"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 23, 2013

O NORDESTE É A SOLUÇÃO



O Nordeste tem sido uma das regiões do país que mais cresce nos últimos anos. A renda aumentou, o mercado de consumo cresceu e mais empregos foram gerados. É algo a comemorar, fruto de políticas que remontam há décadas, iniciadas com a estabilização da economia. Mas o Nordeste pode, quer e precisa de muito mais.

Os resultados já alcançados na região decorrem muito mais de políticas de transferência de recursos e de incentivo ao consumo. São, pois, de alcance limitado, insuficientes para superar os seculares atrasos que afligem a região. O poder público, em especial o governo federal, não tem buscado promover o desenvolvimento autônomo e altivo do Nordeste.

Não houve nos anos recentes nenhuma estratégia de desenvolvimento regional que efetivamente impulsionasse a economia nordestina e permitisse a implantação de um robusto parque produtivo local. O Nordeste continua dependente da boa vontade do poder central, e isso não pode continuar assim.

O Nordeste tem 18% da área, 13,5% do PIB, 27% da população, mas menos da metade da renda do Brasil: se fosse um país, a região teria apenas o 145° maior PIB per capita do mundo. É preciso fazer diferente e mudar esta realidade e esta desigualdade.

Para superar o atraso, o Nordeste precisa de um grande projeto estruturante, com alcance de longo prazo. Esta estratégia deve estar baseada na constituição de um amplo plano integrado de infraestrutura que interligue portos, ferrovias, rodovias, aeroportos, hidrovias e também integre a região ao mundo.

A solução para o Nordeste passa, também, pelo desenvolvimento de uma política séria de convivência com a seca, numa área onde 21 milhões de pessoas, o equivalente a 40% da sua população, vive no semiárido.

Não é nada disso o que temos hoje: 
nos últimos anos, o Nordeste viveu a sua pior seca em mais de cinco décadas, afetando 10 milhões de pessoas. No entanto, apenas 22% das obras emergenciais para seca prometidas pelo governo Dilma foram entregues.

A transposição do São Francisco poderia ser um primeiro passo, mas a obra arrasta-se: canais que deveriam estar transportando água desde 2010 hoje deterioram-se sob o sol, secos. Transportar água não é suficiente; é necessário fazê-la chegar aonde deve, com obras complementares que garantam melhor aproveitamento e distribuição dos recursos hídricos da região.

Além disso, também devem ser disseminadas tecnologias para produzir em áreas de pouca água e solos não muito férteis. Elas já existem, desenvolvidas, sobretudo, pela Embrapa: variedades de sementes adaptadas ao semiárido e mesmo a criação de caprinos, barata e viável com pouca água. 
Ou seja, solução há, basta aplicá-las.

Para promover a necessária arrancada que o Nordeste merece, é preciso um plano de longo prazo, planejamento cuidadoso e adequado. É tudo o que, infelizmente, a região não tem hoje. As promessas foram muitas, mas viraram um cemitério de obras inacabadas. A lista é longa.

Prometida para 2010, a Transnordestina tem hoje apenas 262 km dos 1.728 km previstos prontos. A ferrovia Oeste-Leste deveria estar concluída em julho passado, mas não tem um metro sequer de trilho assentado. A Abreu e Lima será a mais cara refinaria já feita no mundo: seu valor multiplicou-se por dez num intervalo de seis anos.

Hoje falta até energia para o Nordeste avançar: nos últimos dois anos, a região sofreu quatro grandes apagões – o último, há menos de um mês, deixou os nove estados no escuro. O Nordeste vê-se obrigado a importar energia de outras regiões, mesmo tendo 19 parques eólicos prontos, mas parados, porque não dispõem de linhas de distribuição.

Um número sintetiza esta incúria, este desleixo, esta parca atenção dispensada pelo governo petista ao Nordeste. Em 2011, o governo Dilma anunciou investimentos de R$ 215 bilhões na região dentro do chamado PAC 2. Deste valor, até hoje, quase três anos depois, apenas R$ 17 bilhões foram aplicados, o que equivale a 8% do prometido. Numa frase: falta compromisso.

Só se supera este estado de coisas com bom planejamento, capacidade de gestão e seriedade. É possível dar um salto adiante. O Nordeste tem enormes potencialidades, como o turismo, a fruticultura irrigada e indústrias em ascensão, como a de calçados.

Entretanto, a maior potencialidade do Nordeste é seu povo: o nordestino arretado, o sertanejo incansável e sua alegria infindável. Mas são especialmente os jovens nordestinos os vetores do salto para o futuro que a região precisa e vai dar.

