"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 05, 2012

A TREMEDEIRA ! E NÃO É POR CAUSA DA "MARVADA" : Mensalão: muito ainda a investigar

Faltam apenas quatro sessões para que o julgamento do mensalão seja concluído. Mas está cada vez mais claro que muitos e importantes aspectos do maior caso de corrupção da história política do país ainda precisam ser esclarecidos.

Incluindo o principal deles:
afinal, até que ponto o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva envolveu-se nas falcatruas?

Nos últimos dias, voltaram a pulular histórias em que Lula aparece mergulhado até o último fio do bigode em histórias para lá de cabeludas. Entre elas, a morte do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002 pouco antes de assumir a coordenação da campanha vitoriosa do PT à presidência da República.

Em sua edição desta semana, a revista (Veja) traz novas revelações feitas pelo publicitário Marcos Valério em depoimento dado em setembro ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Apareceram novas evidências de que o mensalão foi ainda mais longe do que já se sabe até agora, envolveu grosso dinheiro movimentado no exterior e pode ter até um cadáver no seu histórico.

Depois de, na quinta-feira, (O Estado de S.Paulo) também ter mostrado que o operador do mensalão implicou de vez Lula e Antonio Palocci na trama, a revista levantou a suspeita de que pessoas ligadas à morte de Daniel cobraram extorsão para não abrir o bico e envolver o ex-presidente no assassinato, bem como a Gilberto Carvalho, hoje secretário-geral da Presidência.

Valério já está condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 40 anos, um mês e seis dias de prisão pelos crimes de corrupção, peculato e formação de quadrilha. Tem pouco, portanto, a perder e estaria disposto a contar tudo o que sabe, segundo as histórias que voltaram a circular com força desde o último domingo de outubro.

O publicitário "tem revelações importantes a fazer sobre o mensalão, inclusive sobre o verdadeiro papel do então presidente Lula no esquema. Valério diz ter como provar que Lula sabia de tudo", resume a Veja.

Outro aspecto importante a esclarecer é o trânsito do dinheiro sujo, desviado dos cofres públicos, que abasteceu o gigantesco esquema de corrupção montado pelo PT. A suspeita é de que os cerca de R$ 350 milhões que o mensalão teria movimentado foram transferidos para o exterior e de lá irrigaram não só esta como outras maracutaias petistas, como a compra de dossiês nas eleições de 2006, no escândalo que ficou conhecido como "aloprados".

O PT sentiu o clima adverso dos últimos dias e recolheu suas armas, que estavam preparadas para ser disparadas tão logo fossem fechadas as urnas do segundo turno das eleições municipais.

O partido dos mensaleiros já abortou a divulgação de um manifesto em defesa dos condenados pelo STF e, além disso, fez apaziguarem os ânimos belicosos de José Dirceu e José Genoino - com a participação direta de Lula, segundo publicado pela imprensa nos últimos dias. 

Quem deve, teme.

Tudo para não atiçar ainda mais os ministros do Supremo no momento em que eles irão definir o tamanho das penas que serão aplicadas aos 25 réus condenados pelo mensalão, que serão conhecidas até meados deste mês. Ainda por um longo tempo, será posteriormente discutido o texto do acórdão com a sentença, bem como as previsíveis contestações dos condenados. Só então, os mensaleiros passarão a cumprir suas penas.

O país viveu momentos de júbilo com o julgamento que se desenrola no Supremo Tribunal Federal desde o início de agosto. Os ministros protagonizaram verdadeiras lições de cidadania e respeito aos princípios democráticos e republicanos. Mas isso não significa que a apuração já tenha chegado a bom termo.

Enquanto existirem suspeitas - e, principalmente, enquanto tais suspeitas envolverem gente que continua por aí posando de líder magnânimo e de exemplo para o povo - as investigações precisam prosseguir. 

Até para que o Brasil se livre da ameaça de ver um esquema nefasto como o do mensalão repetir-se.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Mensalão: muito ainda a investigar

GERENTONA/FRENÉTICA/EXTRA(ORDINÁRIA) DE NADA E COISA NENHUMA : Show de ineficiência

A  fama de durona e de boa gestora da presidente Dilma Rousseff correu o mundo.

