"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 20, 2012

'Se politizarem julgamento, Lula pagará a conta', diz Jefferson. Foi um 'grande equívoco' deixar Lula fora do processo

Antes mesmo de o Supremo Tribunal Federal (STF) dar início ao julgamento do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson mostra que está disposto a arrastar com ele, ao banco dos réus, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Reeleito presidente nacional do PTB pela quarta vez consecutiva, Jefferson diz que foi "um grande equívoco" deixar Lula fora do processo e ameaça:
"Se tentarem politizar esse julgamento, Lula vai pagar a conta. Vou à tribuna do Supremo".


O que deixou o autor da denúncia do mensalão furioso esta semana foi a informação de que os advogados do ex-ministro José Dirceu, apontado por Jefferson como "o chefe da quadrilha", referem-se a ele como "pessoa de abalada credibilidade" no memorial de defesa entregue ao STF. Tudo para desacreditar aquele que, segundo a defesa de Dirceu, teria criado o termo "mensalão".

"Qualquer ataque a mim será respondido no mesmo tom", avisa o ex-deputado. Embora tenha se surpreendido com um diagnóstico indicativo de câncer no pâncreas e já tenha agendado uma cirurgia para o próximo sábado, 28, Jefferson aposta que estará recuperado até o dia do julgamento de seu processo.

Se os demais réus fizerem uma "defesa técnica e jurídica", seu caso será conduzido pelo advogado Luiz Barbosa. Se politizarem o processo, ele faz questão de fazer pessoalmente sua defesa, como advogado que é, da tribuna do STF.


Não por acaso, Luiz Barbosa tem dito que vai usar metade da uma hora a que tem direito na sustentação oral do STF para bater na Procuradoria-Geral da República e desqualificar a denúncia, por não ter incluído o ex-presidente Lula.

Para a defesa do presidente do PTB, Lula que será apontado como comandante do esquema. A outra meia hora, Jefferson reserva para que ele mesmo possa se defender, partindo para o ataque.


O presidente do PTB lembrará que o Ministério Público sustenta a tese de que houve corrupção para favorecer o governo. E dirá que ministros são meros auxiliares, uma vez que a Constituição confere apenas ao presidente, chefe do Executivo, o poder de baixar decretos e propor projetos de lei autorizando ministros a fazer pagamentos e gastos. "O governo era o Lula, e não o Zé Dirceu", argumenta.

Ele quer rebater pessoalmente os argumentos do memorial de defesa de José Dirceu. Diz o documento que "a acusação de compra de votos é sustentada por um único e frágil pilar:
Roberto Jefferson".

Em seguida, os advogados do ex-ministro afirmam que Jefferson estava "no foco de graves acusações relacionadas com a gravação de Maurício Marinho recebendo dinheiro nos Correios".


A defesa de Dirceu acrescenta, ainda, que foi esse contexto que levou Jefferson "a buscar o palanque da mídia e a inventar que parlamentares vendiam votos por uma mesada de R$ 30 mil.

Assinam o memorial entregue ao STF os advogados José Luís Oliveira Lima e Rodrigo Dall'Acqua.

Estadão

Novas cédulas de R$ 10 e R$ 20 começam a circular na segunda-feira


Na segunda-feira (23) o Banco Central faz o lançamento das novas cédulas de R$ 10 e R$ 20 da segunda família do real. As notas entram em circulação no mesmo dia, mas ainda não há informações sobre o tamanho do primeiro lote.

O lançamento dos novos modelos foi feito em 2010 e, naquela ocasião, a meta do governo era iniciar a substituição dos atuais modelos de R$ 10 e R$ 20 em 2011. Mas, segundo o BC, houve a necessidade de fazer ajustes técnicos para a fabricação, o que atrasou o início da circulação.

Com isso, também foi postergado o início da circulação das novas notas de R$ 2 e R$ 5 – que passou de 2012 para 2013.

Prévia da inflação supera estimativas e sobe 0,33% em julho


A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) registrou alta de 0,33% em julho, após subir 0,18% em junho.

O resultado, divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), superou o teto das estimativas dos analistas consultados pelo AE Projeções, que esperavam inflação entre 0,12% e 0,25%, com mediana de 0,18%.


