"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 18, 2013

O BUFÃO DA CORTE. OU : Por que não te calas, Mantega?


Guido Mantega tornou-se celebridade mundial no campo das finanças por causa de suas profecias que nunca se confirmam. Mas o ministro da Fazenda de Dilma parece não estar satisfeito com o lugar que já conquistou no anedotário econômico. Ele agora quer dar aula de economia e reescrever a história. Deveria se calar.

O Estado de S.Paulo publica em sua edição de hoje declarações de Mantega que seriam risíveis se não fossem trágicas e graves. O ministro convocou repórteres para reagir a uma entrevista dada por Armínio Fraga e publicada ontem no mesmo jornal. Nela, o ex-presidente do Banco Central fez as críticas que todos vêm fazendo à política errática e equivocada de Mantega.

Segundo Armínio, o governo petista intervém em excesso na economia, comete barbeiragens na condução da política econômica, isola o Brasil do resto do mundo e, principalmente, tem sido responsável por produzir um ambiente de instabilidade, com juros altos, inflação renitentemente elevada e frouxidão fiscal.

"O governo continua, até prova do contrário, com uma postura geral muito fechada, antiquada. Repetindo muita coisa que a gente já viveu, principalmente nos anos 70, no governo Geisel. Um modelo com foco nas estatais, e com a economia bastante fechada. Não levo fé nesse governo como fórmula para o nosso sucesso a longo prazo. Ao contrário, acho que, se não for modificado, vai nos dar dor de cabeça", afirmou o ex-presidente do BC, com polidez até demais para o alto nível de mediocridade que grassa na gestão federal. 
Alguém há de discordar do que disse Armínio? Apenas Mantega. O homem da bola de cristal que nunca consegue prever o futuro com acuidade agora prefere usar suas ferramentas para rever o passado com maldade, ou, mais provavelmente, com má-fé mesmo.

Num rosário de críticas infames ao governo do PSDB ("se os tucanos estivessem à frente da economia brasileira durante a explosão da crise mundial, em 2008, o Brasil teria quebrado"), o ministro afirma que, na gestão do presidente Fernando Henrique, os juros eram mais altos e a inflação também. Esquece-se, porém, de mencionar que as condições de ontem e de agora são muito, muito distintas.

Naquela época, os juros estavam altos não apenas no Brasil, mas no mundo todo, em meio a turbulências que produziram quatro crises globais em série no curto período de oito anos.

Situação bem diferente da atual, em que o ambiente econômico foi, durante anos, de céu de brigadeiro e em que bastou uma crise se instalar para o país, sob a gestão petista, perder completamente o rumo. Hoje, enquanto as principais economias praticam juros negativos, o Brasil de Mantega exibe a mais alta taxa de todo o mundo.

Mas o ministro vai mais longe e posa de paladino do combate à inflação. 
É tudo o que Mantega não deveria fazer. Ou melhor, não pode fazer.

Talvez ele se esqueça de que - como "assessor econômico" de Lula entre 1993 e 2002, conforme expõe em seu currículo oficial - tenha sido um dos artífices da raivosa oposição que o PT empreendeu contra o Plano Real, a iniciativa vitoriosa que extirpou a hiperinflação que por anos manietou o país e massacrou os brasileiros, principalmente os mais pobres.

Mantega também talvez prefira que ninguém se lembre de que o principal motivo para o estouro da inflação no fim do governo Fernando Henrique foi o temor diante das propostas que o PT acalentou durante anos para a economia e que tinham nele seu principal formulador - foi preciso Antonio Palocci escanteá-lo na função para que o receio se dissipasse e o partido chegasse à vitória.

Voltando ao presente, Mantega talvez pudesse olhar para o próprio umbigo para reconhecer que a situação não anda bem. Ou poderia simplesmente ter lido a ata que o Comitê de Política Monetária divulgou ontem, preparando o país para novas elevações da taxa básica de juros a fim de conter uma inflação que "ainda mostra resistência" - mesmo após cinco altas seguidas da Selic, agora campeã mundial. O céu é o limite.

