"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 25, 2011

'PARA O BRASIL SEGUIR MUDANDO" : Cresce dependência do Brasil em relação à China, diz banco

O Brasil está ajustando "passivamente" sua economia a demandas da China, numa forma crescente de dependência, avalia o banco Nomura, em Nova York, em nota enviada aos clientes. "Vemos a dependência se aprofundar.

Para o melhor ou pior, o futuro econômico do Brasil será mais e mais em função de decisões tomadas em Pequim", estima o banco.

A relação econômica bilateral, avaliam os economistas da instituição, está sendo marcada por uma parceria do tipo Norte-Sul (rico e pobre) entre duas economias em desenvolvimento. O relatório destaca que o Brasil se torna mais dependente das exportações de commodities para o mercado chinês.

Ao mesmo tempo, companhias brasileiras estão cada vez mais dependentes de componentes baratos produzidos na China.

O mercado chinês absorveu 15,2% das vendas externas brasileiras em 2010, ante 2% em 2000, segundo estudo divulgado em abril pelo Banco Central. A autoridade monetária ressalta que o saldo comercial da balança voltou a ser "amplamente favorável" ao Brasil a partir de 2009, ano em que o país asiático passou a ser o principal parceiro comercial do Brasil, destronando os EUA.

Em 2010, o Brasil exportou US$ 30,8 bilhões à China e importou US$ 25,6 bilhões, o que resultou em superávit de US$ 5,2 bilhões, praticamente igual ao registrado em 2009.

As exportações brasileiras à China se concentram em matérias-primas. Em 2001, 63% dos embarques brasileiros eram representados por produtos básicos. No ano passado, o número cresceu para 84%.

Em 2010, os chineses absorveram 46,1% das exportações brasileiras de minério de ferro, 64,6% das de soja e 24,9% do petróleo.

Na prática, a relação Brasil-China replica a relação de dependência experimentada pelo Brasil com os EUA no período pós-Segunda Guerra Mundial, escrevem os analistas Tony Volpon e George Lei, do Nomura.

O banco constata que, com a eleição de Dilma Rousseff, a natureza do debate envolvendo a política econômica no país mudou e mais atenção tem sido dada aos perigos da desindustrialização e da excessiva valorização do real. No entanto, estima que o governo Dilma "não desenvolveu alternativa coerente para sua crescente dependência em relação à China".

Analistas consultados pelo Valor concordam em parte com o Nomura. Segundo um deles, a dependência existe no setor de commodities, mas a exportação total do país tem outros destinos relevantes além do mercado chinês.

Caso o país asiático diminua a taxa de crescimento, como reflexo das turbulências externas, o superávit comercial brasileiro seria atingido com a queda do volume de importações chinesas, assim como do preço das commodities, influenciados pela forte demanda da China, projetam economistas.

A única saída para diminuir a dependência chinesa seria fortalecer a indústria nacional e aumentar as exportações de manufaturados.

"Se a relação Brasil-China não é igual à relação Brasil-EUA no passado, uma hora será", prevê Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, que vê como "óbvia" a redução do crescimento chinês nos próximos anos.

Em um primeiro momento, diz, o impacto seria relativamente pequeno, mas no prazo de um ano e meio a dois anos, a exportação brasileira seria prejudicada e a atividade interna teria desaceleração mais forte.

Para Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores, a dependência do Brasil em relação à China só é verdadeira no mercado de commodities, mas não se estende a toda a pauta de exportações. Segundo ele, apesar de a China ser no momento o principal parceiro comercial do Brasil, não há como comparar a relação Brasil-China com a Brasil-EUA há dez anos.

"A China não chega a ter um percentual tão grande das exportações brasileiras. Os EUA, ao contrário, já chegaram a ter 26% das vendas externas do Brasil", observa o consultor.Barral ressalta, no entanto, que o país sai perdendo com a pouca diversificação das exportações destinadas aos chineses.

"O Brasil é muito dependente da China em algumas commodities. Isso não é bom para o país."

Relatório do departamento de relações internacionais e comércio exterior (Derex) da Fiesp mostra que o predomínio de produtos básicos na pauta exportadora brasileira à China se aprofundou em 2011.

