"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 19, 2012

E NO LIMITE DO CRESCIMENTO ... brasil maravilha(DO BUFÃO) e o BC "200% PREPARADO"


Na semana em que o dólar rompeu a barreira dos R$ 2 e o agravamento da crise na zona do euro assombrou os mercados, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, manteve sua habitual serenidade.

Na sexta-feira, ao receber o GLOBO, disse que o cenário internacional é desafiante, admitiu que não sabe até onde vai a alta do dólar, mas destacou que o BC está 200% preparado para reagir. Tombini disse que o BC atuará no câmbio sempre que necessário, mas que agora não pensa em inverter as medidas contra a valorização do real.

E disse que os juros continuarão caindo pois a economia está crescendo abaixo do potencial. Isso é a essência do regime de metas de inflação, disse, rebatendo as críticas de que teria abandonado o sistema.

O GLOBO:
A situação externa está fora do controle?

ALEXANDRE TOMBINI:
A situação da Europa não é completamente imprevisível. Obviamente que é sempre uma boa filosofia esperar o melhor e se preparar para o pior. Acho que o Brasil está muito bem preparado para enfrentar cenários adversos. Melhor do que estávamos em setembro de 2008. Tínhamos US$ 205 bilhões de reservas internacionais e hoje temos US$ 370 bilhões. Liquidez em reais (valor dos compulsórios) de R$ 270 bilhões, hoje temos mais de R$ 400 bilhões. A própria relação dívida/PIB (Produto Interno Bruto, soma de bens e serviços produzidos no país) hoje é menor, na faixa de 36%, e vem caindo.

O pior ainda está por vir?

TOMBINI:
É difícil dizer. O que eu posso dizer é que o Banco Central está 200% preparado para acompanhar e eventualmente reagir num evento extremo.

O senhor acha que se a Grécia sair da zona do euro a situação se agrava muito, ou será o início da solução?

TOMBINI:
Fica difícil especular sobre um evento específico. Do que eu conheço das discussões com os colegas da Europa é que há um esforço grande para que o bloco supere esses problemas, que são sérios e graves e que dizem respeito ao peso da dívida. Eles tomam tempo para serem resolvidos.

Se a União Europeia continuar a carregar a Grécia, o país pode levar toda a UE para o fundo do poço?

TOMBINI:
O que precisamos no Brasil é estar preparados para um eventual agravamento da situação internacional. Nossa visão agora é que a economia cresce menos, tem liquidez, tem mais volatilidade, sem dúvida, neste momento, mas temos de acompanhar a situação como estamos acompanhando. Quaisquer desdobramentos que sejam, temos de pensar nos impactos para o Brasil com tranquilidade. Estamos preparados para agir.

Desde o início da crise europeia, o impacto nunca foi tão forte no câmbio quanto agora. É só o efeito Grécia?

TOMBINI:
Nas duas últimas semanas, esse movimento de valorização do dólar reflete o acirramento da situação europeia, das dúvidas em relação à Grécia e das dúvidas em relação a outras economias do continente. Esse movimento de maior aversão ao risco e de fuga para a qualidade refletiu-se em todas as moedas. O real nem andou tanto quanto as outras nas duas últimas semanas. Andou em linha com as outras moedas, e até um pouco menos.

A tendência é estabilizar ou ir para outros patamares?

TOMBINI:
Câmbio é difícil de prever por causa do ambiente internacional e por causa da quantidade enorme de variáveis que impactam qualquer taxa de câmbio. Nosso câmbio também flutua. Tem de ver como esse processo internacional do dólar vai se dar nos próximos dias e semanas.

A equipe econômica tomou medidas para estimular a alta do dólar, e agora há preocupação com esse câmbio acima de R$ 2. Qual seria o ponto de equilíbrio?

