"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 21, 2012

"UTENSÍLIOS" DO CACHACHEIRO PARLAPATÃO BULIÇOSO, MAS 2012 É DA AMIGA "ÍNTIMA" : Rosemary, a mulher do ano



Nesses tempos de devoção às minorias, não é justo deixar de destacar a contribuição de Rosemary Noronha para a causa feminina.

O Brasil progressista explode de orgulho por ser governado por uma mulher que aliás deu a Rosemary sua chance de brilhar e não pode agora se esquecer de reverenciar mais uma expoente do gênero. Assim como Dilma, Rose chegou lá.

O fato de estar enrolada com a polícia é um detalhe.

Rose e Dilma escreveram seus nomes na história do Brasil por serem, ambas, utensílios de Lula. A finalidade de cada uma para o ex-presidente não vem ao caso. O que importa é que ambas funcionaram muito bem. Como se nota pelo ufanismo nacional em torno de Dilma, não se espera mais da mulher moderna opinião própria, autonomia e iniciativa. 

Basta botar um tailleur vermelho, um colar de pérolas e decorar suas falas.
E muito importante:
falar o mínimo, para errar pouco.
Até outro dia isso era piada entre Miguel Falabella e Marisa Orth (cala a boca, Magda!).
Hoje é sinal de poder.

O grande símbolo feminino brasileiro da atualidade, que desperta a admiração de Jane Fonda que tempos! não tinha feito nada de extraordinário na vida até ser levada pela mão do padrinho ao topo. O feminismo realmente mudou muito.

Lá chegando, seu maior mérito foi usar vestido e não ser o Lula (para os que não suportavam mais o ogro bravateiro), ou ser o Lula de vestido (para os que seguem venerando o filho do Brasil). Sem nenhum plano de governo, com um ministério fisiológico de cabo a rabo, sem um mísero ato de estadista em dois anos de mandato, Dilma se destaca por ser ou não ser Lula, dependendo do ponto de vista.

É a apoteose da nulidade, que o Brasil progressista e feminista consagra com aprovação recorde.

Diante desses novos valores, seria injusto não consagrar Rosemary também. A representante da Presidência da República em São Paulo fez exatamente o que Dilma fez em Brasília: cacifada por Lula, passou a reger o parasitismo do PT, cuidando da nomeação de companheiros e dando blindagem política às suas peripécias para sucção do Estado.

No caso de Dilma, a grande orquestra fisiológica foi desmoronando ao vivo, com nada menos que sete ministros nomeados (e protegidos até o fim) por ela caindo de podres, graças à ação da imprensa. A mulher-modelo de Jane Fonda ainda havia parido uma Erenice, a quem preparava para ser a dama de ferro de seu governo (Jane não pode imaginar o que seria isso) derrubada por fazer na Casa Civil algo muito parecido com as operações fantásticas de Rosemary.

Até o uso da Anac como balcão de negócios se repetiu. Por que só Dilma é ícone feminino, se Rosemary mostrou ser um prodígio da mesma escola?

Por algum mistério insondável, a Polícia Federal não fez escutas nos telefones de Rose, ou diz que não fez. As conversas da mulher que regia uma quadrilha grudada em Lula, se apresentando como sua namorada, e que tramou até sabotagem ao julgamento do mensalão o mesmo que Lula tentara com Gilmar Mendes não interessou aos investigadores.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que não havia motivos para grampear Rosemary uma suspeita que está impedida pela Justiça de sair de sua cidade. Esses ministros farsescos do PT podiam ao menos ser mais criativos. 


Mas não precisa, porque o Brasil engole qualquer coisa.

Marcos Valério disse que Lula teve despesas pagas pelo esquema do mensalão e autorizou operações bancárias do valerioduto. É comovente a desimportância atual dessas declarações. Lula é o líder de um projeto político montado para a permanência no poder a qualquer custo e essa fraude está exaustivamente demonstrada pelo mensalão, por Dirceu, Erenice, Palocci, Pimentel, aloprados, Rosemary e praticamente todo o estado-maior petista, tanto de Lula quanto de Dilma, flagrados em tráfico de influência para se aferrar ao poder na marra.

O que mais é preciso denunciar?

O eleitor brasileiro está brincando com fogo. 

Enquanto o desemprego estiver baixo, vai continuar afiançando a fraude que finge não ver. O país vai sendo empurrado com a barriga pelos fisiológicos e essa conta vai chegar. O governo desistiu de controlar a inflação, que vai se afastando da meta (apesar da mudança de cálculo que reduziu o índice).

A gastança pública é disfarçada com truques contábeis para esconder o déficit.

 A arrecadação brutal banca a farra dos companheiros, sem sobra para investimentos decentes e tome literatura de trem-bala e tarifas mentirosas de energia, que já multiplicam os apagões por manutenção precária.

Como se viu na funesta CPI do Cachoeira, a mafiosa Delta comandava o planejamento da infraestrutura terrestre.

Mas está tudo bem, e oito governadores podem ir de cara limpa prestigiar Lula e sua democracia de aluguel. 


Se este é o país que queremos, Rosemary é a mulher do ano.

GUILHERME FIUZA é escritor. 
O Globo

E NO brasil maravilha da "MUITO CAPACITADA"... FIM DE ANO E MAIS UM "PIBINHO" DA GERENTONA/FRENÉTICA/EXTRAORDINÁRIA DO GOVERNO DO CACHACHEIRO PARLAPATÃO. 2013 O "MUITO GERÚNDIO E POUCO VERBO" VIRÁ "REVIGORADO".


Desde que se sentou na cadeira presidencial, Dilma Rousseff vem prometendo entregar bons resultados ao país. Pelo segundo ano consecutivo, a presidente falha. Seu governo acena aos brasileiros com um "pibão grandão", mas nunca consegue realizar mais que pibinhos pequenininhos. É um futuro que nunca chega.

2012 termina com a economia exibindo seu pior desempenho desde a recessão de 2009. O Banco Central previu ontem que o pibinho deste ano será de 1%, revisando ainda mais para baixo a projeção anterior, o 1,6% outrora considerado "piada" pelo bufão Guido Mantega. Nada mal para quem começou o ano prometendo 4%...

Na média dos dois primeiros anos, o desempenho do atual governo chega a ser histórico. Desde Fernando Collor de Mello, 20 anos atrás, o país não ia tão mal num biênio. Nota-se que não é só na economia que a administração petista se assemelha àquela: recessão e corrupção males comuns às duas são.

Estes dois primeiros anos da atual gestão se notabilizaram pelo improviso e pela maneira errática de gestão do país, característica especialmente notável na economia. Os problemas persistem e suscitam no governo uma espécie de hiperativismo nervoso e impotente: para tudo há uma "solução" tão momentânea e fragmentada quanto insuficiente.

Já se perdeu a conta de quantos pacotes saíram do forno do Palácio do Planalto ou do Ministério da Fazenda (na quadra atual, os demais ministérios só são lembrados pelo que não conseguem fazer, com uma inação como há muito não se via...). Apenas nesta semana, foram mais dois. Os resultados, porém, nunca chegam.

Diante disso, opina O Estado de S.Paulo em editorial hoje: 
"O governo continua longe de for­mular políticas amplas, articuladas e de longo alcance para aumentar a efi­ciência nacional e permitir um cresci­mento mais firme por vários anos".

A boa-nova deste ano foi a admissão, por parte do governo do PT, de que o melhor para impulsionar a economia e aperfeiçoar as condições de infraestrutura do país são as privatizações. Assim foi com as ferrovias, os portos e, ontem, também com uma nova fornada de aeroportos. Conversão tardia, ainda que muito bem-vinda.

Infelizmente, mesmo nas medidas acertadas, o vezo estatizante continua presente. As medidas para o setor aéreo anunciadas ontem incluem a criação de mais uma estatal, a Infraero Serviços, e a disposição do governo de subsidiar passagens aéreas em rotas regionais de baixa demanda. Por que a conta tem sempre que sobrar para o contribuinte?

Se não tivermos perdido a conta, a Infraero Serviços deverá ser a 129ª estatal verde e amarela, a quarta criada por Dilma e a nona da era petista. É de se questionar também: para que enfiar de novo o Estado em mais uma atividade em que ele já se mostrou ineficiente?

