"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 30, 2013

CALA A BOCA "EXTRAORDINÁRIA" ! FOSTES ELEITA SÓ PARA "FIGURAR", PENSAR ESTÁ ALÉM DA SUA CAPACIDADE : Tropeçando nas palavras

Dilma Rousseff parecia muito senhora de si quando se aventurou, na pele de economista que é, a falar sobre a inflação brasileira, ontem na África do Sul. Instantes depois, tinha produzido um desastre e lançado toda a sorte de dúvidas sobre o real compromisso do seu governo com o combate à persistente elevação dos preços no país. 

Restou claro o pouco valor que a presidente da República e seu partido dão à estabilidade da nossa moeda.

A fala de Dilma foi interpretada por agentes econômicos como sinal de que seu governo continuará sendo tolerante com uma taxa de inflação que já é uma das mais altas do mundo. Também serviu para enfraquecer o Banco Central, que recentemente vinha apontando que o nível de preços no país encontra-se em patamar "desconfortável", num sinal de que a taxa de juros pode vir a ser aumentada para combatê-lo.

O que Dilma disse ontem foi: "Não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico. (...) Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é complicado, você entende? 


Eu vou acabar com o crescimento do país. 
Isso daí está datado, isso eu acho que é uma política superada", de acordo com a transcrição oficial.

Irritada com a repercussão que suas palavras causaram, a presidente deflagrou uma operação conserta-estrago para tentar amenizar os efeitos de sua infeliz manifestação. Depois de ter dito que quem trata de juros é o ministro da Fazenda, o que é um crasso erro, pois quem tem autonomia operacional para isso é o BC, escalou o presidente do banco para pôr panos quentes no assunto.

Não foi suficiente, e o Planalto foi obrigado a divulgar um comunicado desdizendo o que Dilma dissera horas antes. Novamente insuficiente. Já no fim do dia, a presidente deu rápida e ríspida declaração à imprensa dizendo que sua declaração fora "manipulada". 


Ou seja, em poucas horas ela conseguiu produzir uma sucessão de equívocos. Em suma, falou bobagem.

Em sua excessiva autoconfiança, Dilma acabou pondo para fora qual é sua real visão de mundo sobre a estabilidade da nossa moeda. Sua crença repousa na
velha e furada tese, muito difundida entre petistas, de que um pouquinho mais de inflação não faz mal, se servir para produzir mais crescimento econômico. 


A escalada de preços seria, nesta distorcida forma de enxergar as coisas, um mal menor.

Trata-se de uma cascata sem tamanho e não é preciso ir longe para comprovar. Nos últimos dois anos, o Brasil teve crescimento muito abaixo do das demais economias, ao mesmo tempo em que conviveu com inflação sempre acima da meta e muito mais alta do que a que se verifica ao redor do globo.


 Ou seja, com o PT, temos baixo crescimento e alta inflação - padrão que Dilma ontem sancionou.

"O problema é que tem um jeito certo e um jeito errado de combater a inflação na cabeça dela [da presidente], e o jeito que ela considera errado é o jeito que todo mundo considera certo", comenta o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC,
n'O Estado de S.Paulo.

Ainda neste mês de março, a inflação acumulada nos últimos 12 meses medida pela IPCA deve estourar o limite superior da meta, ou seja, ultrapassar 6,5% ao ano. Mesmo assim, Dilma acha que tudo está normal. "Nós não achamos que a inflação está fora de controle, pelo contrário, achamos que ela está controlada e o que há são alterações e flutuações conjunturais."

Não há nada de conjuntural na inflação brasileira. Ela vem se mantendo alta, e acima dos padrões internacionais, há tempos: nos últimos dez anos de gestão petista, em apenas três o índice de preços no país obedeceu à meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional.

O apreço do PT pela estabilidade da moeda - uma das maiores conquistadas da sociedade brasileira na história recente - é nulo. À época do lançamento do Plano Real, o partido de Dilma foi para as ruas protestar contra as medidas de estabilização, classificadas por eles como "estelionato eleitoral".

A maior irritação de Dilma Rousseff, no episódio de ontem, talvez tenha sido com o fato de que sua peculiar e reprovável visão de como tratar de uma chaga da economia nacional tenha ficado exposta em cores berrantes. Será difícil a presidente mostrar, apenas com palavras, que não tem sido tolerante e leniente com a inflação. 

Se quiser convencer, terá que agir e domar o dragão que tanto mal está fazendo aos orçamentos das famílias brasileiras, principalmente o das mais pobres.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Tropeçando nas palavras

COM A GERENTONA FALSÁRIA : A gangorra na política fiscal traz insegurança

Foram desanimadores tanto o resultado do Tesouro Nacional - déficit de R$ 6 bilhões, divulgado na quarta-feira - quanto o do setor público consolidado (governo central, Estados, municípios e estatais) - déficit primário de R$ 3 bilhões, divulgado na quinta-feira.

Ante os bons resultados de janeiro e os de fevereiro, o que se vê são as contas públicas numa gangorra, fazendo lembrar os críticos da política do ministro Mario Simonsen, nos anos 80. Mesclavam-se, naqueles tempos, períodos de estímulo ao crescimento com fases de arrocho monetário. 

Era a política do stop and go (para e anda, na tradução literal do inglês). 
Os que diziam que aquela política passava ao largo da credibilidade podem dizer o mesmo da política fiscal atual.

Um dos pontos mais inquietantes é que as contas fiscais deixam de ser previsíveis. A meta para 2013 é ter um superávit primário no setor público consolidado de R$ 155,85 bilhões, mas o governo pode reduzir esse montante de R$ 65,2 bilhões. Na quinta-feira, ao comentar o Relatório de Inflação, um diretor do Banco Central (BC), Carlos Hamilton de Araújo, evitou responder sobre o impacto das contas fiscais sobre a inflação. 

"Não cabe ao BC falar sobre contas fiscais", disse.

O déficit nominal do setor público - medida mais importante de avaliação das contas - atingiu o elevado valor de R$ 23,2 bilhões, em fevereiro.

E, no bimestre, mesmo com os resultados favoráveis de janeiro, as contas deixaram a desejar: a receita total do governo central cresceu apenas 7,4% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as despesas aumentaram 13,9%. 

O secretário do Tesouro, Arno Augustin, argumentou que foram transferidos a Estados e municípios R$ 2,9 bilhões a mais do que no mesmo período de 2012. Mas isso não esgota as dúvidas.

O Tesouro está tendo de lidar com decisões de política econômica adotadas fora da sua alçada, como a diminuição dos juros básicos, que reduz a remuneração das aplicações, mas também o Imposto de Renda recolhido sobre esses ganhos. 

Tampouco tem controle sobre gastos com investimentos, citados pelo secretário entre os responsáveis pelo déficit.

Nas contas fiscais, transparência e previsibilidade - o que mais importa - não se veem. A transparência foi ofuscada pelos malabarismos fiscais de 2012 (como a distribuição forçada de dividendos das estatais). 

A imprevisibilidade já é admitida pelas autoridades, pois novas desonerações estão em pauta e a retomada econômica é incipiente. A antecipação do debate sobre a sucessão pode dificultar ainda mais a administração pública.

O Estado de S.Paulo