Quando teve início a gestão Dilma, Mantega encheu-se de planilhas e powerpoints para prever que o governo da presidente legaria ao país um crescimento médio do PIB de 5,5% ao ano até 2014. Mas mal passaremos de 2%. Com seus prognósticos fantasiosos, o ministro da Fazenda do Brasil tornou-se motivo de chacota em todo o mundo. 
Com o fim desta deplorável experiência pela qual o Brasil passa aproximando-se, o governo no qual Guido Mantega pontifica produzirá o pior desempenho desde Fernando Collor e o terceiro menor crescimento em mais de 100 anos de República. Com este currículo, o ministro da Fazenda deveria se dar por satisfeito por ainda não ter sido aposentado. Motivos para isso há de sobra.


ITV
Por que não te calas, Mantega?

SERÁ ? Chegou a vez do avesso. OU DE PREMIAR CULPADOS?


Em relação ao Brasil, alguém já constatou que somos um povo em nada original. A cada 15 ou 20 anos - 30, no máximo - estamos condenados a repetir os mesmos erros da etapa anterior, sempre convictos de que a mudança da ocasião é ímpar e, portanto, única em nossa História.

Isso se deve, em grande parte, ao cristianismo e ao seu conceito de "flecha do tempo". Para a maioria das civilizações, o tempo é cíclico, para não dizer "circular". Para nós, não. Se, ao contrário, pensássemos como os outros, certamente nos teríamos poupado de um sem-número de dissabores. Mas o que há de se fazer?

Sou adepto da tese de que a História se repete, sim. E ai daqueles que não se acautelam contra isso. Como os raios, que caem frequentemente nos mesmos lugares, as enchentes e as secas se alternam com a mesma frequência e, no que tange à política nacional, ditaduras e democracias sempre se alternam no poder. E sempre haverá salvadores da Pátria, mesmo que pouco lhes importe saber se a Pátria deseja realmente ser salva.

Para comprovar esse raciocínio basta lembrarmos o que era e almejava o Brasil de 36 anos atrás. O ano de 1977 foi marcante para mim, pois foi quando entrei na faculdade. Com a abertura política durante o governo Ernesto Geisel, já se prenunciava o ocaso da ditadura militar, enfim consumado em 15 de março de 1985, com a saída do Planalto do general João Figueiredo.

As vésperas da transição para a chamada Nova República, o clima era de fim de festa. Os militares, ao menos os mais sinceros e idealistas, queriam realmente deixar o poder. O que temiam eram represálias. Todavia o presidente eleito, Tancredo de Almeida Neves, com sua experiência e sua autoridade moral, garantiu-lhes que nada disso aconteceria. Tancredo já havia dialogado com todas as lideranças representativas da Nação e arrancara de cada uma delas o compromisso de manter a paz, custasse o que custasse.

Assim sendo, nada impedia uma transição pacífica. 
Quer dizer, nada a não ser a saúde do próprio Tancredo Neves. 
Os fados do tempo sempre nos pregaram peças... 
E foi justamente no dia anterior à posse que eles ressurgiram e terminaram por nos infligir a morte do futuro presidente da República, depois de longa agonia, em 21 de abril de 1985.

Na manhã de 15 de março o Congresso Nacional empossara o vice interinamente. E logo surgiu uma suposta lista de ministros escolhidos por Tancredo, cuja autenticidade, se ninguém podia comprovar, tampouco se atreveria a contestar publicamente. O documento, divulgado postumamente, deu força de lei ao que hipoteticamente seria a vontade de Tancredo Neves. Assim, José Sarney assumiu a Presidência com um Ministério que estava longe de ser o de sua escolha pessoal.

Tudo isso custaria muito caro à Nação. A torrente de "gastos sociais" aprovados por muito pouco não levou o País à bancarrota. Mas levou ao FMI, o que, na prática, dava na mesma. O Brasil tomara-se um pária do mercado internacional.

Esses fatos, somados a outros tantos, começaram a abrir caminho para a hipótese PT. E esta acabou por se tomar viável nas eleições de 2002.

O Partido dos Trabalhadores funcionava como uma verdadeira orquestra. Cada um de seus membros - foi provado depois - sabia exatamente como agir ou deixar de fazê-lo. No comando de todos estava José Dirceu -personagem singular e fascinante, que sempre traiu, mas nunca fora traído, foi mais esperto que os irmãos Fidel e Raúl Castro e virou herói de guerra sem nunca ter entrado em combate. Também fez fortuna sem jamais ter trabalhado.