O governo federal diz agora que irá bancar os investimentos na modernização e ampliação de 253 terminais regionais, além da construção de 17 aeroportos. Com o histórico que exibe no setor aeroportuário, em que todos os grandes terminais encontram-se saturados, custa crer que terá algum sucesso. Com a Infraero, então, menos provável ainda.

Mas não são apenas estes desacertos que a obra incompleta da presidente nos apresenta até agora. Sua gestão também flerta perigosamente com a inflação alta - que, segundo o Banco Central, irá desrespeitar a meta em todos os anos da atual gestão - e mantém atração fatal pela insegurança jurídica e pela quebra de regras e contratos, da qual o exemplo mais evidente é o salto no escuro no setor elétrico.

São, portanto, dois anos muito aquém do minimamente aceitável para quem foi vendida ao país como o suprassumo da excelência gerencial. A Dilma Rousseff que, como ministra e depois como candidata, passou anos rodando o país sobre palanques parece ainda não ter descido de lá. Governar bem que é bom, quase nada. A continuar assim, logo, logo ela vai ser apeada da cadeira onde não demonstrou, até agora, merecer sentar. 
 Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Pibinhos pequenininhos

***

As Cartas de Formulação esperam ter contribuído para a atuação e o posicionamento firme da oposição em 2012 e a formação da consciência crítica dos leitores. Faremos uma breve pausa a partir da próxima segunda-feira, voltando a circular em 14 de janeiro. Desejamos a todos que 2013 seja um ano azul.

Dívida pública federal atinge R$ 1,9 trilhão em novembro


A dívida pública federal chegou a R$ 1,965 trilhão em novembro uma alta de 1,1% com relação ao mês anterior, informou nesta sexta-feira o Tesouro Nacional. De acordo com o governo, contribuíram para o aumento da dívida despesas com pagamento de juros, que totalizaram R$ 16,55 bilhões, e as emissões de papéis bem acima dos resgates de títulos feitos pelo governo.

José Franco Morais, coordenador de operações da dívida pública, destacou que, durante o ano, houve uma melhoria na composição do estoque da dívida, com prazos de investimento mais longos e custos mais baixos. De acordo com ele, a dívida tem crescido, basicamente, devido ao pagamento de juros. Ele ressaltou também o aumento no número de investidores estrangeiro no estoque da dívida pública, que chegou ao recorde de 13,88% de participação sobre o total de títulos em novembro.

- O número de investidores não residentes tem aumentado gradualmente e irregularmente. Para o ano que vem, não sabemos se haverá aceleração, depende do que acontece no mercado internacional também - observou.

A expectativa do governo é que, no fechamento do ano, a dívida pública possa atingir até R$ 2,05 trilhões. Em 2011, ela subiu 10%, para R$ 1,86 trilhão. De acordo com Morais, no fechamento do ano, a dívida pode chegar a R$ 2 trilhões, ainda dentro dos limites definidos pelo governo, mas, em janeiro, deverá voltar a cair, devido ao número de títulos com previsão de vencimento no mês que vem.

- Se ultrapassar R$ 2 trilhões, será uma estatística de apenas um dia - disse.

Já o programa de compra de títulos da dívida pública por pessoas físicas, o Tesouro Direto, ganhou 3,9 mil participantes em setembro. Com isso, o total de investidores chegou a 325.624, o que representa um aumento de 19,74% em 12 meses. Ao todo, as vendas de títulos por meio do programa atingiram R$ 217,57 milhões no mês passado.

O Globo

Joaquim Barbosa rejeita prisão imediata de réus do mensalão

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, rejeitou nesta sexta-feira o pedido de prisão imediata dos condenados no julgamento do mensalão.

O pedido foi feito pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, na noite de quarta-feira. Gurgel queria que a prisão ocorresse antes mesmo do trânsito em julgado da ação, ou seja, antes da análise dos recursos que a defesa ainda pode apresentar. 

Como as atividades do tribunal foram encerradas na quarta para o recesso, a decisão foi tomada por Joaquim sem consulta aos demais ministros. O STF volta a funcionar plenamente apenas em fevereiro de 2013.

