"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 10, 2011

POIS É! O RISCO DILMA DO "PARA O BRASIL SEGUIR MUDANDO" PODE SE "CONSOLIDAR".

A bola de cristal do governo para prever o comportamento da inflação não está funcionando.

Em setembro, os preços voltaram a contrariar os prognósticos oficiais e levaram o país a exibir o mais alto índice dos últimos seis anos.

Na atual gestão, as perspectivas só pioraram.
É o "risco Dilma".


A inflação acumulada em 12 meses está agora em 7,31%, de acordo com o IPCA de setembro,
divulgado pelo IBGE na sexta-feira. A última vez em que o país registrara nível tão elevado fora em maio de 2005.

Entre janeiro e setembro, o índice também já supera a meta do Banco Central para o ano, tendo chegado a 4,97%. Será difícil até mesmo a inflação se sujeitar ao limite superior da meta, de 6,5%.

A recidiva inflacionária já começara a preocupar nos últimos meses do ano passado, quando a política de gastos excessivos levada adiante pela gestão do PT manteve o mercado interno aquecido além da conta.

Ao longo deste ano, cinco altas sucessivas da taxa básica de juros tentaram conter a escalada.
Sem sucesso, porém.


Na realidade, a situação só piorou na gestão Dilma Rousseff. Quando ela assumiu a presidência, em janeiro, as expectativas de inflação eram de 5,34% para 2011 e de 4,5% para 2012.

Hoje, conforme o Boletim
Focus divulgado nesta manhã, as previsões são de 6,52% para este ano e de 5,59% para o próximo.

Diante destas constatações, não parece exagero falar em "risco Dilma" associado à ameaça de perda do controle da estabilidade da moeda que o governo da presidente tem demonstrado.

Nos últimos meses, tornou-se voz corrente na Esplanada que é preferível mais crescimento econômico a menos inflação, mas a gestão atual não está conseguindo entregar nem uma coisa nem outra.


O governo parece satisfeito em voltar a ser uma espécie de sócio da inflação, situação comum em épocas de triste memória, quando os gestores públicos usavam a alta de preços para engordar a arrecadação e fazer as contas caberem em seus orçamentos.


O Estado de S.Paulo ouviu alguns analistas e calculou que a inflação acima da meta neste ano deve gerar um volume adicional de receitas de R$ 6,5 bilhões a R$ 10 bilhões para os cofres federais.

É um péssimo negócio, porque o custo da perda da estabilidade é infinito.


Outro problema é a rala credibilidade que vêm demonstrando os compromissos e os prognósticos oficiais. Quando 2011 chegou, a equipe econômica falava que lá por abril a inflação começaria a dar trégua.

Mas nada; os índices continuaram subindo.

Depois, a equipe econômica e o BC passaram a prever para agosto ou setembro o ponto de inflexão.

Como se pôde ver na sexta-feira, foi novo tiro n'água.
Mas Alexandre Tombini diz que agora é para valer e que, em outubro, os índices de preços começarão a retroceder, segundo entrevista publicada no domingo pela
Folha de S.Paulo.

A verdade é que o governo receberá o socorro de efeitos estatísticos. Como a inflação do fim de 2010 foi muito alta (média mensal de 0,74%), é muito pouco provável que isso se repita agora, levando o índice acumulado no ano a decrescer daqui para frente.

Se a média mensal não ultrapassar 0,48% até dezembro, a inflação fechará o ano dentro dos limites da meta.
Mas o fato é que a inflação está disseminada por mais de 60% da cesta de produtos e entre as maiores altas estão as dos alimentos.

Há quem veja um cenário de "inflação generalizada", como Reginaldo Nogueira, professor de economia do Ibmec ouvido pela
Folha de S.Paulo.

Como não dá para ficar sem comer, a escalada de preços bate direto no bolso dos mais pobres. Alguns alimentos tiveram alta expressiva em setembro:
feijão carioca (6,14%),
açúcar refinado (3,82%) e cristal (3,42%),
frango (2,94%)
e leite (2,47%).

Some-se a isso o comportamento dos preços de serviços, que acumulam alta de 9,04% nos últimos 12 meses.
O governo aposta numa ajuda da crise econômica externa, que frearia o encarecimento das commodities.

Mas isso também não aconteceu em setembro, quando o efeito combinado da oscilação das cotações e a desvalorização do real no Brasil resultaram numa alta das matérias-primas de 7,83%.

Tudo considerado, a conclusão é que continuamos flertando perigosamente com o descontrole de preços.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela