"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 16, 2011

MODUS OPERANDI : A NORMALIDADE DA ANORMALIDADE, O EXCEPCIONAL E ESTRANHO LUCRO DO BNDES.

Na semana passada, participei de um workshop no the Brookings Institute em Washington no qual falei sobre BNDES e politica industrial. No entanto, ao preparar minha apresentação, notei algo estranho com o lucro supostamente excepcional do BNDES, em 2010, que foi de R$ 9,9 bilhões, um crescimento de 47% em relação ao lucro de 2009 de R$ 6,7 bilhões.

Acontece que o lucro do BNDES nos últimos dois anos foi, sem dúvida alguma, inflado por aplicações do banco em títulos públicos. Vamos explicar esse truque e para quem se interessar segue a nota técnica anexa que fiz (clique aqui).

Por que o BNDES ganhou com titulos públicos?

Quando o Tesouro Nacional repassa titulos para o BNDES, nas operações de emprestimos já tão conhecidas, o BNDES fica com um titulo que rende SELIC e passa a dever ao Tesouro uma divida corrigida por TJLP. Assim, enquanto não empresta esses recursos, o BNDES fica com o diferencial de juros e, assim, o seu lucro aumenta de forma artificial.

Há como provar essa tese que o BNDES lucra com operações com Títulos Públicos? Acho que sim. Como se observa abaixo, o resutado das operações do BNDES com titulos e valores mobiliários passou de R$ 2,1 bilhões, em 2008, para R$ 8,4 bilhões em 2010.

O aumento do resultado dessas operações é anormal e decorre do retorno com titulos públicos como provo a seguir.

Notem também que esse lucro inflado levou a um crescimento recorde na repartição de lucro do banco com seus funcionários (ver penúltima coluna da tabela abaixo).

(...)

E a repartição de Lucro com os empregados?

Sim, um dos subprodutos desses crescimento artificial do lucro do BNDES foi um crescimento recorde na repartição de lucro do banco com seus funcionários que passou de R$ 53,9 milhões (2008) para 159 milhões (2010), um crescimento de 194% em dois anos.

Um conta grosseira mostra a importância desse valor. Como o BNDES tem cerca de 3.000 funcionários, o aumento da repartição de lucro de R$ 53,9 milhões para R$ 159 milhões, corresponde a um aumento no ganho individual de cada funcionário de R$ 17,9 mil para R$ 53,1 mil. Infelizmente, esse aumento do bônus parece ter sido influenciado muito mais pelos repasses do Tesouro do que por um resultado superior de performance por parte dos funcionários do banco.

Resumo da ópera:

Por que o Tesouro Nacional deixou que o BNDES ficasse com esse diferencial de juros? Bom, desconfio que a moeda de troca para esse presente dado ao banco é a exigência de maiores pagamentos de dividendos para o Tesouro (ver gráfico abaixo).

Agora será que algum economista poderia me explicar como o BNDES aumenta os repasses para o Tesouro que em seguida aumenta a dívida para emprestar mais recursos para o BNDES?

Isso é o que se chama de contabilidade criativa — transforma-se uma divida em receita primária.

(...)

O BNDES é um banco importante para o Brasil e para o financiamento da atividade produtiva. Assim, espera-se que a maior parte do lucro desse banco decorra de sua atividade fim que é emprestar para empresas em atividade produtivas e não de aplicações em títulos e valores mobiliários, em especial, aplicações em títulos públicos como parece ser o caso nos últimos dois anos.

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