando os culpados sem serem denunciados e pessoas inocentes violentadas no seu direito à intimidade." Foi assim que o então presidente da OAB, Roberto Busato, definiu a conclusão da CPI do Banestado, em 2004. Dois anos após seu início, a comissão apresentou relatório sugerindo o indiciamento de 91 pessoas, mas, por desentendimentos entre os integrantes, o relatório não foi votado.

2005 – Correios
» Criada para apurar denúncias de corrupção nos Correios, a CPI mudou o foco ao descobrir a existência de pagamentos a deputados da base do governo, o chamado mensalão. Tudo começou com a revelação de um vídeo onde o servidor dos Correios Maurício Marinho (foto) negociava propina, afirmando ter respaldo do
ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Foi Jefferson quem denunciou o mensalão, caso que será julgado este ano no STF.

2009 – Petrobras
» Com apenas 13 sessões e menos de 20% do total de dias em atividade, a CPI da Petrobras foi criada no Senado para investigar patrocínios à empresa, supostos artifícios contábeis para pagar menos impostos e os gastos com reformas em plataformas. O relatório final não sugeriu indiciamentos ou apontou irregularidades. A oposição abandonou a CPI e fez um parecer paralelo, com 18 representações ao Ministério Público.

Correio Braziliense

A "SOBRIEDADE E FOCO"(cpi) DO BALAIO DE GATOS : Caciques estão fugindo da CPI

Escaldados depois de várias Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), os grandes caciques partidários planejam ficar longe da CPI que irá investigar as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a ser instalada esta semana.

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), por exemplo, avisa que não pretende compor o colegiado. "Líder pode falar a qualquer hora. Não serei da CPI. Nunca quis ir para a CPI", afirma.

Na mesma linha seguem o líder do governo, Eduardo Braga, e o ex-líder do governo Romero Jucá (PMDB-RR). Jucá, cogitado para ser presidente da comissão, comunicou ao líder que considera a função de relator do Orçamento trabalhosa demais para dividir a atenção.

Quanto a Braga, entretanto, o martelo não está batido.


O PMDB tem cinco vagas de titulares na CPI. Um deles será o presidente da comissão, Vital do Rêgo (PB). Outra vaga será cedida ao PP e ficará com o senador Ciro Nogueira (PI). As outras três ainda não estão definidas.

Além de Eduardo Braga, um dos nomes a ser incluídos deve ser o do senador Clésio Andrade (MG), presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Clésio é cristão-novo nas hostes peemedebistas.

Durante a crise que tirou o PR do Ministério dos Transportes, ele estava no partido, o mesmo do ex-ministro Alfredo Nascimento.


O PMDB não é o único partido onde senadores de ponta desejam ficar fora. No PSB, Rodrigo Rollemberg (DF) foi aconselhado a não fazer parte da CPI. "Estou muito focado na Rio+20, junho está chegando. Não posso participar da CPI", diz ele.

Mas há outras razões:
Rollemberg desponta como pré-candidato a governador do Distrito Federal.
Seu partido é aliado do governo de Agnelo Queiroz, que poderá ser convocado pela CPI.


O principal mistério da CPI ainda é o PT.
Titulares e suplentes continuam indefinidos devido a disputas internas à própria legenda. A briga para definir se os petistas da CPI serão mais alinhados ao Palácio do Planalto ou a personagens históricos, como o ex-presidente Lula da Silva e José Dirceu, não se restringe ao relator.

A tendência é que a presidente Dilma Rousseff ganhe a queda de braço e os escolhidos para ocupar as três vagas às quais a sigla tem direito tentem proteger o governo federal e as obras do PAC.


O líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), a quem cabe a decisão a respeito dos deputados, desconversa e nega a existência do impasse. Ele diz que os selecionados serão alinhados "ao Planalto, à Dilma e ao Lula".

Tatto disse que andou conversando com "todo mundo" e que os nomes que anunciará amanhã não reduzirão as investigações às relações das empreiteiras com o governo federal.

"É para apurar grampo, arapongagem, parlamentares... É uma CPI que não é só de empreiteira", enfatizou ele.


A impressão geral é a de que a CPI tende a um começo mais equilibrado do que se imaginava. Nem o PR, que chegou a retirar o apoio ao governo no Senado depois de ter Alfredo Nascimento defenestrado do Ministério dos Transportes e não ter escolhido um sucessor do agrado da legenda, é visto como possível ameaça dentro da base aliada. Anthony Garotinho (PR-RJ) tentou ocupar a vaga, mas não foi aceito pelo partido.

