"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 26, 2010

O "SISTEMA"(P) ARTIDÁRIO (T) ORPE DO MALANDRO FÁTUO E PARLAPATÃO . UM MAL SER "EXTIRPADO".

Tropa de Elite 2 é que deveria concorrer ao Oscar e não a propaganda nazicabocla, Lula, o Filho do Brasil, que nem os devotados militantes petistas aguentaram assistir.
Magistral a produção do cineasta José Padilha que ilustra através da ficção a corrupção institucional do Rio de Janeiro.

Em meio, porém, a tantos corruptos, a exceção que exalta a coragem, a honestidade, a integridade de caráter do tenente-coronel Nascimento, atributos raros que introduzem na sordidez asfixiante do Sistema a existência de valores e do heroísmo.

Não daquele falso heroísmo que incensa jogadores de futebol ou vítimas de acidentes, mas do verdadeiro sentido do herói capaz de doar-se em prol de uma causa coletiva.

Nascimento volta e meia se refere ao Sistema, algo que dá o que pensar.

O termo tem uso preciso em Sociologia e não pretendo aqui esmiuçar os estudos que se fizeram sobre o tema para o texto não ficar cansativo.

Apenas esclareço resumidamente que Sistema existe em qualquer grupamento social, sempre composto de um lado por indivíduos singulares e de outro pela complexa rede de relações que caracterizam a convivência recíproca dos indivíduos.

Naturalmente, existem vários tipos de Sistemas e Subsistemas num Sistema global como os Sistemas político, econômico, partidário, etc.

No filme aparece um subsistema estadual que engloba do governo estadual à complexa rede de relações onde interagem indivíduos e instituições como a Secretaria de Segurança, a Polícia Militar, a Assembleia Legislativa e grupos marginais com milícias e narcotraficantes.

A luta do tenente-coronel é travada contra a corrupção e a ilegalidade reinantes que ele corajosamente enfrenta e denuncia.

Se um filme faz refletir, muito mais devia ser repensado com relação ao Sistema real gerado pelo governo petista.

Afinal, é impressionante a quantidade de escândalos de corrupção, de falcatruas, de impunidade que lavram na complexa rede de constelações individuais e institucionais, denunciadas fartamente pela imprensa, mas neutralizadas pelo presidente da República que banaliza crimes e desvios de conduta através de uma retórica onde imperam palavras de baixo calão, piadas de mau gosto e metáforas futebolísticas de cunho populista.

A endeusada figura do líder sindical foi construída pelo grupo de comando do PT, assim como Lula da Silva confeccionou a imagem de Dilma Rousseff.

Como disse Hannah Arendt, denunciando a arte de mentir sempre usada em política e cada vez mais aperfeiçoada:

“A política é feita em parte, da fabricação de uma imagem e, em parte, da arte de levar a acreditar na realidade dessa imagem”.

A imagem que se construiu do pretenso genial Lula é falsa.

Ele na realidade é tosco, por vezes grotesco, faz politicagem, não governa, sua esperteza é exaltada como se fosse dotado de extraordinária inteligência, sendo que a intrínseca malandragem tem o efeito de agradar a seus iguais.

O presidente da República é uma mistura de animador de auditório e cabo-eleitoral.

Não lhe perguntem sobre liturgia do cargo porque em sabe o que é isso. E, ao final, descobre-se o segredo da popularidade que as massas lhe conferem:

Entre Lula e Tiririca não há diferença.

Essa descrição politicamente incorreta será taxada pelos militantes fundamentalistas do PT de preconceituosa, coisa de “zelite”, como ensinou José Dirceu ao mitológico Lula.

Ressalte-se, contudo, em primeiro lugar, que Lula da Silva e os dirigentes governamentais petistas compõem há oito anos a classe dominante onde os poderes político e econômico se somam.

Segundo, falta de modos e certos traços de caráter nada têm a ver com origem humilde. Essa interpretação é tão falsa quanto se dizer que a pobreza em si conduz à criminalidade.

Lula da Silva é o poder personificado do Sistema, sua cara, seu símbolo, sua face visível que oculta a sujeira que existe por trás.

E é ele quem deve manter o Sistema propício aos companheiros dos mensalões, dos dólares na cueca, dos dossiês, dos sigilos violados, das grandes famílias das Erenices 6% e demais companheiros.

Dilma Rousseff é só uma imagem. Não é nada.
Apenas servirá ao Sistema.

O grave problema é que a cabo de oito anos de mandato Lula da Silva deixou de lado os gracejos e assumiu sua verdadeira face.

No afã de preservar o sistema e sentindo-se acima do bem e do mal se tornou colérico, violento, um figura cheia de ódio que mente descaradamente com a intenção de destruir não o adversário, mas o inimigo.

Ele prega o fim da liberdade de imprensa e quer acabar com partidos que o incomodam. Em ataques paranoicos diz que Deus está ao seu serviço para vingá-lo dos parlamentares que não votam como ele quer.

Como um Mussolini dos trópicos ele não mede as consequências de suas palavras e de seus atos.
Não precisa.

Atrás de Lula está o Sistema que o sustenta.

Por tudo isso ele tem a tarefa de por lá a insignificante Rousseff.
Através dela, ele e o Sistema petista continuam.

Isso é tudo que importa.
Quem enfrentará o Sistema?

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br

OPOSIÇÃO UNIDA

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A radicalização promovida pelo próprio presidente Lula no embate eleitoral, com o objetivo de eleger sua candidata a qualquer custo, gerou uma inesperada unidade de ação na oposição no segundo turno.

Além de ter dado novo ânimo à oposição, essa tentativa de Lula de atropelar os adversários fez com que os líderes oposicionistas usassem o segundo turno para ensaiar os primeiros movimentos do que será a atuação de um futuro bloco oposicionista, se for confirmada a eleição de Dilma Rousseff neste segundo turno

O melhor exemplo está na manifestação do fim de semana no Rio, que reuniu as principais lideranças do PSDB, do PP e do DEM em apoio ao candidato tucano, José Serra, no que foi a maior passeata da campanha até o momento.

O fato é que a tentativa de dizimar a oposição acendeu um sinal amarelo nas lideranças que ainda alimentavam a utopia de um relacionamento amistoso com o presidente Lula, e tornou muito mais acirrada a disputa presidencial, quase que obrigando a essa união das forças oposicionistas que sobreviveram ao ataque de Lula.

“O presidente sai desta eleição menor do que entrou”.

A frase do ex-governador e senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves é emblemática.

Elegendo sua candidata usando os meios que vem usando, o presidente Lula, como diz a candidata verde Marina Silva, “ganhará perdendo”.

E se, como tudo indica, isso não tiver a menor importância para ele, desde que vença a eleição, estará ratificando a sua opção pela baixa política, o que quase metade do eleitorado brasileiro repudia ao votar na oposição sistematicamente desde que ele se elegeu pela primeira vez em 2002.

Há um mínimo de 40% de eleitores que votam na oposição desde aquela época no segundo turno, e tudo indica que este ano o número será maior ainda, mesmo que os votos válidos oposicionistas não sejam suficientes para vencer a eleição, o que ainda é uma hipótese rejeitada pela oposição.

No meu livro “O lulismo no poder”, da Editora Record — que, aliás, já está na segunda edição —, escrevi na introdução, utilizando uma definição bastante conhecida, que o presidente Lula tem demonstrado que é um político populista, que pensa na próxima eleição, enquanto o estadista pensa nas próximas gerações.

O próprio Lula, na primeira declaração ao ser eleito em 2002, reconheceu em público a atitude “republicana” do então presidente Fernando Henrique Cardoso durante a campanha presidencial, sem a qual ele poderia não ter sido eleito.

Ao contrário do seu antecessor, que promoveu um processo de transição presidencial exemplar, o presidente Lula deixou claro desde muito antes do início oficial da campanha presidencial que o único resultado que lhe interessava era a eleição de sua sucessora.

Chegou ao exagero de dizer que, sem a eleição de Dilma Rousseff, consideraria que seu governo tivesse fracassado.

O ex-operário que chegou ao poder prometendo uma nova maneira de fazer política, e alegando que a corrupção seria reduzida pela simples chegada do PT à Presidência da República, transformouse no mais pragmático dos políticos, no pior sentido do termo, que é o de conviver com o fisiologismo e a corrupção no pressuposto de que são inevitáveis na nossa democracia de massas.

O deputado constituinte que se recusou a se candidatar novamente porque identificou na Câmara pelo menos “300 picaretas” num total de 531 deputados, hoje tem uma maioria parlamentar ampla e heterogênea que abriga grande parte desses picaretas, espalhados por diversas legendas que compõem uma base parlamentar tão grande quanto anódina.

Essa base foi ampliada ainda mais na eleição parlamentar de 3 de outubro, o que dará a Dilma Rousseff, caso se eleja, um apoio político maior do que Lula jamais teve, especialmente no Senado.

M a s p a r a s e t e r u m a ideia de para que serve uma base parlamentar tão grande, que chega a 70% das duas Casas do Congresso, basta que se raciocine ao contrário.

Se o candidato da oposição, José Serra, vencer a eleição, terá dificuldades para governar com uma oposição tão forte no Congresso? A resposta é não, não terá nenhuma dificuldade de montar uma base parlamentar que o ajude a governar.

Na verdade, os partidos de esquerda que formavam a base política de Lula nas três eleições presidenciais que perdeu são PT (88), PCdoB (15), PDT (28) e mais recentemente o PSB (34), o chamado “bloquinho”.

