"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 11, 2011

O DOMÍNIO SILENCIOSO DAS MARCAS : 70% DO CONSUMO JÁ É DOMINADO POR APENAS DEZ GRUPOS.

A concorrência entre diversos produtos que pesam diretamente no orçamento familiar, como alimentos,
bebidas,
higiene
e limpeza,
em muitos casos, é mero jogo de faz de conta no país.


Dez grandes empresas - multinacionais, na maioria - abocanham de 60% a 70% das compras de supermercado de uma família típica brasileira e tornam o Brasil um dos países com maior nível de concentração no mundo, apontam especialistas em varejo.

Muitas vezes, um fabricante chega a ser dono de diversas marcas de um mesmo produto, fazendo com que elas "disputem" entre si fatias do mercado.
Uma tática da indústria que acaba por limitar o poder de escolha do consumidor, que, constantemente, nem desconfia de quem está por trás de sua marca preferida.


A estratégia também trava a expansão de marcas menores.
A situação pode até se intensificar caso a polêmica fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour saia, de fato, do papel, concentrando mais ainda o setor supermercadista.

- Poucas indústrias, apenas dez, entram com força no carrinho de compras dos brasileiros. Esse grupo representa até 70% das compras.

Os demais 30% são disputados por cerca de 500 empresas menores, regionais - disse Marco Quintarelli, diretor do Grupo Azo, consultoria especializada em varejo, referindo-se a AmBev,
BRF-Brasil Foods,
Coca-Cola,
Hypermarcas,
JBS,
Kimberly-Clark,
Nestlé,
Procter&Gamble,
Reckitt Benckiser
e Unilever .

Segundo Quintarelli, a concentração brasileira na indústria de bens de consumo cresceu fortemente, nos últimos anos, com a maior presença no país de grandes produtores mundiais - interessados no potencial de consumo das classes emergentes.

A gigante Unilever, por exemplo, se orgulha de entrar a cada mês em 86% das residências brasileiras através de algumas de suas marcas como Omo, Kibon, Seda, Lux, Hellmann"s, Arisco e Knorr.

Entre as nacionais, a tese de Quintarelli fica clara com o alto nível de concentração atingido no segmento de lasanhas e comidas prontas:
a BRF-Brasil Foods, criada em 2008 com polêmica fusão entre Sadia e Perdigão, ainda em análise pelos órgãos de defesa da concorrência, detêm 90% do segmento.


Empresas impõem preços ao varejo

As vozes críticas à crescente concentração se voltam também para o problema do controle de preços. Ao dominarem mercados, as indústrias tendem a impor preços ou dificultar negociações com o varejo, diz um varejista que preferiu não se indentificar. Outra imposição é empurrar produtos de menor qualidade - ou de menor saída - nas meganegociações com o varejo.

- Os consumidores não têm a menor noção de que, após uma fusão, as indústrias ficam mais fortes e, por isso, acabam tendo maior controle sobre os preços.
E a culpa recai, sem dúvida, sobre os varejistas.
Além disso, dificulta o fortalecimento de marcas menores e reduz as opções de compra dos consumidores.

- No setor de sabão em pó, por exemplo, Omo e Surf (da Unilever) representam mais de 70% das vendas da categoria.
Como não ter Omo?
Estamos falando de uma marca imbatível.
Podemos dar mais opções, por exemplo, de leite condensado.
Mas não tem como não ter Leite Moça.
Esse poderio me impede de barganhar, independentemente do bom relacionamento da rede com a indústria - disse.


Consumidor ignora efeitos de fusões

- O mais importante para as empresas hoje são as suas marcas. Daí o fato de o suco Del Valle não apresentar tão agressivamente a marca Coca-Cola no rótulo. Em vez disso, o "Coca-Cola" fica no cantinho das embalagens e funciona mais como um atestado de qualidade do produto e pode trazer nas entrelinhas atributos como higiene e qualidade - afirmou Strozenberg, acrescentando que, atualmente, não se vê mais anúncios que fazem menção a uma empresa e suas marcas. -

Já não se vê mais propagandas que lembrem que um ou outro produto faz parte da família Unilever.

