"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 19, 2011

INTERESSE NACIONAL EM JOGO.


Grande parte dos brasileiros tem conhecimento dos enormes desafios de gestão territorial enfrentados pelo País e suas consequências.
Trágicas em muitos casos, como na ocupação urbana irregular em áreas de risco ou nas dificuldades de controle das fronteiras, por onde são introduzidas ilegalmente desde drogas e armas até enfermidades, como a febre aftosa, que podem abalar setores da economia nacional.


O que poucos sabem é que, há mais de 20 anos, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) criou uma equipe técnica altamente qualificada para monitorar por satélite todo o território nacional. Instalada em Campinas, dispondo de equipamentos sofisticados e com atuação competente e discreta, a área de Gestão Territorial Estratégica (GTE) da Embrapa Monitoramento por Satélite permitiu o fornecimento constante de dados exclusivos, inéditos e fundamentais aos órgãos da Presidência da República e ao gabinete do ministro da Agricultura.

Dentre eles cabe destacar:
o monitoramento mensal por satélite de centenas de obras do PAC em todo o País; a qualificação de infraestruturas críticas nas áreas de comunicação, energia e logística; o mapeamento e a quantificação das áreas urbanizadas nos municípios e no entorno dos novos estádios onde ocorrerão os jogos da Copa do Mundo de 2014; o desenvolvimento de sistemas operacionais de detecção precoce de problemas na faixa de fronteira; a geração de informações estatísticas sobre a dinâmica da produção agrícola; e a expansão da agronergia e do etanol, entre outros.


A GTE apoia os trabalhos do contingente brasileiro na Missão de Pacificação da ONU no Haiti com imagens de satélite, essenciais para a ajuda após as inundações de 2004 e o terremoto de 2010. Suas imagens de alta resolução ainda serviram para apoiar as operações de pacificação nas favelas do Rio de Janeiro, como em Manguinhos e no Morro do Alemão.

Essas atividades de sensoriamento têm auxiliado os presidentes da República - de José Sarney a Dilma Rousseff - e os ministros da Agricultura em complicados processos de tomada de decisões.

Com o crescimento do País e de sua agricultura, e diante da constante necessidade de defender os interesses nacionais, aquelas autoridades não podem prescindir de dados e informações territoriais dessa natureza. Era de esperar o fortalecimento da equipe da GTE e de sua autonomia operacional, pelos resultados alcançados durante o governo do presidente Lula.
Mas não.
Dizem os espanhóis que a ignorância é audaciosa.


Talvez isso explique a recente decisão do chefe da Embrapa Monitoramento por Satélite de destituir a equipe e desmantelar o seu comando e retirar a autonomia da área de Gestão Territorial Estratégica, sob pretexto de implantar um novo regimento interno, com o apoio tácito do presidente da Embrapa.

Essa decisão estapafúrdia de desmontar o serviço de gestão territorial estratégica - com consequências desastrosas para a agricultura e o monitoramento territorial do Brasil - foi denunciada no artigo Perde a Embrapa, perde o Brasil , perde o Brasil, publicado neste jornal no último dia 15, pelo jornalista Rodrigo Lara Mesquita. A confirmação das informações divulgadas provocou forte reação dos usuários desse serviço no agronegócio, em organizações rurais, instituições governamentais e até do prefeito de Campinas, que se manifestaram junto ao Ministro da Agricultura e ao governo federal.

O Ministro Rossi interveio com diligência e avocou para si as decisões neste caso, embora a direção da Embrapa se mantenha em uma atitude de insubordinação.

O futuro dessa equipe de excelência, instrumento estratégico do Ministério da Agricultura, interessa ao País, que só pode planejar e monitorar o manejo de seu vasto território se dispuser de informações seguras e oportunas. Nesse sentido, a continuidade do serviço de gestão territorial estratégica interessa não só ao Ministério da Agricultura, mas também ao Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, à Casa Civil, aos Ministérios do Planejamento, das Cidades e da Defesa.
O interesse nacional está em jogo.

O Estado de S.Paulo