"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 05, 2011

O ESCAMOTEADOR : "Se isso não é caixa, eu não sei o que é caixa". CAMUFLADOS : SE ISSO NÃO FOR AUTORITARISMO/OPRESSÃO, SERIA ASSENHOREAMENTO? SÚCIA!


O Banco Santander demitiu seu economista-chefe, Alexandre Schwartsman, respeitado economista que já foi diretor do Banco Central.

O motivo teria sido a recente
DISCUSSÃO ENTRE Schwartsman e Sérgio Gabrielli, o presidente da Petrossauro (Petrobras para os nacionalistas).

O então economista-chefe do Santander acusou o governo de praticar "contabilidade criativa" para gerar superávit fiscal artificial, e Gabrielli reagiu, afirmando que não sabia o que era caixa, se aquela operação não fosse caixa. Schwartsman insistiu que não era, e perguntou onde estava o dinheiro, gerando mal-estar no ambiente, uma vez que, de fato, trata-se de puro malabarismo contábil.


Poucos dias depois, eis que o Banco Santander, de olho no crescimento de crédito no País e eventualmente em diversos outros negócios potenciais com o governo e suas estatais, resolveu demitir Schwartsman, para ficar bem na foto com os governantes.

É uma postura típica de regimes autoritários, onde todos, especialmente as grandes empresas, são reféns do governo. Este controla tantos negócios, tantos recursos, e tantas regras burocráticas arbitrárias, que nenhuma empresa pode se dar ao luxo de atacá-lo publicamente.
Mesmo que esteja falando a mais absoluta e escancarada VERDADE!


É uma espécie de censura velada, em que apenas comentários "chapa-branca" são permitidos. Quem ousar desafiar os governantes e colocar os pingos nos is, expondo suas falcatruas e incoerências, terá que pagar o preço. Quem viveu sob regimes nazistas, fascistas e socialistas entende bem o que é isso.


Este blog deixa aqui registrada a mais completa INDIGNAÇÃO com a atitude do Banco Santander, ainda que compreenda os incentivos perversos do sistema que temos, com excesso de poder concentrado nos governantes.

Enquanto as pessoas e empresas não reagirem, não demonstrarem CORAGEM para enfrentar esta pouca vergonha, seremos todos submissos aos poderosos do momento, simples escravos que nem sequer podem falar a verdade se esta for contra os interesses do governo.


E para Alexandre Schwartsman deixo meus parabéns por sua coragem, por sua atitude honrada, por seus artigos inteligentes e pela disposição de não se calar diante da ameaça estatal.
Você não está sozinho na luta pela liberdade!


Finalizo com passagens de Roberto Saviano, escritor que ousou desafiar as máfias italianas, extraídas de seu livro "A beleza e o inferno":

"Como faço para dizer à minha terra que pare de ser esmagada entre a arrogância dos fortes e a covardia dos fracos?
[...]
Vocês querem uma vida simples, normal, feita de pequenas coisas, enquanto ao seu redor há uma guerra verdadeira, enquanto quem não tolera, denuncia e fala perde tudo. O que fizemos para ficar tão cegos? Tão subjugados e resignados, tão submissos?
[...]
O medo. O maior álibi. Faz sentir que tudo está em ordem porque é em seu nome que se protegem a família, os afetos, a própria vida inocente, o próprio direito sagrado à vivê-la e construí-la. No entanto, deixar de ter medo não seria difícil. Bastaria agir, mas não sozinhos. O medo anda de braço dado com o isolamento. Sempre que alguém recua acaba criando outro medo, que, por sua vez, cria outro, em um crescendo exponencial que imobiliza, corrói, destrói lentamente.
[...]
Pergunto à minha terra se ela ainda consegue imaginar que pode escolher. Pergunto-lhe se é capaz de realizar, pelo menos, esse primeiro gesto de liberdade que está em conseguir pensar-se diferente, pensar-se livre. Não se resignar a aceitar como um destino natural o que, ao contrário, é obra dos homens."

Rodrigo Constantino