O publicitário Eduardo Barros, sócio da iYo, tem o hábito de comprar o sabão em pó Omo, mas nem tinha noção de que o Surf sai da mesma fabricante, a Unilever.

Nem imaginava que três adoçantes - Finn, Adocyl e Zero-Cal - que controlam mais da metade do setor são da Hypermarcas.
E muito menos que Elegê é BRF-Brasil Foods.

Preocupado com a qualidade dos alimentos que dá à sua filha, sempre buscava comprar congelados de Sadia e Perdigão, fugindo de "marcas menores" como Batavo.
Ao saber que ela tabém faz parte do grupo, se surpreendeu:


- Descobrir que uma marca controla outras menores me faz sentir um pouco enrolado. Por que os preços tão diferentes? Será que no produto mais barato há menos qualidade? - indaga Barros, que não experimenta marcas desconhecidas na alimentação, reforçando a tese do peso da marca e da dificuldade de pequenas empresas crescerem, enquanto marcas globais ficam cada vez maiores.

Procuradas, as dez empresas que concentram a grande parte das compras dos brasileiros não indicaram porta-voz para comentar o assunto.

Fabiana Ribeiro e Henrique Gomes Batista O Globo -

UM ENTRE VÁRIOS TRUQUES FINANCEIROS DO GOVERNO :A DRU e o déficit de seriedade

O maior e mais perigoso buraco das contas públicas brasileiras é o déficit de seriedade.
Nunca foi eliminado, embora o espaço para a malandragem tenha diminuído, com os ajustes iniciados nos anos 90 e com a Lei de Responsabilidade Fiscal, em vigor há 11 anos.

A gestão financeira do governo é em boa parte baseada em expedientes e disfarces.
Agora mesmo o Ministério da Fazenda se prepara para propor mais uma prorrogação de um dos mais notórios desses expedientes, a Desvinculação de Receitas da União (DRU).


A DRU é hoje bem mais limitada do que quando foi instituída, mas ainda garante ao Tesouro liberdade para usar uma boa fatia do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Essa fatia poderá equivaler a R$ 11,7 bilhões no próximo ano, se a desvinculação for prorrogada.


A DRU é apenas um arremedo de solução - e cada vez menos eficaz - para um dos piores problemas da administração pública federal: a extrema rigidez do orçamento.

O governo tem pouquíssima liberdade para decidir a aplicação dos impostos, porque a maior parte do dinheiro é destinada a despesas dificilmente comprimíveis, como a folha de pessoal, os benefícios previdenciários e os juros da dívida pública.

Além disso, o Tesouro é constitucionalmente obrigado a transferir parte da arrecadação a Estados, municípios e regiões. Enfim, há as verbas destinadas, também por determinação constitucional, à educação e à saúde, além das vinculações obrigatórias de tributos específicos.


As amarras foram cortadas parcialmente em 1994, quando o governo conseguiu a criação, como parte do Plano Real, de um Fundo Social de Emergência. Por muitos anos o governo havia usado a inflação para controlar as finanças públicas.

Com a estabilização, era preciso encontrar com urgência algum mecanismo substituto. No ano seguinte esse expediente foi prorrogado, com o nome de Fundo de Estabilização Fiscal. Houve uma segunda prorrogação até 1999.
Em 2000 o mecanismo ganhou novo nome e passou a ser conhecido pela sigla DRU.


Depois disso a desvinculação foi renovada mais duas vezes, para vigorar até o fim deste ano. No começo, o governo conseguiu liberar 20% do dinheiro sujeito à vinculação, mas depois o alcance da DRU foi gradualmente limitado.


Em 1994 e 1995 havia um bom motivo para o recurso a esse expediente. Mas a justificativa deixou de existir há muito tempo. Os governantes preferiram insistir no truque por mero comodismo.

A desvinculação sempre dependeu de emendas constitucionais. Mas essas emendas, mesmo com alguma oposição, foram sempre conseguidas com alguma facilidade. A solução mais adequada teria sido eliminar a raiz do problema, a vinculação constitucional de verbas.

