
O presidente Lula se despedindo da Presidência, no programa eleitoral de Dilma Rousseff, com a música “entrego em suas mãos o meu povo” me lembrou o pior Brasil.
O Brasil dos donatários, das capitanias hereditárias.
Como se não fosse suficiente, ainda há o discurso que infantiliza o povo brasileiro com essa história de pai e mãe do povo.
Desde  “Coronelismo, enxada e voto”, de Victor Nunes Leal, o Brasil conhece  bem esse seu pior lado.
O do patrimonialismo brasileiro, do qual  nasceram outros defeitos: o populismo, o paternalismo, o clientelismo. 
Com a manipulação das massas, os donatários do Brasil mantêm o poder e o  entregam aos seus herdeiros. 
Ninguém duvida que  apelos emocionais funcionam em campanha eleitoral. Mas não garantem  eleição. Difícil esquecer até hoje o contagiante 
“Lula lá, nasce uma  estrela, Lula lá”. E ele perdeu aquela eleição. 
São muitas as razões do  voto e a história eleitoral brasileira é curta demais para que sejam  traçadas leis gerais.
Mas espera-se que ela não se explique pelo retrocesso, por essa visita ao passado.
A economia é decisiva na maioria das eleições, mas nem sempre. A economia americana estava num dos seus melhores momentos ao final do governo Bill Clinton e mesmo assim Al Gore perdeu.
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No ano passado, vários países do mundo tiveram quedas grandes do PIB como os 7% da Rússia e do México. O Brasil ficou no -0,2%.
Pela visão do ministro Guido Mantega, foi a ação do BNDES. Mas na crise da Ásia todos os países que tiveram colapsos cambiais enfrentaram recessões enormes: Coréia, -7%; Indonésia, -17%.
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Ninguém discute a importância do BNDES na  economia brasileira, é claro que ele é importante. O problema são os  desvios que reforçam o patrimonialismo: a ideia de que o Tesouro pode  ser apropriado por alguns. 
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É  por isso que os grandes empresários brasileiros estão tão contentes e  querem mais do mesmo.
O presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, na  série de ideias obsoletas que exibiu na entrevista que concedeu esta  semana ao “Valor Econômico”, disse que quer não um, mas três BNDESs. 
Pode-se imaginar que está sendo sincero.
Pediu que o governo “feche o  país por um tempo.”
Pode-se imaginar por quê.
Com a economia fechada, funciona melhor o sistema das capitanias hereditárias, do mercado interno entregue como donataria para alguns proprietários.
 Há 20 anos o  Brasil começou a abrir a economia, por isso já se pensava, a esta  altura, que ninguém teria mais a coragem de fazer um pedido como esse. 
A  crise de 2008/2009 e as eleições de 2010 viraram uma espécie de licença  para propor qualquer velharia: dos subsídios ao fechamento do país.
A  campanha governista nas eleições está fortalecendo a ideia de que o país  não tem um líder, nem um presidente; tem um dono.
Um donatário.




