"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 19, 2014

VERSO REVERSO OU 'Nova política' e vida real

Sabatinado por este jornal, o candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva, deputado federal Beto Albuquerque, do PSB gaúcho, tentou aparentemente transformar um círculo em um quadrado, ao reconhecer que "ninguém governa sem o PMDB", ressalvando, porém, que "não é preciso entregar o governo para ter governabilidade". A questão foi levantada porque toca no nervo exposto da candidatura Marina - o disseminado ceticismo sobre as suas chances, se eleita, de formar uma equipe de governo que não seja um ajuntamento de estranhos no ninho e de construir uma base parlamentar que lhe permita aprovar os projetos que lhe forem mais caros.
O que se pode chamar de bancada marineira na Câmara dos Deputados - as cadeiras hoje ocupadas pela coligação que reúne, além do PSB do falecido Eduardo Campos, o PPS e quatro siglas nanicas - soma 32 em um total de 513. Na melhor das hipóteses, segundo projeções publicadas pelo jornal Valor, os socialistas sairão das urnas com o mesmo número de vagas (34) conquistadas em 2010 para fazer parte de uma Casa provavelmente ainda mais fragmentada que a atual, de 22 siglas. 

Diz a candidata, em desespero de causa, que fará um governo com os "melhores" nomes do espectro partidário que compõe o Legislativo. É de rogar aos céus que ela própria descreia de suas palavras.

Do contrário revelará um desconhecimento abissal de como funciona a política, não obstante seus dois mandatos de senadora. Melhores, piores e mais ou menos, os parlamentares vivem todos numa teia de lealdades a quem os tenha feito chegar ao Congresso Nacional. E ali estão sujeitos a uma complexa estrutura de poder alicerçada no sistema de lideranças que mantêm a coesão interna das bancadas. 
Uma coisa e outra restringem a liberdade de movimentos de seus membros mais do que possa conceber a vã filosofia da "nova política". Descartada, por ingênua ou insincera, a retórica do tal governo dos melhores, resta o governo possível com a expressão organizada do Parlamento.

No "presidencialismo de coalizão" brasileiro, essa fórmula leva uma dose de afinidade programática, outra de convergência com os grupos de interesses do Congresso e oito partes de realpolitik - o acatamento da relação de forças entre os partidos, resultante de cada ciclo eleitoral. 

O que, teoricamente, abriria três possibilidades para Marina em 2015: fazer as pazes com o PT, achegar-se ao PMDB ou se aliar à frente PSDB-DEM. Na primeira e mais remota hipótese, será mais do que mais do mesmo para o País: o pior dos dois mundos. 

Na terceira, que poderá começar pelo apoio tucano à candidata que ameaça despejar Dilma Rousseff - a menos que o senador Aécio Neves consiga superá-la -, o produto será um governo de minoria, mas com razoável grau de coerência e capacidade de atração de outras legendas médias.

Já um acerto com um PMDB - que deverá continuar com a segunda maior bancada da Câmara, depois do PT, e com a maior do Senado - equivalerá a um pedido de Marina para que esqueçam o que não se cansou de repetir sobre a renovação dos costumes políticos nacionais. E não será nenhuma pechincha, diga o que disser o deputado Beto Albuquerque sobre governar com o PMDB sem lhe dar o governo. 

Na entrevista ao Estado, ele perguntou retoricamente por que teria de consultar o presidente do Senado, Renan Calheiros, sobre quem deveria ser indicado para uma Transpetro, por exemplo. Porque é disso que os oligarcas do PMDB alimentam o seu poder, antes e depois das urnas. Nesse jogo duro, o conselho que deixou de ser solicitado é um ato de menoscabo que não pode passar em branco.

"Nosso governo", promete o candidato a vice, "não vai indicar gente inapta porque é pedido de alguém." Na vida real, é mais complicado. No mercado de apoios políticos, o interessado pode sair com o filé que desejava, desde que leve também uma porção de carne de pescoço. 

Enquanto o PMDB for o partido que trocou a disputa pelo Planalto por estar no Planalto em qualquer governo - embora os seus hierarcas falem em lançar um nome em 2018 -, e enquanto for hegemônico no Congresso, só restará a uma presidente Marina tentar a proeza de se entender com o diabo sem sair abrasada do entendimento.

O Estado de São Paulo

Chamada de 'raivosa', Marina diz que é 'velha política' que apela para ofensas. MAS EM 2010 A DONA IMACULADA DA "NOVA POLÍTICA" CHAMOU RIVAIS DE ONÇA PINTADA E SE COMPAROU A UMA JAGUATIRICA.


Chamada de "radical" e "raivosa" pelo senador José Sarney (PMDB-AP), a candidata à Presidência pelo PSB, Marina Silva, se defendeu em entrevista concedida na cidade de Vitória (ES), afirmando que a "velha política" tenta fugir dos problemas ao usar ofensas pessoais. 
"Não faço parte dessa geração de políticos", respondeu Marina.

Marina argumentou que seus adversários estão "desesperados", "apavorados", com a possibilidade de o povo brasileiro mostrar que quer mudança. "Nós estamos felizes, animados, em uma pororoca de esperança", disse a candidata, que justificou querer ser eleita presidente para melhorar a qualidade da gestão governamental no Brasil. 

Ela disse que continuará com o debate que interessa aos brasileiros, em vez do embate, e mencionou suas propostas: 
o passe livre estudantil, o destino de 10% da receita bruta da União para a saúde e a antecipação para daqui a quatro anos o prazo para implementar o ensino em tempo integral.


Perguntar não ofende :
Se eleita vai tirar a pele de cordeiro e virar jaguatirica?

EM 2010...