Segundo a acusação na Ação Penal 470 (mensalão), Dirceu era nada menos que o cérebro de uma "organização criminosa". Ele foi o guardião das moçoilas do interior, bem como objeto de desejo das balzaquianas das capitais. Por sinal, uma delas frequenta as páginas das revistas e consta que ganha muito dinheiro traficando influência e "facilitando" negócios espúrios.

Mas agora, completando mais um ciclo, o pêndulo da História dá evidentes demonstrações de que caminha para o lado oposto. Eis que surge uma chapa para concorrer à próxima eleição presidencial que se lastreia na ética como o seu principal trunfo. Aliás, se não fosse assim, nem sequer teria razão de existir. O voto em Marina Silva brota do descontentamento das ruas. E as ruas, como está patente desde junho, não estão dispostas a tolerar o menor deslize que seja.

Como eu defendia no início deste artigo, o tempo é cíclico. E com a mesma certeza com que esperamos pelo verão após a primavera e pelo dia após a noite, sabemos que depois da tempestade sempre vem a bonança - ou a enchente, segundo os mais pessimistas...

O PT abusou do "direito" de delinquir. Enquanto a economia parecia ir bem, o povo tolerou os seus desmandos. Não é mais o caso. A economia estagnou, a inflação ameaça disparar e nós descobrimos que o sonho do Brasil potência que acalentávamos não passou disso mesmo: 
foi apenas um sonho, mais um em nossa atribulada vida.

Agora, depois de todas essas barbaridades, um novo ciclo, que é a antítese do atual, se apresenta no horizonte, com Eduardo Campos, moralmente avalizado por Marina Silva. E o avesso do que temos visto, ao menos nos últimos dez anos

Por menos que se queira, Eduardo e Marina representam, sim, um alento de renovação na política brasileira. Ela é evangélica e intransigente defensora da preservação das matas e do "povo dos bosques", de acordo com suas próprias palavras. Seu modo de se exprimir traZ uma espécie de ingenuidade rara de se ver. E indica também as suas convicções. Ele, por sua vez, traz a fama de excelente administrador.

Falta-nos saber se Eduardo Campos é, como Bayard, un chevalier sans penr et sans reproche (um cavaleiro sem medo e sem jaça, em tradução livre). Mas agora não nos cabe sequer desistir. A pior da renúncias, sem dúvida, é a renúncia à esperança.

O novo ciclo que se apresenta no horizonte, com Marina e Eduardo, é a antítese do atual. 

João Mellão Neto
Jornalista. foi deputado. secretário e ministro de estado
Chegou a vez do avesso 

O desencontro entre voto e ideologia



A classificação de ideologias pelos termos "direita" e "esquerda" inspirados na localização física dos blocos conservador e revolucionário na Assembleia Nacional durante a Revolução Francesa, no fim do século XVIII, nem sempre consegue ser fiel à realidade.
E cada vez menos.

O fim do "socialismo real" com a implosão da União Soviética, provocada por suas próprias contradições — como explicaria um marxista — embaralhou ainda mais as coisas. O populismo cha-vista é de direita ou de esquerda? Vargas, saudado pela esquerda, namorou o Terceiro Reich nazista e o fascismo de Mussolini. Alista de aparentes paradoxos é extensa.

A situação fica também confusa quando se pergunta, hoje, ao eleitor brasileiro em que ponto cardeal ele se situa no mapa da ideologia, e se cruza a informação com a intenção de voto de cada um.

É o que o Datafolha fez na última pesquisa eleitoral, segundo a "Folha de S.PauIo" Há um enorme desencontro entre a autode-clarada posição ideológica e a opção de voto. Um exemplo é a presidente Dilma Rousseff, do PT, símbolo da esquerda, receber 39% dos votos dos que se dizem de direita, mais que o tucano Aécio Neves (24%), considerado candidato direitista pela militância do PT.