Mas, passados quase dois anos de seu mandato, nem os gritos nem os murros na mesa têm sido suficientes para superar a ineficiência de seus auxiliares em tirar do papel obras de infraestrutura importantíssimas para o crescimento sustentado do país.

Pior, quase todas as ações executadas pela equipe econômica foram voltadas para o consumo. Não passaram nem perto dos investimentos que tanto o Brasil necessita. Nesse ponto, por sinal, tratou de espantar o capital ao privilegiar grupos escolhidos como vencedores e ao mudar regras de acordo com a conveniência.

Ainda que poucos tenham se dado conta da fatura — sobretudo, a futura — com a qual o país está arcando, a ineficiência do governo começa a deixar pesadas marcas. A começar pelo resultado no acumulado do ano da Bolsa de Valores de São Paulo, de alta de apenas 2,8%.

Os mais otimistas vão se apressar e dizer que um resultado positivo neste momento, quando o mundo está metido em um atoleiro, é para ser comemorado.

Mas vejamos.
Nos Estados Unidos, onde a economia também anda capenga, o índice Standard & Poor’s 500 (S&P), da Bolsa de Nova York, aponta valorização de 12,4%.

No México, cuja economia está atreladíssima à norte-americana, o ganho chega a 12,6%.

Na Turquia, a bolsa avança 39,3%; na Alemanha, que está a caminho da recessão, 24%.

Entre as economias emergentes, somente a China apresenta desempenho pior que o da BM&FBovespa, com queda de 3,7% entre janeiro e o início de novembro.

O motivo de a bolsa brasileira estar sendo castigada é evidente: os investidores fizeram as contas e perceberam que, além da interferência política em companhias estratégicas, a indústria nacional encontra-se em uma situação complicada. Não está conseguindo conter os custos diante do forte aumento dos salários e das perdas constantes com a infraestrutura deficiente.

Assim, empresas multinacionais têm preferido transferir parte da produção para os EUA, onde os salários estão em queda, há grande oferta de mão de obra qualificada e a legislação trabalhista é mais flexível.

Mas não é só:
a infraestrutura norte-americana é um espetáculo e a principal locomotiva do planeta consegue responder com agilidade às intempéries da natureza.
Com a competição restrita, as empresas nacionais trataram de aumentar os preços

Domingo passado, antes de o furacão Sandy atingir Nova York, carros e mais carros da empresa de energia elétrica já preparavam a cidade para o pior. O sistema de vigilância sanitária também fazia a sua parte. No último sábado, caminhões do Exército distribuíam gasolina — em algumas regiões, de graça — para restabelecer o abastecimento. 

No Brasil, há risco de faltar combustível no fim deste ano e nada de efetivo está sendo feito para evitar transtornos à população. 

Há pelo menos dois anos se fala em melhorias dos aeroportos, e nada — apenas puxadinhos. Mais da metade das estradas do país estão intransitáveis, impondo um custo extra superior a R$ 80 bilhões às empresas.

Protecionismo

A transferência de produção das múltis para os EUA está beneficiando também o México, onde a preocupação com o setor produtivo é evidente. Lá, a economia está crescendo o dobro da brasileira, puxada pela indústria. Aqui, todo o avanço do consumo, bombado pelas medidas de estímulos do governo, foi suprido 100% pelas importações. 

Ou seja, em vez de as fábricas nacionais ampliarem as linhas de produção, para tirar proveito da sede das famílias em comprar, foram as mercadorias de fora que abasteceram os lares. Não só complementaram a oferta, como tiraram 3,5% do mercado das empresas brasileiras apenas neste ano.

O mais assustador é que, com o discurso de proteger o parque industrial do país, o governo partiu para medidas protecionistas, criando barreiras à entrada de vários produtos. Com a competição restrita, as empresas nacionais trataram de elevar os preços, que ajudam a manter a inflação acima de 5% ao ano. 