Os nordestinos querem, e terão, mais e melhores empregos, formação profissional de maior qualidade e oportunidades para subir na vida com suas próprias pernas, sem paternalismo. Terão, também, mais segurança: não dá mais para assistir a escalada de violência que golpeia a região sem que a União sequer esboce reação.

Além disso, aqueles que dependem do Estado devem continuar contando com o apoio e o auxílio financeiro do poder público. Isso é um direito assegurado e não muda. Mas este deve ser um ponto de partida, jamais uma meta de chegada.

Chegou a hora de fazer do Nordeste um lugar melhor, mais justo com seu povo e sua história de luta. Até porque o Nordeste não é problema, o Nordeste é solução.

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Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

HERANÇA MALDITA DO CACHACEIRO FALSÁRIO E PARLAPATÃO : Propaganda enganosa


O governo da presidente Dilma Rousseff está entrando em sua reta final, e o que se pode concluir é que a marca dos quatro anos da primeira mulher a chefiar o Executivo brasileiro será a da decepção.

Do ponto de vista econômico, a técnica, que era apontada em campanhas de marketing como grande gestora, será carimbada pela perversa combinação de baixo crescimento e inflação alta. Politicamente, o retrato a ser observado pelas próximas gerações será o de um comando desastroso, que, por falta de visão e excesso de pretensão, repetiu erros do passado ao se aliar ao que de pior há entre os partidos que lhe dão sustentação.

Afeita a críticas como forma de encobrir a incompetência de sua equipe, Dilma fez opções erradas que vão custar caro ao país. Acreditou que, por estar sustentada em índices recordes de aprovação popular, poderia seguir um caminho próprio, batizado de nova matriz econômica. Com uma visão intervencionista, sempre pautada em interesses eleitoreiros, acreditou no equívoco de que um pouquinho mais de inflação poderia levar o país a um crescimento mais forte.

Fora da realidade, teve a convicção de que o Estado seria capaz de tocar todos os projetos de infraestrutura que o Brasil necessita para se modernizar e se tornar mais competitivo. No primeiro ano de governo, anunciou obras espetaculares, garantindo que, como gestora experiente e mãe do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida, tinha conhecimento de sobra para pôr em prática empreendimentos que mudariam a cara do país.

No segundo ano, nada do que Dilma havia anunciado tinha saído do papel. Infelizmente, prevaleceu a ineficiência.

 
Mesmo com a clareza da incapacidade do governo de tocar as obras, a presidente resistiu, por ideologia, aos apelos para que os projetos de infraestrutura fossem transferidos à iniciativa privada. Quando se convenceu de que o Estado nada podia, deu ouvidos a auxiliares de que os empresários deveriam ter o mínimo de lucro possível com rodovias, aeroportos, ferrovias e portos. Inflada por marqueteiros, lançou os programas de concessões em cerimônias pomposas no Palácio do Planalto, eventos repletos de promessas de um Brasil melhor. Tudo propaganda enganosa.

Corrupção corre solta

Agora, às vésperas de mergulhar de vez na campanha da reeleição, Dilma está tomando uma sova da desconfiança que ajudou a disseminar pelo país. Pior, não bastasse a incompetência da gestão, são cada vez mais frequentes os casos de corrupção envolvendo indicados dos partidos que a presidente tanto conta para sair vitoriosa das urnas em 2014.

No Ministério do Trabalho, comandado pelo PDT, metade da cúpula já caiu por ter surrupiado pelo menos R$ 400 milhões dos cofres públicos por meio de convênios fraudulentos. Nos últimos dias, o Planalto foi obrigado a exonerar um assessor direto da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, do PT, e um funcionário da total confiança do ministro da Previdência, Garibaldi Alves, do PMDB, por participarem de uma gangue que lavou pelo menos R$ 300 milhões em pouco mais de um ano e meio, roubando, principalmente, dinheiro da aposentadoria de servidores municipais.

Se conseguir a reeleição, Dilma terá de lidar com toda a herança maldita que
criou desde 2011


E que ninguém se espante se o próximo alvo da Polícia Federal for o Ministério da Agricultura, que foi entregue ao PMDB do deputado Eduardo Cunha (RJ), cuja ficha corrida espanta até os mais espertalhões da Esplanada. Ou seja, a faxina que Dilma tanto alardeou logo depois que tomou posse também não passou de marketing. Só fez o que fez porque precisava, naquele momento, prestar contas às denúncias da imprensa.

Opção pela incompetência

Com Dilma entrando na reta final de seu mandato, os investidores começam a montar os cenários do que poderá ser um segundo governo da petista. De uma coisa todos estão convencidos: se conseguir a reeleição, ela terá de lidar com toda a herança maldita que criou desde 2011, ao ser leniente com a inflação, ao priorizar a arrogância em vez do diálogo, ao incentivar a gastança e avalizar a maquiagem fiscal, ao se afastar do capital e acreditar em um Estado superpoderoso, que poderia, com dinheiro público, eleger empresas vencedoras, como as dos grupos de Eike Batista e Marfrig, todas simbolizando o fracasso de políticas equivocadas.