Duro nas condenações dos réus, havia o temor de que Joaquim pudesse determinar a prisão imediata. Assim, ao longo da semana, os advogados de alguns dos réus apresentaram petições para impedir que o pedido fosse analisado apenas por Joaquim. O objetivo seria levar a discussão ao plenário, se possível até mesmo na última sessão, realizada na quarta-feira. 

Mas como o pedido ainda não tinha sido feito no momento, essa possibilidade foi descartada. A jurisprudência do STF tem sido no sentido de prender apenas quando ocorrer o trânsito em julgado.

Em entrevista na quinta-feira, Joaquim deu, por vezes, sinais de que não mandaria os réus para a prisão agora. Mas em outros momentos indicou que poderia sim determinar prendê-los imediatamente.

Dos 37 réus do mensalão, 11 tiveram penas superiores a oito anos, o que leva ao regime fechado. Outros 11 pegaram mais de quatro anos, o que significa regime semiaberto. Três tiveram punições menores, o que permite a substituição por penas alternativas. 

O restante - 12 réus - conseguiu a absolvição.

O grande circo místico

No Brasil, golpistas tentam derrubar ex-presidente.

A piada é boa, mas a coisa está feia.

O ministro Gilberto Carvalho já avisou que o bicho vai pegar e Zé Dir­ceu quer a militância nas ruas para defender Lula e o PT.

De Paris, Lula já rosnou que vai voltar a percorrer o Bra­sil com suas Caravanas da Cidadania, como fez nos anos 90, para falar direto com o povo sobre o país maravilhoso que construiu e a herança maldita que recebeu, para satanizar as elites, a direi­ta, a mídia e a Justiça.
Ou para desmen­tir que protegeu Rose Noronha e os ir­mãos Vieira?

Qual será a motivação da caravana, seu apelo ao público, seus slogans e palavras de ordem? Com alguma ironia, talvez possa se chamar Caravana da Verdade, e sirvapara dizer que são mentiras todas as acusações.

O mais difícil é imaginar mul­tidões lotando as praças, sem um show de graça de um artista popular ou sorteio de um carro, só para ver Lula falar bem dele mesmo e mal de seus adversários.

Lula ama o palanque, é seu habitat natural, seu altar, onde se sente me­lhor do que nos gabinetes, nos palácios ou nos parlamentos, porque só tem que falar, esbravejar e gritar - o que ele mais sabe e mais gosta de fazer.

Para um ser mitológico metade homem, me­tade palanque, diante da multidão amestrada, não há compromisso com a lógica e a verdade, todas as bravatas são bem-vindas, todas as demagogias são aplaudidas, sem responsabilidades nem consequências.

Sem estar em campanha por algum cargo, ou causa, a não ser ele mesmo, Lula vai precisar da "mídia golpista" para dar dimensão nacional à sua lu­ta contra... a "mídia golpista".

Por­:
que se depender só da TV Brasil e dos blogueiros estatizados, só a militân­cia vai ficar sabendo.

As velhas elites já estão acostuma­das a apanhar de Lula, a doar para suas campanhas, e a se dar bem nos seus governos, mas as novas elites sindicais e partidárias não estão preo­cupadas com as velhas, são progres­sistas, estão ocupadas com seu pró­prio progresso.

À direita, como se sabe, ou não exis­te no Brasil, ou então é tudo que con­traria qualquer opinião do Zé Dirceu.

 O maior perigo da caravana é vi­rar circo.

Nelson Motta 

Mexeu com a igualdade, mexeu com todo mundo

O sucesso do filme Lincoln, de Ste­veSpielberg, ins­pirou uma série de artigos nos Es­tados Unidos ressaltando a importância da po­lítica, quando é realizada por pes­soas generosas com o objetivo de melhorar ávida de milhões.

Os articulistas esperam que a exibição do filme leve os especta­dores a lamentar a mediocrida­de da atmosfera política de hoje e que desperte o desejo de elevar seu nível por meio da própria participação.

Não vi o filme, apenas as entre­vistas de Spielberg e de Daniel Day-Lewis, que interpreta Lin­coln. Consegui, entretanto, o li­vro que, de certa forma, inspirou o filme: 
Team ofRivals, ThePoliti-cal Genius of Abraham Lincoln, de Dóris Kearns Goodwin.

A autora se estende também na biogra­fia dos três candidatos que dispu­taram com Lincoln no Partido Re­publicano. Todos jovens ambi­ciosos e capazes, admirados pe­los seus eleitores.

Não posso prever que efeito o filme terá nos Estados Unidos. Noto apenas que a época empur­rava para a grandeza: 
todos saí­ram de casa e cruzaram os Esta­dos Unidos para construir sua carreira. E havia um grande tema esperando por eles: a escravidão.

Os grandes temas ajudam, quando os políticos são capazes. Joaquim Nabuco, no Brasil, enri­queceu sua trajetória naluta con­tra a escravidão. Lincoln é produ­to de outra cultura e se insere de modo especial no momento polí­tico americano. Mas, como a re­flexão sobre a política trata de variáveis universais, pode ser que desperte algum interesse no Brasil.

Vivemos um momento estra­nho. 
Dois presidentes, José Sar­ney e Lula, defendem-se recipro­camente com o argumento de que estão acima de suspeitas ou investigações.

Sarney conferiu a Lula a condição de inalcançável e este, por sua vez, no auge do es­cândalo no Senado, afirmou que
Sarney não deveria ser tratado como uma pessoa qualquer. 
Cria­ram uma irmandade dos intocá­veis. Sarneyjá tem um museu de­dicado à sua vida; Lula está a cami­nho de construir o seu.

Além de intocável e com um museu ainda em vida, Sarney também é imortal. Essa condição aindafalta a Lula, mas não me sur­preenderia se o amigo conseguis­se para ele uma cadeira na Acade­mia de Letras.

Na década de 1960, escrevi um artigo ironizando as pessoas que se achavam especiais porque mo­ravam em Ipanema. Até hoje rola pela internet. Jovem existencia­lista, mostrava a futilidade de se julgar especial por pertencer a al­gum lugar ou grupo ou mesmo por alguma condição nata.

Era a forma de negar a importância das opções cotidianas, a construção de nossa realidade por meio das escolhas mais intrincadas. Sar­ney e Lula não reivindicam uma vantagem nata, muitos menos a que decorre do pertencimento a um grupo ou lugar.

Eles se recla­mam intocáveis pelos serviços prestados ao País. E nisso reside seu erro monumental. Não exis­tem serviços prestados ao País que possam garantir uma condi­ção acima de qualquer suspeita. E, se foram prestados com essa expectativa, corrompem as suas próprias intenções generosas.

Sarney e Lula fizeram nesse as­pecto particular um pacto pelo atraso. Com o domínio do Con­gresso que o primeiro exerce e a popularidade do segundo, conti­nuam com potencial de mobili­zar a maioria. Mas sempre existi­rá uma minoria, resistindo com a frase tantas vezes subversiva: 
so­mos todos iguais perante a lei.

Compreendo que há uma luta política. 
Os governistas preci­sam proteger a imagem de Lula, pois ela é a garantia de futuras vi­tórias eleitorais. O desgaste de Lula enfraquece um projeto de poder.

Não compreendo, entretanto, o argumento que nos faz retroce­der ao período anterioràRevolu-ção Francesa. Esse desejo de po­der estendido ao controle da bio­grafia, da inevitabilidade da mor­te, do alcance da lei, é um desejo patético.
Mesmo aqueles que acham que o mundo começou com o nas­cimento de Lula, em Garanhuns (PE), ou com o nascimento de Jo­sé Ribamar, em Pinheiro (MA), deveriam ser sensíveis à bandei­ra da igualdade.

Afraternidade dos intocáveis é uma construção mental que re­baixa as conquistas do movimen­to pela democratização no Brasil e nos divide entre semideuses e seres humanos.

Na verdade, o argumento dos dois presidentes aprofunda a des­confiança na política e nos políti­cos. Por isso a chegada de Lin­coln, o filme, apesar de uma cul­tura e uma época diferentes, po­de ser um pequeno sopro de ar fresco na sufocante atmosfera po­lítica brasileira.

Nem nos Estados Unidos nem aqui é possível repetir a grandeza política de Lincoln. Já no segundo capítulo do livro de Dóris Goodwin é possível imagi­nar como Lincoln brigaria feio com os marqueteiros moder­nos: 
ele se recusava a dramatizar ou sentimentalizar sua infância na pobreza.

Ainda assim, com todas as res­salvas, precisamos de outras épo­cas, outros líderes, para ao me­nos desejar algo melhor do que o que estamos vivendo. Não me re­firo, aqui, à satisfação majoritária com as condições materiais devi­da. Muito menos quero dar à tra­jetória democrática no século 21 a dramaticidade de um tempo de guerra e escravidão.

Quando umpresidente do Bra­sil diz uma barbaridade, senti­mos muito. Quando dois presi­dentes dizem a mesmabarbarida­de, isso nos obriga a apelar para tudo, até para um bom cinema.

Depois do cha cha cha delia se­cretaria. Lula se vê em apuros com as denuncias de Marcos Va­lério. Concordo com os peristas de que não se deva confiar nele, embora tenham confiado tão pro­fundamente em 2003. Mas a me­lhor maneira de desconfiar é ana­lisar as acusações, apurando-as com cuidado. E assim que se des­cobre o que é verdade e o que é mentira.

Fora disso, só construindo uma redoma onde Lula e Sarney possam estar a salvo dos percal­ços que ameaçam os simples mortais. E criar essa visão religio­sa de uma santíssima dualidade. E ninguém se ajoelha e reza dian­te dela, porque a ferramenta hoje não é oração do passado. Basta um #tag.
 
Se Sarney e Lula se contentas­sem com um museu e a condição de imortais, tudo estaria bem. Mas, mexeu com a igualdade, me­xeu com todos nós.

Fernando Gabeira O Estado de S. Paulo

E NO EMBALO DO : ROUBA MAS...

 
 Depois de a direita protagonizar o reinado nefasto e quase interminável do “rouba, mas faz”, o Brasil vive hoje em lua de mel com outra turma: a do “rouba, mas distribui”. Antes, a elite endinheirada se encantava com os “gestores” que afanavam dinheiro dos cofres públicos a rodo, “porém” enchiam as cidades e o país de obras. Agora, a maioria que sempre viveu à margem de tudo celebra os “novos heróis” da série do “rouba, mas...”

Sobretudo nas redes sociais — e mesmo nos grandes jornais, que essa estranha esquerda hoje chama de “golpistas” —, mensaleiros e até gente flagrada com dólar na cueca são cultuados como “guerreiros do povo brasileiro”. O discurso da ética foi atirado na lata do lixo. A decência também. Quem ousa denunciar alguma maracutaia dos valentes logo é tachado de reacionário, udenista, lacerdista e “assassinado” na internet.

Maluf, cuja íntegra carreira política o Brasil bem conhece, foi alçado à condição de farol da humanidade. Com a notória sapiência no trato com a coisa pública, certamente vai iluminar a gestão do prefeito eleito de São Paulo. 
 
Lembram-se de Collor, o inimigo número um dos atuais donos do poder? Também acabou redimido e ingressou no time dos bons companheiros. E não o critique. “Mexeu com ele, mexeu comigo”, reagirão os bravos.

Às vezes, sinto-me um completo idiota por ter acreditado no novo Brasil que essa gente pregava. Havia tantos amigos e conhecidos, céticos, apontando os indícios da pilantragem e alertando para o golpe. Mas o que fazer se, então, não havia de fato outra “esperança” de mudança no horizonte — assim como hoje também não se vislumbra saída para essa arapuca do “rouba, mas distribui”?

Como não creio que o mundo acabará nesta sexta-feira, temo pelo que espera o Brasil no futuro. Um regresso ao “rouba, mas faz” ou a consolidação de que toda a rapinagem de esquerda deve ser louvada? Se tivesse de decidir hoje, anularia meu voto. Minha impressão é a de que ficaremos cada vez mais parecidos com a Argentina dos Kirchners e com a Venezuela à moda Chávez. Um triste destino.

Plácido Fernandes Vieira Correio Braziliense