"O PR tem um nome só, é incapaz de causar problemas", acredita o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), que será titular da comissão.


Largada
Até o deputado Rubens Bueno (PR), titular da comissão e líder do PPS na Câmara, partido de oposição, evita bater no governo federal nessa largada. "Há no Congresso uma preocupação de sair de uma crise grave como essa.

É preciso dar um novo rumo", diz, otimista, completando que acredita que essa CPI será "para valer". Admite preocupação apenas quando questionado se, tendo a maioria, a base aliada não tentará queimar os envolvidos ligados à oposição.

"Há uma preocupação com relação a isso, ninguém pode negar", reconhece. O deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ) é um dos citados nas investigações.


As disputas tendem a ser reduzidas, pois as investigações já trouxeram à tona nomes de partidos da base e da oposição, em diversas esferas do governo.

Acredita-se que a CPI comprometerá apenas os envolvidos já descobertos e, para evitar novas surpresas em ano de eleição municipal, as brigas devem ser menores que em outras comissões parlamentares de inquérito.


Por ser ano eleitoral, os parlamentares estão ainda mais preocupados com as redes sociais e as repercussões que podem vir das investigações.
Por isso evitam comprometer-se.

Exemplo disso é o caso do deputado Sandro Alex (PPS-PR), que não assinou o pedido de criação da CPI porque estava viajando em missão oficial pela Comissão de Ciência e Tecnologia, da qual faz parte. Vítima de críticas na internet, fez questão de apressar-se a prestar esclarecimentos e justificar suas atitudes.


"O governo, como convém, deixou por conta do Congresso Nacional, e a
única coisa que esperamos é muita sobriedade na condução da CPI"

"Não há essa preocupação (de a CPI investigar governistas), tanto que o governo não entrou nessa história, não interferiu nem a favor nem contra (a criação da CPI)"
Michel Temer, vice-presidente da República, durante evento do PMDB, ontem, em São Paulo

DENISE ROTHENBURG » JULIANA BRAGA Correio Braziliense

Oposição quer acesso a dados sigilosos do inquérito


A oposição já tem seu arsenal para a CPI que vai investigar os negócios do bicheiro Carlos Cachoeira e tem instalação prevista para esta semana. O DEM e o PSDB prepararam dezenas de pedidos de quebra de sigilo bancário e telefônico e a convocação dos principais envolvidos no caso.

A prioridade é o acesso à íntegra do inquérito da Operação Monte Carlo, especialmente às gravações e aos trechos sigilosos. Os partidos vão tentar um acordo com a base aliada para só marcar os depoimentos após a Justiça liberar esses documentos.

A estratégia visa dar munição aos parlamentares para inquirir os envolvidos no escândalo. Amanhã, PSDB, DEM, PPS e PSOL devem se reunir para sacramentar os alvos dos primeiros requerimentos.

A tendência é que sejam convocados Carlinhos Cachoeira; o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish; e o representante da empresa no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, preso como integrante do esquema desbaratado pela Polícia Federal.

Também devem ser pedidas as quebras de sigilo telefônico e bancário dos três e da Delta.


EM REPÚBLICA TORPE, SOCIEDADE SEM VERGONHA, FAZ PAPEL DE PALHAÇO : DELTA - Mesmo denunciada por corrupção, já foram assinados 31 novos contratos com Dnit, no valor de R$ 758 milhões.

Após ser apontada como líder de um esquema de corrupção que desviou milhões de reais dos cofres da União e veio a público em agosto de 2010 na Operação Mão Dupla, feita pela Controladoria-Geral da União (CGU) com a Polícia Federal (PF) a construtora Delta continuou assinando contratos de alto valor com órgãos federais.

Desde que o governo tomou conhecimento das graves irregularidades cometidas pela empreiteira em obras de rodovias no Ceará, foram assinados 31 novos contratos com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), no valor total de R$ 758 milhões.

A Operação Mão Dupla identificou fraudes em licitações, superfaturamento, desvio de verbas, pagamentos de propina, pagamentos indevidos e uso de material de qualidade inferior ao contratado em obras de infraestrutura rodoviária sob o comando do Dnit feitas pela Delta e outras 11 empreiteiras.

A investigação resultou na prisão do então superintendente do Dnit no Ceará, Joaquim Guedes Martins Neto, que, segundo a CGU, tinha, em 2008, rendimento incompatível com a renda auferida pelo agente público, e do diretor da Delta Aluízio Alves de Souza.