De janeiro a julho, enquanto as commodities representaram 88% do valor exportado à China, 96% das importações procedentes do país asiático foram de manufaturados. O superávit total do Brasil com a China atingiu US$ 16,2 bilhões em sete meses, mas a balança de manufaturados acumula déficit de US$ 16,2 bilhões de janeiro a julho, com previsão de encerrar o ano em US$ 32 bilhões.

O setor de commodities, nota o Derex, tem receita garantida pelo aumento de preços, já que, em volume, as exportações de minério de ferro tiveram crescimento pouco expressivo entre janeiro e julho (13%), enquanto as de soja caíram 5% e a de óleos brutos de petróleo, 14%.

No mesmo período, as importações brasileiras de manufaturados chineses aumentaram 34% em quantidade embarcada e 33% em valores absolutos.

Para Barral, caso a China desacelere o crescimento nos próximos anos, o Brasil seria afetado de três formas: o quantum de exportações seria reduzido, assim como o valor delas, e o real seria desvalorizado.

"Boa parte do superávit brasileiro vem de preços de commodities. Se houver redução da demanda, o preço cai. Se cai o preço, o real se desvaloriza."

Para reagir ao impacto, Silveira, da RC, diz que o Brasil poderia, em um primeiro momento, praticar políticas anticíclicas, como o incentivo ao crédito, mas não pode "queimar reservas para o resto da vida".

"Chegará uma hora em que os preços das commodities vão ser ajustados para baixo. Isso vai custar caro para o país", diz o economista.

Assis Moreira e Arícia Martins Valor Econômico

A ASTÚCIA DA "NOVA POLÍTICA INDUSTRIAL" PARA UM BRASIL MENOR.

Não demorou um mês para que a "nova política industrial" do governo se revelasse um engodo completo. Nem medidas que foram recebidas com entusiasmo à época do lançamento do programa, como a desoneração da folha salarial, resistiram ao teste da realidade.

O Brasil Maior ofereceu respostas menores à crise brava da indústria nacional.

Depois de consumir meses de discussões e de alimentar promessas de redenção, o programa foi anunciado em 2 de agosto para compor a "agenda positiva" do Planalto, no intuito de contrapor-se à onda de escândalos no governo. Não serviu nem para isso.

Pior ainda, está agora se revelando improvisado e inócuo.

A medida mais comemorada do Brasil Maior foi a desoneração da folha de salários, há muito cobrada pelo setor produtivo. Mesmo assim, ela só veio à luz restrita a quatro setores:
moveleiro,
têxtil,
calçadista
e de informática.
Os demais ficaram para um futuro que sabe-se lá quando chegará, se é que chegará.

Ao invés de recolher a contribuição patronal de 20% para o INSS, estes setores passarão a pagar 1,5% ou 2,5% (no caso da informática) sobre o faturamento. Mas sabe-se agora que nem esta prometida desoneração é para valer.

Entidades da indústria perceberam que trocaram seis por uma dúzia em matéria tributária e pagarão até mais ao leão.

Representantes das indústrias calçadista, moveleira e têxtil dizem que a fórmula anunciada em 2 de agosto não representa desoneração real e em alguns casos haverá até pagamento maior de imposto, o inverso do que prometeu a presidente", informou O Estado de S.Paulo. Têxteis e móveis estimam que não ganharão nada; calçadistas, um pouquinho de nada.

A sugestão dos industriais é reduzir a nova alíquota para algo como 0,8%, mas a Fazenda já avisou que não aceita, segundo a Folha de S.Paulo.

É coerente com a postura da pasta ao longo de toda a preparação do Brasil Maior:
a suposta desoneração só foi incluída no pacote na undécima hora, e muito a contragosto de Guido Mantega.

Entende-se agora por que entrou:

por ser indolor para o fisco.

O saldo líquido da desoneração nestes quatro setores em 2012 seria de R$ 3,7 bilhões, conforme cálculo dos economistas Felipe Salto e Samuel Pessôa.

É menos que o impacto da diminuição de IPI contida no programa para bens de capital, material de construção e automóveis - estes sem nenhuma contrapartida na forma de diminuição de preços ao consumidor - e que perfaz renúncia fiscal de R$ 4,3 bilhões.

Os setores que seriam resgatados pela "nova política industrial" do governo Dilma Rousseff são justamente os que mais agonizam em termos de produção e emprego. No de vestuário, a ocupação no primeiro semestre caiu 3,1%; no de calçados e couro, 2%; e no de madeira, 7,8%, informou o Valor Econômico em sua edição de ontem.

