"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 09, 2012

Ministério da Verdade




Estamos vivendo um tempo no qual os donos do poder exigem obediência absoluta.

No Congresso, a oposição representa apenas 17,5% das cadeiras. O governo tem uma maioria digna da Arena. Em 1970, no auge do regime militar, o MDB, partido de oposição, chegou a examinar a proposta de autoextinção.

Quatro anos depois, o mesmo MDB venceu a eleição para o Senado em 16 dos 22 Estados existentes (no Maranhão, o MDB nem lançou candidato).


Ou seja, a esmagadora maioria de hoje pode não ser a de amanhã. Mas, para que isso aconteça, é necessário fazer algo básico, conhecido desde a antiga Grécia: política.

É nesse terreno que travo o meu combate. Sei que as condições são adversas, mas isso não significa que eu tenha de aceitar o rolo compressor do poder. Não significa também que eu vá, pior ainda, ficar emparedado pelos adversários que agem como verdadeiros policiais do Ministério da Verdade.

Faço essas ressalvas não para responder aos dois comentários agressivos, gratuitos e sem sentido do jornalista Janio de Freitas, publicados nesta Folha nos textos “Nada mais que o Impossível” (1º de janeiro) e “Meia Novidade” (3 de janeiro).

Não tenho qualquer divergência ou convergência com o jornalista. Daí a minha estranheza pelos ataques perpetrados sem nenhuma razão (aparente, ao menos).

A minha questão é com a forma como o governo federal montou uma política de poder para asfixiar os opositores. Ela é muito mais eficiente que as suas homólogas na Venezuela, no Equador ou, agora, na Argentina.

Primeiro, o governo organizou um bloco que vai da direita mais conservadora aos apoiadores do MST. Dessa forma, aprova tudo o que quiser, com um custo político baixo. Garantindo uma maioria avassaladora no Congresso, teve as mãos livres para, no campo da economia, distribuir benesses ao grande capital e concessões aos setores corporativos.

Calou também os movimentos sociais e sindicatos com generosas dotações orçamentárias, sem qualquer controle público.

Mas tudo isso não basta. É necessário controlar a imprensa, único espaço onde o governo ainda encontra alguma forma de discordância. No primeiro governo Lula, especialmente em 2005, com a crise do mensalão, a imprensa teve um importante papel ao revelar as falcatruas -e foram muitas.

No Brasil, os meios de comunicação têm uma importância muito maior do que em outras democracias ocidentais. Isso porque a nossa sociedade civil é extremamente frágil. A imprensa acaba assumindo um papel de enorme relevância.

Calar essa voz é fechar o único meio que a sociedade encontra para manifestar a sua insatisfação, mesmo que ela seja inorgânica, com os poderosos.

Já em 2006, quando constatou que poderia vencer a eleição, Lula passou a atacar a imprensa. E ganhou aliados rapidamente. Eram desde os jornalistas fracassados até os políticos corruptos -que apoiavam o governo e odiavam a imprensa, que tinha denunciado suas ações “pouco republicanas”.

Esse bloco deseja o poder absoluto. Daí a tentativa de eliminar os adversários, de triturar reputações, de ameaçar os opositores com a máquina estatal.

É um processo com tinturas fascistas, que deixaria ruborizado Benito Mussolini, graças à eficiência repressiva, sem que se necessite de esquadrões para atacar sedes de partidos ou sindicatos.

Nem é preciso impor uma ditadura:
o sufrágio universal (sem política) deverá permitir a reprodução, por muitos anos, dessa forma de domínio.

Os eventuais conflitos políticos são banais. Por temer o enfrentamento, a oposição no Brasil tenderá a ficar ainda mais reduzida e restrita às questões municipais e, no máximo, estaduais.

Marco Antonio Villa

MAMULENGA E BUFÃO : Pela primeira vez em 11 anos déficit/transações/correntes/não deve ser coberto pela entrada de IED .


Pela primeira vez em 11 anos o déficit nas transações correntes do Brasil não deve ser coberto pela entrada de investimento estrangeiro direto (IED).

Mais que isso:
se cumpridas as estimativas feitas pelo Banco Central (BC) para este ano, o déficit nas transações correntes será US$ 15 bilhões superior à entrada dos investimentos estrangeiros - na última vez que houve esse descompasso, em 2001, a diferença foi pequena, de apenas US$ 700 milhões.

Os resultados podem ser ainda piores caso as estimativas mais recentes da equipe econômica para ingresso de investimentos estrangeiros neste ano se realizem, enquanto o mercado trabalha com um déficit na conta corrente ainda maior que o previsto pelo BC.

