"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 15, 2011

Números macroeconômicos : PIB e criação de empregos, uma desaceleração anunciada


Estatísticas isoladas, ou referentes a períodos curtos, têm pouco significado. Quando parecem fazer parte de uma tendência, porém, a coisa muda de figura.

Estimado pelo Banco Central, o IBC-Br pode ser visto como a mais abrangente medida do desempenho da economia, com a vantagem de ser conhecida mensalmente.

O dado de ontem sugere substancial perda de dinamismo. Nos oito meses que antecederam junho, a economia crescia a um ritmo médio anual de 4,0%. As médias móveis trimestrais de junho e julho indicam queda para 2,9% e 1,7% ao ano, respectivamente.

Ajustados pela sazonalidade, os dados do Caged revelam que, de uma geração média de 180 mil novos postos formais de trabalho (entre outubro de 2010 e fevereiro deste ano) passamos para algo ao redor de 100 mil, em junho e julho.

A desaceleração observada nos mercados de bens e serviços parece ter atingido o mercado de trabalho. Embora com defasagem, este anda a reboque daqueles mercados.

Que acontecerá daqui por diante? Quais as chances de experimentarmos reversão do que parece ser uma bem caracterizada tendência? A nosso ver, a probabilidade é muito baixa. Em primeiro lugar, certa desaceleração da economia - comparativamente ao observado em 2010, por exemplo - era absolutamente inevitável.

Afinal, no decorrer dos últimos anos, a política econômica não tem privilegiado fatores que nos permitiriam atingir potencial de crescimento mais elevado, como investimentos em infraestrutura e capital humano.

Segundo, preocupado com o descompasso entre demanda e oferta, o próprio BC já havia tomado medidas voltadas para promover tal desaceleração - parte do que se colhe agora decorre dessas medidas. Por último, muito provavelmente já chegaram ao Brasil os primeiros efeitos da segunda fase da grande crise internacional.

Ainda não sofremos aperto de crédito, tampouco contração da demanda por nossas exportações. Mas o clima já é outro, como se percebe pelo recuo das bolsas, por exemplo. Entre nós, quedas de cotação de ações não costumam influenciar o consumo das famílias, mas a associação de tais movimentos com as expectativas e o humor dos empresários parece inegável.

Investimentos das empresas representam parcela baixa da demanda agregada, mas tendem a ditar o rumo da economia, por causa da sua expressiva volatilidade.

Para eventualmente reverter o quadro atual duas coisas poderiam contribuir: uma política doméstica fortemente expansionista e melhora da situação internacional. A elevada taxa de inflação, bem próxima do topo da banda, não dá margem à primeira opção.

Quanto ao cenário externo, quanto mais se examina o assunto, mais se percebe a enrascada em que os europeus se meteram. De fora, não podemos esperar notícia boa.

A conclusão é que temos de nos preparar para uma fase ruim.

José Júlio Senna O Estado de S. Paulo

"É mais um caso absurdo de censura judicial"

A revista Viver Brasil, de Minas Gerais, foi obrigada pela Justiça a recolher exemplares de sua penúltima edição e a retirar da internet reportagem sobre supostas irregularidades praticadas pelo prefeito de Nova Lima, Carlinhos Rodrigues (PT).

Segundo a juíza Adriana Rabelo, de Nova Lima, a revista incorreu em "abuso da liberdade de imprensa" ao atingir "a honra e a imagem" do prefeito. "Ficamos chocados com essa situação", disse Homero Dolabella, diretor de redação do grupo VB Comunicação, que edita a revista. "É um caso de censura descarada."

O presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aner), Roberto Muylaert, considerou o episódio "gravíssimo". "Uma juíza estadual está se insurgindo contra a Constituição, que garante a liberdade de imprensa. Infelizmente, não é algo inédito."

A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) também criticou a sentença. "É mais um caso absurdo de censura judicial", disse Ricardo Pedreira, diretor executivo da entidade.

A Secretaria de Comunicação de Nova Lima afirmou que a revista foi recolhida porque a fonte da reportagem é um vereador que está impedido pela Justiça de "caluniar" o prefeito.
A juíza não se manifestou.

Estamos, sim, atrasados para a Copa

O governo diz que está tudo em dia para a Copa, mas não é essa a impressão que se recolhe das conversas com os setores privados diretamente envolvidos.

Aqui, há três tipos de preocupação:
falta de planos,
definições e regulamentações; atrasos em planejamento e obras;
e indefinição em relação ao pós-Copa.

