"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 11, 2012

R$ 154 bilhões em crédito inadimplente - O brasil maravilha "fomentando" o crédito podre e os incautos que se lasquem : A inadimplência no financiamento de veículos cresceu 133% em 2011

O sistema financeiro brasileiro carrega R$ 154 bilhões em crédito inadimplente. No ano passado, o estoque de dívidas com atraso acima de 60 dias cresceu 23%.

Os números estão atraindo investidores estrangeiros especializados no segmento de crédito podre.

A inadimplência no financiamento de veículos cresceu 133% em 2011, ritmo cinco vezes mais rápido que o crédito concedido ao setor.

Não estamos à beira de uma crise como a que outros países viveram, mas temos que olhar com mais respeito os números.

Se o mercado de crédito no Brasil está crescendo muito rápido, também é veloz o ritmo do volume de inadimplência. Preocupados com o efeito desse crédito ruim sobre seus balanços, os bancos revendem os ativos a preços baixos para investidores especializados em cobranças de longo prazo.

— É muito caro para um banco tentar recuperar um crédito vencido há mais de 180 dias, por exemplo. Esse tipo de cobrança foge da sua estrutura. Muitos preferem vender essas carteiras a outros investidores, especializados nisso.

Apesar do prejuízo, os bancos melhoram o perfil de suas carteiras e recuperam parte do dinheiro emprestado — explicou o economista Paulo Bittencourt, da Apogeo Investimentos.

A KPMG registrou em relatório que só o Santander vendeu R$ 16 bilhões em créditos podres.

Aceitou levar um prejuízo de pelo menos 85%. Ou seja, se tinha, por exemplo, uma carteira que valia R$ 100, o banco revendeu a outros investidores por R$ 15.

Pela lógica dos bancos, é melhor recuperar R$ 15 e tentar alguma rentabilidade sobre esse valor do que correr o risco de perder os R$ 100 e ainda ter que dizer ao mercado que carrega esse mico.

Já para o investidor que compra, as chances de lucros grandes são altas, caso ele consiga fazer com que o devedor pague.

A provisão que os bancos têm que fazer para carteiras de crédito com a mais baixa qualidade subiu 22% no ano passado, de R$ 51 bilhões para R$ 64 bi. Esse é o volume total de atrasos maiores que 180 dias, que são classificados com a letra H pelo Banco Central.

Quando o crédito entra nessa classificação, o banco é obrigado a fazer uma reserva de 100% do valor concedido. A provisão feita pelos bancos estrangeiros aumentou 35%.
A KPMG, que presta consultoria para bancos e investidores que querem atuar nesse mercado, estima que, além dos R$ 154 bilhões de crédito em atraso no país, há outros R$ 150 bi contabilizados como perdas pelos bancos, porque ultrapassaram o período de 365 dias inadimplentes.

Segundo Salvatore Milanese, líder da área de reestruturação da KPMG, o crescimento do crédito no ritmo de 20% ao ano está chamando atenção de investidores estrangeiros especializados em inadimplência.

— Os investidores sabem que tudo o que cresce a uma taxa de 20% ao ano uma hora terá que sofrer correção, porque nada pode subir indefinidamente até o céu. A taxa é insustentável, e quem olha para os exemplos históricos percebe isso.

Quando comecei nesse mercado, em 2001, o percentual de crédito H era 1%. Hoje, subiu para 3%. Existe uma enorme correlação entre o crescimento forte do crédito e a alta do crédito inadimplente — afirmou.

O que preocupa nesses números é que 42% do crédito em atraso no Brasil são de consumidores. Ou seja, muitos brasileiros que estão sendo estimulados a fazer financiamentos não estão conseguindo pagar as contas.

O economista Felipe Queiroz, da Austin Rating, aposta que os atrasos não devem crescer tanto este ano porque a perspectiva é de crescimento da economia.

Mas alerta que uma mudança brusca na Europa, que afete os níveis de emprego no país, tornariam o quadro pior:
— A expectativa é que a inadimplência não aumente. Temos a economia com projeção de crescimento, aumento do salário mínimo, redução da Selic. Tudo vai facilitar os pagamentos.

O que pode dar errado é um agravamento da crise na Europa. Uma recessão profunda por lá que tenha reflexo nas nossas exportações e na oferta de crédito.

Os economistas costumam olhar só o crédito/PIB e dizer que, na comparação com outros países, os nossos 49% são baixos.

Mas aqui o dinheiro é caro demais. Um vento contra pode complicar. Por isso, é hora de olhar esses números com lupa.

PARA O BRASIL SEGUIR MUDANDO COM A "dotôra"" 1,99 : Petrobrás perde R$ 28 bilhões em valor de mercado após balanço


As justificativas apresentadas pela Petrobrás para a surpreendente queda do lucro no ano passado não convenceram as instituições financeiras e os analistas do setor petrolífero.

No dia seguinte à divulgação dos resultados, a companhia perdeu R$ 28,2 bilhões em valor de mercado, segundo cálculos da consultoria financeira Economática.


No pregão desta sexta-feira, as ações ON da estatal caíram 8,28%. As PN, 7,84%. O resultado dos papéis da Petrobrás levou o índice Bovespa a cair 2,34%, para 63.997,86 pontos.

O BTG Pactual chegou a qualificar os resultados da estatal em 2011 como "intrigantes". Em relatório, o BTG Pactual manifestou dúvidas em relação ao aumento dos encargos de depreciação no setor de exploração e produção e à deterioração dos resultados do refino.

Os analistas Gustavo Gattass, Luiz Felipe Carvalho e Dario Valdizan, mesmo debruçados sobre os resultados anunciados pela petroleira, não conseguiram decifrar como a Petrobrás chegou aos resultados financeiros divulgados.


Tamanha derrocada, segundo o BTG, pode ter origem atípica. "Ainda assim, a diminuição nos resultados foi tão grande que não podemos descartá-los como irrelevantes", diz o texto do BTG, que pretende revisar as estimativas para a Petrobrás.

O Bank of America Merrill Lynch (BofA) apontou o custo da importação de derivados de petróleo como o principal responsável pelo desempenho ruim no quarto trimestre. Nos três últimos meses de 2011, houve prejuízo de R$ 4,412 bilhões na área de abastecimento, responsável pelas importações.

O relatório do Credit Suisse, assinado pelos analistas Emerson Leite e André Sobreira, diz que as perdas no setor de abastecimento da Petrobrás dobraram em seis meses.

"Quanto mais o negócio cresce, maiores são as perdas, mesmo tendo em vista preços da gasolina 10% mais altos e do diesel, 2% maiores, que contribuíram para os resultados a partir de novembro."


Para o Credit Suisse, o trimestre poderia ter sido bom, com o aumento da produção e dos preços dos derivados.

"Com ações que subiram 30% no ano até agora, estimativas de ganhos que podem ser reduzidas depois desses resultados e um cenário de produção que verá um crescimento significativo apenas depois de 2014, continuamos a ver um caso de investimento pouco convincente", dizem os analistas.


Para o Deutsche Bank, a principal causa da queda no lucro foi o aumento da importação, uma vez que a empresa chegou ao limite de capacidade de refino.

Relatório dos analistas Marcus Sequeira e Luiz Fonseca diz que "a magnitude de perdas foi claramente subestimada" pelo mercado.

O banco destacou a alta dos custos operacionais, que se persistir em 2012 poderá gerar "uma onda de redução dos ganhos".

Luciana Collet, Vanessa Stecanella e Sergio Torres, de O Estado de S. Paulo