"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 03, 2010

CAINDO NA REAL : BC SEGURA CRÉDITO E TIRA R$61bi DA ECONOMIA. É HORA DE CONTER A FARRA DO CRÉDITO ELEITOREIRO.


O Banco Central anunciou uma série de medidas para reduzir o ritmo de aumento do crédito e intensificar o processo de desaceleração da economia, a fim de evitar o aumento da inflação.

Haverá aumento do compulsório (dinheiro dos bancos que fica depositado no BC), para retirar R$ 61 bilhões da economia, restrição para empréstimos de longo prazo a pessoas físicas e retirada da ajuda do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) para bancos de menor porte.

O depósito compulsório é um dos instrumentos que o Banco Central usa para controlar a quantidade de dinheiro que circula na economia. O mecanismo influencia o crédito disponível e as taxas de juros cobradas.

A medida adotada neste momento pelo governo foi tomada para tentar conter a inflação.
O objetivo, de acordo com o presidente do BC, Henrique Meirelles, é restabelecer as condições do mercado de crédito no período pré-crise de 2008 e evitar a formação de bolhas.

Meirelles lembrou que, em março, um mês antes do início do último ciclo de aumento taxa básica de juros, o BC também havia anunciado medidas semelhantes para conter a expansão do crédito.

A afirmação aumenta as expectativas de que o BC voltará a aumentar a taxa básica de juros, hoje em 10,75% ao ano, na reunião da próxima semana ou em janeiro.

MEDIDAS

Além do aumento do compulsório sobre depósitos à vista e a prazo, as emissões de Letras Financeiras ficarão isentas de recolhimento compulsório (depósitos a prazo).

“Essa medida reduz a liquidez do mercado e inibe a formação de bolhas e a assunção de riscos que podem ser negativos para a saúde da economia no futuro. Elimina também o restante das medidas de liquidez introduzidas durante a crise”, disse Meirelles.

Em relação ao crédito para pessoas físicas, os bancos terão de possuir uma reserva maior de capital para conceder empréstimos nas linhas: consignado (acima de 36 meses), veículos (acima de 24 meses, dependendo do valor da garantia) e outros financiamentos acima de 24 meses.

Financiamentos imobiliários, crédito rural e compra de veículos de carga (ônibus e caminhões) não serão atingidos pela medida. Operações com prazos muito longos e valor de garantia insuficiente passam a ser penalizadas com alocação maior de capital por parte das instituições financeiras”, disse Meirelles.

Segundo ele, a tendência atual de alongamento de prazos pode levar a situações em que o bem dado em garantia já tenha perdido seu valor no final do financiamento.

INFLAÇÃO

Meirelles destacou que essa medida também tem implicações macroeconômicas, “com impacto no mercado de crédito e também via preços”.
Ele afirmou que essas ações “macro-prudenciais” não substituem a política de regulação da taxa básica de juros, mas devem ser usadas de forma complementar pelo BC.

“É prudente não dissociar essas ações das de política monetária. São complementares e usadas em situações diferentes.

Em março de 2010, o BC também elevou as alíquotas de compulsório e, em abril, adotou medidas de política monetária com o aumento da taxa Selic”, disse o presidente do BC.

CARTEIRAS DE CRÉDITO

Em relação a carteiras de crédito, o governo vai manter o incentivo para bancos grandes comprarem ativos de instituições menores.
A medida acabaria no próximo dia 31, mas foi estendida até junho de 2011.

O governo também anunciou o cronograma de retirada do mecanismo que permitiu a bancos emitir títulos que tinham garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).
Começa em janeiro de 2012 e termina em janeiro de 2016.

Eduardo Cucolo/ Folha Online

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LUZ AMARELA COM QUEDA DO DÓLAR : NOSSA SOJA PROCESSADA NA CHINA E COM FRETE DE IDA E VOLTA, CHEGA 30% MAIS BARATA AQUI.

Divisa americana perde valor pelo quarto dia seguido, chega a R$ 1,703 e abre caminho para novas medidas de controle cambial.

O tratamento que vem sendo dado à questão cambial pela equipe econômica continua mostrando pouca eficácia contra o derretimento do dólar.
Ontem, a moeda americana caiu pelo quarto dia seguido ao fechar cotado a R$ 1,703, valor 0,23% abaixo do pregão anterior e o menor preço desde 9 de novembro.
Apenas nesta semana, a divisa mergulhou 1,45%.

O novo tombo da divisa dos Estados Unidos já acirra o debate entre governo e indústria em torno de soluções para proteger as fábricas nacionais.

Não bastasse o impacto financeiro (a enxurrada de dólares faz com que o Banco Central tenha que comprar o excesso de recursos, aumentando os custos do governo com a manutenção das reservas internacionais), o movimento agrava os problemas que a indústria nacional vem enfrentando para exportar sua produção.

Não adianta utilizar paliativos. O governo tem que encarar a situação, com medidas que aumentem a competitividade. Controle da inflação, redução da carga tributária e melhorias no sistema de logística”, avaliou Frederico Sampaio, diretor de Investimentos da corretora Franklin Templeton.

A pechincha do dólar abriu as portas para os produtos importados. No mês passado, conforme divulgou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) na quarta-feira, o desembarque de mercadorias de outros países chegou a US$ 17,3 bilhões, um recorde.

Com o resultado, a balança comercial se deteriorou e registrou em novembro um saldo positivo de somente US$ 320 milhões.

Decepção

Para o ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, a situação é alarmante. Um exemplo de como a indústria vem sendo afetada é a mudança do perfil de compra de insumos pelos produtores de alimentos. “Vários deles estão comprando soja em pó da China. A soja sai daqui, é processada lá e volta para o Brasil. Paga fretes de ida e volta e, ainda assim, chega 30% mais barata aqui".
E quem me contou isso foi um empresário do próprio setor, relatou.

Vera Batista e Gabriel Caprioli Correio Braziliense