"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

junho 15, 2011

A REPÚBLICA MAMBEMBE DA FRENÉTICA/EXTRAORDINÁRIA DE NADA E COISA NENHUMA E SEUS ATORES AMBULANTES.

Introdução :
A Nada e a Coisa Nenhuma
sairam a parte alguma.

Dentro de um embornal
a Nada pôs coisa nenhuma
e num embrulho de jornal
Coisa Nenhuma lovou nada

Quando chegaram á estrada
que leva a parte alguma
a Nada disse a Coisa Nenhuma:
-Este passeio vai dar em nada!

E ao tomarem a trilha
encontraram com Ninguém
que vinha de mão vazias
sem dúvida e sem vintém.

-Por favor, como é seu nome?
pergunta-lhe Coisa Nenhuma

-Sou de nome nenhum
Ninguém ou qualquer um

-Entendi nada, Ninguém
Adeus e passar bem!

De volta a lugar nenhum
a Coisa Nenhuma e a Nada
repartiram um menos um
e correram, ás gargalhadas
virando sombra de sombra,
virando poeira de estrada!

do livro poesia é brincar com palavras de Angela Maria dos Santos Maia, ed UFAL, 2002
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Fantasia e realidade/Marco Antonio Villa

O primeiro quadrimestre da Presidência Dilma Rousseff dava a entender que teríamos um governo novo. Parecia que ela queria, discretamente, libertar-se do seu criador. O processo brasileiro tão clássico da rebelião da criatura contra o seu criador iria se repetir.

Setores da mídia e da política nacional passaram a apostar nesse rompimento. Para isso era essencial realçar os méritos da presidente, sua competência, sua pertinácia e seu tirocínio.
Tudo o que ela parecia fazer era motivo de largos elogios.


Porém, mais uma vez, a realidade sobrepôs-se à fantasia.
Primeiro, com a inoperância governamental.
Nenhum projeto do governo federal está com o cronograma em dia.
Os tão falados "gargalos" não só permanecem, como foram ampliados.
A equipe ministerial é de uma incapacidade raramente vista na História republicana brasileira.


Ou os ministros são omissos ou, quando são notados, os motivos são as constantes trapalhadas. A presidente acabou ficando perdida em meio à burocracia oficial e demonstrou uma enorme dificuldade gerencial, sem saber destacar o que era relevante e fundamental para o País das questões comezinhas do cotidiano administrativo.

Confundiu seriedade com minúcia digna de um dono de armazém.
Dessa forma, o governo está paralisado, somente o que funciona é o que foi herdado da gestão anterior.
E, claro, com tempo de validade restrito. Afinal, a conjuntura mundial vai mudando e novos desafios são apresentados ao Brasil.


Nestes cinco meses, a presidente ainda não conseguiu apresentar ao País o que pretende fazer. Ela administrou o varejo, ampliou o número de Ministérios (como se a quantidade dos então existentes fosse pequena) e requentou programas já conhecidos.

As propostas apresentadas durante a recente campanha eleitoral foram arquivadas. Dessa forma, evidentemente, não foi possível dar a sua cara ao governo. E não pode dizer que encontrou dificuldade com a oposição.

Politicamente, deve ser recordada a crise entre o governo e o PMDB. A razão mais explícita foi a votação do Código Florestal. O então ministro-chefe da Casa Civil, Antônio Palocci, bateu boca com o vice-presidente da República, Michel Temer.

Coisa ao estilo de um fim de feira, na hora da xepa, e não de um governo que se apresentava como sólido, com uma base congressual consolidada. A presidente confundiu energia presidencial com indisposição para negociação e isolamento com dedicação administrativa.


A inexperiência política colaborou para aumentar a tensão.
Quando foi obrigada a chamar o ex-presidente Lula para apagar o incêndio, resolveu um problema imediato, mas criou outro muito maior.

Desvelou para o Congresso Nacional que não consegue resolver uma crise rotineira da base. Divergências são comuns entre Executivo e Legislativo.


Querer cobrar um comportamento de absoluta obediência e subserviência dos partidos da base leva necessariamente ao enfrentamento e quem perde - na atual composição de forças - é o Executivo.
Tanto que o PMDB acabou saindo como vencedor.