Valeria a pena, talvez, manter alguma transferência obrigatória a Estados e municípios, para reduzir o risco de arbitrariedade na destinação de recursos a governadores e prefeitos.
Mas ninguém se dispôs a enfrentar essa batalha.


Vinculação de verbas jamais garantiu boas políticas educacionais ou de saúde e isso é claramente mostrado pela experiência.
Ao contrário:
a certeza de receber certo volume de recursos, ano após ano, dispensa os ministros das áreas beneficiadas de mostrar a importância de suas ações para merecer mais espaço no orçamento federal.

A CPMF, conhecida também como imposto sobre o cheque, nunca foi totalmente destinada à saúde e, quando foi, nem sempre alimentou políticas mais eficazes.


A DRU tem sido apenas um entre vários truques financeiros do governo. A multiplicação de contribuições (a começar pela CPMF) foi um expediente usado pelo governo federal para aumentar a arrecadação sem conceder uma fatia a Estados e municípios.

Nos últimos anos, o Ministério da Fazenda tem recorrido a um expediente contábil para alcançar a meta de superávit primário:
subtrai da conta de despesas o valor destinado ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O País estaria em melhor condição se há muito mais tempo se houvesse pensado em criar uma rotina clara e racional para a gestão das finanças públicas. O governo teria mais flexibilidade para agir e o orçamento seria mais sério. Mas a mudança seria politicamente trabalhosa.

O Estado de S. Paulo

O MEDO DO MERCADO ESTÁ VENCENDO A ESPERANÇA.

Na campanha para presidente da República, em 2002, com o candidato Lula despontando nas pesquisas, os marqueteiros do Partido dos Trabalhadores (PT) criaram o slogan "a esperança venceu o medo", em alusão às declarações da atriz Regina Duarte de que tinha medo das mudanças que uma possível vitória de Lula significaria ao Brasil.

Neste início do governo de Dilma Rousseff, o mercado financeiro ressuscita a expressão para falar sobre a resistência da inflação, só que de forma inversa, para tristezas dos investidores da bolsa.


Isso porque, com esse cenário, os juros devem subir mais do que se imaginava e a bolsa derrapar diante de ganhos tão atraentes como os da renda fixa.

"O medo está vencendo a esperança", diz o sócio da Cultinvest Asset Management, Walter Mendes, se referindo à expectativa que boa parte do mercado tinha de que o arrefecimento da inflação entre os meses de junho e agosto não seria algo apenas sazonal.


Mas essa esperança foi por água baixo com o anúncio, na quinta-feira, do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho, com alta de 0,15%. Agora, um gestor de peso como Mendes reforça essa decepção.

Para ele, a demora do Banco Central para agir no combate à inflação é o grande culpado pela resistência dos índices de preços.
"Estamos pagando o preço de o Banco Central não ter feito uma política preventiva de combate à inflação e agora estar só reagindo aos fatos consumados", diz.


"É muito mais fácil apagar o fogo no começo das chamas do que quando já se transformou num incêndio, com grandes labaredas", ilustra Mendes, fazendo analogia à estratégia do BC de elevar tardiamente a Selic e de implementar medidas macroprudenciais, como o aumento do depósito compulsório dos bancos.

Uma postura preventiva consta na cartilha de boas maneiras das autoridades monetárias, portanto, não é novidade para ninguém.
Mesmo com a economia ainda enfraquecida, o Banco Central Europeu (BCE), por exemplo, já subiu os juros de zero para 1,5% ao ano, se antecipando aos efeitos de uma recuperação econômica da região.


Com o incêndio já instalado no Brasil, o que esperar para os mercados?
O bombeiro (o BC) terá de jogar mais água, o que significa um processo mais severo de alta da Selic. E a bolsa, ao que tudo indica, vai sentir o baque de ficar ainda menos atraente comparada aos ganhos maiores e certeiros da renda fixa.


No entanto, a queda da bolsa parece ter limite, já que, desde 2010, ela tem um desempenho relativo pior que boa parte dos mercados.
De qualquer forma, quem apostava numa boa recuperação da Bovespa neste semestre pode ter que esperar mais um pouco, diz Mendes.


