"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 28, 2010

"VOCÊ SABE QUAL O VALOR DO INVESTIMENTO? EU NÃO SEI. SABE A RENTABILIDADE? EU NÃO SEI". É A GOVERNANÇA CORPORATIVA DA ELETROBRAS.

A Eletrobrás é uma empresa aberta que se compromete a adotar um alto nível de governança corporativa, baseada em ética, transparência, prestação de contas e responsabilidade empresarial.
Mas nem todos os acionistas acreditam nisso.

Representante dos minoritários no Conselho de Administração da Eletrobrás, Arlindo Magno afirmou, em entrevista a Josette Goulart, publicada no jornal Valor de quarta-feira, que há na estatal inúmeros "assuntos intocáveis", sobre os quais a empresa não presta informação, nem quando indagada formalmente.

Entre eles, a dificuldade de acesso a informações pormenorizadas sobre as companhias por ela controladas - como as subsidiárias Furnas,
Chesf,
Eletronorte e Eletrosul.
Ou as participações minoritárias que tem em mais de 30 empresas, no montante de R$ 6,8 bilhões.

E não há gestão "dessas participações", segundo Magno, funcionário aposentado do Banco do Brasil, que já trabalhou no fundo de pensão Previ e participa do conselho de várias empresas.

A Usina de Belo Monte, que será controlada pela Eletrobrás, é outro exemplo de falta de informação:
"Você sabe qual o valor do investimento?
Eu não sei.
Sabe a rentabilidade?
Eu não sei.
O leilão aconteceu na primeira parte do ano e até agora não fomos informados sobre quanto a empresa vai investir e o retorno que teremos.

A Eletrobrás tem também obrigações próprias de governo, não só de empresa, cujo papel é obter lucro e remunerar os acionistas.

"Gerenciamos os fundos setoriais" - observou Magno -, mas "por que não mandar isso para um gestor financeiro como o BNDES?"

"Gerenciamos (os programas de governo) o Luz para Todos, o Reluz", mas "nada disso é o nosso negócio."

Em carta ao ministro de Minas e Energia, o conselheiro sugeriu aperfeiçoar as regras de governança e permitir que o Conselho de Administração fiscalize a empresa, mas não obteve resposta.

Em tom de desabafo, Magno afirmou que as subsidiárias não obedecem ao comando da Eletrobrás e que há "uma luta interna para ver quem controla a corporação".
Propõe ele que os diretores que não cumprirem as metas sejam demitidos, independentemente da filiação partidária.

Maior empresa holding do País, a Eletrobrás deve explicações não apenas aos acionistas minoritários brasileiros e estrangeiros, que detêm 21,7% das ações ordinárias e 87,5% das preferenciais, mas também aos contribuintes, pois a União e o BNDES controlam a empresa.

O Estado de S.Paulo

CAIXA DE PANDORA : MAIS 5 MESES DE INFLAÇÃO ALTA E OUTRAS "COISAS" SOB "OBSERVÂNCIA" DE MANTEGA SERÃO A GARANTIA DE CONTAS MAQUIADAS EM 2011.

O brasileiro terá de enfrentar pelo menos cinco meses de inflação alta pela frente. No rol dos aumentos de preços previstos para a virada do ano estão os reajustes das mensalidades escolares, das passagens de ônibus e dos aluguéis, todos numa faixa que deve superar 7%, além da forte pressão dos alimentos que deve continuar até a entrada da safra de grãos, marcada para o fim do primeiro trimestre.

A inflação acumulada em 12 meses pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que encerrou outubro em 5,2%, pode passar de 6% em dezembro, janeiro e fevereiro, preveem economistas.
Se confirmado, o resultado acumulado pode superar no período, em mais de um ponto e meio porcentual, o centro da meta de inflação (4,5%).

As projeções de inflação para os próximos meses foram revistas para cima na semana passada pelo mercado, depois que o IPCA-15, prévia da medida oficial de inflação, superou as expectativas e atingiu 0,86% em novembro.
Metade desse resultado veio da alta dos alimentos, que não deve dar trégua até março.

Normalmente, em janeiro e fevereiro, a alta dos alimentos ganha força com a elevação dos preços das hortaliças afetadas pelas chuvas de verão. Só que esse fator sazonal pode agravar um quadro que já não é favorável.

Risco.

A comida é considerada o maior fator de risco da inflação para 2011. Mesmo assim, o grande foco de pressão para manter a inflação em níveis elevados está nos preços dos serviços, que já vêm ao longo deste ano sendo sustentados pelo aumento do emprego e da renda, que mantêm o consumo aquecido.

Combustível para essa demanda existe.