A demora para solucionar a crise gerada pelas denúncias que envolveram o ex-ministro Palocci reforçaram a sensação de que Dilma pode estar caminhando para um processo de sarneyzação da Presidência.
E sem a perspectiva de um Plano Cruzado. Convenhamos que é muito cedo.


Mal completou cinco meses de mandato.
Para piorar ainda mais, só falta o tema da sucessão, em 2014, começar a ocupar o noticiário político.
Se isso ocorrer, Dilma estará seguindo os passos de Epitácio Pessoa.


Eleito em 1919, meses depois o assunto não era mais o seu governo, mas a sucessão presidencial, que ocorreria somente em 1922. O próprio Estadão criou uma seção fixa do jornal para tratar do tema.

É evidente que, no caso Palocci, Dilma estava com as mãos atadas. O ex-ministro fazia parte da cota pessoal de Lula. Ela tinha, primeiro, de negociar com o padrinho, antes de demitir o afilhado.
Mas o padrinho endureceu e tentou manter Palocci a qualquer custo.

A estratégia lulista de aguardar o parecer - já sabido - do procurador-geral da República foi um fracasso. O fulcro da questão não era legal, mas principalmente ético. E aí apenas restou aguardar a solicitação de demissão.

A designação de uma figura politicamente anódina para a Casa Civil tende a congelar a crise política. Era a hora de nomear alguém de peso, que permitisse dar novo fôlego ao governo. Mas a presidente ficou temerosa de não ter o domínio absoluto da Casa Civil.

E é justamente essa obsessão, a de controlar tudo o que acontece no Palácio do Planalto, que acaba enfraquecendo a sua ação. Dilma não entendeu que um governo democrático tem de delegar funções e autoridade.

A concentração do mando na presidente não é demonstração de força, muito ao contrário.
Mostra fraqueza e desconfiança no desempenho dos seus ministros.

As últimas quatro semanas confirmaram o que era evidente para qualquer observador com um mínimo de criticidade.
O governo é frágil, tem uma base congressual gelatinosa, comunica-se muito mal com a população e vive ainda com base no prestígio adquirido pela gestão presidencial anterior.

Ninguém consegue identificar um programa governamental que esteja caminhando bem e represente a nova administração.
E as pesquisas de opinião devem demonstrar, daqui para a frente, o crescimento do sentimento de frustração entre seus eleitores.

Tudo indica que o governo ganhará novo fôlego nas próximas semanas.
A ministra da Casa Civil deverá ser momentaneamente transformada numa grande especialista em administração pública.

Será elogiada pelos motivos mais banais, típicos de um país onde não há debate político.
Logo a máscara vai cair.
Novamente o imperativo da realidade política vai se impor.

E a crise tende a continuar, ora mais aguda, ora mais amena.
O problema é que governo não tem um projeto para o País.

PIB cai 0,4% em abril.


Dados do Itaú Unibanco :
Pelo indicador de atividade econômica da instituição, entre março e abril o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) ficou negativo em 0,4% o pior desempenho em mais de dois anos.

Na comparação entre abril de 2011 e igual mês do ano passado, a expansão foi positiva em 3,2%.

A inversão no ritmo da economia é atribuída principalmente ao recuo da produção industrial, da construção civil e das atividades de transporte.
No acumulado em 12 meses, o indicador caiu de 6,5% em março para 5,9% no mês seguinte.


Os dados surpreenderam e vieram abaixo da expectativa da própria instituição financeira, que estimava uma taxa igual a zero em abril.

Hoje, será a vez de o Banco Central divulgar a sua projeção para o PIB e analistas ponderam que ele deve vir próximo do registrado pelo Itaú Unibanco.

Aurélio Bicalho, economista do banco, explica que o número fraco se justifica, sobretudo, pela produção industrial, que caiu 1,8% em abril na comparação com março e foi o componente com a maior contribuição negativa
para o desempenho mensal.

Houve encolhimento, ainda, na produção de material de construção (-2,1%)
e na atividade de transporte (-1,1%),
segmentos que também influenciaram o indicador.


“O resultado só não foi pior por causa das vendas do varejo no período, que registraram aumento de 1,1% e impediram um número ainda mais fraco”, avaliou Bicalho em relatório.

“Assim, mantemos nossa avaliação de que a atividade econômica está mostrando sinais de acomodação, independentemente da volatilidade dos dados nos últimos meses.”

Correio Braziliense