"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 14, 2011

TSUNAMI DE DOLARES.

Nunca antes na história o Brasil recebeu tantos recursos do exterior. Há quem compare o ingresso recorde de dólares a uma enxurrada ou a uma inundação. Mais adequado seria dizer que o país está sob um verdadeiro tsunami cujas consequências para a economia nacional podem ser destrutivas.

Em apenas 63 dias, o Brasil recebeu mais dólares do exterior do que nos 365 dias do ano passado: até 4 de março último, ingressaram no país US$ 24,36 bilhões acima do que saiu. Em contraposição, em todo o ano de 2010, o saldo líquido, ou seja, a diferença entre remessas e ingressos, foi de US$ 24,35 bilhões. Isso dá ideia da magnitude da situação.

Pelos dados do BC, a entrada de dólares no ano já soma US$ 114,2 bilhões e as saídas, US$ 89,9 bilhões. Parte do fluxo de recursos tem sido direcionada para investimentos diretos, o que é bom, e para aplicações em títulos e bolsa.

Uma fatia considerável dos ingressos busca aqui o ganho fácil dos juros campeões mundiais. Não custa repetir que o Brasil é o país onde se praticam as cada vez mais exóticas taxas do planeta. Enquanto aqui paga-se algo em torno de 6% de juros reais ao ano, a média mundial é de 0,9% negativo.
(A Austrália, segundo lugar no ranking, pratica 2% anuais.)


Só neste ano, o BC já elevou a taxa básica duas vezes, aumentado a Selic em um ponto percentual, até os atuais 11,75%. Mas o juro alto não surge por criação espontânea. Ele decorre de um desequilíbrio persistente dos gastos públicos.

Como se endivida demais, o governo tem de pagar mais para tomar recursos. Com isso, encarece o custo do dinheiro no país com juros mais altos e também força os agentes privados a buscar outras fontes de financiamento, principalmente no exterior.

É por isso que um volume expressivo do nosso atual tsunami de dólares vem de captações externas de empresas brasileiras, que já buscaram US$ 12,4 bilhões no mercado internacional até agora. Este número deve crescer muito ao longo do ano, porque a operação é muito atrativa para as empresas.

O risco está numa eventual reversão da economia mundial, com alta repentina dos juros internacionais e valorização do dólar. Numa época de tragédias instantâneas, como a que leva o Japão a sua pior crise desde a 2ª Guerra, e com os principais países produtores de petróleo envoltos em turbulências internas de monta é bom pôr as barbas de molho.

O Valor Econômico informa hoje que o governo pretende agir e "planeja encarecer as contratações de empréstimos em moeda estrangeira, voltando a taxá-las com o IOF". Seria uma forma, segundo o jornal, de também esfriar o crédito concedido no país: recursos captados no exterior são responsáveis por 20% do funding dos bancos para empréstimos dados a empresas e pessoas físicas.

A entrada expressiva de dólares gera outras consequências danosas para a economia como um todo, com custos consideráveis, sejam financeiros, seja na economia real. O excesso de oferta de dólar valoriza a moeda nacional, o real, e encarece nossos produtos vendidos ao exterior. Ao mesmo tempo, barateia as importações - o que também colabora para segurar a inflação.

Tudo somado, o parque produtivo local sai fragilizado. Não há exemplo mais evidente disso do que o dado pelo comportamento da indústria brasileira nos últimos meses.
A produção do setor caiu 2,6% desde abril até janeiro último e o nível de emprego está 1,8% abaixo do patamar pré-crise, mostrou o
IBGE..

A indústria é, reconhecidamente, o setor da economia que abriga a mão de obra mais qualificada, paga os melhores salários e alimenta a inovação. Se definha, enfraquece o mercado nacional e os danos se disseminam: sofrem as siderúrgicas mineiras, os calçadistas gaúchos, os fabricantes de eletroeletrônicos de Manaus.

Outro efeito não desprezível do tsunami de dólares são os gastos do Banco Central para sustentar nossas monumentais reservas internacionais. Neste ano, elas já engordaram US$ 20 bilhões, atingindo US$ 311 bilhões no total.

O BC tem de emitir títulos para enxugar o mercado de dólares, que são, por sua vez, investidos em papéis do Tesouro americano. Ou seja, contrata dívida cara em favor de uma aplicação pouco remunerada. Cerca de 1% do PIB que se esvai nesta operação: no ano passado isso custou R$ 27 bilhões, ou dois Bolsa Família.

O tsunami de dólares tem razões globais, uma vez que a sobra de recursos no mundo é hoje gigantesca. Mas há desequilíbrios locais que explicam boa parte da atratividade brasileira: o desmesurado gasto público e seus efeitos sobre os juros. A gestão do PT tem responsabilidades diretas sobre isso. As estripulias fiscais para eleger Dilma Rousseff são apenas uma delas.
A ressaca está vindo brava.


Fonte: ITV

O FUTURO A DEUS PERTENCE : O RESULTADO DA "GERÊNCIA EXTRAORDINÁRIA E FRENÉTICA" DA ENTÃO MINISTRA, HOJE, "PRESIDENTA". POBRE BRASIL!

A gestão pública no país tem oferecido desde o começo do ano uma série de provas de ineficiência generalizada.
Entre elas estão cortes no fornecimento de energia, colapsos na telefonia, atrasos de voos, panes nos sistemas da Receita Federal e do departamento de trânsito (Detran), além de episódios de claro desperdício de dinheiro.


