"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 01, 2013

A babel econômica


O Banco Central divulgou ontem sua visão sobre alguns pontos chaves da economia brasileira: 
inflação, crescimento do PIB, juros, endividamento público e investimento.
 O comportamento recente da maior parte destes indicadores aponta desequilíbrios crescentes, mas a autoridade monetária parece ter preferido dourar a pílula.

Em seu Relatório de Inflação, publicado trimestralmente, o BC projetou inflação mais alta, crescimento mais baixo e juros ainda em ascensão. 
É a equação perversa que a receita aplicada pelo atual governo está nos legando, sem perspectivas de nos levar longe ou, pelo menos, a algum porto seguro.

A inflação brasileira deverá continuar oscilando em torno de 5,8% ao ano até pelo menos 2015. Trata-se de padrão muito alto para qualquer economia que se pretenda em desenvolvimento. Com isso, a presidente Dilma Rousseff passará os quatro anos de seu mandato sem cumprir uma vez sequer a meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, de 4,5% ao ano.

Pior: 
a petista terá produzido inflação média de 6% anuais no quadriênio. 
Tudo isso a despeito de impor forte arrocho sobre as tarifas públicas, represando preços que, mais dia, menos dia, irão estourar - como é o caso dos transportes públicos e da gasolina. Os preços controlados pelo governo subiram apenas 1,3% nos últimos 12 meses e os preços livres, 7,6%.

Se a inflação não deve cair, o PIB não deverá decolar. 
Para este ano, a projeção, que começou 2013 em 3,1%, foi revista de 2,7% para 2,5%, mantendo-se neste patamar pelo menos até meados de 2014. 
"Se os juros subirem mais para combater a inflação, como é amplamente esperado pelo mercado, é possível que o crescimento do PIB fique menor que isso", antevê o Valor Econômico.

A esta combinação adversa soma-se o comportamento das contas públicas, cada vez mais destrambelhadas. Ontem mesmo, o Tesouro revelou o resultado fiscal do setor público consolidado em agosto e a fotografia que saiu foi feia que dói: 
pela primeira vez em meses de agosto desde 2001, as contas de União, estados e municípios fecharam no vermelho.

O setor público teve déficit primário (sem considerar o pagamento de juros) de R$ 432 milhões no mês. Vale lembrar que, um ano antes, o país havia gerado superávit de R$ 3 bilhões. Com o desempenho decepcionante, já se dá de barato que nem com muita maquiagem a meta fiscal fixada para 2013 pelo ministro Guido Mantega há apenas algumas semanas (2,3% do PIB) será cumprida.

"Permanecem remotas as chances de cumprimento, sem truques de contabilidade, da meta de poupar R$ 111 bilhões neste ano para o abatimento da dívida e para o controle da inflação", considera a Folha de S.Paulo
Seria necessário obter superávits acima de R$ 14 bilhões em todos os quatro meses até dezembro, coisa que em 2013 só aconteceu em janeiro.

O superávit acumulado até agosto está 27% menor do que há um ano.
 Quando considerado o período de 12 meses, a economia para pagar juros situa-se em 1,82% do PIB. Ou seja, teremos desempenho pior do que o do maquiado 2012 e, no ano que vem, também teremos o resultado mais baixo desde que foi instituído o regime de metas fiscais no país, em 2001.

O mais lastimável é constatar onde está indo parar todo este dinheiro. Enquanto os gastos de custeio sobem 14,5% de janeiro a gosto, os investimentos caem 6,7%. Em valores correntes, as despesas não financeiras cresceram R$ 65 bilhões, enquanto os investimentos declinaram R$ 350 milhões. 
Assim, não tem risco de dar certo.

Mesmo assim, o Banco Central considera benigno o desempenho das contas públicas do país. A política fiscal teria deixado de ser expansionista - ou seja, que colabora para ampliar a demanda na economia e, com isso, a inflação - para tornar-se neutra. Com tanto resultado ruim, ninguém é capaz de saber onde o BC conseguiu enxergar isso.