TOMBINI:
O Banco Central sempre falou que o volume de ingresso de capitais no país, dependendo da intensidade e da velocidade, gera problemas. O câmbio é flutuante e pode flutuar para os dois lados. Nós cuidamos com medidas tributárias como o IOF e com medidas macroprudenciais. Temos nossa política de acumulação de reservas. Se não tivéssemos tomado (as medidas), poderia haver consequências para o lado real da economia. Nós entraremos (no mercado) sempre que for preciso. O câmbio é flutuante, mas ninguém vai deixar o câmbio sofrer impactos de um volume extraordinário de liquidez que existe no mundo. A primeira linha de defesa em um agravamento é o câmbio flutuante.

Mas nos bastidores do governo há uma preocupação grande com esse dólar acima de R$ 2...

TOMBINI:
Se aumenta o estresse lá fora, as moedas vão se desvalorizar em relação ao dólar. Não vai ser diferente do que está ocorrendo nessas duas semanas. Mas também, por temos feito o dever de casa, temos os instrumentos. Sabemos como funciona isso. Quando for necessário, vamos entrar nos mercados. O momento internacional é desafiador, mas temos os instrumentos. Estamos mais bem preparados do que estivemos lá atrás.

Não é o momento de retirar o IOF para venda de dólares no mercado futuro?

TOMBINI:
Não. Estamos trabalhando com a estrutura que temos hoje. Antecipamos um movimento (na sexta-feira, o BC vendeu contratos de swap cambial, o que equivale a oferecer dólares no mercado futuro para segurar a cotação da moeda americana). O mercado está funcionando bem. A moeda brasileira está andando em linha com as outras moedas, depois de ter corrido um pouco mais no período anterior dessa recaída da crise europeia.

O impacto da alta do dólar na inflação preocupa?

TOMBINI:
Nosso repasse ( histórico) gira em torno de 3% a curto prazo e entre 6% e 8% em um prazo mais longo. No momento, há um movimento internacional de valorização do dólar. Ninguém sabe onde vai parar isso, vai depender dos desdobramentos da crise europeia.

Já dá para prever esse impacto adicional do câmbio na inflação?

TOMBINI:
Tem de ver onde vai parar esse movimento internacional das moedas. Hoje, a nossa visão é que o que já aconteceu terá um impacto moderado sobre a inflação.

Abril foi um ponto fora da curva na visão do BC em relação à inflação?

TOMBINI:
Podemos dizer que março saiu da curva também. Abril tem alguns fatores pontuais fortes que não vão se repetir. Nos próximos três meses, a inflação será menor que a de abril. Este mês, nos próximos dois seguramente e, quiçá, nos outros até o final do ano.

Na visão de boa parte do mercado, o BC abandonou o regime de metas de inflação...

TOMBINI:
Isso é a essência do regime de metas de inflação. Havendo espaço, você vai ajustando o instrumento (a taxa básica).

Mas não persegue mais o centro da meta...

TOMBINI:
Estamos, sim, buscando o centro da meta este ano. Começamos a distensionar a política monetária no final de agosto. Previmos que poderíamos fazer isso com convergência da inflação. O IPCA está em 5,1%. Estava em 7,33% em setembro do ano passado. As nossas projeções indicam uma convergência adicional, até o fim do ano, em direção ao centro da meta.

O resultado do IBC-Br no trimestre reforça as expectativas de baixo crescimento em 2012. O Banco Central está seguindo a orientação do governo de estimular o crescimento ao cortar juros?

TOMBINI:
O motivo é a economia estar crescendo abaixo do potencial há alguns trimestres. Não é por outro motivo pelo qual o Banco Central está baixando juros.

O senhor está vivendo uma terceira onda de críticas fortes. Boa parte do mercado e dos analistas consideram que o Banco Central perdeu a autonomia...