A falta de investimentos suficientes em manutenção e renovação da infraestrutura de estatais e entidades acabou impedindo, por diversas vezes, o brasileiro de usufruir de serviços essenciais.


A falta de planejamento no gerenciamento de sistemas e bancos de dados é tanta que o próprio governo tem dificuldades em informar quantos servidores públicos e terceirizados trabalham na administração pública.

Essa confusão levou o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) a pagar a mais para 79.846 aposentados que recebem pensão, no período de 2005 a 2008.
Uma falha no monitoramento expressivo de 17,9 milhões de benefícios por incapacidade gerou esse rombo, estimado em R$ 160 milhões.


Uma mostra mais recente da fragilidade do setor público ocorreu no último 2 de março.
Uma pane no Serviço Federal de Processamento de Dados
(Serpro), estatal subordinada ao Ministério da Fazenda, deixou de mãos atadas quem tentava enviar a declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) 2011 ou queria resolver pendências com o Detran.


O transtorno foi fruto de uma simples falha no sistema para impedir oscilações na corrente de energia elétrica, que derrubou a rede de computadores das operações do Serpro em São Paulo.
Para solucionar o problema foram gastos R$ 6 milhões
.


Risco permanente

Outros serviços continuam expostos à falta de organização e cuidado com o patrimônio. Em virtude dos constantes apagões, de diferentes portes, registrados em 2010, distribuidoras de energia elétrica foram obrigadas a pagar R$ 152,4 milhões aos consumidores como compensação por falta de luz.

Foram 91 grandes desligamentos no ano passado, 77 no ano anterior e 48 em 2008. Para especialistas, é tudo consequência da falta de investimentos e do clima adverso.

Apenas este ano, o país enfrentou dois gigantescos blecautes em um intervalo de poucos dias.
O primeiro apagão de fevereiro afetou sete estados do Nordeste e o segundo, vários bairros da capital paulista.
O episódio deixou irritada a presidente Dilma Rousseff, mentora do atual modelo elétrico nacional.


Na telefonia os riscos também são consideráveis.
Para se ter ideia, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) estima que os acessos fixos e móveis de banda larga no país dobrarão dos atuais 40 mil para 80 mil em 2014. Em igual período, as linhas celulares saltariam de 175 milhões para algo entre 200 milhões e 225 milhões.

As estimativas, contudo, foram elaboradas em 2008 e já estão defasadas. Dados da própria Anatel revelam que as assinaturas de telefonia celular já passaram a marca de 205 milhões, nível próximo ao previsto inicialmente para 2014.


Bruno Neto, consultor da Frost & Sullivan, afirma que o setor privado está apreensivo quanto à capacidade das redes nacionais de atender a crescente demanda. “Com a infraestrutura instalada hoje, mal se consegue suportar o ritmo atual de crescimento, que dirá nos próximos anos, quando haverá forte demanda por conta da Copa do Mundo e das Olimpíadas”, pondera.

Segundo Neto, o receio das empresas leva em consideração também o corte de mais da metade do orçamento do Ministério das Comunicações, anunciado no início do mês, como parte do esforço fiscal do governo. “Isso pode levar a atrasos no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e também na licitação do espectro 4G, previsto para este ano”, acrescenta.

Outro problema é a baixíssima cobertura Wi-Fi no Brasil.
A consultoria Teleco avisa que, enquanto os internautas do país contam com cerca de 4 mil hot spots — pontos de acesso gratuito — lugares como Coreia do Sul, com um quarto da população brasileira, têm mais de 40 mil.

Se as obras de infraestrutura não começarem já e a todo vapor, será muito difícil usar em solo nacional dispositivos móveis como tablets, smartphones ou outros produtos semelhantes que surgirem no mercado, alerta a Teleco.


Procurada pelo Correio, a Anatel disse que tem tomado todas as providências para que as redes e os serviços de telecomunicações sejam satisfatórios para atender compromissos firmados.
(...)
Aeroportos sucateados

O grande movimento de passageiros nos aeroportos do país no ano passado, além de gerar caos e transtorno por incapacidade de atendimento, levou a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) a ampliar seu desempenho contábil.

Segundo relatório financeiro e patrimonial divulgado quinta-feira, a estatal fechou 2010 com lucro líquido consolidado de R$ 30,49 milhões.
O montante é 45,8% superior aos R$ 30,49 milhões apurados em 2009.


Para 2011, a expectativa é de que esses números avancem ainda mais e ajudem a evitar a repetição do conhecido apagão aéreo em datas comemorativas. “A expansão dos negócios da Infraero demandará medidas de reorganização administrativa, capazes de otimizar processos, rever a configuração empresarial e fortalecer o sistema de governança”, avalia a empresa em seu balanço anual.

A despeito de admitir a necessidade de investimento, a empresa não aplicou todos os recursos que tinha disponível no último ano. A Infraero investiu R$ 645,45 milhões em 2010, apenas 59,9% do R$ 1,07 bilhão originalmente previsto para o período. Ainda assim, os passageiros continuaram a sofrer com frequentes atrasos por falta de pista para pouso e manobras de aeronaves e de infraestrutura de atendimento aos consumidores.

Victor Martins, Gustavo Braga e Sìlvio Ribas Correio Braziliense