Embora a demanda interna ainda esteja crescendo, os estoques estão se acumulando nas indústrias do país. A explicação é que o mercado em expansão está sendo abastecido por importados.

Com produção cadente - hoje ainda 1,6% menor do que em setembro de 2008, epicentro da crise econômica global - a indústria brasileira como um todo deve fechar o ano no zero a zero em termos de geração de emprego e deve puxar o PIB ainda mais para baixo.

A disposição de incentivar a indústria nacional é necessária e bem-vinda. Mas os instrumentos empregados pela gestão petista revelam-se insuficientes, ineficazes e, em alguns casos, contraproducentes.

Para complicar, também introduzem uma alta dose de discricionariedade do governo na escolha dos agraciados com benesses públicas.
Desenhados assim, não têm risco de dar certo.

Fonte: ITV

O TURISMO LIXO DOS CANALHAS : Acusado no mensalão põe Jandaia no mapa .

A pequena Jandaia do Sul, no Paraná, não é sede da Copa, não tem praia nem consta de qualquer roteiro turístico nacional ou estrangeiro, mas recebeu R$ 21,8 milhões em convênios com o Ministério do Turismo nos últimos três anos.

É um recorde no Estado, digno de um programa turístico imperdível, que deixou no chinelo a capital, Curitiba, e todas as cidades do litoral, conforme dados do Portal da Transparência da Controladoria Geral da União (CGU).

Com suas cataratas deslumbrantes, Foz do Iguaçu, segundo maior destino turístico do País, perdendo apenas para o Rio, levou só R$ 17,6 milhões, a segunda maior dotação do ministério em 3 anos.

Londrina, que atrai milhares de turistas com seu clima frio e os nevoeiros que lembram Londres, foi contemplada com R$ 13, 6 milhões.

A "explosão turística" de Jandaia do Sul coincide com a eleição do prefeito José Rodrigues Borba (PP), em 2008.

Já de início, Borba conseguiu R$ 6,5 milhões.
A partir da posse, em janeiro de 2009, o dinheiro jorrou solto e até agora ele obteve mais R$ 15,3 milhões em sucessivos convênios com o ministério. Borba integra a base aliada desde o primeiro governo Lula e é um dos 36 réus do inquérito do mensalão que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Acusado de corrupção e bando, ele renunciou ao mandato de deputado federal para evitar a cassação. Na época ele foi líder do PMDB, partido do então deputado Pedro Novais.

"Cidade simpatia". Com 20 mil habitantes, situada no Vale do Ivaí, Jandaia do Sul tem excelente IDH, um hospital psiquiátrico top e é chamada de "cidade simpatia". Mas fica a 400 quilômetros da praia e a quase 200 das cataratas e não consta da lista dos 65 locais classificados como "indutores de turismo".
De tão insossa, não figura nem na rota estadual de destinos, segundo o jornal Gazeta do Povo.

Para o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), o caso revela a que ponto chegou o loteamento para atender a base aliada:
"Não há qualquer compromisso com prioridades, nem com boa aplicação dos recursos".

O disparate pode ser medido pela destinação do dinheiro:
os maiores convênios se destinam a pavimentação e drenagem (R$ 11,2 milhões e a calçamento (R$ 2,6 milhões). Outros convênios foram para a construção de um auditório (R$ 1.121.250), custeio das festas de Natal em 2009 (R$ 200 mil) e revitalização da praça central (R$ 146.250).

Procurado, Borba não retornou as ligações para explicar seu sucesso.
Por assessoria, o ministro Novais avisou que a pasta apoia obras que possam contribuir para alavancar o turismo, mesmo em cidades não listadas como destinos turísticos.

Mas lembrou que os projetos devem ter justificativa técnica:
"Se for detectada qualquer irregularidade, os gestores serão responsabilizados e poderão ser obrigados a devolver os recursos."

Vannildo Mendes O Estado de S. Paulo

A MÃO INDIZÍVEL . OU : A "MÃO QUE BALANÇA" O BRASIL DEITADO ETERNAMENTE EM BERÇO EXPLÊNDIDO.ATÉ QUANDO?