Daniele Camba é repórter de Investimentos

LEILÃO DE HOJE : UM PROJETO PESSOAL DA "PRESIDENTA". É BOM PARA O BRASIL? POUCO IMPORTA. Governo tem plano B para trem-bala.

Infraestrutura:
Se leilão de hoje fracassar, novo edital deve ser publicado, mudando modelo de construção

O governo já prepara um plano B caso nenhuma empresa entregue hoje sua proposta para participação no leilão do trem-bala.

Trata-se, basicamente, da publicação de um novo edital para o projeto, o qual mudaria completamente o modelo de construção do trem de alta velocidade (TAV).

Na última sexta-feira, apurou o Valor, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para discutir as mudanças do projeto. O BNDES é o principal financiador do trem-bala, com previsão de emprestar mais de R$ 20 bilhões para o consórcio que assumir a obra.

Na reunião, Dilma pediu que o projeto seja completamente redesenhado.
Entre as mudanças, a presidente cobrou definições claras de cada parte envolvida no projeto, com o detalhamento de responsabilidades do construtor, do operador do sistema e concessionário.

As alterações vão ampliar a possibilidade de diferentes tipos de tecnologia participarem da disputa, permitindo, inclusive, que se mude as exigências quanto à velocidade do trem.

O novo edital só será apresentado caso ninguém vá hoje até a sede da BM&F Bovespa, em São Paulo, para entregar sua proposta.

"Por enquanto o que existe é um plano A. Vamos aguardar o resultado. Se ninguém aparecer, vamos estudar um plano B", disse ao Valor o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo.

Com um histórico de dois adiamentos - em novembro de 2010 e abril deste ano - e uma série de polêmicas, o trem-bala é um projeto pessoal de Dilma Rousseff.
A presidente, que já defendeu diversas vezes a necessidade da obra, vê em sua construção - ainda que parcial - um importante legado de seu governo.

Ocorre que, desde a sua concepção, o estudo do TAV tem sido alvo de ataques sobre a fragilidade econômica do projeto e inconsistências sobre o preço real da obra.

Ao decidir manter o recebimento de propostas para hoje, o governo age como se tivesse a indicação de que ao menos um grupo de empresas pode entregar sua proposta comercial.

Seria uma surpresa.
Afinal, na semana passada, os principais atores do setor foram a publico dizer que não havia condições de o negócio ir para frente.

As principais organizações que representam o setor - a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) e a Agência de Desenvolvimento do Trem Rápido entre Municípios (Adtrem) - pediram oficialmente o adiamento do leilão.
Alguns consórcios fizeram o mesmo.

O Tribunal de Contas da União (TCU) também publicou uma lista de pedidos de alteração para o edital. A ANTT, no entanto, alegou que nenhuma das orientações feitas pelo tribunal invalida o leilão e que todas poderiam ser feitas após a assinatura de contrato com o consórcio vencedor.

Naquilo que a agência reguladora não concordasse com o TCU, inclusive, poderia recorrer da decisão.

Na esfera da burocracia, o governo já conseguiu vencer duas brigas importantes para tirar o trem-bala do papel.

Uma delas foi a aprovação do financiamento da obra pelo BNDES.

A outra, a criação da estatal Etav, que será a representante do poder público dentro do consórcio vencedor. Falta, no entanto, convencer o mercado de que o projeto é viável.

As empreiteiras não querem, de modo algum, ficar de fora daquele que é o projeto mais caro do governo, mas estão pressionando para que o Planalto reveja a sua proposta e faça mais concessões.

SEIS MESES DE "DESGOVERNO" E ESTRAGO POR TODO LADO DEIXADO PELO "ANTERIOR".

Entre as inaugurações de Lula e Dilma estão câmpus de universidade inacabado, casas populares em área de risco e campos de irrigação apenas para metade dos beneficiados anunciados.

Em fevereiro de 2009, Lula e Dilma inauguraram um câmpus da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e do Mucuri (UFVJM), em Teófilo Otoni (MG).

