"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 20, 2011

EM GOVERNO DE TORPES A MOEDA SÓ PODE SER PODRE.

Nem os países da zona do euro, nem o baque de 38% na geração de emprego formal. Nada, mas nada está tão em baixa quanto a cotação da moral, forçada pela alta acelerada dos índices de sem-vergonhice e da cara-de-pau.

E os personagens desse mercado nefasto - que têm como praxe realizar lucros taxando de criminoso o denunciante e não quem prevarica -, se superam dia após dia. Apóiam-se em regras que só valem para uns, no status dos menos iguais, certos de que os chamados “malfeitos”, quando punidos, só o são da boca para fora.

Esquizofrênico como o mercado financeiro em meio às crises, as ações do governo só fazem reforçar danos.

Com o ministro do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff fez a cotação da mentira bater nos píncaros. Ela, a Câmara dos Deputados, o Senado, e, de resto, todo o país, ouviram mentiras, mais mentiras e outras mentiras de Carlos Lupi.

Depois, as desmentiras. Ainda assim ou por isso mesmo, deu-se, sabe-se lá por que, sobrevida ao ministro.


Quase imbatível nesse mercado, o ex-ministro José Dirceu - réu do mensalão, apontado pela Procuradoria Geral da República como chefe da quadrilha -, carimbou a moralidade como praga daninha que gera lideranças funestas, ao discursar no 2º Congresso da Juventude do PT.

“Lutas moralistas” teriam embalado Jânio Quadros e Collor de Mello, esse último cassado exatamente por um levante popular contra a corrupção. Mas isso, é claro, Dirceu não disse.


Na mesma balada, o presidente da Juventude do PT, Valdemir Pascoal, qualificou as denúncias de corrupção como “golpe das elites”. E, mais uma vez, a grande imprensa, a danada da mídia, materializou-se ali como um capeta a ser exorcizado.

Não por obra do acaso, na mesma semana, a idéia fixa da regulação da mídia voltou à tona em palestra do ex-ministro de Comunicação, Franklin Martins, no Congresso de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

E Dirceu, sempre ele, elegeu a imprensa como “partido da mídia”.


Nas contas dos marqueteiros do governo, com a falação em torno da faxina ética Dilma já capitalizou o máximo que podia. Nessa seara, a ordem é continuar alimentando a idéia de conspiração contra o governo.

No mais, é não perturbar aliados, garantir a aprovação de matérias-chaves, como a DRU, a lei da Copa, o orçamento. E quando tiver de mexer em alguma coisa, continuar trocando seis por meia dúzia.


Mas regras de mercado costumam ser draconianas. As ações lastreadas em valores morais podem estar em baixa, mas, como metais nobres, são resistentes e jamais perdem o valor de face.

As de ocasião são voláteis. Delas nascem as bolhas que estouram.



Moeda podre
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan

ADMIRÁVEL GADO NOVO! ô ô, vida de gado, povo marcado, ê, povo feliz. ABATEDOURO : Endividados, brasileiros ganham mais crédito.

O governo volta a incentivar o crédito para o consumo em um momento que, teoricamente, tem ingredientes arriscados:
brasileiros nunca deveram tanto e nunca comprometeram parcela tão grande do salário para pagar as dívidas.

Desde a crise de 2008, quando o governo aumentou a oferta de crédito para manter a economia aquecida, a dívida total dos brasileiros saltou 80,7% e o valor das parcelas pagas mensalmente cresceu 60%.
Enquanto isso, o salário aumentou bem menos: 33,3%.

Dados do Banco Central revelam que o endividamento das famílias está no nível mais alto da história:
pessoas físicas devem cerca de R$ 715,19 bilhões aos bancos em operações das mais simples, como o microcrédito e o cheque especial, até financiamentos longos, como o imobiliário e de veículos, passando pelo caro cartão de crédito.

Segundo o BC, cada brasileiro deve atualmente 41,8% da soma dos salários de um ano inteiro, um recorde. Há pouco mais de três anos, quando começou a crise de 2008, brasileiros deviam o correspondente a 32,2% de sua renda de 12 meses.

O diretor de política econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, disse no começo do mês que a instituição não está preocupada com o aumento do endividamento das famílias porque o prazo praticado pelos bancos cresceu e os juros têm caído. Além disso, o mercado de trabalho e a renda seguem em expansão.

Nos últimos dias, o BC retirou parte das amarras impostas ao crédito no fim do ano passado. Com o objetivo de aumentar a demanda interna, foram anunciados incentivos para financiamentos voltados ao consumo.

Além disso, o juro básico da economia cai desde agosto com o mesmo objetivo de baratear o crédito, incentivar o consumo e, assim, reduzir os efeitos da crise internacional - receituário bem parecido com o usado na crise de 2008.

Mas o quadro tem, gradualmente, mudado.

As forças geradas pelo complicado quadro global têm aparecido cada vez mais: estoques elevados, produção industrial cada vez mais lenta e desaceleração na geração de empregos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

E AÍ? BRASIL MARAVILHA MAMBEMBE! ATA OU DESATA? FAZER OU GASTAR?

Fazer ou gastar?

Pelos conselhos que ela andou dando aos EUA e à Europa sobre como enfrentar a crise, está claro que a presidente Dilma Rousseff fará de tudo para impedir que o crescimento econômico perca o rebolado.

