"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 26, 2015

Batedores de Carteira de Trabalho

O governo petista agora também se notabiliza por bater a carteira profissional dos trabalhadores. A geração de vagas cai, enquanto direitos são alvo da tesoura do ajuste fiscal

Não satisfeito em avançar sobre o bolso dos brasileiros, o governo petista agora também se notabiliza por bater a carteira profissional dos trabalhadores. A geração de empregos no país está desmilingüindo, ao mesmo tempo em que a tesoura do ajuste recessivo ameaça direitos trabalhistas e previdenciários.

Em 2014, foram criados apenas 397 mil empregos no país, segundo números do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego divulgados na sexta-feira. Foi o pior resultado desde 2002, quando a atual série estatística começou. Nem na recessão de 2008 e 2009 o mercado de trabalho do país foi tão mal.

No início do ano passado, com o irrealismo que lhe é característico, o governo petista previa a criação de 1,4 milhão de empregos no país. Não deu. A queda em relação a 2013 foi de 64%, ou seja, a geração de vagas no ano passado representou apenas um terço do resultado do ano anterior.

Só em dezembro foram fechados 555 mil postos de emprego. O mês é tradicionalmente ruim para o mercado de trabalho, mas ninguém imaginava que seria tanto. A indústria de transformação continua a ser o setor mais afetado, com 163 mil vagas a menos no ano passado - o fracasso do programa Brasil Maior, como relata hoje o Valor Econômico, não ajudou em nada.

A perspectiva geral para este ano não é boa. Com uma recessão já despontando no horizonte, não será surpresa para ninguém se o número de empregos no país encolher até dezembro. O Ministério do Trabalho já lava as mãos: "Não há como gerar muito mais empregos", disse o ministro na sexta-feira.

Em todos os anos do governo Dilma, a geração de empregos no país caiu na comparação com o ano anterior - em 2010, chegaram a ser geradas 2,5 milhões de novas vagas e, daí para frente, foi sempre ladeira abaixo. As poucas oportunidades criadas são mal remuneradas, pagando sempre menos de dois salários mínimos.

Como se não bastasse o mau momento, direitos trabalhistas e previdenciários estão na mira da tesoura do governo do PT. Cortes no seguro-desemprego, no auxílio-doença, no abono salarial e no pagamento de pensões por morte devem gerar economia de R$ 18 bilhões, como parte do ajuste recessivo em marcha.

Mas o governo da presidente petista parece disposto a avançar ainda mais na carteira de trabalho dos brasileiros. Segundo o ministro Joaquim Levy, o modelo atual de seguro-desemprego está "completamente ultrapassado" - apenas com as mudanças atuais, 26,6% dos que receberam o benefício em 2014 já não conseguiram obtê-lo. Devem vir mais maldades por aí, preparadas pelo governo "dos trabalhadores".

Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

Vale a pena ler e pensar

1) Duplo estelionato eleitoral: matéria do jornal Folha de São Paulo de hoje mostra que as medidas de restrição ao seguro desemprego, abono salarial e pensões foram estudadas e elaboradas pelo ministério da fazenda em meados de 2014, antes portanto das eleições – clique aqui para ler a matéria. Isso significa que o estelionato eleitoral foi duplo: a candidata não apenas omitiu que planejava mudanças e ainda atacava quem falasse sobre o assunto.

2) Risco de racionamento já está em 50%: excelente matéria no valor com o consultor Mário Veiga da PSR que mostra, entre outras coisas, que o novo ministro das minas e energia e demais representantes do governo mentiram sobre as reais razões do apagão da segunda feira da semana passada. Segundo Mário Veiga, o problema é sim a falta de geração em cerca de 20 mil MW. Se o ministro Eduardo Braga não consegue explicar de forma clara o que aconteceu e esconde fatos relevantes da população talvez fosse o caso do ministério contratar um consultor para explicar o que o governo deveria explicar. Como declara Mario Veiga:

“O ONS alega que a demanda está alta, o que não é nenhuma novidade. O sistema é planejado para ter reserva suficiente. Estamos nessa situação porque o governo em 2014 decidiu apostar que choveria no início deste ano e que o verão seria ameno. Não foi feita nenhuma medida de racionalização de consumo, deixando os reservatórios chegarem ao pior nível da história”.

3) Outro consultor respeitado do setor de energia, Claudio Sales, deu entrevista à Folha de São Paulo com os mesmos alertas (clique aqui). Segundo o consultor: “São grandes as possibilidades de que apagões voltem a acontecer no restante do verão. Nos últimos três anos, os recordes de demanda foram em fevereiro, perto de 4% acima dos do ano anterior.” O que fazer? um racionamento preventivo que já deveria ter começado. Sobre o apagão Claudio Sales vai na mesma direção do Mário Veiga:

“No apagão da última segunda, não caiu nenhuma torre nem explodiu nenhum transformador em subestação. Se a restrição é inerente ao sistema, não importa se a energia é gerada no Sudeste ou no Nordeste. O importante é que não houve capacidade disponível no momento necessário.”

Ponto final: O ministério da fazenda tem conseguido gerar várias “noticias positivas” para os mercados que tem animado o investidor em renda fixa. No entanto, não há como o governo recuperar de forma rápida a confiança dos empresários, ainda mais quando há um risco grande de racionamento de energia e talvez seja necessário novos aumentos de carga tributária aliado a cortes do investimento público para cumprir a meta do primário. No mais, o governo precisa urgentemente melhorar a sua comunicação.