Com 165 deputados eleitos para a próxima legislatura, esse a grupamento de esquerda não terá atuação compacta e, além disso, terá que negociar com a segunda bancada da Câmara, a do PMDB, que elegeu 79 deputados.

Os de mais partidos, que formam com o PMDB a maioria da base parlamentar do governo, são de tendência política conservadora, e é previsível que haja muitos conflitos internos, tanto na divisão de cargos e verbas quanto na própria discussão dos rumos do governo.

Uma possibilidade é que a ala mais radical desse grupo de esquerda encontre resistência até mesmo dentro do “bloquinho”, mas principalmente entre os partidos conservadores da base governamental, que terão força política, liderados pelo PMDB, para bloquear movimentos mais radicais.

Merval Pereira/O Globo

PODER E LIBERDADE

O convite ao voto traz uma natural inquietação.

A liberdade de escolha que o mercado político oferece limita o compromisso de o cidadão exercitar o voto em benefício de uma sociedade mais eficiente e sem exclusão.

Para adotar uma clara definição política é necessário que a questão do poder esteja diretamente proporcional à liberdade de imprensa.
Se essa liberdade garantir, de fato, o direito de informar todas as opiniões.

Na defesa do interesse geral, o problema estará mais ou menos resolvido pelo jogo das compensações.

Cabe à mídia, portanto, oferecer um conteúdo sadio de informação que amplie as opções da opinião pública, sem pretender orientá-la.

Uma opinião pública bem informada, esclarecida, menos ingênua e mais participativa é, sem dúvida, um poderoso instrumento de poder e, através do voto consciente, uma força política imprevisível.

O que impede, então, que essa força se mobilize e cause um impacto capaz de alterar a agenda do poder público?

Descrença?

Desesperança?

O analfabetismo ético?

Falta de informação?

A razão cínica responsável pela transformação dos cidadãos em indivíduos social e moralmente supérfluos, gerando uma cultura de impunidade?

Freud até explica!

Mas Etienne de La Boétie leva a questão mais a fundo quando indaga:
“Como é possível que tantos homens, tantas nações se submetam à vontade de um senhor sem que força alguma os obrigue a isso? Como explicar que o tirano, cujo corpo é igual ao nosso, consiga crescer tanto, com mil olhos e mil ouvidos para nos espionar; mil bocas para nos enganar; mil mãos para nos esganar; mil pés para nos pisotear? Quem lhe deu os olhos e ouvidos dos espiões, as bocas dos magistrados, as mãos e os pés dos soldados?”

O corpo de um tirano é formado pelos seis que o aconselham, pelos sessenta que protegem os seis, pelos seiscentos que defendem os sessenta, pelos seis mil que servem aos seiscentos e pelos seis milhões que obedecem aos seis mil, na esperança de conquistar o poder para mandar em outros.

No desejo de posse e propriedade .
Ao trocar o direito à liberdade pelo direito de posse, o indivíduo assume a “servidão voluntária”.

“A tirania existe e persiste porque não somos obrigados a obedecer ao tirano e aos seus representantes, mas desejamos voluntariamente serví-los porque deles esperamos bens e a garantia de nossas posses.

A audácia dos argumentos de La Boétie ganha força e transhistoricidade quando fala não da liberdade interior, mas da liberdade política.

Para derrubar um tirano e reconquistar a liberdade, basta não dar o que ele quer: negociar nossa consciência e liberdade política.

Seu discurso tem um movimento, uma flexibilidade que abre espaço para repensar o conceito de liberdade, ampliando o entendimento da responsabilidade e da cumplicidade individual e coletiva em relação à dinâmica social.

Se não há sociedade sem poder, também não há sociedade com pleno poder.

Ordem e caos constituem a dialética em que poder e liberdade não se excluem:
se é sobre seres livres que o poder se exerce, é contra o pano de fundo do poder que a liberdade se define.

Em todos os tempos, o poder político manipulou ou negligenciou a opinião pública.

O ideal democrático surgiu, justamente, como a possibilidade de resgatar o respeito ao indivíduo, através do direito à informação correta, elevando-o ao status de cidadão.

Esse ideal está em recuo!
O cidadão perde, cada vez mais, terreno diante do grupo que se diz representá-lo e que só o faz parcialmente.

Diante desse quadro o convite ao voto se apresenta esvaziado.

Através da mídia é um apelo insistente mas indiferente ao desdobrar-se de uma forma de poder que ao mesmo tempo deixa livre e toma como refém:
um golpe duplo, redobrado, que reescreve tanto o enigma proposto por La Boétie quanto a tautologia apontada por A. Sauvy:

“Não há democracia sem informação.”

Beatrice Baxter O Globo