Foram justamente esses os pontos destacados por diversos representantes do setor de Telecomunicações e Tecnologia da Informação, reunidos em São Paulo no evento Futurecom, nesta semana.

Muitos manifestavam surpresa com a promessa da presidente Dilma de que a tecnologia de celulares 4G, de altíssima velocidade, estará funcionando no Brasil nas cidades da Copa.

Acontece que esse sistema (com o nome técnico de LTE) nem está regulamentado. Com sorte e rapidez, se tudo der certo, o pessoal do setor acredita que o leilão para a concessão de faixas 4G só poderá ser realizado a partir de abril de 2012.

Além disso, a implantação exige pesados investimentos, em um momento em que as operadoras ainda nem conseguiram recuperar o que aplicaram nas redes 3G, aliás, não totalmente implantadas.

Disse a presidente que a Telebrás, a estatal do setor, já está autorizada a investir R$200 milhões na infraestrutura das cidades da Copa. Mas esse dinheiro não dá nem para o começo.

Ou seja, a presidente prometeu um sistema para o qual o próprio governo ainda não definiu a regulamentação. Além disso, essas regras dependem de legislação específica, para a qual não há projeto.

Obviamente, isso impede qualquer planejamento da parte das (muitas) empresas interessadas no negócio.

Havia dúvidas ali entre especialistas no Futurecom: a presidente Dilma teria se equivocado na sua promessa? Ou teria recebido informações equivocadas? De todo modo, não há como fugir à conclusão de que o governo anda meio perdido no que se refere às telecomunicações para a Copa, que constituem um imenso desafio.

A transmissão dos jogos para TV será por alta definição, em todas as cidades. Milhares de jornalistas, de turistas estrangeiros e brasileiros chegarão aos estádios portando smartphones e câmeras para registrar suas imagens e enviá-las no ato para os amigos.

E todos precisarão usar celulares e computadores com banda larga por toda parte, não apenas nos estádios e suas redondezas.

Não precisa ser técnico para imaginar o tamanho do esforço e do investimento. Todo o pessoal do setor diz que dá para fazer, mas que é preciso organizar e definir isso tudo urgentemente.

Todo esse planejamento depende também de se saber como será o pós-Copa. Quer dizer: monta-se uma ampla e avançada estrutura para a Copa; e o que se faz com ela quando o pessoal for embora?

Se não houver demanda doméstica para a utilização desse sistema, é prejuízo na veia. Ora, no momento, não há condições de aparecer essa demanda, porque está tudo muito caro no Brasil, dos equipamentos e aparelhos aos serviços.

O sistema vai oferecer a velocidade do 4G, mas os celulares para isso estarão a preços inacessíveis para a classe média, como são caros hoje os aparelhos 3G.

Nesse quadro, as companhias só farão os investimentos se tiverem a garantia de que serão remuneradas pelo governo. É outra coisa que está no ar.

E há precedentes negativos.
A operadora dos Jogos Militares, a Tim, antecipou tecnologias, levou rede para locais antes não atendidos e o que aconteceu? Metade dessa infraestrutura está lá, ociosa.

O governo poderia criar demanda doméstica promovendo uma acentuada redução de preços. Como? Reduzindo os pesados impostos que incidem em todo o setor, dos investimentos ao consumo.

O governo federal anunciou exoneração e redução de carga para certos investimentos, mas não basta porque os impostos são exageradamente elevados.

Além disso, o principal imposto é estadual (ICMS) e os governadores não parecem dispostos a abrir mão da receita.

Sem contar que em Brasília só se fala no contrário - em aumentar impostos. E, então, não é um caso de atraso geral?

De novo, o pessoal do setor insiste que não há nada perdido. Dá para correr, mas fica cada vez mais difícil, mais improvisado e, pois, mais caro.

Por trás dessa história, há uma questão essencial de política e economia. Para qualquer lado que se vá, a situação é a mesma: impostos elevados e juros altos bloqueiam investimentos e consumo.

O governo confessa isso toda vez que apresenta um plano de estímulo de algum setor: promete isenções de impostos e juros subsidiados.

Só que isso custa dinheiro, o que leva o governo a buscar recursos em outros setores. Termina que todo mundo paga caro para que alguns possam receber benefícios.

Além disso, é crescente a demanda por mais gasto público, a ser pago com mais impostos.

Não fecha. E, pior de tudo, nem temos uma seleção ganhadora.

Dá para correr, mas fica
cada vez mais difícil, mais improvisado

CARLOS ALBERTO SARDENBERG