De uns dias para cá, o horário nobre da televisão brasileira passou a veicular uma campanha publicitária para idolatrar o governo federal. Mais uma. Desta vez o mote é a mão: ela mesma, a mão, esse prodígio de articulações múltiplas com metacarpo, dedos, unhas e incontáveis habilidades, inclusive as políticas. A mão é a mais nova garota-propaganda dos atos do Executivo.

Não, não é de todo absurdo.
Além de ferramenta, a mão pode ser discurso, e não apenas na linguagem de sinais.
Existe a mão de esquerda:
dos punhos cerrados, que denota combatividade.
Há o dedo de direita:
o dedo em riste, representante da razão que assevera.
A mão espalmada, rija, voltada para a frente, no alto do braço erguido, é saudação nazista.

Muda-se o contexto e essa mesma mão ganha outro significado:
dentro da igreja ela abençoa os noivos, sorridentes, no altar.
Existe a cura espiritual pela imposição de mãos, assim como existem a mão na cara, a mão de súplica, a mão que insulta.

Há mãos a mancheia, mãos que não acabam mais. Agora os publicitários do Planalto, para darem uma mãozinha à imagem da Presidência da República, inventaram a mão eleitoreira.
É a mão do PAC.

Nos anúncios de TV, a mão do PAC é uma mãozona que desce do céu e põe estradas no alto de colinas verdes e planta escolas como árvores no descampado.
Depois a mãozona volta para o céu, contente.
É uma mãozona que parece mão boba, mas é apenas uma mão leve, no bom sentido:
leve e bojuda como um balão de ar quente.

Que mãozona é aquela?
A voz em off diz que aquela é a mão do povo.
"O Brasil está em boas mãos. Nas mãos do povo brasileiro".

No arremate do filmete promocional, duas mãos abertas, em concha, aparecem em close.
Elas estão maquiadas, pintadas com as cores da bandeira nacional.
São mãos humildes,
populares,
patrióticas
e sacralizadas.
Misticamente sacralizadas.

A intencionalidade explícita, escancarada, quase obscena da inteligência publicitária reside aí.
Ela pretende aproximar a expressão "nas mãos do povo" a uma outra, bastante conhecida, de uso corrente:
"nas mãos de Deus".

É o que dizemos de um doente desenganado:
ele está nas mãos de Deus.
Mesmo quando não há esperanças, as mãos de Deus conduzem ao melhor pouso.

"Segura na mão de Deus, e não olhe para trás", entoavam os coroinhas há mais de 30 anos.
Nesse ponto é que tirocínio publicitário enxergou a oportunidade de uma ressignificação que seria uma mão na roda:
se, desde Roma, o latim ensina que "a voz do povo é a voz de Deus", nada mais natural que insinuar que "as mãos do povo" são a materialização das mãos de Deus.

Isso feito, o resto é simples, supõe a vã publicidade.
Manuseando seus significantes vistosos, ela se imagina capaz de instilar na massa de mãos postas a certeza de que, no fundo, as mãos do governo federal é que são de fato as boas mãos, pois elas nada mais são do que as mãos do povo e, por decorrência semântica, as mãos de Deus.

Eis então que, num milagre da propaganda, o Poder Executivo é a materialização do Espírito na superfície do Planalto Central.
O governo é igual a Deus.
Vamos dar as mãos, vamos dar as mãos.
A partir de agora, enlevados por tão inspiradora evangelização cívica, todos nós, todos juntos, vamos empunhar o ufanismo bíblico e erguer as nossas mãos para o céu em agradecimento.

Ou será que não?

Ou será que, uma vez mais, a publicidade governamental, do alto de seu olimpo eletrônico, de onde vende essa mercadoria impalpável, intangível, chamada popularidade, estaria apenas comunicando o exato oposto do que pretende?
A pergunta tem lá seus fundamentos.

O repertório dessas campanhas oficiais é meio de segunda mão.
Ele se mantém praticamente inalterado desde a ditadura militar.
Se o leitor examinar, verá que não há grande diferença entre "Pra frente Brasil" e "O Brasil está em boas mãos".

É um repertório gasto, esvaziado de credibilidade.

No fundo, não é levado a sério por ninguém. As centenas de milhões de reais que os governos estaduais, municipais e, principalmente, federal desperdiçam na propaganda de si mesmos não servem exatamente para convencer o telespectador disso ou daquilo, mas para manter ativa a indústria da campanha eleitoral fora do período eleitoral e para manter acesa a memória do eleitor sobre quais os ícones que identificarão os candidatos governistas da próxima eleição.

Propaganda governamental serve apenas para isso, não para ser levada a sério.
Vistas isoladamente, cada uma das campanhas de governo é apenas ridícula.
É verdade que essa das mãos, que coisa, essa extrapolou.
Em matéria de comunicar exatamente o oposto do que pretende, bateu todos os recordes.

Poderia aparecer, quase sem retoques, num Casseta & Planeta da vida, no qual significaria o seu contrário. Em vez de mensagem edificante, seria escracho puro.

A mão leve que desce para incrustar uma rodovia no chão poderia bem ser a que, suspeita-se, andou surrupiando uns milhõezinhos da infraestrutura. Ela poderia voltar para o céu com uns trocados entre seus dedos.

Outra mão poderia levar um helicóptero da polícia para o quintal de uma certa autoridade, que diria que um helicóptero não faz mal a ninguém, não vai deixar ninguém na mão.

De piada em piada, tudo vai ficando bastante constrangedor, é claro, mas é o que é.
Alguém deveria avisar aos publicitários chapa-branca que esse negócio de brincadeira de mão não dá certo.

Talvez o leitor se lembre de um cantor das antigas que trinava em barítono:
"Maria, o teu nome principia, na palma da minha mão". Ficam os acordes.

Maracutaia também começa com m. Malversação de fundos, igualmente.
Do povo, do povo mesmo, a única mãozinha que existe nessa história é aquela mão que trabalha, gera riqueza e impostos.

Nisso aí, o povo entra com o suor e sai de mãos abanando.
É com o dinheiro do povo que o governo paga a conta milionária da sua propaganda inacreditável.

Eugênio Bucci/O Estado de S. Paulo

CONTRA A INSEGURANÇA PÚBLICA, A JUSTIÇA SOU EU.

http://3.bp.blogspot.com/_atJXu2NeBMM/SxPIMtxX2uI/AAAAAAAAAos/aB5C57XpVAI/s1600/plano-seguranca-charge.jpg
Fatos estranhos pintam aqui e ali.
Aparentemente desconexos, eles têm um denominador comum.
É a insegurança pública.
Não se trata do medo natural decorrente da divulgação de assaltos, roubos, sequestros, estupros.

Nem de paranoias nascidas sabe Deus como.
Nem de cuidados impostos aos cidadãos que moram em grandes cidades.


Trata-se de demonstração clara de perda da confiança nas instituições. Sem fé na ação da polícia, a população recorre a meios próprios pra fazer justiça. É assustador. Três exemplos recentes ilustram a mudança de comportamento.
Se a moda pega...

Morador de Formosa teve a casa assaltada.
Registrou queixa na delegacia.
Dias depois, novo assalto.
Nova reclamação.
Novo zero à esquerda.
Outra vez.
Outra vez.
Outra vez.


Ele, então, lançou mão de meios rudimentares e montou arapuca na sala.
Na hora em que o ladrão abriu a porta, balas o atingiram no peito.
O bandido morreu.


Médica pintou o muro da casa de vermelho. Avisou aos amigos do alheio que se tratava de sangue contaminado. Pra tornar o cenário mais apavorante, pendurou seringas com o aviso de estarem contaminadas com o vírus HIV.
Nenhum meliante se aproximou.

A lei sim.

A atrevida senhora, que teve a moradia assaltada cinco vezes em um mês, terá de prestar contas às autoridades pelo ato tresloucado.


Proprietários de bares e restaurantes sabem que mendigos afugentam a clientela porque criam situações constrangedoras. Aproximam-se dos fregueses e pedem dinheiro. Não querem comprar comida.

Estão desesperados pra satisfazer a necessidade de crack.
Medidas para deixá-los a distância fracassaram.

A saída?
Perder os anéis pra manter os dedos.
Os comerciantes pagam aos pedintes pra poupar os consumidores.

Houve tempo — e não faz tanto tempo assim — em que a placa "Cuidado.
Cão feroz!" afugentava ladrões e aprendizes de ladrões.
Mas a realidade mudou.
Com assustadora rapidez, respostas à violência perdem eficácia.