Em outubro, a taxa oficial de desemprego atingiu 6,1%, a menor marca desde 2002, o início da série histórica. E a renda média real do brasileiro cresceu 6,5% na comparação com outubro de 2009, a maior expansão anual desde junho de 2006.

A maior pressão inflacionária para 2011 está nos preços livres (alimentos e serviços), mesmo com a alta de 10% do IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) acumulada em 2010″, afirma a economista do Banco Santander, Tatiana Pinheiro.

O IGP-M, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), é usado total ou parcialmente como indexador de vários contratos privados, como aluguéis e mensalidades escolares, e preços administrados, como tarifas de energia e de pedágio, por exemplo.

Em 2009, o indicador fechou o ano com deflação de 1,7%.
Isso fez com que alguns preços balizados pelo indicador não tivessem reajustes este ano.

Mas, para 2011, o cenário é diferente.
O IGP-M subiu 10,29% até a segunda prévia de novembro, o que chancela reajustes significativos no curto prazo dos preços regidos por esses contratos.

O efeito da indexação será mais forte em 2011 do que foi neste ano”, prevê o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros.
Ele pondera que essa pressão da indexação sobre os preços pode ser compensada parcialmente se o governo optar por não aumentar o salário mínimo acima da inflação.

Sem alívio.

Não vejo nada que alivie a inflação nos próximos meses. Dezembro vai ser complicado para a inflação, porque o consumidor tem mais renda no bolso”, diz o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, Antonio Evaldo Comune.

Ele prevê que o ano comece forte, com inflação mensal na casa de 1%, já contando com reajustes das escolas, das tarifas de ônibus e do imposto predial.

Por Márcia De Chiara, no Estadão:

CONTINUA...
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A HORA DA PARTILHA , OU , "ESPECTROS EM RETROSPECTOS"

Fechada a equipe econômica, acertados os nomes dos chamados ministros da casa - com assento no Palácio do Planalto, junto à presidente - ainda neste fim de semana Dilma Rousseff começa a tratar com os partidos aliados da distribuição dos espaços na Esplanada dos Ministérios.

Pela expectativa do PMDB, o partido do vice-presidente Michel Temer será o primeiro.
Os peemedebistas têm duas preocupações:
assegurar posições "qualificadas" e encaminhar as negociações sem pressões ruidosas, a fim de se diferenciar das demais legendas e evitar comportamentos explicitamente fisiológicos.


E por que isso?
Porque considera que, uma vez eleito na mesma chapa com Dilma, subiu de grau na hierarquia:
não pode ser visto como adesista; deve se conduzir e ser tratado como legítimo partícipe digno de postos de elite.

O PT ocupa mais ministérios e faz parte do núcleo de poder?
O PMDB diz que é justo, mas aponta que por isso mesmo os petistas não podem querer açambarcar o comando do Legislativo.
A direção do partido assegura que até agora a presidente não enviou nada além de "sinais de prospecção".
Não disse claramente o que pretende para o parceiro de chapa.

Já o PMDB acredita ter deixado bem entendido o que almeja:
garantir a atual parte que lhe cabe no latifúndio de 37 ministérios.
Mas só os efetivamente ocupados pelo partido.
Contando com o Banco Central, hoje são sete as pastas dirigidas por filiados ao partido.

Mas a direção não considera que José Gomes Temporão, da Saúde, e Henrique Meirelles, do BC, sejam indicações partidárias.
Nesses dois casos o PMDB diz que foi usado como "barriga de aluguel".
Situação que não vai aceitar.

Excluídas as "barrigas", sobrariam cinco ministérios:
Defesa, Comunicação,
Integração Nacional,
Minas e Energia e Agricultura.
Não se espera que Dilma mantenha necessariamente as mesmas pastas, mas que assegure a quantidade, não escale o partido para pastas periféricas e aceite as indicações dos nomes feitas por intermédio de Michel Temer sem questionar.

Em contrapartida, o PMDB se compromete a obedecer aos três critérios já postos pela presidente:
densidade de apoio político, experiência na área específica e imunidade pessoal a possíveis escândalos.(SIC)

Temer é o único interlocutor/negociador autorizado e, ao contrário do que ocorreu nos dois mandatos de Lula, os indicados terão o respaldo unitário e não das alas a, b ou c do partido.
Daí a expectativa de que sejam aceitos.
Só serão indicados "homens do partido" e na seguinte proporção:
dois para a Câmara,
dois para o Senado e um para livre provimento do vice e presidente do PMDB, Michel Temer.

E se a presidente não concordar com nada disso?

O PMDB acha que Dilma Rousseff é sagaz o bastante para compreender o que não precisa ser dito por escrito.

Agora é que são eles
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo