"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 15, 2010

PRONTOS PARA UMA DITADURA CONSENTIDA

Dada a toada em que vamos — e caso as instituições e as pessoas comprometidas com a democracia não reajam —, o estado de direito no Brasil falecerá aos poucos, como vem falecendo, sem estrondo, mas em breves suspiros, para lembrar metáfora um tanto cara à literatura.

Acrescentem-se aqui e ali um sussurro ou outro, não mais do que isso.
O que é o escândalo das violações de sigilo?


A transformação em letra morta das garantias individuais da Constituição. O que é o escândalo da Casa Civil?

A transformação do bem público em assunto privado de um partido. Como o governo reage nos dois casos?

No primeiro, acusa a vítima; no segundo, a oposição — que, não por acaso, é justamente a vítima no primeiro caso.

E como reage certa imprensa?

Ora, pergunta a José Serra, por exemplo, se dá mesmo para responsabilizar o PT pela quebra de sigilo já que Dilma não era ainda candidata em setembro de 2009. Isso é pergunta?

Não! Essa é só a desculpa do PT, desmoralizada de saída quando se sabe que os sigilos foram invadidos por petistas e que a declaração de Eduardo Jorge, por exemplo, estava com a turma que fazia a campanha de Dilma.

Isso, sim, é fato, não especulação ou desculpa.

Mas é Serra quem tem de dizer o que acha da, pasmem!, afirmação do PT. Na condição de vítima do partido, é compelido a responder a uma acusação do algoz.

Esse é o estado a que chegou certa imprensa — ou sei lá como chamar a esse tipo de delinqüência.

E noto que não é só a canalha a soldo que está fazendo isso, não.

Em tese ao menos, também há gente séria nessa parada.

Lá vou eu usar o método Lula de argumentação — parece ser o único que certos coleguinhas conseguem entender hoje em dia. Imagino um desses jornalistas sendo assaltado na rua.

Na delegacia, alguém poderia perguntar durante o feitura do BO: “O que o senhor fez para provocar a ação do bandido?

Estava andando em lugar suspeito?

Estimulou, de algum modo, o assalto?”

A isso chegamos.

(...)

A política, felizmente, não se move de modo linear. Eventos fora da cadeia de previsibilidades podem mudar humores e tal. Uma coisa, no entanto, é certa.

O ambiente intelectual vigente no país é favorável a um governo autoritário. Dele só se exigirá que seja eficiente e que promova a inclusão social.

Se for debaixo do porrete e da censura, tudo bem.

Com inclusão, isso não deixa de ser, dizem, uma das formas de ser da democracia.

ELES VIVEM E USUFRUEM DA POLÍTICA ADEPTA DAS TREVAS, NÓS QUEREMOS LUZ, E VIDA COM LIBERDADE.

Acuado por mais uma avalanche de escândalos, o presidente da República pôs todos os seus muitos subordinados em campo nesta semana para defender uma ministra de Estado cujos familiares montaram um balcão de negócios dentro do seu governo.

Vale tudo, incluindo o uso descarado da estrutura pública para fins partidários - agora até notas com timbre oficial ocupam-se de fazer política eleitoral para o PT.

Mas o artifício central do estratagema petista é posar de vítima de um "golpe da imprensa".

O lulismo tem horror ao escrutínio dos meios de comunicação e detesta a fiscalização de quaisquer das instituições do Estado democrático de Direito.

Contraditório, só vale se for o deles.

A dura realidade é mero detalhe ou simples versão distorcida dos fatos na farsa asfixiante que o PT tenta nos impor.

O governo de Lula age com a desenvoltura de quem se acha inimputável ao deslanchar seus malfeitos.

Transformou o ministério mais poderoso da Esplanada numa central de falcatruas.

Ali se urdiram a aliança com bicheiros pelas mãos de Waldomiro Diniz; o assalto aos Correios e a uma penca de estatais para financiar o mensalão; a feitura de dossiês espúrios para caluniar adversários políticos; o armazém de secos e molhados que trafica influências a troco de "taxas de sucesso".

Bem ali, um andar acima de onde despacha o presidente.

Tudo isso sabemos hoje por causa da atuação vigilante e independente dos órgãos de imprensa.

Foram eles que puseram no ar a grotesca cena em que o então assessor direto de José Dirceu embolsava maços de dinheiro.

Foram eles que escancararam e escarafuncharam quando Roberto Jefferson expôs os meandros do pagamento de mesadas a parlamentares.

Foram eles que demonstraram que assessores diletos de Dilma Rousseff produziam quilos de planilhas com dados protegidos por lei e viviam em gostoso conluio com lobbies.

