bebidas,
higiene
e limpeza,
em muitos casos, é mero jogo de faz de conta no país.
Dez grandes empresas - multinacionais, na maioria - abocanham de 60% a 70% das compras de supermercado de uma família típica brasileira e tornam o Brasil um dos países com maior nível de concentração no mundo, apontam especialistas em varejo.
Muitas vezes, um fabricante chega a ser dono de diversas marcas de um mesmo produto, fazendo com que elas "disputem" entre si fatias do mercado.
Uma tática da indústria que acaba por limitar o poder de escolha do consumidor, que, constantemente, nem desconfia de quem está por trás de sua marca preferida.
A estratégia também trava a expansão de marcas menores.
A situação pode até se intensificar caso a polêmica fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour saia, de fato, do papel, concentrando mais ainda o setor supermercadista.
- Poucas indústrias, apenas dez, entram com força no carrinho de compras dos brasileiros. Esse grupo representa até 70% das compras.
Os demais 30% são disputados por cerca de 500 empresas menores, regionais - disse Marco Quintarelli, diretor do Grupo Azo, consultoria especializada em varejo, referindo-se a AmBev,
BRF-Brasil Foods,
Coca-Cola,
Hypermarcas,
JBS,
Kimberly-Clark,
Nestlé,
Procter&Gamble,
Reckitt Benckiser
e Unilever .
Segundo Quintarelli, a concentração brasileira na indústria de bens de consumo cresceu fortemente, nos últimos anos, com a maior presença no país de grandes produtores mundiais - interessados no potencial de consumo das classes emergentes.
A gigante Unilever, por exemplo, se orgulha de entrar a cada mês em 86% das residências brasileiras através de algumas de suas marcas como Omo, Kibon, Seda, Lux, Hellmann"s, Arisco e Knorr.
Entre as nacionais, a tese de Quintarelli fica clara com o alto nível de concentração atingido no segmento de lasanhas e comidas prontas:
a BRF-Brasil Foods, criada em 2008 com polêmica fusão entre Sadia e Perdigão, ainda em análise pelos órgãos de defesa da concorrência, detêm 90% do segmento.
Empresas impõem preços ao varejo
As vozes críticas à crescente concentração se voltam também para o problema do controle de preços. Ao dominarem mercados, as indústrias tendem a impor preços ou dificultar negociações com o varejo, diz um varejista que preferiu não se indentificar. Outra imposição é empurrar produtos de menor qualidade - ou de menor saída - nas meganegociações com o varejo.
- Os consumidores não têm a menor noção de que, após uma fusão, as indústrias ficam mais fortes e, por isso, acabam tendo maior controle sobre os preços.E a culpa recai, sem dúvida, sobre os varejistas.
Além disso, dificulta o fortalecimento de marcas menores e reduz as opções de compra dos consumidores.
- No setor de sabão em pó, por exemplo, Omo e Surf (da Unilever) representam mais de 70% das vendas da categoria.
Como não ter Omo?
Estamos falando de uma marca imbatível.
Podemos dar mais opções, por exemplo, de leite condensado.
Mas não tem como não ter Leite Moça.
Esse poderio me impede de barganhar, independentemente do bom relacionamento da rede com a indústria - disse.
Consumidor ignora efeitos de fusões
- O mais importante para as empresas hoje são as suas marcas. Daí o fato de o suco Del Valle não apresentar tão agressivamente a marca Coca-Cola no rótulo. Em vez disso, o "Coca-Cola" fica no cantinho das embalagens e funciona mais como um atestado de qualidade do produto e pode trazer nas entrelinhas atributos como higiene e qualidade - afirmou Strozenberg, acrescentando que, atualmente, não se vê mais anúncios que fazem menção a uma empresa e suas marcas. -
Já não se vê mais propagandas que lembrem que um ou outro produto faz parte da família Unilever.
O publicitário Eduardo Barros, sócio da iYo, tem o hábito de comprar o sabão em pó Omo, mas nem tinha noção de que o Surf sai da mesma fabricante, a Unilever.Nem imaginava que três adoçantes - Finn, Adocyl e Zero-Cal - que controlam mais da metade do setor são da Hypermarcas.
E muito menos que Elegê é BRF-Brasil Foods.
Preocupado com a qualidade dos alimentos que dá à sua filha, sempre buscava comprar congelados de Sadia e Perdigão, fugindo de "marcas menores" como Batavo.
Ao saber que ela tabém faz parte do grupo, se surpreendeu:
- Descobrir que uma marca controla outras menores me faz sentir um pouco enrolado. Por que os preços tão diferentes? Será que no produto mais barato há menos qualidade? - indaga Barros, que não experimenta marcas desconhecidas na alimentação, reforçando a tese do peso da marca e da dificuldade de pequenas empresas crescerem, enquanto marcas globais ficam cada vez maiores.
Procuradas, as dez empresas que concentram a grande parte das compras dos brasileiros não indicaram porta-voz para comentar o assunto.
Fabiana Ribeiro e Henrique Gomes Batista O Globo -
Nenhum comentário:
Postar um comentário