Nessa toada, Brasília definiu que estatais do porte da Petrobras têm de comprar máquinas e equipamentos com elevados conteúdos nacionais, mesmo que sejam obrigadas a pagar até 50% mais que os importados e mesmo sem a garantia de entrega nos prazos previstos.

Dólar a R$ 2,50

Para reduzir um pouco o impacto da sua ineficiência sobre o setor produtivo, o governo teria que permitir a alta do dólar dos atuais R$ 2 para R$ 2,50. Mas não fará isso por causa do impacto da desvalorização do real na inflação. Os mais sensatos da equipe econômica ressaltam ainda que o dólar mais forte daria maior competitividade aos produtos brasileiros no exterior por um tempo determinado, não muito longo.

Não se pode esquecer que, mesmo em crise, os Estados Unidos e a Europa estão promovendo mudanças importantes na estrutura de suas economias, reduzindo custos, principalmente. Assim, quando derem a volta por cima, estarão muito mais atrativos para o capital privado, para os investimentos na ampliação das fábricas e do emprego.

 E, melhor, vão tirar proveito da China, que, daqui a 10 anos, será um espantoso mercado consumidor. O Brasil, contudo, continuará correndo atrás, com baixa produtividade, mão de obra caríssima e infraestrutura de terceiro mundo.

Sem concorrente
Nos últimos dias, assessores do governo tentaram justificar o injustificável diante da queda de 1% da produção industrial em setembro. Encontraram todos os tipos de desculpas, até o de que o mês teve quatro dias úteis a menos que agosto. Melhor seria se toda essa energia fosse usada para executar as obras públicas, quase todas paradas. 

É isso que a população quer.
Não custa lembra que faltam dois anos para a atual administração chegar ao fim. E a sorte da presidente Dilma Rousseff é que, até onde os olhos podem ver, independentemente do desempenho pífio da economia, ainda não há no horizonte ninguém que lhe faça sombra na campanha pela reeleição.

 Vicente Nunes/Correio Braziliense
Vicente Nunes é editor de Economia

POIS É ! E NA DOAÇÃO SECULAR DE TERRENO EM SÃO PAULO : Instituto DO CACHACEIRO PARLAPATÃO vira central de comando para petistas

Criado para fornecer ao público o acervo pessoal do ex-presidente da República, o Instituto Lula virou um gabinete paralelo de poder do PT em São Paulo. Do sobrado de vidros escuros, vigiado por câmeras e protegido por cerca elétrica no bairro Ipiranga, zona sul da capital, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva define estratégias e toma decisões que sobrepõem, muitas vezes, a própria instância partidária.

Foi dali que Lula traçou boa parte das estratégias eleitorais do PT nas eleições municipais. Dali também conteve, semana passada, o ímpeto de alguns petistas de divulgar um manifesto em defesa dos condenados no julgamento do mensalão. Na noite da última quarta-feira (31), Lula recebeu no instituto o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino e convenceu ambos de que não se tratava do momento ideal para manifestações.

A instituição foi criada com base na Lei 8.394/91, que atribui a ex-presidentes a responsabilidade de tornar acessível ao público o acervo privado obtido no exercício do cargo. Pelo estatuto, trata-se de algo "apartidário e independente de partidos políticos".

No início da disputa eleitoral, a estrutura foi ampliada com o aluguel de um sobrado vizinho para a instalação de um estúdio.

O prédio de três pavimentos tem área de lazer com piscina. No local foi gravada a propaganda para candidatos petistas de mais de 90 cidades, com participação de Lula - foi uma maneira de facilitar sua aparição em programas de TV, já que o ex-presidente se recupera do tratamento contra um câncer na laringe.

Na terça-feira passada (30), a agenda privada do ex-presidente incluiu as visitas do megaempresário Eike Batista e do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos réus do "mensalão". Reuniões partidárias com as presenças de dirigentes petistas, como o presidente nacional Rui Falcão, o secretário geral de Organização Paulo Frateschi e o líder do partido na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto, costumam avançar a noite.