Na época
, a imprensa noticiou que o ex-presidente entregou a obra pela metade: apenas dois prédios dos 11 prometidos estavam prontos.


De lá para cá, segundo os alunos, pouca coisa mudou. A construção dos outros edifícios sofreu constantes interrupções e ainda não foi finalizada.


Já em Governador Valadares
(MG), um conjunto habitacional entregue por Lula e Dilma em fevereiro de 2010 passa por desapropriação.
Ele foi construído, ao custo de R$ 3,5 milhões, para tirar famílias de área de risco.


Mas, erguido próximo à encosta de um morro às margens da BR-116, já teve 14 das 98 moradias desocupadas. Segundo a prefeitura, as casas foram condenadas pela Defesa Civil.
Em Juazeiro (BA), pequenos produtores pensaram ter realizado o sonho de ter um campo de irrigação, ao serem entregues por Lula e Dilma 56 lotes do Projeto Salitre, em março do ano passado.

Mas, segundo o vereador Alex Tanuri (PSDB), apenas 26 lotes estão funcionando. "A população ficou feliz com as promessas. Agora, está revoltada. Além da entrega pela metade, a segunda parte do projeto não avança". diz.

A prefeitura preferiu não comentar o assunto.

FILHOTES DO MENSALÃO.

O governo Dilma Rousseff encontra-se metido num turbilhão de denúncias de corrupção. Não surpreende que esteja assim.

Afinal, trata-se do mesmo grupo político que se notabilizou pela prática sistemática de compra de votos em troca de apoio parlamentar. Como praga, os filhotes do mensalão se multiplicam.

Na última quinta-feira, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu a condenação de 36 réus envolvidos no escândalo revelado há seis anos. O pedido de punição aos envolvidos no mensalão veio no mesmo momento em que pipocam novos casos de desvios de recursos públicos, manipulação de contratos e toda a sorte de falcatruas no seio do governo federal.
Ilicitudes parecem ser parte integrante do DNA petista.

A revista Veja traz detalhes de como se dava, por exemplo, o esquema de desvio no Ministério dos Transportes, o escândalo da hora que resultou na demissão de toda a cúpula do setor na semana passada. Havia distribuição de dinheiro sujo até mesmo em estacionamentos de shoppings em Brasília, num festival de envelopes recheados com notas de cem reais.

Os envolvidos insinuam que os recursos desviados podem ter financiado a campanha presidencial petista no ano passado.
Tudo sob a articulação de ministros de Lula, entre eles Paulo Bernardo - então no Ministério do Planejamento e hoje nas Comunicações. Os atores, como se vê, continuam em cena.

Amanhã, será possível passar uma parte dessa história a limpo, em depoimento de Luiz Antonio Pagot, ainda diretor-geral do Dnit, no Senado. Sobre a atuação dele, seu padrinho político, o senador Blairo Maggi, é cristalino, em entrevista publicada hoje em O Globo:
Pagot só executava ordens que recebia.

É preciso, então, saber quem eram os mandas-chuvas dos malfeitos - cuja existência o PR nem se dá o trabalho de negar.

Nos Transportes, aliás, nem é preciso procurar muito para achar as nódoas da corrupção. Também O Globo revelou que trechos da ferrovia Norte-Sul estão sendo tocados com valores 17% acima dos praticados no mercado. No ano passado, o TCU analisou 11 contratos da ferrovia e descobriu superfaturamento em todos eles.

A pasta que deveria zelar pela conservação, manutenção e expansão da infraestrutura do país não passa hoje de um feudo partidário. Há sete anos foi dada ao Partido da República como moeda de troca das nada republicanas práticas políticas instauradas pelo governo Lula e mantidas pela gestão Dilma. Neste ínterim, nossas estradas e ferrovias agonizaram.

Mas não é apenas nos Transportes que a corrupção viceja.
Em sua edição de ontem, O Estado de S. Paulo mostrou que uma empresa do senador Eunício de Oliveira pode ter fraudado licitação de R$ 300 milhões da Petrobras. Empregados do parlamentar foram descobertos combinando o resultado do pregão com concorrentes.