Compartilhe este texto nas redes sociais: bit.ly/15cTLJE
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

E A NADA E COISA NENHUMA 1,99 DO CACHACEIRO PARLAPATÃO SEGUE "MUDANDO" O brasil : Déficit comercial de janeiro a setembro é o maior desde 1998



A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 2,147 bilhões em setembro, segundo os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). É o menor resultado para o mês desde 2010. De janeiro a setembro, contudo, o comércio exterior do País ainda acumula um déficit de US$ 1,6 bilhão, ante superávit de US$ 15,702 bilhões em igual período do ano passado. É o maior déficit no acumulado dos primeiros nove meses do ano desde 1998, quando foi deficitário em US$ 3,6 bilhões.

O superávit de setembro é 15,9% menor que em setembro do ano passado, quando foi de US$ 2,553 bilhões. As exportações alcançaram US$ 20,996 bilhões em agosto e as importações totalizaram US$ 18,849 bilhões.

As exportações registraram média diária de US$ 999,8 milhões em setembro e tiveram uma retração de 5% em relação ao mesmo mês de 2012. As importações tiveram média diária de US$ 897,6 milhões, uma queda de 2,2% no mesmo período de comparação.

O secretário de Comércio Exterior do MDIC, Daniel Godinho, afirmou que mantém a expectativa de fechar o ano com um superávit na balança comercial brasileira. Segundo ele, isso deve ocorrer por conta de uma melhoria na chamada conta petróleo e do impacto positivo do câmbio. Godinho, no entanto, disse que não divulgará uma projeção. Também afirmou que não comentaria a estimativa do Banco Central, que é de um superávit para a balança em 2013 de US$ 2 bilhões. "Com a melhora na conta petróleo e no câmbio, a nossa expectativa é de que se tenha um resultado positivo este ano", afirmou. Os dados da balança comercial mostram que o superávit acumulado em 12 meses, encerrados em setembro, é de US$ 2,080 bilhões.

O secretário disse que houve um aumento da produção e das exportações de petróleo no mês passado, o que confirma a expectativa do MDIC de que a conta petróleo ficará melhor até o final do ano e ajudará a garantir um superávit este ano. "Com o aumento da produção brasileira de petróleo, é natural que desloque parte do que importamos. Quando falo de melhoria da conta, falo de aumento de exportações e diminuição de importações", explicou.

Na questão cambial, Godinho disse que, embora o efeito costume demorar um pouco mais, alguns setores já registram bons resultados advindos da desvalorização do real, com as exportações de automóveis e mármores e granitos. O dólar mais caro também já reduziu as importações de bens de consumo não-duráveis, como cosméticos. Godinho disse que este movimento deve ser um tendência. "Este efeito ocorre mais no curto prazo", destacou.

Ele informou que as exportações de automóveis somaram US$ 543,9 milhões em setembro, alta de 60% em relação a setembro de 2012. Esse aumento foi puxado pelas vendas para a Argentina, mas também houve crescimento das vendas para Peru e Chile. No acumulado do ano, as exportações de automóveis somaram US$ 4,1 bilhões, alta 46,1% em relação ao ano passado. A Argentina continua sendo o principal mercado para o automóvel brasileiro, que também é o principal produto manufaturado da pauta.

O secretário disse que houve um aumento de exportações de petróleo e derivados de 4,5% em setembro e de 45% em relação a agosto. "Todas as empresas registraram aumento nas exportações desses produtos. O aumento das exportações de petróleo gerou impacto positivo na balança", afirmou.

O secretário ainda destacou o aumento do preço do minério de ferro, de 9,4% em relação a setembro de 2012. Foram exportadas 29 milhões de toneladas em setembro (US$ 2,8 bilhões). "Com este aumento de preço, devemos fechar este ano com a mesma quantidade exportada em 2012", disse. Segundo ele, até setembro havia uma redução no preço do minério de ferro. "Esperamos que este aumento que se verifica seja tendência", disse.

E NO BRASIL ASSENHOREADO ... A piada de 32 siglas

Quanto vale um político? 
Quanto vale um partido? 
E quanto dinheiro eles podem arrecadar para vencer uma eleição e se manter no poder? 