Com a eleição de Fernando Haddad em São Paulo, o instituto passou a ser referência também para a composição do novo governo. Na quinta-feira, Lula recebeu Marcio Pochmann, candidato petista derrotado em Campinas, para discutir seu aproveitamento na equipe de Haddad.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Ações de elétricas têm as maiores perdas na Bovespa

As ações de empresas do setor elétrico reagem negativamente às regras para renovação das concessões das companhias e apresentam as maiores quedas do pregão nesta segunda-feira.

Por volta de 10h50m, os papéis PNB da Eletrobras apresentavam a maior baixa com desvalorização de 8,04% a R$ 15,45;
Cesp PNB perde 7,13% a R$ 16,94;
Eletrobras ON cai 6,91% a R$ 10,78;
Transmissão Paulista PN recua 4,49% a R$ 31,47 e Cemig PN tem perda de 2,73% a R$ 24,24.

No mesmo horário, o Ibovespa, índice de referência do pregão, tinha queda de 1,38% aos 57.579 pontos. O dólar comercial apresenta alta de 0,14% frente ao real na véspera da eleição presidencial americana, que deixa os investidores cautelosos.

A moeda americana está sendo negociada a R$ 2,024 na compra e R$ 2,036 na venda.

Os investidores repercutem nesta segunda a decisão do governo brasileiro relativa à Medida Provisória 579, que trata das regras para renovação das concessões elétricas. O valor da indenização por ativos não amortizados de geradoras e transmissoras ficou R$ 20 bilhões abaixo do esperado pelas empresas.

No caso da Eletrobras, por exemplo, a companhia previa uma indenização em torno de R$ 30 bilhões, mas deve receber R$ 14 bilhões.
Na sexta-feira, os papéis de empresas do setor elétrico negociados na Bolsa americana despencaram. Os ADRs da Eletrobras tiveram baixa de 9%.

- A queda nos papéis de elétricas puxa o Ibovespa, que também é influenciado pelo mau humor do cenário externo. O valor da indenização a as condições para prorrogar as concessões foram consideradas piores que as esperadas pelos analistas e pelas próprias empresas. Eletrobras, Cesp e Cemig estão ficaram entre as mais prejudicadas.

A queda dos ADRs na Bolsa de Nova York, na sexta, mostrou que os investidores internacionais também não gostaram do valor da indenização - diz o estrategista Pedro Galdi, da corretora SLW.

PETEBRAS : Petrobras sofre revés na Justiça; pode perder R$ 4,7 bilhões

A Petrobras anunciou nesta segunda-feira que a 29ª vara federal da Justiça do Rio de Janeiro proferiu decisão contra a empresa que pode implicar em perda de R$ 4,78 bilhões.

Segundo comunicado da estatal, a instância judicial julgou improcedente recurso da empresa para anular débito cobrado pela Receita Federal relativo a Imposto de Renda de remessas de pagamento de afretamento de plataformas de empresas situadas em países com tributação favorecida.

A empresa disse que os valores não estão provisionados, mas que avalia medidas para tentar impugnar a decisão.

A companhia... informa que recorrerá no momento oportuno, acreditando estar amparada na legislação tributária que lhe assegurava a desoneração do Imposto de Renda à época dos fatos, disse em comunicado ao mercado.

Em demonstração contábil da companhia o caso tem sido classificado como perda possível.

A Petrobras lembrou que em março deste ano obteve decisão liminar do Tribunal Regional Federal da 2ª Região que lhe assegurou a suspensão da exigibilidade do débito até o julgamento da ação judicial proposta.

Hoje, a Companhia tomou ciência da decisão desfavorável proferida pelo referido Juízo, através da qual foram julgados improcedentes os pedidos formulados na ação.

Às 10h47, a ação preferencial da empresa caía 1,87%, enquanto o Ibovespa recuava 1,41%.

ESCONDIDO PELO "MARQUETINGUE" DO brasil maravilha dos FARSANTES, AQUELE DO GOLPE DA GERENTONA/FRENÉTICA/EXTRA(ORDINÁRIA). UM POUCO DO BRASIL REAL : Moradores de assentamento no Pará esperam por luz elétrica desde 2004

CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA (PA) e RIO
Ben Hur e Marcivânia, de 7 anos, nem eram nascidos na primeira vez em que seus avôs Josefa Francisca, de 63, e José da Silva, de 62, ouviram dizer que a luz chegaria e mudaria a vida deles e das mais de 400 famílias que vivem no assentamento Nazaré, entre Conceição do Araguaia e Redenção, no Pará. 

Corria 2004 e muita gente fez planos. 
Em 2012, todos ainda precisam de velas e lamparinas para ter alguma claridade.

O pensamento aqui é: 
um dia podem lembrar que somos criaturas. 
Por isso, a gente ainda tem esperança de ter luz, de poder ver uma novela, de ter um divertimento. E de ganhar dinheiro. Com luz, dá para fazer polpa de jaca e de manga, geleia, e vender. 

A gente escuta isso de quem tem mais estudo e fica achando bom conta Josefa, que divide a casa com seis pessoas e recebe em média R$ 300 por mês. 
Era mais, mas uma filha estava passando fome na cidade, o banco ofereceu um empréstimo e agora ganho pouquinho.

Vizinha de Josefa, Silvana Rodrigues, que mora com três filhos entre 16 e 4 anos numa casa com as paredes pretas por conta das velas, conta que se encheu de esperança quando a companhia de energia esteve no local, no primeiro semestre deste ano, marcando as casas que seriam beneficiadas:
Não ficaram nem uma semana. 
Foi tão triste. 

É horrível, sabe, viver sem luz. 
Eu não acostumo. 

Mesmo que a gente tenha um dinheirinho para comprar carne, a gente não pode, não tem geladeira. Tentei abrir um comércio, mas não funcionou. 
Era muito gasto com lamparina. Tentei criar galinha e porco, mas aqui também não tem muita água. 

A gente vai levando... diz a manicure, que gasta por noite três velas para iluminar a casa e às vezes fica mesmo no escuro: 
O pacote com oito custa R$ 4. Eu nem sei fazer conta, mas sei que é muito dinheiro todo mês para quem vive com R$ 166 do Bolsa Família e nem sempre tem serviço. Mesmo tendo esse pedacinho de terra, eu quero ir embora com os meninos.

O Luz Para Todos, criado ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje é uma das ações do Brasil Sem Miséria. Em Conceição do Araguaia, a luz não chegou a alguns assentamentos, de acordo com o Ministério de Minas e Energia, por conta de um problema com as Centrais Elétricas do Pará (Celpa). 

O avanço das obras esteve prejudicado, embora já tivesse contrato em andamento, plano de obras aprovado e recursos disponíveis, pela impossibilidade de repasse financeiro, em razão da recuperação judicial da Celpa. Ainda segundo o ministério, a Aneel autorizou no último dia 30 de outubro, a anuência prévia para a transferência do controle societário da distribuidora de energia elétrica Celpa. 

Significa que o controle da concessionária vai mudar e a instalação da luz ficará mais próxima. Em Conceição do Araguaia, desde o início, o programa já fez 3.214 ligações. No entanto, 1.710 domicílios ainda aguardam a ligação.

Morador da região, Gebrael Asmar, mais conhecido como Gibrim, luta desde 2004 para levar luz aos assentamentos, todos legalizados pelo Incra. Por pressão dele, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia enviou ao Ministério Público Federal do Pará, em outubro de 2011, um relatório sobre o atraso no programa. 

O MPF abriu uma investigação e apura por que os assentamentos Nazaré, 
Centro da Mata, 
São Raimundo, 
Vila Transbrasiliana, 
São Jacinto e Olho DÁgua ainda vivem às escuras.

Não ter luz é ter pobreza. 
Eu luto porque, se meu município crescer, eu vou junto. Se for para a lama, também vou diz Gibrim. Energia não traz só mais conforto. As pessoas podem ter um motor a bomba, por exemplo, para pegar água, o que é muito bom, já que a maioria carrega baldes de 20 litros para cima e para baixo. Mas a luz também movimenta a economia. 
E quem vive nos assentamentos precisa muito. 