TOMBINI:
O Banco Central continua trabalhando como sempre trabalhou: usando seus instrumentos para atingir o objetivo de convergência da meta de inflação. Esse Banco Central pode ser diferente de alguns bancos centrais porque tem também a missão de estabilidade do sistema financeiro. Coisa que é sempre muito útil, na crise foi muito útil. Nós vemos esse movimento ocorrendo em outros bancos centrais: trazer para o Banco Central a questão da responsabilidade sistêmica. Sempre houve, e continuará havendo, um estreito contato entre as áreas econômicas. O Banco Central tem a sua responsabilidade, que é, de um lado, a estabilidade monetária, e, de outro, a responsabilidade do sistema financeiro. Se esse Banco Central consegue dialogar melhor ou pior, é uma questão de intensidade, de preferência.

Crescimento menor e a mudança no rendimento da poupança reforçaram as apostas de que o Banco Central continuará a fazer cortes na Selic. Com o agravamento da crise externa e a economia parada, o mercado está prevendo uma queda maior dos juros. É essa a direção?

TOMBINI:
Recentemente, demos uma direção. Essa direção permanece válida em relação ao futuro da política monetária. Ao mesmo tempo, também indicamos que esse processo já tem uma acumulação de reduções da taxa básica de juros que vem desde o fim de agosto. Esse processo no futuro tem de ser feito com parcimônia e cuidado. Isso está válido no momento.

Com as mudanças da Lei do Acesso, vamos ter a justificativa dos votos dos diretores do Copom?

TOMBINI:
Essa justificativa já existe hoje, tanto no comunicado quanto na ata. O comunicado será exatamente o mesmo. Embaixo vai dizer: Membros votantes fulano, beltrano e ciclano votaram em.... A justificativa virá na ata. Se houver três posições diferentes, vão ter três explicações.

O senhor acha que a divulgação pode interferir nos votos? Estimular a unanimidade?

TOMBINI:
Não acredito que nenhum diretor do Banco Central vai mudar o seu voto pelo simples fato de o conteúdo passar a ser divulgado. Temos 130 reuniões (do Copom) no regime de metas de inflação. Em 24 reuniões houve dissidência. É 18%. Levem isso em consideração. Há anos em que não há dissidência: o ano de 1999, o ano de 2001. Há anos em que houve apenas uma reunião com dissidência. Não é uma coisa frequente.

O BC informou que não podia ser divulgado o placar das reuniões anteriores à lei porque não há registro. Como isso é possível?

TOMBINI:
O sistema começou em 1999, com um nível de transparência elevadíssimo. Tem a ata uma semana após a reunião: uma das defasagens mais curtas em termos de comitês de política monetária. Você explicita voto dissidente. Você tem o Comitê de Política Monetária (Copom) divulgando suas projeções de inflação e suas projeções de crescimento. Não são todos os comitê que fazem isso. Quando foi criado o regime, havia o entendimento que não seriam nominados os votos. Logo, essa governança não foi montada para o registro dos votos nominais. Tanto que o regimento interno não previa o registro nominal dos votos. Não era um dos quesitos de transparência.

O senhor não acha que uma mudança como essa não deveria vir combinada com mandatos para os membros do Copom?

TOMBINI:
Quem decide mandato é o Congresso.

Não seria mais confortável para os diretores se houvesse um mandato?

TOMBINI:
A nossa avaliação é que não afeta.

O movimento de queda dos juros bancários está sendo feito de forma prudente?

TOMBINI:
Como regulador do sistema, queremos é que o sistema não exagere na fase boa do ciclo econômico, quando a economia está crescendo, e não gere uma expansão mais veloz do que a que seria adequado. E também, quando a economia está começando a se recuperar lentamente, como neste momento , não queremos que o sistema pise no freio ou seja excessivamente conservador em relação ao crédito. Esse tipo de mensagem, o Banco Central passa. Ele quer um sistema mais neutro, até talvez um pouco anticíclico. Nós vimos aí a inadimplência subir. A inadimplência geral está começando a reagir. No caso dos automóveis, essa inadimplência deve recuar no segundo semestre. Olhando para frente, a concessão de crédito deveria estar mais forte. Na questão do spread, o movimento que estamos vendo está em linha com a questão prudencial. Já vemos um movimento mais forte, e isso é bom que isso aconteça de fato, para a economia e para o sistema. Temos uma agenda de longo prazo no spread. Passa por uma série de coisas, mas tinha uma questão de curto prazo: o Banco Central ajustou a sua política em 350 pontos, e em algumas linhas as taxas ficaram constantes ou até subiram um pouco.