Oficialmente, o governo Dilma Rousseff trabalha com um déficit de US$ 65 bilhões nas transações correntes neste ano (22,6% superior ao esperado para 2011), e com a entrada de US$ 50 bilhões na forma de investimento estrangeiro direto.

Mas os economistas do governo já vêm uma entrada menor de investimentos, na casa de US$ 45 bilhões.

Ao mesmo tempo, parte dos analistas do mercado já trabalha com um déficit na conta corrente superior a US$ 70 bilhões. Principal indicador do balanço de pagamentos, as transações correntes registram todas as operações, em dólares, com o exterior.

O saldo é obtido após o resultado da balança comercial (exportações menos importações), da balança de serviços (fretes e seguros) e as transferências unilaterais.

O temor da equipe econômica é que esse seja o único sinal dissonante num momento em que os bons indicadores macroeconômicos brasileiros estão em evidência no mundo, diante do elevado endividamento público dos Estados Unidos e dos países da União Europeia. Já outros emergentes, como Turquia e Índia, contam com déficits nas transações correntes oscilando entre 7% e 8% do Produto Interno Bruto (PIB).

Caso as projeções de um déficit nas transações correntes de US$ 65 bilhões a US$ 70 bilhões se confirmem, na avaliação dos especialistas, o endividamento atingirá um nível superior a 2,5% do PIB, podendo chegar a 3% do PIB, porque, ao mesmo tempo, o avanço do PIB dificilmente será forte (entre 4,5% e 5%) como espera o governo Dilma.

"Há um cenário negativo, que ganha muita força com a contínua letargia dos europeus em resolver sua grave crise interna, que inclui menos entrada de investimentos estrangeiros no país", diz Fernando Rocha, economista e sócio da JGP Gestão de Recursos.

O cenário trabalhado por Rocha inclui um déficit de US$ 71,5 bilhões nas transações correntes e uma entrada de US$ 50 bilhões como IED.

Esse déficit, no entanto, seria quase todo coberto pelo ingresso de US$ 15 bilhões sob a forma de capital de curto prazo e outros US$ 5 bilhões que devem chegar para aplicações em títulos públicos, além, é claro, dos US$ 50 bilhões que Rocha espera sob IED.

"Toda essa entrada de capital, de US$ 20 bilhões, pode ser menor, caso a crise externa se agrave", diz Rocha, para quem esse "cenário negativo" ganha força. No limite, o déficit poderá ser coberto pela venda de dólares das reservas internacionais (em US$ 352 bilhões, segundo o Banco Central).

Esse déficit pode também resultar em uma desvalorização do real, o que estimularia as exportações, e, assim, a maior entrada de dólares.

"Há uma probabilidade real de ter uma pressão sobre o câmbio, pela primeira vez em anos", diz Rocha, para quem, no entanto, o cenário mais realista, por enquanto, não é este.

Duas fontes da equipe econômica avaliam que a trajetória do saldo nas transações correntes deixa o governo em alerta. "Não se trata de algo preocupante, no curto prazo", diz um deles, "mas de um incômodo desnecessário", afirma.

Resultado de uma maior saída de dólares do que ingresso, o déficit nas transações correntes é um antigo fantasma dos economistas do governo.

O problema geralmente está relacionado com a dificuldade de financiamento desse buraco, se ele se mantiver por muito tempo e de forma crescente. No passado, o governo brasileiro foi obrigado a manter a taxa de juro muito elevada para atrair capitais e, dessa forma, financiar o déficit em conta corrente.

De acordo com Constantin Jancso, economista-sênior do HSBC, um déficit nas transações correntes próximo a 3% do PIB deve ser alcançado neste ano ou no próximo, mas que não deve preocupar.

"Há espaço para uma deterioração da conta corrente sem que isso cause transtornos ao mercado. Os indicadores brasileiros, como as elevadas reservas internacionais, estão muito bons", diz Jancso.

João Villaverde | De Brasília Valor Econômico

O brasil maravilha DA "GERENTONA/FRENÉTICA E EXTRAORDINÁRIA" : PETROBRAS: Fechou/11 com 2º pior recuo em valor(perda de US$72 bi) no mundo.

Em dez carteiras de ações recomendadas pelas corretoras aos clientes em janeiro, as ações da Petrobras aparecem em sete, entre papéis preferenciais (PN, sem voto) e ordinários (ON, com voto).

Para Emerson Leite, analista do Credit Suisse, nada parece indicar uma recuperação das ações. Ele explica que a empresa sofre com a indisponibilidade de plataformas e sondas para produzir e explorar petróleo.

No ano passado, até novembro, a Petrobras produziu em média 2,016 milhões de barris de petróleo por dia, abaixo da meta de 2,1 milhões diários.


- Temos visto também intervenções do Ministério do Trabalho nas plataformas e campos sofrendo declínio natural da produção. Nada indica uma mudança nesse quadro de baixo crescimento para este ano - afirma o analista do Credit Suisse, que não tem entre suas recomendações as ações da Petrobras.

Coinvalores aposta na estatal com "otimismo contido"

Segundo Leite, ao mesmo tempo em que tem dificuldades para aumentar a produção, a Petrobras conduz um plano de investimento de US$224,7 bilhões entre 2011 e 2015. Isso indica mais desembolsos, dificultando o crescimento do lucro e a geração de caixa.

- O que poderia puxar as ações da Petrobras é um aumento do preço do barril de petróleo (atualmente já na faixa de US$100), em meio aos conflitos entre o Irã e o Ocidente. Mas num ambiente de desaceleração do crescimento da economia global, isso é bastante incerto - explica Leite.

Uma boa parte dos analistas acredita, no entanto, que a queda no preço das ações no ano passado vai abrir espaço para uma recuperação em 2012. O papel PN fechou o ano passado com uma queda acumulada de 18,32%, a R$21,29. Já a ação ON recuou 22,21% no período, para R$22,80.

Segundo Paulo Esteves, da Gradual Investimentos, as ações da Petrobras oferecem uma boa oportunidade de compra. Ele explica que o atual preço da ação não condiz com as perspectivas de desempenho da companhia com suas novas descobertas.

- Vemos ainda um crescimento vigoroso da demanda doméstica de derivados de petróleo nos próximos anos - diz.

É mais barato atualmente comprar as ações de Petrobras do que de Exxon Mobil (EUA), Petrochina, Royal Dutch Shell (anglo-holandesa), Chevron (EUA) e Total (França). É mais cara do que a britânica BP, cujas ações nunca se recuperaram completamente do grande vazamento de petróleo no Golfo do México, em abril de 2010.

Os analistas da Coinvalores Marco Aurélio Barbosa e Bruno Piagentini veem o papel da estatal com "otimismo contido". Barbosa afirma que os investidores que mantiverem ações nos próximos quatro anos podem ter um bom retorno.

Com entrada em produção do petróleo do pré-sal, a produção da companhia deve chegar a quatro milhões de barris diários em 2015.


- Vemos a Petrobras como um case de longo prazo. É comprar agora, por um preço barato, e aguardar 2015, quando a economia mundial também estará melhor - explica Barbosa.

Reajuste da gasolina vai injetar R$1,2 bi no caixa

Outro fator positivo seria o aumento nos preços da gasolina e do óleo diesel vendidos nas refinarias, autorizado pelo governo em novembro de 2011. Pelo cálculos do Credit Suisse, esse reajuste vai gerar uma melhora de US$1,2 bilhão no caixa da estatal, em um ano. Isso significa um acréscimo de US$100 milhões mensais.

O engenheiro Guilherme Nascimento é um dos milhares de pequenos investidores da Petrobras. Segundo ele, as ações prometem um desempenho positivo a longo prazo, com a entrada em produção de grandes campos do pré-sal:

- Se me arrependi de ter ficado com a ação da Petrobras por tanto tempo, claro que sim. Qualquer um ficou. Mas não tenho bola de cristal. E é uma ação que, a longo prazo, vai dar retorno razoável.

Foi nesse cenário que a Petrobras encerrou o ano passado com a segundo maior perda de valor de mercado. Esse tombo só não foi maior que o do Bank of America, listado em Nova York, que perdeu US$77 bilhões de valor de mercado. O banco sofre com o negócio no mercado de hipotecas. Isso deve provocar venda de ativos do banco, que já anunciou a demissão de 30 mil funcionários nos próximos anos.

O fraco desempenho das ações da Petrobras fez a companhia perder duas posições no ranking de valor de mercado de petroleiras mundiais, ultrapassada pela anglo-holandesa Royal Dutch Shell e pela americana Chevron.

- Foi um ano para ser esquecido, com uma conjuntura desfavorável para a Petrobras - acrescenta Barbosa.

Essa perda de valor da ação reduziu o volume de negócios realizados com as ações da empresa. Foram R$124 bilhões, uma queda de 21% em relação ao ano anterior e o pior resultado em cinco anos.

Bruno Villas Bôas O Globo