O ritmo do Produto Interno Bruto (PIB) está há três trimestres em queda e já acena para um crescimento anual de 3%, vindo de 7,5% no ano passado. À luz das ações tomadas pelo Banco Central, o juízo é de que o consumo está anêmico e precisa ser reanimado o quanto antes.

É o caminho clássico em tempos de retração.A questão a entender é se, como noutros períodos assemelhados, a economia precise mais de juros menores e prazos maiores do crédito, como o Banco Central decidiu (para o PIB voltar a arrancar e virar o ano apontando para um crescimento acima de 4,5% em 2012), que de tapete vermelho para o investimento.
Essa escolha não leva ao mesmo resultado.

A pilotagem dos fatores que impressionam o consumo é o jeito mais fácil de aquecer a economia. Mas, apesar de indicadores de crédito e de criação de emprego corroborar o senso de menor dinamismo da economia, não estão neles — já que, ainda assim, seguem crescendo acima da média histórica — as causas do emagrecimento do PIB.

Também não repercute, pelo menos não ainda, o clima recessivo na Europa, nos EUA e no Japão. A desaceleração do ritmo de crescimento da economia, de 7,5% em 2010, para o entorno de 3% este ano, choca à primeira vista.

Mas a comparação apropriada é com a média dos anos anteriores, para ajustar os momentos extremos da economia, como a recessão em 2009 (queda de 0,3% do PIB) e o forte salto em 2010, devida à orientação do então presidente Lula para fechar com chave de ouro seu duplo mandato e minimizar o risco da eleição de Dilma.

Contra a média de crescimento do PIB entre 2008 e 2010, de 4%, a redução para algo como 3% fica mais palatável. Economistas diriam que essa seria a taxa próxima ao crescimento potencial, estimado em algo como 4,5%, talvez um pouco mais, sem pressionar a inflação nem o deficit externo, financiado com a entrada de capitais.

É mais fácil recuperar a tração do crescimento quando a economia fraqueja por indução da política econômica.
Assim está o Brasil. E isso não está suficientemente esclarecido pelo governo.

Ajustando o contexto

O BC apertou os juros e o multiplicador do crédito, e a Fazenda, a execução do gasto fiscal e os financiamentos da banca estatal, sobretudo o BNDES, para retirar os excessos no fim do governo Lula, responsáveis por afastar a inflação do centro da meta (4,5%) — agravada pelo choque de preço dos produtos agrícolas em 2010.

Posto em perspectiva, o movimento da economia no Brasil fica mais lógico.

Mas, especialmente, se diferencia da crise da Zona do Euro e dos impasses políticos nos EUA. Ajuda também a dar o devido peso à decisão da agência Standard & Poor"s de aumentar a nota de risco do Brasil.

Ela ainda está três degraus abaixo da pontuação dada à Itália, cuja dívida pública de 120% do PIB — mais que o triplo da do Brasil em termos líquidos —, faz a Zona do Euro estremecer.

A nota que nos importa

Um diretor da Standard & Poor"s atribuiu a promoção do Brasil ao endurecimento da política fiscal contra a inflação, abrindo espaço para a redução dos juros.

Está implícito que ele se refere mais à solvência dos papéis da dívida soberana (preocupação que não mais se coloca nas análises sobre o Brasil), que ao desenvolvimento potencial da economia.

Agências dialogam com os interesses de quem as contratam:
basicamente, grandes investidores internacionais.

A expansão da riqueza nacional interessa mais a nós mesmos, assim como aos patrocinadores públicos e privados dos investimentos que a expandem.

É nesse sentido que importa a reflexão sobre as ações tomadas pelo governo para ativar o consumo e o ritmo da economia.

Como escapar do vício

O governo parece tratar como decorrente de um problema de fluxo (o consumo) e não de estoque (a capacidade instalada de produção) o motivo da rateada do crescimento, que, como vimos, perdeu pique por indução do próprio governo para frear a inflação, implicando as sequelas de uma fase de ajustes (juros altos, câmbio apreciado etc.).

E por que é assim toda vez que a economia cresce forte?

Porque a oferta não atende a demanda num quadro de pleno emprego — como tem sido desde meados de 2009 —, levando o consumo a vazar para o exterior, no que foi exacerbado pelo real apreciado, usado pelo BC de Lula como coadjuvante da Selic.

Esse é o nó:
o aumento da demanda favorecer as importações, não a indústria, prejudicando o investimento produtivo. É o círculo vicioso de sempre.

A prioridade virtuosa

Depois de pautada pelo ajuste das finanças públicas nos governos de FHC e no primeiro de Lula, e pelas políticas de transferência de renda em seu segundo mandato, a economia era para ser regida pela primazia do investimento com Dilma.

Isso ainda é uma expectativa.

Boa parte do ajuste fiscal deste ano, feito para cortar demanda e ajudar o BC no controle da inflação por meio de uma economia de R$ 50,8 bilhões de gastos orçamentários, saiu do aumento da receita e da postergação de investimentos, que o governo jurara não cortar.

É essa prioridade que precisa ser retomada, única forma de acabar com o para-anda do crescimento e para que os bons empregos, a renda e a educação comecem a dispensar a urgência das políticas sociais.

Antônio Machado/Correio Braziliense