Essas perguntas dominaram, com a discrição necessária, as intensas negociações que nas últimas semanas aconteceram entre partidos e pré-candidatos nas próximas eleições. Pobre eleitor, obrigado a assistir esse triste espetáculo. A poucos dias do prazo final para registro de filiação partidária, a política se rende ao rasteiro toma lá dá cá de promessa de cargos e de futuras verbas. 

Está praticamente erguido o teatro para convencer o eleitorado de que sim, em 2014, poderemos separar o joio do trigo.
É impossível levar a sério a política de um país com 32 partidos. 
A profusão de siglas reduz a nada o debate ideológico, o confronto de teses, a comparação de políticas públicas, o legítimo duelo entre governo e oposição. Temos partidos de aluguel, 
deputados de aluguel, 
ideologia de aluguel. 

Temos tempo de televisão negociável, vagas disponíveis para suplentes, discursos sob encomenda, pose para fotos, reunião entre bancadas. 
Não importam a coerência, os princípios, as diferenças. 
Para conquistar as urnas, os fins justificam todo acordo.

Naturalmente, não se pode exigir trajetória retilínea de qualquer ator político. 
As circunstâncias podem levar a decisões difíceis, contraditórias e por vezes contrárias ao que se disse e se fez outrora. 

Para ficar apenas no PT, partido que tem história e não pode ser equiparado às legendas disponíveis na próxima esquina, constitui tarefa árdua explicar a diferença entre as críticas à privatização tucana, tema da campanha de 2010, e o problemático regime de concessões que se estende às profundezas do pré-sal. 

A questão ética também se tornou delicada, com o precedente do mensalão. Outros partidos tradicionais igualmente acumulam problemas. Basta lembrar o conhecido apetite por cargos do PMDB, ou a ausência de coesão do vacilante PSDB.

Mas as incongruências identificáveis nas maiores legendas diferem muito do mercadão eleitoral que se instalou no Brasil. Essa volatilidade fragiliza o discurso dos candidatos perante aqueles que pretendem confiar o voto com algum critério. Ao redor dos grandes, observa-se uma miríade de legendas, de pequena e média grandeza, a orbitar no jogo político.
Talvez a Rede, de Marina Silva, consiga trazer um sopro novo a esse universo. 
E chegamos, então, ao fundo do poço, aos partidos que oferecem a porta de entrada para o submundo eleitoral  .(????) *

É assim, eleitor, que nos aproximamos de 2014. 
Torçamos por uma reforma política a partir de 2015.


Carlos Alexandre/Correio Braziliense 
*CAMUFLADOS
Mais :
TABELA -
Valores e percentuais distribuídos aos partidos políticos no repasse feito pelo TSE do Fundo Partidário em 20013/BRASIL



Colado do :

ACORDA BRASIL ! A herança maldita (A VERDADEIRA)


O lulismo vai deixar sinais indeléveis no Estado brasileiro.
E, pelo visto, deve permanecer no poder até, no mínimo, 2018. 
Inexiste setor do Estado em que não tenha deixado sua marca. 
A eficácia na tomada do aparelho estatal é parte de um projeto de manietar o país, de controlar os três poderes. 

O grande empresariado foi se transformando em um dos braços do Estado. 
A cada dia aumentou sua dependência dos humores governamentais. 
Ter uma boa relação com o Palácio do Planalto virou condição indispensável para o sucesso. 

O empresário se tornou capitalista do capital alheio, do capital público. 

Para a burguesia lulista, nenhum empreendimento pode ter êxito sem a participação dos fundos de pensão dos bancos e empresas estatais, dos generosos empréstimos do BNDES e da ação direta do governo criando um arcabouço legal para facilitar a acumulação de capital — sem esquecer as obras no exterior, extremamente lucrativas, de risco inexistente, onde a empresa recebe de mão beijada, sem concorrência, como as realizadas na África e na América Latina.

A petrificação da pobreza se transformou em êxito. 
Coisas do lulismo. 




As 14 milhões de famílias que recebem o benefício do Bolsa Família são, hoje, um importante patrimônio político. 


Se cada família tiver, em média, 4 eleitores, estamos falando de 1/3 do eleitorado. A permanência ad aeternum no programa virou meio de vida. 