Foi, por fim, a imprensa que revelou que a campanha petista à presidência da República manipulava sigilos fiscais em associação com criminosos.

Dependesse do PT, nada disso seria sabido.

Para os partidários de Dilma, imprensa boa é imprensa calada ou subserviente.

Resumindo numa frase saída da boca de um prócer do partido, para eles "o problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da imprensa".

Espantosa, a afirmação foi feita anteontem por um dos chefes da campanha dilmista: o onipresente José Dirceu.

Será esta treva, a da mordaça, o que nos aguarda se a candidata de Lula triunfar nas urnas?

O PT convive mal com o contraditório, aceita com ressalvas os princípios democráticos, arrosta as liberdades.

Só tolera opinião que é a favor - coisa que o petismo tem sobra na rede espúria de vassalos que disseminou pela internet e em veículos de imprensa do interior do país cevados a gordas verbas de publicidade oficial.

Esse é o mundo que o petismo tenta a todo o custo nos impor: críticos tratados como "inimigos da pátria", áulicos mimados com benesses públicas.

"Aos críticos do 'milagre lulista' foi reservado o pior dos mundos.

Criou o seu próprio 'ame-o ou deixe-o'.

Quem está com ele - e nessa categoria o arco é amplo, vai do MST ao grande empresariado - 'ama' o Brasil; quem está contra é inimigo e tem de ser destruído", resume com precisão cirúrgica o historiador Marco Antonio Villa na edição de hoje da Folha de S.Paulo.


Não é de hoje que Lula mostra os caninos a quem se interpõe em seu caminho.

A imprensa é o alvo mais reiterado, mas não é o único.

Órgãos como o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público e o Ibama, responsáveis por zelar pela coisa pública, já foram mil vezes enxovalhados pelo presidente da República sempre que apontaram malfeitos do governo.

Dividem com os meios de comunicação o papel de bode expiatório pelos fracassos petistas.

Tivesse o dom divino que acredita ter, Lula não teria dúvidas: teria extirpado todos da sua frente, como sonha fazer com adversários da oposição, um a um. Seu pavor à luminosidade do escrutínio só tem similar na escuridão produzida pelos regimes ditatoriais.

Mas tudo tem um fim.

E o da era de trevas do governo Lula está próximo.

Fonte : ITV/ Horror à luz

ENTRE FRALDAS E FRAUDES .

Quando virei avô, um papel social para o qual eu contribuí apenas indiretamente, pois como sabe o óbvio mais ululante quem faz os netos são os nossos filhos, entendi a força daquilo que chamamos de “graça”.

(...)

Podemos ser fraudes como genitores, mas é impossível fraudar o papel de avô.

Num caso, exige-se muito; noutro, a fraude é substituída pelas fraldas.


Ora, fraudar é mais do que mentir: é criar ilusões, é inventar competências, é encobrir malfeitos com imagens e propaganda enganosa.

Fraldar, porém, diz respeito a fazer o exato oposto.

Trata-se de vestir o infante, dando-lhe aquela primeira tintura de um traço que temos como básico na nossa sociedade:
a diferença essencial entre o sujo e o limpo.

Se as regras forem realmente honradas, as fraudes devem ser punidas; fraldas, entretanto, são jogadas fora.

Mas tanto a fralda quanto a fraude implicam alguma sujeira no sentido popular do termo.

Fraudes remetem a falcatruas e hipocrisias (por exemplo: eu falo que vou fazer isso ou aquilo só para ter votos); fraldas têm tudo a ver com mamadas e banhos que fazem crescer.

Ademais, elas limpam e separam o sujo do limpo.

Entendese, portanto, o ato falho auditivo da candidata Dilma quando, ao ser perguntada sobre “fraldas”, entendeu que era questionada sobre “fraudes”.
Essas mal traçadas sobre o que significa ser avó ou avô, esses papéis nos quais — dizem — o sexo e a sexualidade não têm mais importância, talvez ajudem a compreender a falha da audição de uma candidata tão preocupada em pretender ser o que obviamente não é; que a fralda da avó se confunde com a fraude tão comum na política do partido que ela representa.

Um dia eu escrevi um texto teorizando sobre o “voto amigo”, no qual jus-tificava por que não ia votar motivado ideologicamente, mas por simpatia pessoal.

A nota, que foi recebida furiosamente por uma esquerda que sempre espuma de ódio com os outros, mas vive debaixo de uma ética de condescendência consigo mesma, foi escrita com o intuito de politizar os elos pessoais.

Os laços de amizade e reciprocidade que até hoje nos obrigam a escolher mais pessoas amigas do que representantes dos movimentos sociais como motivos para o voto.

(...)

Afinal de contas, eis o que eu dizia, se exigimos uma politização do mundo, como deixar de fora os amigos, a casa, os parentes e os compadres?

Se a coerência é impossível, não seria o caso de discuti-la e, assim, politizá-la no sentido mais produtivo desta palavra?

Fiquei muito feliz descobrindo que muitos brasileiros geniais, ilustres e sábios, como Caetano Veloso e Oscar Niemeyer, vão votar em amigos.

O arquiteto vai votar em Marco Maciel — um neoliberal que, para muitos, deveria queimar no inferno — porque, diz Niemeyer, “eu o conheço há tempo honestíssimo” — enfatiza.

Haveria algum problema entre o desejo de mudar, permanecendo leal àqueles que “eu conheço”?

A amizade suspende todos os juízos, leis e normas?

Afinal pelos amigos podemos fazer tudo.

E se Judas, Stalin, Fidel, Chávez ou Hitler fossem meus amigos?

Eu acho que é preciso distinguir fraudes e fraldas.

E essa distinção é o projeto mais básico no nosso momento político-eleitoral.

Agencia o Globo/Roberto DaMatta

TODO RATO QUE FICA DONO DO QUEIJO VIRA GATO.

Qualquer semelhança com a coincidência é mera realidade

O noticiário em torno da denúncia sobre o trânsito de Israel, filho da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, em vias nada iluminadas, pelos meandros brasilienses da advocacia administrativa, traz à tona, mais uma vez, os Correios, alvo cobiçado nestes tempos de fisiologia, compadrio e outras práticas deletérias.


Impossível não lembrar que a centelha do mensalão, escândalo que quase levou o governo Lula à combustão, saiu dos Correios.

A ligação feita, sob pretensa inspiração de algum poderoso do Planalto, de esquemas de coleta de dinheiro sujo da estatal com o caixa dois do PTB levou o presidente do partido, deputado Roberto Jefferson (RJ), a reagir no melhor estilo dos homens-bomba:
implodiu o esquema, levou à cassação o desafeto José Dirceu, e foi junto com ele.

Ali apareceu de maneira nítida como um cargo em estatal ou algum posto na administração direta com acesso a um orçamento podem ser usados de forma espúria.

Como sempre, criam-se dificuldades para se vender facilidades.

E a população tem prejuízo dobrado:
como contribuinte e como usuária de serviços públicos, cuja qualidade desaba junto com o padrão ético dos administradores nomeados na pura barganha político-eleitoral.

Não é coincidência que os serviços dos Correios, empresa que já foi modelo de estatal, depois de recuperada pelos militares, tenham começado a piorar nesta fase em que ela foi transformada em moeda de troca no pregão da fisiologia.

O caso Erenice, por exemplo, jogou luz sobre a briga entre peemedebistas pelo controle da ECT:
a fração mineira da legenda terminou substituída, na influência sobre a estatal, pelo segmento brasiliense, com a chegada de Erenice ao gabinete que era de Dilma Rousseff.

Outro órgão público citado nesta história é a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), subjugada, como as demais agências.

Israel trabalhou na Anac na fase de maior aparelhamento político-ideológico do responsável pela regulação do tráfego aéreo.

Era o período de Milton Zuanazzi à frente da agência, quando o desastre com o jato da Gol e o caos aéreo chamaram a atenção para a inoperância da Anac, causada pela despreocupação do governo com a qualificação técnica dos nomeados.

Com a abertura da porteira da fisiologia e do compadrio, nem a Embrapa, grande responsável pela revolução ocorrida na agricultura brasileira, livrou-se, no primeiro mandato de Lula, de ser subjugada porém o mal foi contido a tempo.

Pelo menos não destruíram a empresa, como ameaçam fazer com os Correios.

A Petrobras é outro ninho de aparelhos, mas, por ser muito grande, movimentar recursos na unidade mínima do milhão de reais, os danos desse processo de partidarização do Estado ainda não são visíveis com facilidade.

Mesmo assim, o caso do jipe de luxo presenteado ao petista Sílvio Pereira por uma prestadora de serviços da estatal, a GDK, indica que a empresa, de alguma forma, foi jogada na vala comum dos fins que justificam os meios.

Correios, Anac, Receita Federal, Infraero e empresas do setor energético em geral tratam de atividades vitais para a população.

Uma missão prioritária dos instrumentos de fiscalização e controle do Estado brasileiro é evitar que governos degradem empresas e outras entidades públicas, por meio do desvio de suas finalidades para serem apenas peças na montagem de arranjos políticos.

Agência O Globo/Os prejuízos dos desvios éticos