"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 22, 2011

DA EMBRIAGUEZ DE "UM PAIS DE TODOS" PARA UM GOVERNO "OURO DE TOLO", OU SEJA, NEM TUDO QUE RELUZ É OURO.

Quase nunca é desejável que medidas de ajuste fiscal recaiam sobre investimentos públicos.
Mas a lista de disparates que o governo do PT quer construir é tão escandalosa que esta regra de ouro está a demandar um reexame mais acurado.
Trem-bala, obras da Copa de 2014, hidrelétrica de Belo Monte são exemplos de ralos de recursos públicos, principalmente os do BNDES, que, tal como estão concebidos, ainda não provaram que podem ser benéficos ao país.

O governo Dilma promete anunciar nos próximos dias como executará o prometido ajuste nas contas públicas para fazer cumprir o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento.
Mesmo não sendo desejável que investimentos sejam afetados por medidas de arrocho, o caso atual está a suscitar conclusão distinta, tamanhos são os delírios petistas.

Há uma longa lista de empreendimentos públicos sobre os quais pesam dúvidas consideráveis e que mereceriam, no mínimo, um reexame mais acurado.
À frente desta composição, está o famigerado trem-bala.

Mas a lista é longa e vai da hidrelétrica de Belo Monte às intervenções previstas para a Copa do Mundo de 2014.

O governo insiste em levar o bilionário trem-bala a leilão em abril, depois de ter adiado a oferta marcada para novembro passado. À época do adiamento, restou claro que não haveria concorrência se o certame fosse levado a cabo – só um único consórcio se articulara.

Passado três meses, a perspectiva é a mesma. Está mais que evidente que a obra do trem de alta velocidade, orçada em R$ 33 bilhões mas que deve custar pelo menos R$ 45 bilhões, só para em pé com muito subsídio e dinheiro público – tanto que a União agora quer jogar Correios e Eletrobrás no empreendimento descarrilhado.

Não se deve perder de vista que o investimento estimado no TAV daria para construir uns 100 km de linhas de metrô e trens urbanos, melhorando de forma incontestável a vida diária de milhões de brasileiros e não apenas saciando devaneios de consumo de uns poucos endinheirados.

A Copa do Mundo de 2014 engorda o rol de investimentos suspeitíssimos. Na semana passada, o TCU detectou um bocado de irregularidades e esquisitices nelas. Exemplos:
as obras do novo estado da Fonte Nova, em Salvador, já custam quase o triplo do inicialmente orçado; o custo do VLT de Brasília saltou de R$ 364 milhões para R$ 1,55 bilhão.


Pelé, nossa maior celebridade global, disse outro dia que teme um vexame brasileiro daqui a três anos, tantos são os atrasos nas intervenções urbanas e nos estádios .
(...)
O pior é que o risco de fiasco provavelmente servirá como carta branca para que despautérios com o dinheiro público sejam cometidos à luz do dia.

Quase todos os maus negócios que o governo do PT entabula são cevados no cocho de fartos recursos públicos do BNDES, que acumula agora as funções de hospital de empresas e financiador de bizarrices.

Nos dois últimos anos, o banco recebeu sucessivos aportes que o vitaminaram em mais de R$ 180 bilhões.
Com isso, funcionou, entre outros, como esteio da capitalização da Petrobras e centro oficial de maquiagem das contas públicas, sem esquecer o auxílio amigo a negócios suspeitos ou alquebrados, como os que envolvem frigoríficos falidos.

Sabe-se agora que o Tesouro pretende pôr mais R$ 50 bilhões no BNDES e também na Caixa Federal, talvez também para permitir que a instituição financeira de varejo continue a fazer negócios tão bons como o da compra do Panamericano...

Deve-se ter claro que, para injetar mais recursos no BNDES e permitir que ele continue a bancar negócios duvidosos, o Tesouro capta dinheiro no mercado (hoje à taxa média de 12% ao ano) e empresta cobrando em torno de 8%.
Quem paga a conta da diferença somos nós – haja vista a imposição do salário mínimo-mínimo de R$ 545 na semana passada.

Nem tudo o que reluz é ouro.
Não basta apenas ser investimento para escapar do rigor que deve orientar a aplicação dos recursos públicos; tem de ser investimento benéfico para a sociedade.
Os acima citados ainda não provaram sê-lo.

Enquanto o governo do PT não define como fará o necessário ajuste nas contas públicas – desfiguradas pela irresponsabilidade da gestão Lula e pela complacência da hoje presidente da República – esta manada de elefantes brancos passeia livremente por aí, comendo recursos da sociedade que nem capim.

Fonte ITV

E O BRASIL REAL "CONTINUA MUDADNDO" : INFLAÇÃO RESISTENTE E DISSIMINADA.