A segurança privada se tornou parte do passado.
Câmeras sofisticadas deixaram de inibir quem se dispõe a invadir e matar.

Recorrer às autoridades?
Não adianta.
Encurralado, o cidadão de bem dá asas ao desespero.
Dá no que dá.

MÃOS ERRADAS : Dinheiro da Copa para entidades sob suspeita.

O Ministério do Turismo colocou nas mãos de duas entidades suspeitas de irregularidades a principal fatia do programa de qualificação dos trabalhadores que atuarão na Copa do Mundo de 2014.

Contratadas em 2009 e em 2010 para executarem o Bem Receber Copa, as organizações assinaram convênios que somam R$ 18,9 milhões.

O programa é uma das principais vitrines da gestão do ministro Pedro Novais (PMDB), que assumiu o cargo em 3 de janeiro deste ano. No último mês de junho, o Instituto Brasileiro de Hospedagem (IBH) recebeu R$ 4,2 milhões para qualificar trabalhadores para a Copa.

No mês seguinte, mais R$ 750 mil caíram na conta do Instituto Centro-Brasileiro de Cultura (ICBC). As duas organizações já eram investigadas pelo Ministério Público Federal.


O IBH tem sede em Brasília e foi diretamente beneficiado por um ato do então secretário executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa, preso pela Polícia Federal na Operação Voucher, deflagrada no último dia 9.

O convênio para qualificar trabalhadores para a Copa do Mundo tem o valor global de R$ 16,8 milhões, dos quais R$ 4,2 milhões (25%) foram liberados em 8 de junho.

No mesmo dia, Frederico assinou um termo aditivo ao contrato que permite o depósito de mais R$ 8,4 milhões para o IBH ainda neste ano.

Diante das suspeitas envolvendo o convênio, aditivado por um secretário que recebeu plenos poderes do ministro Pedro Novais para ordenar as despesas da pasta, a Controladoria-Geral da União (CGU) passou a investigar os repasses ao IBH.


Já o ICBC, sediado em Goiânia, passou a ser investigado por um suposto desvio de dinheiro repassado por meio de outro convênio com o Ministério do Turismo. A entidade é citada numa ação civil pública do MPF movida em janeiro deste ano.

O ICBC já ficou inadimplente com o ministério em um dos 15 convênios assinados — o valor total dos contratos é de R$ 7,9 milhões. O contrato inadimplente foi para a realização do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), na cidade de Goiás (GO).

Mesmo assim, o ICBC conquistou o convênio para a qualificação de trabalhadores que atuarão na Copa do Mundo em 2014, no valor de pouco mais de R$ 2 milhões, dos quais R$ 1,3 milhão já liberado, sendo que R$ 750 mil neste ano. Goiânia não é uma das 12 sedes da Copa.


Seleção
Para executar o programa Bem Receber Copa, que tem como meta qualificar 306 mil profissionais até 2013, o Ministério do Turismo contrata entidades do setor sem qualquer seleção, chamada pública ou licitação.

São as próprias entidades, no âmbito do Conselho Nacional de Turismo, que decidem quais delas assinarão os convênios com a pasta. O ministro Pedro Novais é o presidente do conselho. "As entidades elegem quem deve executar o programa", confirma a assessoria de imprensa do ministério.

Assim, por exemplo, o IBH — ligado à Associação Brasileira da Indútria de Hotéis (ABIH) — ficou responsável por qualificar porteiros, recepcionistas, mensageiros, governantas e gerentes dos hotéis.


O Correio já havia mostrado ontem que as suspeitas que recaem sobre os convênios do Ministério do Turismo chegaram ao programa de qualificação para a Copa do Mundo.

A reportagem revelou o repasse de R$ 1,1 milhão para a Associação Brasileira de Transportes Aéreos Regionais (Abetar), dentro do Bem Receber Copa. O contrato é investigado pelo MPF e foi prorrogado por um ato do ministro do Turismo, Pedro Novais.

Os repasses ao IBH e ao ICBC mostram a extensão do problema envolvendo o programa focado na Copa. Pelos convênios firmados, as duas entidades ainda devem receber mais R$ 13,3 milhões para qualificar os profissionais de turismo.


Vinicius Sassine Correio Braziliense