E de ganhar eleição. 

Que candidato a presidente teria coragem de anunciar o desejo de reformar o programa estabelecendo metas de permanência no Bolsa Família?

A máquina do Estado foi inchada por milhares de petistas e neopetis-tas. Além dos quase 25 mil cargos de assessoria, nos últimos onze anos foram admitidos milhares de novos funcionários concursados — portanto, estáveis. 
Diversamente do que seria razoável, a maior parte não está nas áreas mais necessitadas. Um bom (e triste) exemplo é o das universidades federais. 

Foi realizada uma expansão absolutamente irresponsável. 
Faculdades, campi, cursos, milhares de funcionários e docentes, para quê?

 Havia algum projeto de desenvolvimento científico? 
A criação dos cursos esteve vinculada às necessidades econômicas regionais? 
Foi realizado algum estudo das carências locais? 
Ou tudo não passou, simplesmente, de atendimento de demandas oligár-quicas, corporativas e para dourar os números do MEC sobre o total de universitários no país?

Sem ter qualquer projeto para o futuro, foi acentuado o perfil neocolo-nial da nossa economia. Vivemos dependentes da evolução dos preços das commodities no mercado internacional — e rezando para que a China continue crescendo. Não temos uma política industrial. O setor foi perdendo importância. O investimento em ciência e tecnologia é ínfimo. A chamada nova economia tem importância desprezível no nosso PIB. 

A qualificação da força de trabalho é precária. 
Convivemos com milhões de analfabetos como se fosse um dado imutável da natureza.

A política externa amarrou o destino do Brasil a um terceiromundismo absolutamente fora de época. Nos fóruns internacionais, o país se transformou em aliado preferencial das ditaduras e adversário contumaz dos Estados Unidos. Abandonamos o estabelecimento de acordos bilaterais para fomentar o comércio. Enquanto o eixo dinâmico do capitalismo foi se transferindo para a região Ásia-Pacífico, o Brasil aprofundou ainda mais sua relação com o Mercosul. 

Em vez de buscar novas parcerias, optamos por transformar os governos bolivari-anos em aliados incondicionais.

Entre os artistas, a dependência estatal foi se ampliando. Uma simples peça de teatro, um filme, um show musical, nada mais é realizado sem que tenha a participação do Estado, direta ou indiretamente. Ter bons relações com o lulismo virou condição indispensável para a obtenção de "apoio cultural" Nunca na história republicana artistas foram tão dependentes do governo — nem no Estado Novo. 

E cumprem servilmente o dever de obediência ao governo, sem qualquer questionamento.

O movimento sindical foi apresado pelo governo.
 Os novos pelegos controlam com mão de ferro "seus" sindicatos. 
Recebem repasses milionários sem ter de prestar contas a nenhum organismo independente. Não vai causar estranheza se o Congresso — nesta escalada de reconhecer novas profissões — instituir a de sindicalista. 
A maioria dos dirigentes passou rapidamente pela fábrica ou escritório e está há décadas "servindo" os trabalhadores. 

Ser sindicalista virou um instrumento de ascensão social. 
E caminho para alçar altos voos na política.

O filé mignon do sindicalismo são os fundos de pensão das empresas e bancos estatais. Seus diretores — do dia para a noite — entraram no topo da carreira de profissionais do mercado financeiro. Recebem salários e bonificações de dar inveja aos executivos privados. Passam a conviver com a elite econômica. São mimoseados pela burguesia financeira de olho nos recursos milionários dos fundos. 

Mas ser designado para a direção do Fundo de Amparo ao Trabalhador é o sonho dourado dos novos pelegos.

Em meio a esta barafunda, não causam estranheza o ataque, o controle e a sujeição do Supremo Tribunal Federal à horda lulista. 
Os valores éticos e republicanos não combinam com sua ação política. 
Daí a necessidade de aparelhar todas as instâncias do Estado. 
E colocá-las a seu serviço, como já o fez com o Congresso Nacional; hoje, mero puxadinho do Palácio do Planalto.

Na república lulista, não há futuro, só existe o tempo.
Marco Antonio Villa é historiador