Com o mau exemplo de cima, a espoliação se espalha.
Este ano, o Rio de Janeiro enfrentou uma das maiores catástrofes naturais de sua história, mas a tragédia não foi suficiente para sensibilizar os larápios: a verba para reconstrução das cidades atingidas foi tungada, como mostra O Globo.

As digitais petista estão lá:
o esquema de distribuição de propina era comandado dentro do gabinete da prefeitura de Teresópolis, comandada pelo partido.

Frente a tantos descaminhos, o valor do que foi desviado no mensalão pode até parecer pouco: R$ 75 milhões ou 25% mais do que se sabia até agora, segundo a Folha de S.Paulo.

Mas a verdade é que a atitude contemporizadora do PT em relação àquele primeiro grande escândalo gestou o ovo da serpente que transformou a corrupção em infecção generalizada no país. Chegou a hora de impor um basta à rapinagem e punir os culpados.

Fonte: ITV

INVESTIDORES : RISCO DE BOLHA NO BRASIL JÁ PREOCUPA.

O possível superaquecimento da economia brasileira e a suposta bolha de crédito no país tomaram conta do noticiário internacional e já inquietam investidores estrangeiros.

O sentimento em relação ao país está mudando, avaliam analistas.

A lua de mel dos investidores com o governo Dilma acabou”, diz Paulo Vieira da Cunha, economista e sócio da Tandem Global Partners e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central.

Existia a expectativa de que Dilma acabaria com abusos do fim do governo Lula na política econômica, mas não houve correção.”


O jornal britânico “Financial Times” publicou pelo menos 12 reportagens, textos em blog e artigos sobre o perigo dabolha de crédito” nos últimos dez dias.
Um artigo chegava a falar em “crise de subprime” no Brasil.

Na sexta-feira, o jornal dizia que a economia brasileira “é como bicicleta: funciona enquanto continuar andando”.
Mas agora [a bicicleta] está
bamba ”, advertia.

A revista britânica “The Economist” disse que o Brasil está entre os sete países com maior risco de superaquecimento, junto a Argentina,
Hong Kong,
Índia,
Indonésia,
Turquia
e Vietnã.

E a nova diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, alertou para riscos de superaquecimento e inflação nos país emergentes.

Um administrador de hedge fund diz que os estrangeiros estão comprando a história de bolha de crédito e reduzindo a exposição ao Brasil.

Um sintoma seria a queda de ações de bancos brasileiros.
Após a crise de 2008, o Brasil se tornou um “superqueridinho” dos investidores por sua recuperação rápida.
Naquela época, lembra o administrador, ninguém fazia muitas contas para por o dinheiro no país.


A virada, o fenômeno de “vender Brasil”, começou no início do ano e se reforça agora. Não há sinais de consenso entre os bancos em dizer que os papéis do país estão baratos e é hora de voltar a recompor sua exposição.

Muitos estrangeiros querem ver resultados concretos do combate à inflação e saber até onde vão a inadimplência e a responsabilidade fiscal para investir no Brasil.

Patrícia Campos Mello/Folha

ESTAMOS OU NÃO INDIGNADOS? SE ESTAMOS, A HORA É AGORA! Por que os brasileiros não reagem?

O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Presidência, Antonio Palocci - uma espécie de primeiro-ministro - e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos caídos sob os escombros da corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de que "todos são ladrões" e que "ninguém vai para a prisão", não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.

Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados salteadores do erário público?
É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos.


Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.

Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas do Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelo "descontrole" atual em áreas do seu governo e tirou literalmente - diz-se que a purga ainda não acabou - dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.

A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou - e o preço que terá que pagar será elevado - a se desfazer de uma certa "herança maldita" de hábitos de corrupção que vêm do passado.

E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?


O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas Já (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje está mudo ante a corrupção.

As únicas causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.

Será que os jovens, especialmente, não têm motivos para exigir um Brasil não só mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).

O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam no mundo.

Há quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos.

E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média europeia equivale ainda hoje a um brasileiro rico.


Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.

Tudo isso também é certo, mas não explica que num mundo globalizado - onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada - os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.
Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e que - também é certo - é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder.

Juan Arias O Globo