São pessoas humildes, que poderiam viver do que tem nos seus quintais: 
goiaba, 
caju, 
jaca, tudo isso podia virar polpa, sorvete e gerar renda.

Investigação no MP do Mato Grosso

Além de esbarrar em problemas das empresas de energia, o Luz Para Todos enfrenta ainda fraudes cometidas por servidores públicos. Em Nova Ubiratã, no Mato Grosso, o Ministério Público investiga se o ex-secretário de Agricultura Valdenir José dos Santos cobrou para levar a luz para produtores rurais. O Luz Para Todos é gratuito.

Além disso, políticos usam o programa como moeda eleitoral. 

O ministério diz que, mesmo as prefeituras e os governos estaduais tendo participação institucional no programa, isso não dá ao prefeito a condição de utilizar o programa eleitoralmente. Em todo o Brasil, até 2014, serão beneficiadas pelo programa 140,7 mil famílias abaixo da linha de extrema pobreza.

A gente tem uma vida dura e sonha com a luz. Queria ter uma geladeira, guardar comida. Tudo que temos são rádios a pilha. Quando dá, a gente compra pilha nova e fica sabendo do mundo. 

Com R$ 200 por mês, não dá para fazer outra coisa a não ser esperar resigna-se Neurene Silva, de 31 anos, que vive desde 2000 no assentamento e divide a casa com o marido Ildemar, de 44, os dois filhos e os sogros.

O Globo

E NO brasil dos CANALHAS II : Nem o leite das crianças escapa das fraudes contra programas sociais

BOA VISTA (PB) -
No canto da casa de apenas um cômodo, Esmeralda, nascida há um ano, dorme envolta por um pano à tarde, e não é porque faz frio estamos no semiárido paraibano, na cidade de Boa Vista. O pano é para impedir que a menina fique coberta de moscas, presenças constantes, pois, além do calor, a casa não tem banheiro nem fossa.

A família vai aqui do lado no mato, conta a mãe, Silene Ferreira da Silva. Ela tem mais três filhos, que fazem de Bibita, uma cabra da vizinha, o seu animal de estimação. É a miséria de Silene e Esmeralda que está sendo explorada por fraudes ocorridas no Programa do Leite no estado, onde 112 mil famílias de baixa renda estão sem receber o leite do programa desde maio.

Naquele mês, o programa foi suspenso na Paraíba após a Operação Amalteia, da Polícia Federal, da Controladoria Geral da União e do Ministério Público Federal, descobrir fraudes como laranjas, adição de água no leite e até de soda cáustica, para estender sua validade.

Há pouco mais de uma semana, a PF enviou inquérito sobre as fraudes à 3ª Vara Federal de João Pessoa: 13 pessoas foram indiciadas entre elas uma ex-presidente e uma ex-diretora de Operações da Fundação de Ação Comunitária (FAC), órgão estadual que coordena o programa, e um técnico da Emater-PB; os outros indiciados são ligados a indústrias que pasteurizavam o leite vindo dos pequenos produtores.

Segundo estimativas da PF, os desvios podem chegar a cerca de R$ 10 milhões. As fraudes no Programa do Leite, parte do Programa de Aquisição de Alimentos, um dos que compõem o plano Brasil Sem Miséria, são tema da segunda reportagem da série que O GLOBO publica desde ontem sobre irregularidades em programas para o público-alvo do plano.

Só na Paraíba, o Programa do Leite teve R$ 285 milhões repassados desde 2005 pelo Ministério do Desenvolvimento Social à FAC. Após a suspensão em maio, com a Amalteia, o ministério retomou o programa em agosto, depois que o governo estadual assinou termo de compromisso com a pasta que prevê o recadastramento dos agricultores fornecedores do leite.

No entanto, diz a FAC, não há previsão de quando a distribuição do leite será normalizada.