Na época, a CGU informou que detectara um prejuízo estimado em R$ 5 milhões aos cofres públicos da União, afora o risco social decorrente da execução de obras de infraestrutura rodoviária fora das devidas especificações técnicas.

No sábado, o ministro da CGU, Jorge Hage, reconheceu que as irregularidades apontadas pela Mão Dupla são graves.

Mas isso não impediu que o Dnit celebrasse novos contratos com a Delta, sendo três deles (no valor total de R$ 9,6 milhões) no Ceará, onde foram detectadas as irregularidades em 2010.

Trata-se da conservação e da recuperação de trechos das BRs 116, 437 e 230.

Os contratos firmados desde agosto de 2010 são para construção, duplicação, adequação ou manutenção de 19 rodovias em 17 estados.

Além disso, em setembro de 2010, através de consórcio com outras duas empresas, a Delta conseguiu fechar com a estatal Valec um contrato de R$ 574,5 milhões para tocar as obras do lote um da Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia. O Dnit e a Valec são ligados ao Ministério dos Transportes.


A empreiteira ganhou destaque recentemente no noticiário por suas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso pela PF em fevereiro na Operação Monte Carlo. Hoje, a CGU promete abrir processo administrativo contra a Delta.

O resultado dessa investigação poderá tornar a empresa inidônea, o que implica a proibição para firmar novos contratos com o governo federal.


Além do Ceará, foram assinados contratos entre o Dnit e a Delta para obras em Alagoas,
Amazonas,
Espírito Santo, Goiás,
Maranhão,
Mato Grosso,
Minas Gerais,
Pará,
Paraná,
Pernambuco,
Piauí,
Rio de Janeiro,
Rio Grande do Norte,
Rondônia,
Sergipe e Tocantins.

Dos 31 contratos, apenas um, de R$ 115 milhões, em Goiás, foi paralisado. Desse valor, o Dnit já pagou R$ 8,8 milhões à Delta.


Vinte e cinco contratos, no valor de R$ 611,7 milhões, constam como ativos. Outros três foram cadastrados no início de 2012 e totalizam R$ 13,6 milhões, mas as obras ainda não começaram.

Dois contratos, no valor de R$ 17,8 milhões, já foram concluídos.

Desse montante, R$ 15,6 milhões foram pagos à construtora, segundo o próprio Dnit. Em agosto de 2010, na Operação Mão Dupla, a PF cumpriu 52 mandados de busca e apreensão, 23 de prisão temporária e um de prisão preventiva.

Houve ainda o afastamento cautelar de oito servidores públicos e sequestro de bens em Fortaleza e no interior do Ceará. A CGU analisou oito contratos e detectou irregularidades em sete, referentes a quatro obras, dentre as quais duas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).


Uma delas é a duplicação de uma ponte na BR-304, sobre o Rio Jaguaribe, no município de Aracati, orçada em R$ 30 milhões. A obra foi iniciada pela Delta em 2002 e, por sete anos, as fundações permaneceram de molho nas águas do rio, enquanto a travessia era feita pela ponte velha.

A Delta, que desistiu de construir a ponte, alegou elevação dos custos que dificultaram a realização do projeto inicial previsto no edital. Segundo Hage, o processo admistrativo disciplinar contra o então superintendente regional do Dnit no Ceará e outros seis servidores pode resultar em demissão.

Na última sexta-feira, o Ministério Público Federal propôs ação penal contra os servidores do Dnit no Ceará e contra a Delta por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e ativa com base nos resultados da Operação Mão Dupla.

Procurado para manifestar-se sobre a assinatura dos contratos, o Dnit informou, por meio da assessoria, que vai esperar a decisão da Justiça e da CGU para tomar medidas em relação à Delta. A empresa não é considerada inidônea ainda, destacou a assessoria.

O grande número de contratos com órgãos públicos obtidos pela Delta se refletem em seu faturamento. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) mostram que até 100% dos ganhos da construtora vêm de contratos com o setor público.

Entre as seis maiores empreiteiras do Brasil, a Delta é a única que se dedica quase exclusivamente à construção de pontes, viadutos, estradas, túneis, aeroportos e projetos de saneamento.

A construtora teria realizado obras para a iniciativa privada nos anos de 2007, 2008 e 2011, mas manteve um percentual acima de 97% de projetos destinados a prefeituras, estados e União.

Os maiores percentuais de crescimento da Delta ocorreram em 2006/2007 (67%) e em 2009/2010 (51%).

O Globo