Com o resultado anunciado hoje, o IPCA-15 acumula altas de 2,91% no ano e de 5,24% nos últimos 12 meses até julho.

Os grupos Alimentação e Bebidas e Despesas Pessoais foram os que apresentaram as maiores taxas de variação de preços no IPCA-15 de julho. Os destaques foram os aumentos nos itens empregado doméstico e tomate, que resultaram nos principais impactos individuais no IPCA-15 de julho, com contribuição de 0,05 ponto porcentual, cada, para a inflação de 0,33% no mês.

Os alimentos passaram de uma alta de 0,66% em junho para +0,88% em julho, o equivalente a um impacto de 0,20 ponto porcentual no IPCA-15 deste mês, ou seja, 61% do índice.

Problemas climáticos prejudicaram a lavoura de diversos produtos, principalmente o tomate, que saiu de uma alta de 19,48% para 29,30%, no mesmo período. Outros itens que pesaram mais no bolso do consumidor foram a cenoura (de -1,11% para +13,63%),
a batata inglesa (de 6,70% para 11,78%)
e o pão francês (de 0,14% para 1,67%, em função de aumentos nos custos dos insumos, como o trigo).


No grupo Despesas Pessoais, a taxa saiu de 0,34% no mês passado para 0,92% em julho, com destaque para empregado doméstico, que subiu 1,37% neste mês, de +0,60% em junho.


Não alimentícios

Embora os produtos alimentícios tenham se destacado nas pressões à inflação medida pelo IPCA-15 de julho, os preços dos produtos não alimentícios aceleraram forte no período.

Segundo o IBGE, a variação desses produtos quadruplicou, saindo de uma alta de 0,04% em junho para um avanço de 0,16% em julho. Já os produtos alimentícios saíram de uma variação de 0,66% para 0,88%, no mesmo período.

O destaque entre os não alimentícios foi o aumento de 1,37% no item empregado doméstico, que levou a uma contribuição de 0,05 ponto porcentual na taxa de 0,33% no IPCA-15 do mês.

Transportes

Os preços dos automóveis novos caíram menos em julho do que em junho, o que diminuiu a deflação no grupo Transportes dentro do IPCA-15 deste mês. A taxa de variação do grupo Transportes saiu de uma deflação de 0,77% em junho para um recuo de 0,59% em julho.

Sob a influência da redução da alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), anunciada no fim de maio, os automóveis novos ficaram 2,47% mais baratos na leitura de julho. Em junho, a queda tinha sido mais intensa, de -3,50%.

Já os automóveis usados saíram de um recuo de 2,62% no mês passado para uma queda de 2,45% neste mês.


Grupos


Cinco entre os nove grupos que compõem o IPCA-15 registraram aceleração no ritmo de aumento de preços em julho.

Pesaram mais no bolso das famílias os gastos com Alimentação e Bebidas (de 0,66% e junho para 0,88% em julho),
Artigos de Residência (de -0,28% para 0,19%),
Despesas Pessoais (de 0,34% para 0,92%),
Educação (de 0,05% para 0,10%) e Comunicação (de -0,14% para 0,14%).


Três deles mostraram menor ritmo de crescimento:
Habitação (de 0,53% em junho para 0,41% em julho),
Vestuário (de 0,66% para 0,39%)
e Saúde e cuidados pessoais (de 0,43% para 0,37%).


O grupo Transportes ainda registrou deflação, embora os preços tenham recuado menos (de -0,77% para -0,59%).


Daniela Amorim, da Agência Estado

Nunca fomos tão felizes


Uma nação não deve ser medida pelo PIB, e sim pelo que faz por suas crianças e adolescentes. A frase de Dilma Rousseff não é de todo uma fuga da realidade, como querem alguns críticos. Na Rio+20 o PIB foi muito criticado como indicador.

Surgiram até pessoas fascinadas pela experiência do Butão, pequeno país encravado no Himalaia que trocou o PIB pelo Índice de Felicidade Nacional.

Quando um líder político fala, não analisamos apenas o conteúdo do discurso, mas também a oportunidade. Dilma afirmou que o PIB não é adequado para medir a nação num dia em que as expectativas de um baixo crescimento do Brasil foram divulgadas.