Com a suspensão do programa, a cadeia produtiva do leite no estado ficou desarticulada. Além disso, nos últimos meses, a seca se agravou, o que está fazendo muito agricultor produzir menos ou se desfazer de vacas e cabras. Boa Vista e outros 158 municípios ainda não voltaram a receber o leite, e não sabemos quando voltarão diz Severino Ramalho Leite, presidente da FAC.

Sem esse leite (do programa), a gente fica só com cuscuz mesmo. Não tem dinheiro pra outras coisas afirma Silene Ferreira da Silva sobre a alimentação dos filhos, que quase não comem carne. Os R$ 184 por mês do Bolsa Família são a única fonte certa de renda da casa.

O Programa do Leite tem duas pontas: numa, paga pelo leite de pequenos produtores, para estimular a agricultura familiar; noutra, distribui o leite adquirido do pequeno produtor a famílias com renda per capita até meio salário mínimo e que tenham crianças de até 7 anos, idosos ou mulheres grávidas ou amamentando.

Foi na ponta do dinheiro pago a pequenos produtores que fraudes foram encontradas em pelo menos seis municípios:
além da capital João Pessoa,
Campina Grande,
Taperoá,
Boa Vista,
Monteiro e Sousa.

O eixo das irregularidades é a participação das empresas de laticínios. Em muitos casos, elas ficavam responsáveis por cadastrar produtores; com isso, passaram a incluir gente sem vacas ou cabras às vezes, eram empregados das próprias empresas.

A brecha está no fato de que, para o pequeno produtor participar do programa, antes precisa ter uma Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), o que o certifica como agricultor familiar. Mas, como há muitos agricultores familiares que têm DAP sem serem necessariamente produtores de leite, empresas de laticínios passaram a incluir no programa DAPs de quem não produzia leite.

E, como cartões dos agricultores participantes do programa muitas vezes ficavam com as empresas, estas é que ficavam também com pagamentos destinados aos pequenos produtores. Talvez o mais grave é que essa prática já tinha sido descoberta em 2009, época em que a FAC fez sindicância.

No entanto, integrantes de indústrias lácteas descobertos naquela época se ligaram a outros e continuaram com a prática; DAPs da época não foram canceladas.

Isso teria ocorrido na cidade em que O GLOBO esteve, Boa Vista, onde integrantes da Empresa de Laticínios Vakilla, acusada em 2009, teriam se ligado aos da Leite Boa Vista, acusada agora. Antonio Pereira de Almeida Filho, o Tonito, foi apontado como sócio da Vakilla em 2009.

Candidato derrotado a prefeito este ano, quando declarou bens de R$ 6,735 milhões, ele teve em 2008 (quando também concorreu à prefeitura, com declaração de R$ 152 mil, o que significa que em 2012 apresentou aumento de 4.330% no patrimônio), como candidato a vice na sua chapa, Antonio Batista de Almeida Filho, o Tota, apontado como sócio da Boa Vista.

Nas denúncias de 2009 e 2010, moradores incluídos como laranjas relataram que parentes de Tota estariam entre os que os procuraram.

Disseram que precisavam dos meus documentos para a minha aposentadoria. Mas fiquei sabendo depois que tinham me colocado nisso, como produtor. Nunca tive vaca nem cabra conta Antônio Alcântara, pai de dois filhos; o mais novo, de 3 anos, ainda não anda nem fala, pois, segundo a família, nasceu magrinho.

O descontrole do Programa do Leite em Boa Vista foi tanto que a PF, na Amalteia, encontrou cartões de saque bancário de agricultores do programa escondidos no curral de uma fazenda de uma das empresas de laticínios.

Na fábrica do Leite Boa Vista, O GLOBO foi atendido por um homem que se identificou como Herculano Almeida.

Ele disse que Tota, seu irmão, não estava e refutou as denúncias:
Quem está acusando é que deve provar.
Os produtores com que a gente trabalha estão normais.
Funcionamos dentro da normalidade.
O SIE (Serviço de Inspeção Estadual) sempre verifica nossos equipamentos, e sempre está tudo OK.

Meu irmão vai agora esperar para ver como isso tudo vai se resolver.