Se houvesse uma correlação lógica entre ideologia autodeclarada e eleição, os partidos e candidatos ditos de esquerda não teriam vez. Afinal, 49% do eleitorado brasileiro se consideram de "centro-direita e direita, contra apenas 30% de "esquerda" e "centro-esquerda"


Há várias possibilidades de análise, como a que questiona a capacidade de a grande massa da população se qualificar entre direita e esquerda. Mais ainda nestes tempos de geleia geral ideológica. Pode ser, ainda, que, dada a baixa qualidade da educação política em geral, o voto seja, na sua essência, destinado a quem, em troca, concede ao eleitorado melhorias de qualidade de vida — emprego, aumentos salariais, inflação baixa. Independentemente do posicionamento ideológico do governante.

Por trás de tudo, há, ainda, uma estrutura partidária distorcida, sem legitimidade e, portanto, de baixa qualidade de representação. Dos 32 partidos, dos quais 24 com bancadas no Congresso, poucos têm uma postura ideológica com alguma definição clara.

A grande maioria é de legendas nanicas, usadas no balcão de negociatas político-eleitorais. Como a legislação é leniente, há uma excessiva pulverização de partidos, especializados em negociar, literalmente, a cessão de tempo na propaganda gratuita em TV e rádio, a moeda de troca do baixo clero.

Os partidos políticos brasileiros não contribuem para o aprimoramento político-ideológico do eleitorado, por não formularem propostas de governo e poder.

São apenas meio de vida, às vezes escuso. 
Um dos reflexos deste quadro de mediocridade está nesta pesquisa do Datafolha.
O Globo

E NO brasil maravilha dos FARSANTES SOB "CONTROLE" : Prévia da inflação oficial avança 0,48% em outubro

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15), considerada uma prévia do IPCA cheio, registrou alta de 0,48% em outubro, após subir 0,27% em setembro.

O resultado, divulgado nesta sexta-feira, 18, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou acima do teto das estimativas dos analistas do mercado financeiro consultados pelo AE Projeções, que esperavam inflação entre 0,36% e 0,46%, com mediana de 0,42%.

Com o resultado, o IPCA-15 acumula altas de 4,46% no ano e de 5,75% em 12 meses até outubro.


Alimentos e habitação
A aceleração observada no IPCA-15 de outubro foi impulsionada pelas altas nos grupos de alimentação e habitação. Juntos, eles formaram 56% do índice do mês, com impactos de 0,17 ponto porcentual e de 0,10 ponto porcentual, respectivamente. Na taxa 12 meses até outubro, contudo, o IPCA-15 desacelerou para 5,75%, ante 5,93% até setembro. A alta nos preços em alimentação foi de 0,70%, contra apenas 0,04% no IPCA-15 de setembro.

Na região metropolitana de São Paulo, o grupo chegou a registrar alta de 1,22%. O item carnes, que subiu 2,36%, ficou à frente nos principais impactos individuais, com 0,06 ponto porcentual. Além dele, alimentos importantes no consumo das famílias passaram a custar mais, especialmente o frango (4,87%), as frutas (3,32%) e o pão francês (2,62%). Já o grupo habitação acelerou para alta de 0,67% em outubro, contra 0,53% em setembro.

Os destaques ficaram com gás de botijão (2,36%), aluguel residencial (1,02%) e condomínio (0,90%), enquanto as contas de energia elétrica ficaram 0,14% mais baratas. Apesar da pressão exercida por alimentos e habitação, os grupos com resultados mais elevados foram artigos de residência (0,97%, ante 0,52% em setembro) e vestuário (0,88%, ante 0,37%).

Os eletrodomésticos, cujos preços subiram 1,54%, e os artigos de mobiliário, com alta de 1,11%, exerceram pressão sobre os Artigos de Residência. Em Vestuário os destaques ficaram com calçados (1,38%) e roupas femininas (1,26%). Já os grupos saúde e cuidados pessoais (0,35%, ante 0,56% em setembro) e transportes (0,08%, ante 0,30%) mostraram reduções nas taxas na passagem do mês.

Em transportes, o destaque ficou com as passagens aéreas, com queda de 1,99%, e para a gasolina, com recuo de 0,37%.

O período de coleta do IPCA-15 é de 13 de setembro a 11 de outubro, e a comparação dos preços é feita com o período de 14 de agosto a 12 de setembro. O indicador refere-se às famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos e abrange as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife, São Paulo, Belém, Fortaleza, Salvador e Curitiba, além de Brasília e Goiânia.


Idiana Tomazelli, da Agência Estado