Tanto no exterior como internamente, as críticas seriam inevitáveis.
Ela procurou se antecipar a elas.

A fábula da raposa e as uvas é um dos textos de maior sucesso no governo. Quando o PIB cresce, é trombeteado como prova "de que nunca antes nesse país", etc. Quando cai, perde importância porque o essencial é cuidar das criancinhas, que num passado não muito distante éramos acusados de comê-las.

Embora tenha apenas a agenda de Dilma como referência, não creio que ela tenha dialogado com o rei Wangchuck, do Butão. Mas tanto quanto ele, num momento de desconforto com o PIB ela está buscando novos indicadores. O Butão, segundo alguns estudiosos da felicidade, como Derek Bok, formulou com critérios interessantes a nova maneira de avaliar o país.

Dilma falou das crianças dependentes de uma boa educação como passaporte para o futuro. Mas os índices internacionais nos colocam em 53.º lugar em leitura e 57.º em matemática, numa lista de 65 países.

Existe um ponto em que a teoria do Butão daria um socorro a Dilma. Segundo ela, o primeiro fundamento da felicidade é o desenvolvimento equilibrado. E o programa Bolsa-Família é um marco internacional na distribuição de renda aos mais pobres.

A ideia de equilíbrio implica uma noção de conjunto. Numa das pontas, o financiamento do BNDES a empresários, conhecido como a bolsa dos ricos, ainda é uma incógnita à espera de um estudo sobre sua adequação às necessidades nacionais. Isso não é feito porque o BNDES se recusa a fornecer detalhes e o pedido da imprensa investigativa para ter acesso a eles foi parar na Justiça.

Na semana passada, o BNDES apareceu financiando o Fusca do século 21, o UP da Volkswagen, com R$ 352 milhões. Talvez seja uma homenagem a Itamar Franco, que tinha o sonho nostálgico de ressuscitar o Fusca.

Fui muito criticado pelos adeptos do governo quando alinhei alguns pontos preocupantes na conjuntura. Governos não gostam de vê-los alinhados, preferem uma visão cor-de-rosa. No passado era o "ame-o ou deixe-o", consagrado pela ditadura militar, que fantasiava um País onde todos os críticos se exilam.

De modo geral, previsões otimistas sobre o Brasil continuam a surgir. Fernando Henrique Cardoso disse, em entrevista recente, que o País está no rumo certo. Ee le é de oposição. A OCDE lançou um relatório afirmando que o Brasil tem as melhores perspectivas estratégicas de crescimento entre os países emergentes.

E um dos pensadores mais aclamados do momento, Parag Khanna, também acentuou as grandes possibilidades do País na economia do futuro, a economia híbrida fortemente marcada pela conectividade. Estrategicamente, estamos bem na foto.

Mas o futuro não pode ser visto como um o reino dos céus, um marco religioso.

No universo místico, derrotas e sofrimentos terrenos não importam porque eles nos levam à salvação. No mundo real, um conjunto de erros pode nos afastar das promessas estratégicas. Daí a necessidade do debate, das críticas.

Que papel podemos esperar no futuro, se o Brasil aparece em 58.º lugar no ranking de invenção da Organização Mundial de Propriedade Industrial, bem atrás do Chile, o 36.º? Caímos nove posições. O atraso brasileiro não se deve só ao governo. Mas uma política científica e tecnológica ajudaria muito.

E deveria ter sido inaugurada em 2003, no primeiro governo Lula. O PIB está lá embaixo, fatores que nos trariam esperança para o futuro, ensino e invenção, têm desempenho desanimador no ranking internacional.

Alguns adeptos do governo querem nos convencer de que nunca fomos tão felizes, como quiseram também os militares, em outras circunstâncias. Para ganhar seu dinheirinho, atacam os críticos e nos chamam de urubus. No meu caso, deviam ter o salário descontado. Urubu é o símbolo de parte da torcida do Flamengo.

Além disso, tive a sorte de ouvir Tom Jobim falar de pássaros e ele sempre destacava a elegância do voo do urubu.