Não é marketing dos bancos que colocam que cortaram bastante a taxa, mas quando você chega lá não é bem assim?

TOMBINI:
Como regulador do sistema, não vou tecer comentários sobre comportamento de cada instituição.

Genericamente, está de fato acontecendo um movimento de redução de spread, ou as taxas estão sendo reduzidas na margem e isso não significa que o spread está sendo, de fato, reduzido?

TOMBINI:
Esse processo está começando agora.
Esse processo tem duas ou três semanas. A gente tem de acompanhar para ver o resultado. A gente vê alguma movimentação de redução. Nossos números vão mostrar isso ao longo das próximas semanas. Estamos vendo algum movimento, sim, mas está no início.

LIMITE DO CRESCIMENTO - MODELO DESGASTADO ! E O BC DA REPÚBLICA DA ENGANAÇÃO E brasil maravilha : Economia vai crescer menos de 3%.

Mesmo com o esforço que o governo vem fazendo para estimular os negócios por meio do aumento do crédito, de cortes de impostos e da redução das taxas de juros, a economia brasileira mostra sinais de desaceleração.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que é visto como uma prévia do desempenho do Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no país) recuou em março pelo terceiro mês consecutivo.

A queda foi de 0,35% em relação a fevereiro, que também já tinha registrado retração de 0,38% na comparação com janeiro.


No acumulado do primeiro trimestre, o indicador mostrou crescimento de 0,15% sobre o últimos três meses de 2011 e de apenas 1,06% quando comparado com o primeiro trimestre do ano passado.

"Com esse resultado aumenta cada vez mais a probabilidade da expansão real do PIB ficar abaixo de 3% este ano. Aliás, acho que está caminhando para uma faixa em torno disse 2,5%", disse Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. Se a previsão para o ano se confirmar, a economia crescerá neste ano menos do que os 2,7% registrados em 2011.

Oficialmente, o governo mantém a estimativa de 4,5%, mas, nos bastidores, os técnicos admitam que essa meta está cada dia mais difícil.

O resultado do IBC-Br foi uma surpresa negativa para o mercado, que apostava em uma alta de 0,49%. Em relatório divulgado ontem, o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco,
Octávio de Barros, observou que o índice "contraria os sinais mais favoráveis vindos do consumo das famílias", que ainda permanece razoavelmente elevado.

O que tem puxado os indicadores para baixo, segundo os economistas, é o desempenho ruim da indústria, que deverá mostrar nova contração quando o IBGE divulgar o PIB do primeiro trimestre.

Juros

O fraco resultado do IBC-Br, ainda segundo Eduardo Velho, aumenta a probabilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) promover num corte maior do que o esperado na taxa básica de juros, a Selic, na próxima reunião, marcada para o fim deste mês.

"A julgar pela ata passada, virá mais uma redução de 0,50 ponto percentual, mas como a situação internacional piorou muito, não me surpreenderia que o Copom fosse mais ousado e baixasse a taxa em 0,75ponto percentual", observou.

Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimento é outro que acredita que a variação do PIB não vai passar de 3% este ano. "E será preciso acelerar muito no segundo semestre para chegar a isso", ponderou. De acordo com as contas feitas pela Prosper, para que o PIB do ano fique em 3% será preciso um aumento médio de 1,6% em cada um dos três outros trimestres de 2012.

"O problema é que os indicadores antecedentes da atividade econômica, tanto de abril como de maio, comportam uma expansão melhor em relação ao primeiro trimestre, mas ainda inferior a 1%. Ou seja, isso dificilmente vai acontecer", avaliou Eduardo Velho.