"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 08, 2012

PACOTES - "EMBRULHOS E EMBRULHADORES" : Sobra de caixa do BNDES é maior que aporte de R$ 45 bi do Tesouro

Alardeado como um elemento estratégico do pacote de estímulo à indústria, o aporte de R$ 45 bilhões ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) só começa a chegar aos cofres da instituição no fim de junho.

Até lá, o banco nem precisa do reforço de caixa anunciado com pompa e circunstância pelo governo esta semana. Hoje, a sobra nos cofres do banco gira em torno de R$ 50 bilhões.
Cifra que banca com folga todas as operações já contratadas até o fim do semestre no âmbito do Programa de Sustentação do Investimento (PSI).

A própria cúpula do banco teme que o novo aporte bilionário - o quinto desde 2009 - não alcance o efeito desejado pelo governo, que é dar dinamismo à indústria. Atualmente, a única certeza é que o volume de desembolso tem caído sistematicamente desde 2011.

Os primeiros números deste ano só devem ser conhecidos oficialmente na próxima semana. Mas caminham nessa mesma direção. A expectativa é que os desembolsos em 2012 sejam 10% menores do que os quase R$ 140 bilhões liberados no ano passado, que já eram 17% inferiores aos de 2010.

Nesse cenário, a medida corre mesmo o risco de não surtir o efeito desejado pelo governo para estimular a indústria. Mesmo assim, o governo jogou boa parte dos holofotes do Plano Brasil Maior em cima do novo aporte bilionário, o quinto desde 2009.

Uma tarefa difícil diante da disparada do custo Brasil.
A questão hoje não é escassez de dinheiro para as linhas de crédito. O problema é bem mais sério: está na falta de demanda dos empresários, que vêm pisando no freio em seus projetos de expansão.

Até a Petrobrás pensa em cortar investimentos.
A verdade é que a indústria encolhe a cada dia, enquanto o governo só se preocupa em ampliar o crédito e promover medidas que não são suficientes para acelerar o crescimento.

Só nos primeiros dois meses de 2012, a queda apontada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foi de 3,4%.

O "show" do lançamento do pacote em Brasília mostrou, segundo especialistas, que o governo está mais preocupado em atacar as consequências do que as causas da atual retração industrial.

Dúvidas sobre investimentos.
Há dúvidas se a maior oferta de crédito e os juros mais baixos vão convencer os empresários a investir.
A lista dos itens que limitam o crescimento da indústria é longa e inclui o custo elevado da energia no país, a guerra fiscal nos portos, a falta de infraestrutura no País e até o real valorizado em relação ao dólar.

A queda nos desembolsos do BNDES mostra que a estratégia do governo de priorizar alternativas paliativas não vem dando certo. Pelo contrário, o que tem acontecido é uma forte retração da demanda, que se traduz em números mais fracos.

MÔNICA CIARELLI O Estado de S. Paulo