O Brasil está cheio de gente otimista que nos envia beijos no coração e toda essa ternura de candidato em campanha. Precisamos de alimento para pensar. O futuro luminoso não é uma fatalidade à prova de um medíocre oba-oba. Ele pode chegar tarde ou desaparecer no horizonte. O que mais incomoda é associar os impasses econômicos à decadência política.

A Ferrovia Norte-Sul virou mais uma piada, a última do Juquinha, ex-presidente da Valec, que teve os bens bloqueados. Ele ganhava em torno de R$ 20 mil e tinha vários imóveis, até uma fazenda de R$ 20 milhões.

De fora chegam sinais animadoras: Paulo Maluf perdeu os recursos na Justiça de Jersey e a São Paulo pode reaver US$ 22 milhões desviados de suas obras públicas. Na Suíça, Joseph Blatter pede a João Havelange que deixe a presidência de honra da Fifa depois do escândalo da propina. Os torcedores do Rio querem mudar o nome do Estádio João Havelange para João Saldanha.

Dizem os economistas que na maré alta todos se movem com facilidade, mas quando ela baixa descobrimos quem tomava banho nu. Agora que a maré baixou, diante da nudez de pouco adianta o argumento da beleza interior. É preciso coragem e boas ideias para um mundo em transição.

Anos de poder amolecem e deformam quem se aproveita dele. Onde está a energia para um novo tempo?


Para responder à greve dos professores universitários o governo levou 36 dias. E se esqueceu do recesso parlamentar para aprovar incentivos à indústria, quase estagnada. Sorte dele é o profundo sono da oposição.

Fernando Gabeira

"Marca Brasil" vale R$ 2,8 trilhões


Sediar a Olimpíada de 2016 faz a "marca Brasil" valer R$ 2,8 trilhões. Mas o cartão-postal que é o Rio de Janeiro ainda vale menos do que Londres, onde os jogos serão realizados este ano.

O Reino Unido está valendo R$ 4,4 trilhões.
Os cálculos foram feitos pela consultoria britânica de avaliação e gestão de marcas Brand Finance.


Gilson Nunes, CEO da Brand Finance para América do Sul, diz que a discrepância entre os países se dá porque o Brasil não trabalha sua imagem ao redor do mundo. Esse é o principal desafio para o Brasil, diz o executivo, acrescentando que a metodologia leva em conta as empresas que patrocinam o campeonato, ambiente de turismo, fluxo de pessoas e infraestrutura do país, entre outros dados.

O escritório de São Paulo da Brand Finance também calcula que os jogos do Rio devem movimentar R$ 100 bilhões no país entre outubro de 2015 e outubro de 2016. "A gente calcula o impacto do investimento [realizado na cidade-sede para receber os jogos] e o retorno que vai trazer para a economia local."

Na matriz, a consultoria - que tem escritórios em 21 países - constatou que a marca Olimpíada ficou mais cara entre o torneio anterior e o que está para começar. A Olimpíada 2012, em Londres, vale R$ 96,1 bilhões; a Olimpíada 2008, em Pequim, valia R$ 51,3 bilhões.

Para Nunes, essa valorização de 87% entre os jogos se deve também ao trabalho de imagem feito pelo Comitê Olímpico Internacional, que conseguiu aumentar patrocínio e o volume de negócios associados à Olimpíada. O resultado, diz, é um efeito econômico "multiplicador".


O resultado coloca os Jogos Olímpicos em segundo lugar no ranking das marcas mais valiosas do mundo, atrás da Apple (R$ 142,6 bilhões).

"E vale mais do que o valor das próprias marcas de seus patrocinadores, incluindo a Samsung (R$ 77,2 bilhões), GE (R$ 67,1 bilhões) e Coca-Cola (R$ 62,8 bilhões)", informa o estudo.


Nesses quatro anos, a receita total do evento cresceu 38%, para R$ 10,2 bilhões, e a renda com transmissão dos jogos na televisão aumentou 51%, para R$ 7,8 bilhões.

A verba de patrocínio subiu 10,5%, considerado um aumento tímido, "talvez refletindo as duras condições de negócios na recessão global", diz o estudo.

