"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 20, 2014

Saúde: Razoável não, péssima

Em meio a seus típicos rompantes de prepotência e agressividade, Dilma Rousseff teve um raro momento de sinceridade durante a entrevista que concedeu ao Jornal Nacional anteontem. Foi quando reconheceu, ainda que muito a contragosto, que a saúde brasileira não é “minimamente razoável”.

Ainda assim, a presidente foi condescendente com o que ela e seu partido fizeram ao longo destes últimos 12 anos para cuidar dos serviços oferecidos pelo poder público à população. Foi quase nada. Na realidade, a situação da saúde está muito distante do razoável. Está péssima.Atualmente, 57% dos brasileiros veem a saúde como tema prioritário da agenda nacional, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Conselho Federal de Medicina. Nem sempre foi assim: quando a gestão petista começou, em 2003, apenas 6% tinham a mesma preocupação. Sinal de que os anos recentes foram de franca deterioração.

A reprovação à qualidade dos serviços é ampla, geral e irrestrita. Segundo a mesma pesquisa, 93% dos brasileiros desaprovam os serviços de saúde, tanto públicos, quanto privados, oferecidos no Brasil. Para cerca de 60%, eles são ruins ou péssimos.

A tão acachapantes constatações, a candidata-presidente retruca dizendo que seu governo agiu e implantou o Mais Médicos. “50 milhões de brasileiros não tinham atendimento médico, hoje têm”, disse ela ao telejornal da TV Globo.

A partir do que Dilma afirmou na entrevista, duas constatações se impõem: 1) até um ano atrás, ou seja, ao longo de 11 anos, o PT nada fez para enfrentar o problema e, 2) um programa que tem prazo de validade é tomado como se solução definitiva fosse.

A realidade é que o Mais Médicos foi convenientemente sacado da algibeira da alquimia petista para fornecer bom discurso em época de campanha eleitoral. Seus resultados continuam sendo uma incógnita, apesar de o governo sustentar que resolveu a vida de dezenas de milhões de brasileiros num passe de mágica.

Se o programa é incerto, é absolutamente evidente e demonstrável que o que Dilma prometeu na campanha de 2010 para melhorar a saúde dos cidadãos passou longe, muito longe, de se tornar realidade.

Apenas para ficar nos mais emblemáticos, eram 500 UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) e 6.800 UBSs (Unidades Básicas de Saúde).
E o que foi feito? 23 UPAs e 2.057 UBSs, segundo o mais recente
balanço do PAC. Será que Dilma espera ter mandados infinitos para cumprir suas promessas?

O SUS vinha estruturando uma belíssima estratégia para cuidar de maneira continuada da atenção básica aos brasileiros: o Saúde da Família. Mas o PT preferiu deixá-lo na geladeira e segurar sua expansão. Hoje sua cobertura limita-se a pouco mais da metade da população. Não surpreende que, com os petistas no comando, a saúde tenha
ido parar na UTI.
 
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

"INCOMPETENTA 1,99 DESAVERGONHADA" É HORA DE DAR TCHAU E DEVOLVER O BRASIL REAL AO PUNDONOR


Nunca antes nos 3 anos, 7 meses e 18 dias de Dilma Rousseff no Planalto o público tinha tido a oportunidade de ver o que subordinados da "gerentona" conhecem por humilhante experiência própria: 
a chefe à beira de um ataque de nervos. 

Com a diferença de que, no seu gabinete, ela se sente literalmente em casa para descarregar a ira com as presumíveis dificuldades da equipe em captar o seu pensamento - o que, tendo em vista as peculiares circunvoluções de sua forma de expressão, se explica plenamente.

"Não há no inferno", escreveu Shakespeare, "fúria comparável à de uma mulher rejeitada." Ou de uma Dilma Rousseff contrariada - e sem poder pôr no devido lugar o responsável real ou imaginário pela afronta. Foi o que a audiência do Jornal Nacional (JN) da segunda-feira descobriu ao acompanhar a entrevista dos apresentadores William Bonner e Patrícia Poeta com a candidata à reeleição. 

Ela foi a terceira a ser arguida na série de sabatinas de 15 minutos com os principais aspirantes à Presidência, iniciada com o tucano Aécio Neves, a quem se seguiu o ex-governador Eduardo Campos, na véspera de sua trágica morte. (Quando a sua candidatura tiver sido formalizada, também Marina Silva será convidada.)

Por ser presidente, Dilma teve o privilégio de receber os jornalistas na residência oficial do Alvorada, à frente de estantes de livros encadernados e cuidadosamente dispostos, sem sinal de manuseio, um cenário escolhido para denotar solenidade, elevação e a nobreza da função presidencial. 

Nada que ver com o ambiente do JN, nos estúdios da Rede Globo, no Rio de Janeiro, em que os donos da situação, como Aécio e Campos sentiram na pele, são os âncoras do principal noticioso da TV brasileira, infundindo, nas suas perguntas, contundência e conhecimento de causa à altura dos seus implacáveis colegas britânicos - a referência mundial no gênero.

Mas logo na resposta ao primeiro disparo de Bonner sobre uma das duvidosas distinções do governo - as denúncias de casos de corrupção em sete ministérios - ficou claro o desamparo da presidente. Faltava-lhe o ponto no ouvido pelo qual o seu marqueteiro João Santana poderia conduzi-la, se não a terra firme, ao menos para longe do vórtice. Pior ainda, faltava-lhe o conforto das gravações irrepreensivelmente produzidas que confeccionam uma imaginária Dilma estadista. 

Com o misto de irritação e impaciência que denotaria durante toda a entrevista, ela desandou a juntar frases e mais frases que tinham em comum a extensão, a desconexão e a pretensão.

Para mostrar superioridade ética, por exemplo, disse que os governos petistas não têm um "engavetador-geral da República", como, segundo a oposição, teria sido o titular do Ministério Público Federal nos anos Fernando Henrique. E reivindicou, para "nós", a criação da Controladoria-Geral da União. 

Na realidade, Lula pouco mais fez do que mudar o nome do órgão fiscalizador do Executivo (Corregedoria-Geral da União) instituído pelo tucano em 2001 e fortalecido no ano seguinte com a absorção da Secretaria Federal de Controle, antes vinculada ao Ministério da Fazenda. 

Em dado momento, tentando cortar o interminável palavrório da candidata, o entrevistador recebeu uma dose de Dilma em estado puro: 
"Então, continuando o que eu estava dizendo…".

Fez-se de desentendida quando Bonner lhe perguntou o que achava de o PT tratar como vítimas os companheiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão. Pelo menos três vezes ela repetiu que, como presidente, "não julgo ações do Supremo", por mais que o jornalista reiterasse que o objeto da pergunta era a conduta de seu partido, não o veredicto do Tribunal. A esta altura, Dilma parecia prestes a explodir. 

Quando o assunto passou a ser a economia, diante dos números amargos, de conhecimento público, sobre a inflação e o PIB, saiu-se com um "não sei da onde que estão (sic) seus dados". O tempo do programa estourou depois de quatro perguntas apenas e Dilma precisou ser interrompida quando pedia "o voto dos telespectadores".
Terminado o sufoco, a presidente tomou uma decisão prudente, embora apequenadora: 
cancelou a entrevista que daria em seguida à Globo News.

O Estado de São Paulo
A presidente no sufoco