"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 04, 2012

POLÍTICA PATIFE! DUAS EM UM : Catástrofe de 2011 na Serra foi em vão E A batucada das obras,

Com a severa tempestade que desabou sobre a Serra Fluminense no início do ano passado, ficou à vista de todos o que a incúria administrativa e a corrupção podem produzir.

Entre Petrópolis, Teresópolis e Friburgo, foram mais de 900 mortos - nem todos resgatados -, estradas, pontes, casas e toda uma infraestrutura destruídas.


Num enredo conhecido, autoridades de todos os níveis administrativos se solidarizaram com as vítimas, prometeram investir na recuperação das cidades, alguns governantes até foram aos enlameados locais.

Também como sempre acontece nessas situações, ficou evidente que faltou cuidado com a prevenção por parte de todos os governos - federal, estadual e municipais.


Mas foi tão grande a tragédia - considerada a maior catástrofe natural ocorrida no país - que se esperava alguma mudança de postura do poder público. Em vão. Há um ano da enxurrada, quando nova temporada de chuvas se inicia, os mesmos problemas voltam a ocorrer, em Friburgo e Teresópolis.
Pelo menos até agora.


A lição não foi aprendida, apesar do número de vítimas, da pulverização de patrimônios público e privado. Se algo positivo aconteceu no decorrer de 2011, naquela região, foi o afastamento dos prefeitos de Teresópolis e Friburgo, Jorge Mario (ex-PT) e Demerval Moreira Neto (PTdoB).

O primeiro, cassado; o segundo, destituído pela Justiça Federal, a partir de ação proposta pelo Ministério Público Federal.


Os dois mantinham esquemas de corrupção detectados assim que foi exigido das prefeituras agir de maneira rápida e eficiente na aplicação de recursos federais e estaduais liberados na tragédia.

Mas foi só. As chuvas destes dias encontram áreas das cidades atingidas com rigor em 2011 quase do mesmo jeito que ficaram depois da passagem das águas há um ano. No momento, os problemas mais graves ocorrem em Friburgo.

O governo federal tem parte ponderável da responsabilidade em todo este drama. Se, em 2011, descobriu-se que o ministro Geddel Vieira (PMDB), da Integração Nacional na fase final do governo Lula, privilegiara sua base eleitoral, a Bahia, na distribuição das verbas federais para obras de prevenção contra este tipo de desastre, sabe-se agora que Fernando Rezende (PSB) seguiu Geddel e concentrou a mesma verba em Pernambuco.

Em artigo publicado ontem no GLOBO, o economista Gil Castello Branco, da ONG Contas Abertas, registrou que dos R$155,6 milhões do orçamento para obras de prevenção, a maior parte, R$34,2 milhões, 22%, foram para o domicílio eleitoral do ministro.


O poder público nada aprendeu com a catástrofe de 2011. Por determinação da presidente Dilma, a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, suspendeu as férias e voltou ao gabinete, ontem, no Planalto, para tratar de ações de emergência em áreas de enchentes em Minas e no Rio de Janeiro.

Noticia-se, também, que serão definidos critérios técnicos na distribuição de verbas que Geddel e Rezende usaram com fins clientelistas.


Tudo pirotecnia.
Mais uma vez, o Estado apenas tentará apagar incêndios mais do que previsíveis, pois não consegue agir na prevenção. Por deficiência administrativa e/ou má-fé.
O Globo

A batucada das obras

O projeto do novo Sambódromo é assinado por Oscar Niemeyer
Imagem: Divulgação

EM RITMO ACELERADO: cerca de 500 operários trabalham dia e noite para aprontar o novo Sambódromo, que tem o prazo de conclusão previsto para uma semana antes do carnaval, dia 12 de fevereiro

NO ENTORNO, a obra do novo centro de controle da Secretaria de Segurança

MÁQUINAS PESADAS (acima) são usadas na construção dos camarotes; perto dali, operários trabalham para erguer as novas arquibancadas a tempo (abaixo)

Waleska Borges
waleska.borges@oglobo.com.br

Operários, tratores, guindastes, cimento, ferragens. O ritmo acelerado que se escuta na Sapucaí desde o ano passado vai mostrar no próximo carnaval as novas formas do Sambódromo. Mas o cenário de transformação na Cidade Nova vai além da Sapucaí.

Outras obras chamam a atenção na região, entre elas a do Centro Integrado de Comando e Controle da Secretaria de Segurança Pública, na esquina das ruas Benedito Hipólito e Carmo Neto. Segundo o arquiteto responsável pelo projeto, Marcos Lorena, a área construída no local será de 13 mil metros quadrados.

A previsão é que o prédio, com quatro andares e um heliponto, seja entregue em maio.

Outras construções nas redondezas também evidenciam a revitalização da área. Um prédio do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que está sendo erguido na Rua Júlio do Carmo, deve ser entregue em setembro.

O edifício - que será vizinho a uma unidade da Petrobras também em construção - terá dez pavimentos e mais de 21 mil metros quadrados de área construída. A Cedae também já se mudou para a área.

Apesar de várias obras estarem em andamento, funcionários da empresa ainda reclamam da falta de opções de restaurantes e padarias. E também dizem que já presenciaram assaltos a pedestres.

- Acredito que o Centro Integrado de Comando e Controle vai trazer mais segurança para região - disse Tarcísia Lima, de 38 anos, auxiliar comercial da Cedae.

Camarotes com dois andares e varanda

Do alto, o novo Sambódromo mostra o leque de arquibancadas dos dois lados, uma novidade que poderá ser conferida na temporada de ensaios técnicos, que começa no domingo. Cinco blocos (nos setores 4, 4a, 6, 6a e 2a) estão prontos.

Segundo o secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Figueira, na abertura dos ensaios, a passarela estará frisada e recapeada.

A expectativa é que todas as obras fiquem prontas uma semana antes do carnaval, no dia 12 de fevereiro.

- A população poderá curtir os desfiles em arquibancadas nos dois lados do Sambódromo. Isso vai trazer mais emoção para quem desfila e para o público - disse o secretário.

Na Sapucaí - que, com as obras, terá a capacidade aumentada de 60 mil para 72,5 mil pessoas - também é possível ver o formato dos camarotes com dois andares e varanda.

- O varandão será o filé do carnaval. O folião poderá ver tudo ao ar livre - disse o secretário.

Segundo Antônio Pedro, as obras do setor 8, que já estão com as fundações prontas, serão concluídas por último. Ele garante que, no dia 12 de fevereiro, quando haverá um teste de som e luz, além de uma lavagem simbólica da passarela por baianas das escolas, o setor estará pronto.

Conforme o secretário, a passagem de um rio próximo ao setor 8 atrasou a obra no local. Foi necessário fazer um desvio. Também no último teste de fevereiro, pela primeira vez o público ocupará os dois lados do Sambódromo durante um ensaio.

Enquanto as obras não ficam prontas, cerca de 500 operários trabalham dia e noite. Nem as recentes chuvas, segundo Antônio Pedro, impediram os serviços. Nesses dias, os pedreiros trabalharam nas instalações elétricas internas.

Alguns operários dizem estar orgulhosos de participar da construção do "novo Sambódromo".

Um deles, o encarregado de montagem Marcos Antônio da Silva, de 30 anos, morador de Seropédica, nunca tinha entrado no local:

- Mas todo ano venho curtir (o carnaval) do lado de fora.
Quando eu tiver filhos, vou contar a eles que ajudei nesta ampliação.

O brasil TRANSFORMADO PELO CACHACEIRO PARLAPATÃO, O FILHO... DO brasil QUE ENOJA: Agentes da impunidade nos três Poderes


Há algo em comum e, da mesma forma, uma grande diferença entre o militante petista Waldomiro Diniz e seu adversário político José Roberto Arruda, desalojado do governo do Distrito Federal e do partido pelo qual fora eleito, o DEM, além do fato de este ser um partido de oposição ao governo do PT.

Em fevereiro de 2004, a revista semanal Época revelou a existência de um vídeo no qual o citado Waldomiro, encarregado do relacionamento entre a chefia da Casa Civil do presidente Luiz Inácio da Silva, que havia celebrado um mês antes um ano em seu primeiro mandato, e o Congresso Nacional, achacava um empresário da jogatina, Carlos Augusto Ramos, vulgo Carlinhos Cachoeira, para financiar campanhas eleitorais de aliados do grupo no poder federal nas eleições estaduais de 2002.

Seus beneficiários seriam Rosinha Matheus, que tinha passado pelo PSB e, à época do achaque, estava no PMDB; Benedita da Silva, do PT, ambas no Estado do Rio; e o petista Geraldo Magela, do Distrito Federal.

O, digamos, "bingueiro" foi escolhido para a abordagem porque o militante ocupava, à época, a presidência da Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj) e lhe oferecia em troca da propina favorecimento em concorrências.


O achacado não se fez de rogado, gravou e filmou o encontro, tendo o vídeo chegado às mãos dos jornalistas da revista, que reproduziu seu conteúdo e ainda obteve do denunciado confissão cabal do delito cometido.

Waldomiro Diniz foi demitido de seu posto e despejado do gabinete que ocupava no Palácio do Planalto a reduzida distância de seu chefe, o então todo-poderoso titular da Casa Civil José Dirceu, e do superior hierárquico dos dois, Luiz Inácio Lula da Silva.

A reportagem está para completar o sexto ano de sua publicação e, embora afastado das prerrogativas e benesses do poder na República, o indigitado continua gozando plena liberdade, numa prova viva e circulante de que o Brasil oficial merece o apodo do título do livro do jornalista paraibano Sebastião Barbosa:
"o país da impunidade".

Por incrível que pareça, desde então a Polícia Federal (PF), partindo de uma gravação inequívoca e de uma confissão que não deixa dúvidas, não conseguiu produzir um inquérito que pudesse ser aceito como válido pelo Ministério Público Federal (MPF).


Numa dessas circunstâncias que podem até ser assustadoras, mas não são surpreendentes, essa é exatamente a justificativa que o Ministério Público dá para outra efeméride.

Quatro anos depois do escândalo na Casa Civil de Lula, caso bastante similar explodiu no gabinete do então governador José Roberto Arruda. Sua Excelência foi filmada e teve sua voz gravada recebendo explicitamente pacotes de dinheiro de seu ex-secretário Durval Barbosa, que fez o vídeo por ele produzido com o flagrante chegar às mãos da mesma PF em troca de delação premiada.

Ao contrário de Waldomiro, contudo, e aí está a primeira diferença entre os dois, Arruda não foi pilhado sozinho com a boca na botija. O deputado distrital Leonardo Prudente também o foi e guardou a propina na meia.


Tal como Waldomiro, Arruda perdeu seu valioso emprego público, obtido, no caso dele, por sufrágio universal, secreto e soberano da população do Distrito Federal.

Mas, da mesma forma como o adversário e antecessor em recebimento flagrado de suborno, até agora não se viu obrigado a responder pelo delito perante a Justiça.

Para tanto, ambos não precisaram de álibis nem padrinhos fortes no Judiciário. Assim como ocorreu no escândalo quatro anos mais velho, a investigação do "mensalão do DEM" foi prejudicada, segundo o MPF, pela falta de "vários documentos" no relatório encaminhado pela PF.

De acordo com a Procuradoria, sem esses documentos seria "impossível o oferecimento da denúncia por causa da técnica própria da ação, que obriga o membro do Ministério Público Federal a apresentar as provas dos fatos que afirma".

Essa conclusão impediu que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, cumprisse a promessa de que denunciaria o ex-governador e seus cúmplices "sem falta" no ano passado, feita logo após a sabatina a que foi submetido para ser reconduzido ao cargo, em agosto.

Agora ele pediu mais tempo para evitar delongas no processo judicial e, assim, apresentar uma denúncia que chamou de "robusta". "Embora seja frustrante a demora, seria ainda mais frustrante a precipitação de oferecer uma denúncia que acabasse por não estar à altura da gravidade daquela situação", disse ele.

Em 2006 a Procuradoria levou dez meses para denunciar o esquema do mensalão federal do PT, revelado em 2005.


Mas como a impunidade no Brasil tem muitos agentes nos três Poderes, convém anotar que de pouco serviu a presteza do procurador-geral há cinco anos, que é louvável, já que o esquema que o ex-chefe de Waldomiro, José Dirceu, é acusado de comandar tornou réus do Supremo Tribunal Federal (STF) 38 políticos, doleiros e empresários.

Pois desde 2006 e em via de chegar ao sexto ano, só agora o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, entregou a seus pares seu parecer a respeito do episódio, às vésperas da eventual prescrição dos principais crimes de que são acusados os denunciados como chefes do esquema, o de formação de quadrilha.

E o revisor do processo, Ricardo Lewandowski, avisou que vai levar um bom tempo para tomar conhecimento de um caso do qual qualquer cidadão brasileiro conhece praticamente tudo o que ocorreu, e isso, por si só, levanta dúvidas quanto à punição dos eventuais culpados.


Waldomiro, Arruda e os mensaleiros, bem como os ditos "aloprados", que produziram um dossiê falso contra o tucano José Serra na eleição paulista de 2006, têm-se beneficiado da impunidade que, pelo visto, depende da incúria da PF, que, assim, não seria tão "republicana" quanto se proclama, ou do MPF, que, então, não seria a palmatória do mundo que garante ser.

José Nêumanne