Letícia Casado | De São Paulo Valor Econômico

PARA O brasil SEGUIR MUDANDO ! "QUARENTA POR CENTO" DE MUITO nada e coisa nenhuma.

No dia 7 de agosto, a presidente Dilma Rouseff cruzará a linha dos 40% de seu mandato. Dos 48 meses, 19 já se terão passado. E a verdade é que, por enquanto, os resultados ficaram muito aquém do que o governo esperava.

Mas ainda há tempo para mudanças. A dúvida é se o governo conseguirá perceber que a insistência no curso atual só pode redundar em fiasco.

O desempenho da economia mostra-se cada vez mais decepcionante. Tendo crescido apenas 2,7% em 2011, o PIB deverá mostrar expansão de menos de 2% em 2012. É bem possível que, afinal, a inflação deste ano fique próxima da meta.

Mas, no caso, o elogio que cabe ao Banco Central é o mesmo que poderia ser feito a um jogador de sinuca que, tendo dado uma tacada forte, sem conseguir matar a bola na caçapa "cantada", se regozija por vê-la bater nas tabelas laterais e, lentamente, escorrer para dentro de outra caçapa, do lado oposto da mesa.


A arte estava em trazer a inflação para o centro da meta com a economia crescendo a uma taxa razoável. E não a menos de 2% ao ano.

A incerteza externa, em boa parte advinda da apreensão com o desfecho do imbróglio europeu, tem contribuído para a desaceleração do crescimento. Mas basta comparar o desempenho brasileiro com os de outras economias congêneres para constatar que, além do ambiente externo adverso, há um forte componente específico, verde-amarelo, por trás das dificuldades locais.

É bem provável que, na esteira dos muitos estímulos à demanda deflagrados desde o ano passado, a economia se recupere nos próximos meses e termine o ano crescendo a uma taxa anualizada razoável, ainda que mais baixa que o governo antevê.

O problema é a indústria.

Acumulam-se as evidências de que a falta de dinamismo da indústria não será resolvida com novos estímulos à demanda agregada, não importa quão fortes sejam.

Muito pelo contrário, tudo indica que tais estímulos - num quadro de mercado de trabalho aquecido - estão, de fato, agravando as dificuldades da indústria, como bem arguem, em artigo recente, Affonso Pastore, Marcelo Gazzano e Maria Cristina Pinotti.


Exposta à concorrência externa, a indústria vem vendo sua competitividade estrangulada, pouco a pouco, pelo aumento do custo Brasil. Especialmente, pela elevação sem fim da carga tributária. E aqui, sim, o governo poderia fazer muita diferença. Mas, por enquanto, não tem feito. Por pelo menos duas razões.

A primeira é que um programa de redução efetiva e substancial de carga tributária seria incompatível com um ponto central e inegociável do projeto político do governo, que é a manutenção da rápida expansão do dispêndio público.

É por isso que a desoneração fiscal que vem sendo feita - além de discricionária e baseada em injustificável reintrodução da tributação sobre faturamento - é tão acanhada.


A segunda razão é que o governo se tem mostrado incapaz de promover a recuperação do investimento público, essencial para a redução do custo Brasil. Muito se tem dito sobre a insolúvel paralisia dos programas de investimento do governo.

Mas talvez já seja hora de adicionar às explicações usuais as deficiências que decorrem do estilo peculiar com que a presidente exerce suas funções administrativas, não obstante toda a mitologia que se construiu em torno de seus supostos talentos nessa área.


Sobram evidências de que a presidente Dilma Rousseff tem cometido erros sérios na seleção de auxiliares importantes, mostra propensão desmesurada à centralização e considera eficaz manter os escalões mais altos do governo aterrorizados com a possibilidade de desgostá-la por qualquer razão. Não é preciso ser um guru da administração para constatar o óbvio.

A persistência dessas práticas na cúpula do governo constitui enorme empecilho à boa gestão das políticas públicas e ao bom andamento dos programas de investimento público.

Reconhecer as deficiências e ter disposição para mudar é a parte mais difícil. Mas o certo é que o governo precisa corrigir o curso. Passados os próximos 19 meses, Dilma se verá na cabeceira da pista da sucessão presidencial.

Rogério L. F. Werneck O Estado de S. Paulo