O IBGE divulgou hoje a inflação de fevereiro medida pelo IPCA-15.
O culpado, desta vez, não foi alimento, mas educação, que sempre sobe nessa época do ano. A alta de 0,97% derruba a esperança de que no primeiro trimestre a inflação acumulada pudesse cair.
Em 12 meses, o IPCA-15 subiu para 6,08%, bem perto do teto da meta.


Os dados mostram que é uma inflação resistente, provocada por várias razões: alimentos, crescimento do consumo, serviços.
Está disseminada na economia, não há um fator apenas.
Mesmo com a queda de alguns alimentos, como feijão, batata, arroz, a inflação não deu um refresco, porque a educação entrou e puxou a alta.

É uma inflação que preocupa, porque não é simples, não tem uma explicação só. Infelizmente, temos vivido uma dualidade:
de um lado, os ministérios gastadores, de outro, o BC fazendo a política de elevar a taxa de juros.


O corte de R$ 50 bilhões não convenceu.
O governo está criando outras formas de gastar, fora do orçamento, o que é perigoso.
E vai continuar atacando a inflação apenas pelo BC, que pode ter a amarga tarefa de elevar de novo a taxa de juros.


Inflação de serviços tem a maior alta em 15 anos

A inflação de serviços continua sendo uma preocupação porque vem aumentando muito. Em fevereiro, pelo IPCA-15, divulgado hoje pelo IBGE, essa inflação subiu 2,34%, a maior alta desde fevereiro de 1996, por conta do aumento forte do grupo educação.

Com isso, a inflação de serviços acumulada em 12 meses continuou aumentando, passando de 7,94% para 8,36%, a taxa mais alta desde agosto de 1997.

Valéria Maniero/Globo

MÉTODO MANTEGA :DIFUNDIDA A CONTABILIDADE OBSCURA OU "CRIATIVA" : CVM IDENTIFICA PROBLEMAS NOS BALANÇOS.

Levantamento feito pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com os balanços das empresas mais importantes do mercado encontrou "desvios recorrentes" no nível de informação de pontos considerados críticos.

Há "desvios recorrentes" no nível de informação prestada pelas companhias abertas brasileiras em itens relevantes dos balanços.

O principal problema identificado, segundo a CVM, é a "omissão de informações relevantes" nas notas explicativas que acompanham os balanços para que os leitores possam tirar suas conclusões sobre as empresas.

As companhias que tiveram os "desvios" de informação já foram avisadas pela CVM. Mas por conta da abrangência de alguns problemas - houve erros em 80% da amostra analisada - o órgão regulador decidiu enviar nos próximos dias um comunicado público, endereçado não apenas às empresas, mas também aos auditores independentes.

O ponto em que a fiscalização da CVM encontrou desvios mais generalizados, com ocorrência em 80% da amostra, foi o de contratos com as chamadas "partes relacionadas" - operações que envolvem a companhia e seus sócios, administradores, controladas ou coligadas, por exemplo.

Não há restrição aos contratos, mas se exige divulgação de informações detalhadas, para que os leitores possam entender em que condições eles ocorreram e se seguiram ou não práticas de mercado.

No caso de empréstimos entre partes relacionadas, por exemplo, houve casos de omissão do prazo e das taxas de juros das operações, por exemplo.

Na área de remuneração dos administradores, que está na mesma nota explicativa, foi identificada também inconsistência ao se confrontar os dados com aqueles que constam do Formulário de Referência, o mais completo documento que as empresas enviam à CVM com informações sobre suas atividades, setor e governança.

O levantamento apontou também que metade das empresas cometeu algum desvio na divulgação sobre as condições em que foram feitos os testes para se reduzir o preço dos ativos ao valor recuperável ("impairment").

A nova norma contábil determina que as empresas chequem o valor dos ativos periodicamente e, se o preço encontrado for menor que aquele registrado no balanço, façam um ajuste para baixo.

"É importante que se divulgue as premissas para o valor recuperável. Se a empresa calcula o fluxo de caixa descontado, é preciso divulgar a taxa de desconto e outras premissas básicas que vão influenciar o valor presente do fluxo de caixa", diz Jorge Andrade, gerente de acompanhamento de empresas da CVM e um dos responsáveis pelo levantamento, ao lado de José Carlos Bezerra, gerente de normas contábeis.

A omissão de taxas de desconto e de outras premissas também foram motivo para que 40% das empresas pesquisadas recebessem alertas com pedidos de melhora na divulgação de informações sobre o ajuste a valor presente dos ativos.

Houve casos identificados também sobre ativos contingentes, que estão em disputa. "Se a empresa teve ganho numa ação judicial, mas ainda cabe recurso, não é o momento ainda de contabilizar esse ativo. Foram poucos casos, mas importantes, pela natureza", diz Andrade.

No primeiro semestre de 2010, a CVM criou uma gerência específica dentro da superintendência de relações com empresas para acompanhar os balanços de forma mais sistemática.

O levantamento tinha como objetivo verificar a aplicação dos primeiros 14 pronunciamentos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que entraram em vigor em 2008.

A CVM não informou quantas empresas foram fiscalizadas, dizendo apenas que os dados se referem a uma amostra representativa do conjunto de companhias abertas.

Fernando Torres Valor Econômico

UTILITARISMO DESCAMUFLADO : CORJA NO PODER, É GARANTIA DE FRAUDE ,ESTELIONATO E BRASIL ASSENHOREADO.

Após quase dois meses de governo Dilma, o que podemos dizer sobre sua gestão? Muitos parecem satisfeitos, mas não é fácil entender os motivos.
Talvez o relativo silêncio da presidente explique a maior benevolência com a atual ocupante do cargo.
Mas esta parece uma razão muito frágil para postura tão obsequiosa.


Até aqui, a imagem de uma gerente eficiente que atua nos bastidores sem muito barulho tem sobrevivido.
Mas o que está sendo feito de verdade?
Fala-se do enorme corte de R$50 bilhões nos gastos públicos.
Mas uma análise mais minuciosa levanta questões importantes.


Para começo de conversa, o ministro responsável pela medida é o mesmo da gestão anterior, o "ilusionista" Guido Mantega, responsável por truques contábeis para atingir a meta de superávit fiscal em 2010.
Qual a sua credibilidade para assumir a tesoura agora?


Em segundo lugar, o propagado corte se dará em cima de um Orçamento inflado. Cortar expectativa de aumento de gasto não é o mesmo que reduzir efetivamente a despesa, algo que o setor público deveria fazer urgentemente.
Os gastos em 2011 serão maiores do que foram em 2010.
Isso sem falar dos malabarismos para expandir o crédito público subsidiado por meio do BNDES.


O inchaço da máquina estatal foi responsabilidade do governo Lula, do qual Dilma foi importante figura.
A "herança maldita" vem daquele presidente que garantiu aos eleitores que Dilma era apenas outro nome para Lula.
Durante a campanha, a própria Dilma afirmou que não faria ajuste fiscal.
Seria um caso de "estelionato eleitoral" então?


Claro que as medidas de maior austeridade fiscal são necessárias.
A inflação está em patamares elevados. O Banco Central já iniciou um ciclo de aumento dos juros para conter o dragão, e seria um erro utilizar somente a política monetária nesta batalha.
O principal instrumento deve ser justamente a política fiscal, uma vez que os gastos públicos são a causa número um do problema.
Mas o corte é tímido, se é que será colocado em prática na íntegra.


O que mais deveria ser feito então?
A resposta está na ponta da língua de qualquer economista sério: as reformas estruturais.
Enquanto estas mudanças mais profundas não forem realizadas, o governo ficará apenas apagando incêndio com copos d"água, empurrando o problema com a barriga.
A presidente Dilma não esboça nenhuma intenção de enfrentar este desafio com coragem e determinação.
Ao contrário, ela já deixou claro que não deverá pressionar o Congresso em relação a isso.

(...)
O rombo previdenciário é uma bomba-relógio, e o "bônus demográfico" cada vez ajuda menos.
A população brasileira está envelhecendo, e as contas não fecham. Fingir que o problema não existe somente porque sua explosão não é iminente beira a total irresponsabilidade.
Onde está o projeto da reforma previdenciária?
Se depender do PT, o modelo de aposentadoria muda, mas para pior.


As leis trabalhistas de nosso país datam da Era Vargas, sob a visível influência do fascismo. As máfias sindicais concentram poder abusivo, e não há flexibilidade alguma entre patrão e empregado.
A Justiça do Trabalho adota viés marxista em suas decisões, quase sempre penalizando as empresas.
.
A burocracia é asfixiante e a carga tributária é absurda. Leva-se 120 dias para abrir uma empresa no Brasil, contra 14 dias nos países mais desenvolvidos.
Consome-se cerca de 2.600 horas por ano apenas para atender as demandas de nosso manicômio tributário.
Empreender num país desses é tarefa heróica.
Onde está a reforma trabalhista?
Onde está a reforma tributária?


A infraestrutura do país está em péssimo estado.
O governo não investe direito porque gasta muito, e ainda prejudica a iniciativa privada com elevados impostos, juros altos e burocracia insana.
Enquanto estas questões básicas forem ignoradas, não dá para ficar elogiando a "gerência eficiente" da presidente.
É preciso cobrar mudanças concretas.


Entretanto, parece que nossa sonolenta oposição prefere se digladiar entre si, enquanto muitos empresários míopes surfam as ondas criadas pelos ventos externos favoráveis, que em qualquer momento podem mudar de direção.
Trata-se de um equilíbrio instável, que pode levar a um cenário de rápida deterioração da economia.
Este modelo não é de crescimento sustentável.


Em vez de elogiar a "eficiência" da presidente na gestão, todos deveriam, com um brado retumbante, perguntar: onde estão as reformas?

Onde estão as reformas?
Rodrigo Constantino O Globo