Se ao menos conseguisse botar os pés no chão e parasse de culpar os pessimistas pelos erros do governo, talvez Dilma indicasse um horizonte melhor a partir de 2015. Um caminho seria dar autonomia formal ao Banco Central, que hoje está totalmente sem crédito para tocar a política de combate à inflação. Outro, seria pôr fim à indexação do salário mínimo ao Produto Interno Bruto (PIB) e à inflação passada. A indexação do piso salarial é, atualmente, a principal responsável pela resistência dos preços dos serviços, que se mantêm acima de 8% no acumulado de 12 meses, dificultando a convergência da carestia para o centro da meta, de 4,5%, perseguida pela BC.

Nas contas dos analistas, apenas esses dois pontos seriam capazes de reduzir em pelo menos um ponto percentual o custo de vida projetado pelo mercado para 2014, de 5,9%. Nesse contexto, Dilma poderia reduzir os juros, mesmo com o dólar se acomodando acima de R$ 2,30 para ajudar as exportações e reduzir o rombo das contas externas, e não precisaria se preocupar tanto com a mudança da política monetária do Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, que deu uma trégua, mas continua sendo uma ameaça assustadora para o Brasil do atraso, que vigora hoje.

Apesar de medidas que não exigiriam tanto desgaste do governo, poucos acreditam que a presidente optará por elas. A tendência é de que prevaleça a miopia da arrogância, comportamento típico dos incompetentes.

Correio Braziliense
Vicente Nunes/Editor de Economia

SEM "MARQUETINGUE" ! NO BRASIL REAL ASSENHOREADO E ESTROPIADO PELOS CANALHAS... Estatal manipulada

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Nos últimos anos, em particular, a partir de 2008, o mercado em geral e os acionistas da Petrobras passaram a perceber a utilização da companhia como complemento de política econômica e verificar um distanciamento das expectativas que os levaram a investir na estatal após a abertura de 1997.

As causas da deterioração são conhecidas e o problema é que muito se fala e muito pouco se faz.

Enquanto isso, os números da empresa vão piorando e o horizonte continua de cinza para negro. Exemplos não faltam. O governo obriga a empresa a manter os preços domésticos defasados em relação ao mercado internacional com o objetivo de controlar a inflação e incentivar a atividade econômica.

Desde 2003 a defasagem dos preços da gasolina e do disel promoveu perdas de mais de R$ 40 bilhões. Em 2013 a estatal tem perdido algo em tomo de 1 bilhão de reais mensais só com a importação de gasolina e diesel. Paralelamente, o crescimento da demanda incentivado pelo preço artificialmente baixo levou a empresa a importar grandes volumes de gasolina e diesel.

Entre o 1º trimestre de 2010 e segundo trimestre de 2013, a área de abastecimento da Petrobras já acumula prejuízo de cerca de R$ 36 bilhões e as importações de gasolina cresceram 395%. Por conta disso, a empresa tem tido dificuldade para cumprir seus cronogramas de investimento, e o resultado tem sido o atraso em vários projetos e a queda na produção.

Outro caso emblemático é a construção da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, refletindo problemas relativos à gestão de projetos na Petrobras. Ao longo da construção, o custo previsto do projeto se multiplicou por dez, de US$ 2,3 bilhões para US$ 20,1 bilhões. Isso sem falar na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, por um preço ainda não explicado de forma transparente.

Como resultado de todos esses desmandos, a lucratividade da empresa desabou, levando ao aumento de seu endividamento. Apesar de em 2010 realizar a maior capitalização da história, que gerou uma injeção de R$ 45 bilhões em seu caixa, a empresa se encontra hoje perigosamente perto dos níveis que fariam com que perdesse seu status de investment grade.

O seu endividamento cresceu 210% após a capitalização, e sua relação dívida líquida/ebtida e dívida líquida/capital líquido se encontram em 2,9x e 34%, respectivamente, mesmo com a empresa se utilizando de "contabilidade criativa" que reduziu 70% do impacto da desvalorização cambial sobre a sua dívida. Agora a saída encontrada é o plano de desinvestimento, onde a empresa está vendendo ativos, como metade dos campos de petróleo que possuía na Africa.

O próximo passo poderá ser a promoção de uma nova capitalização após as eleições de outubro de 2014, o que irá provocar uma diluição maior dos minoritários, aprofundando o movimento de estatização da empresa. Pouco ou nada a comemorar em outubro quando a Petrobras completará 60 anos.

  Adriano Pires / Diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura