"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 21, 2012

E SOBRE A TENTATIVA DE "GOLPE DAZ OPOZISÃO" CONTRA A "ONRRA" DO CACHACEIRO PARLAPATÃO O FILHO...do brasil, O DÉSPOTA FRUSTADO...

O PT e mais cinco partidos da base aliada divulgaram, na quinta-feira, a carta "À sociedade brasileira", em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os subscritores do documento compararam a atual situação do ex-presidente com a crise política de 1954, quando, dizem, inventaram um mar de lama para tirar Getúlio Vargas do poder. 

Também é citada a crise de 1964, época da queda de Jango.

Para o historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos, o paralelo é absolutamente descabido. Segundo ele, em tom jocoso, o episódio mostra que o país tem ainda que avançar muito na área da educação. Villa recorda, ainda, as diversas pressões sofridas pela Corte na história republicana do Brasil.

A carta em defesa de Lula apresenta assim o paralelo aos ataques:
"Assim foi em 1964, quando derrubaram Jango para levar o País a 21 anos de ditadura. O que querem agora é barrar e reverter o processo de mudanças iniciado por Lula, que colocou o Brasil na rota do desenvolvimento com distribuição de renda, incorporando à cidadania milhões de brasileiros marginalizados, e buscou inserção soberana na cena global, após anos de submissão a interesses externos".

O que o senhor achou da comparação histórica feita pelo PT e mais 5 partidos da base aliada?

Eu li e até brinquei com uns amigos. Eu acho que o ensino de História está muito ruim no país, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio... É uma comparação absolutamente descabida.
A crise de 1954 é uma crise que ocorre no interior do Poder Executivo.

Há o atentado na Rua Toneleiros, que acabou levando ao suicídio de 24 de agosto. O que você tem ali, na verdade, é a crise do Poder Legislativo com o Executivo.

Em junho do mesmo ano há uma proposta, que nem chegou a ser aprovada, para abrir o impeachment em relação ao Getúlio (Vargas), mas que acabou sendo derrotada. Isso em junho, quer dizer, poucos meses antes do suicído.

Já a comparação de 1964...

A de 64 é uma crise que também não tem nada a ver com o Judiciário. Nada. Zero. Foi um momento de muita tensão social. Na época havia grandes comícios, passeatas, etc. Há o momento da campanha pela legalidade, a defesa da Constituição, o comício do dia 13...

Agora, esses episódios históricos não tem nada a ver com o Poder Judiciário. E toda a questão, neste momento, está sendo travada no Poder Judiciário, pela Suprema Corte, e não há nenhum indício de pressão, de mobilização de massa, ameaça de impeachment.

Então, não há paralelo histórico?

É absolutamente descabido.
E isso mostra também que o ensino está muito ruim.

Por que há essa comparação?

São muitas coisas:
desconhecimento da história, bravata, e também uma tentativa de coação em relação ao Poder Judiciário. Porque até agora - estou acompanhando atentamente o julgamento - está tudo acontecendo absolutamente dentro dos termos legais.

Não há nenhuma consideração fora dos autos do processo. Não há qualquer dúvida de ilegalidade. Ao contrário, há um clima de serenidade, que é raramente visto em um processo tão complexo como este, e tão amplo. Nunca, na história, o Supremo teve um número tão grande de réus em um mesmo processo.

E esse é um processo que tem importância política. É o processo mais importante da história do Supremo. Mas o critérios são absolutamente jurídicos, e não políticos.

Na carta, os signatários afirmam que a oposição e opinião pública estão pressionando o STF? Quais foram os momentos históricos em que o Supremo foi pressionado? O senhor concorda que há pressão da opinião pública e da oposição?

Atualmente, a oposição que tem o menor número de parlamentares, na América do Sul, é a do Brasil: 17,5% do parlamento. Até na Venezuela a oposição é mais forte. Então, imaginar pressão da oposição... numericamente ela é desprezível. E a oposição não está explorando politicamente o julgamento.

O principal líder da oposição, que é o senador Aécio Neves, o que ele falou sobre o tema? Nada.

E as pressões já vividas pela Corte?

Ao longo da história, o Supremo foi muito pressionado. No governo Floriano Peixoto, por exemplo, ele ameaçou diversas vezes ministros. Era a questão dos habeas corpus, a concessão de habeas corpus a adversários políticos.

Ele coagiu ministros, chegou a nomear general e médico (Barata Ribeiro) para o Supremo. A Revolução de 1930, quando toma o poder, o governo provisório aposenta seis ministros à força. O Estado Novo (1937-1945) limitou muito a autoridade do Supremo.

O presidente do Supremo era nomeado pelo Getúlio Vargas.
Você imagina? A Constituição de 37 dava esse direito.

A ditadura militar, mais recentemente, também sempre avançou sobre o Supremo, inclusive chegou a cassar três ministros.
Então, ao longo da história republicana, o Supremo esteve em situações violentas por parte do Executivo.

DO PINÁCULO OS PRIMEIROS PASSOS PARA O PRECIPÍCIO... DESESPERO !

Dois fatores confluíram para despertar a iracunda reação do governo contra os partidos e as forças que não lhe dizem amém: 
a iminência de derrotas fragorosas nas urnas daqui a duas semanas 
e a comprovação, feita pelos ministros do Supremo Tribunal Federal, da existência do mensalão e suas vis características. 

Quando viu seu poder contestado, sua aura santa implodida e sua perspectiva de vitórias minada, o PT rasgou a fantasia. Mais uma vez, o partido de Lula, Dilma, José Dirceu e sua quadrilha de mensaleiros mostrou que não consente com críticas, trata adversários como inimigos e só convive com a democracia por conveniência. 

Só quem tem horror ao estado democrático de direito e suas instituições vê "práticas golpistas" onde só existe o sagrado direito à crítica, o exercício do contraditório, a manifestação do livre pensar e do livre agir. 

O PT esperneia diante da constatação de que foi no governo de sua maior estrela, Luiz Inácio Lula da Silva, que ocorreu o maior escândalo de corrupção da história do Brasil. 

Vocifera por ver alguns de seus principais capas-pretas prestes a serem condenados a passar anos atrás das grades por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. 

Os petistas desesperam-se ainda mais ao constatar que a força eleitoral do partido perde ímpeto em todo o país e esfumaça-se nas principais cidades brasileiras - só numa das capitais a candidatura petista sai-se bem, ao mesmo tempo em que o PT corre risco de sequer ir ao segundo turno em locais fundamentais como São Paulo, Porto Alegre e Recife. 

O Estado de S.Paulo revela que foi Lula quem articulou a raivosa "nota à sociedade brasileira" divulgada ontem pelo PT e assinada por mais cinco partidos da base: PMDB, PSB, PRB, PDT e PCdoB - noticia-se que os três primeiros teriam aderido sob coação. 

Além disso, segundo a Folha de S.Paulo, o texto teria envolvido José Dirceu e sido levado previamente à presidente Dilma Rousseff, que o avalizou, em mais uma atitude inadequada para o cargo que ocupa. 

Seria absolutamente legítimo - mais que isso, é desejável - que o ex-presidente se manifestasse a respeito das denúncias veiculadas na revista Veja desta semana. 

 A saber: 
de que ele foi o chefe do mensalão; de que ele articulava a arrecadação de dinheiro sujo dentro do Palácio do Planalto; e de que o esquema criminoso ora julgado e condenado pelo Supremo movimentou uma dinheirama muito maior do que se sabia até agora. 

Mas não. 

Sobre isso, Lula mantém silêncio constrangido. Mais uma vez, como de hábito, em lugar de rebater fatos, ataca quem lhe pede explicações, como fizeram os partidos de oposição na última terça-feira, por meio de nota à imprensa. 

Ao invés de desmentir, se é possível desmentir, as acusações publicadas pela revista, ele parte para o ataque contra os que lhe reivindicam algo simples: 
prestar esclarecimentos sobre fatos que teriam ocorrido, com sua suposta participação, quando o petista era o presidente da República Federativa do Brasil.

Não há golpismo na atitude do PSDB, do Democratas e do PPS. 
Pelo contrário, há cautela e respeito pelas instituições democráticas. 

Tanto que os três partidos só cogitam pedir investigações ao Ministério Público sobre as denúncias publicadas por Veja quando concluído o julgamento no STF, o que só ocorrerá quando também as eleições municipais já terão transcorrido. Mas o PT vê nas atitudes oposicionistas fantasmas de um passado que nem de longe estão presentes agora. 

É o desespero. 

Bastou a oposição colocar o dedo na ferida para os petistas destrambelharem de vez, numa escalada que teve início a partir da análise do presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a "herança pesada" legada por Lula a Dilma, em artigo veiculado no último dia 2. 

Daí em diante, o que se viu foi a marcha da insensatez do PT e do governo em ação. 

Já tivemos, por um lado, a presidente da República divulgando nota oficial para rebater o artigo do líder tucano, ocupando rede nacional de rádio e televisão para atacar a oposição, usando cerimônia oficial para os mesmos fins e trocando ministro para tentar interferir na campanha eleitoral à prefeitura paulistana.

De outro, a Executiva petista aloprou de vez com uma nota em que conclama seus seguidores a travar uma "batalha do tamanho do Brasil" para "desfazer mentiras", enquanto alguns de seus dirigentes passaram a criticar o STF e a ver no julgamento do mensalão um "golpe" contra o PT, um "risco para a democracia" e uma "grande falácia". 

Neste ínterim, Lula, mesmo depois das graves revelações da Veja, não se dirigiu diretamente à opinião pública nenhuma vez, para, simplesmente, elucidar os fatos. 

Mas não se furtou a excursionar pelo Brasil subindo em palanques de candidatos petistas para desferir críticas irascíveis a concorrentes, como ocorreu com Arthur Virgílio em Manaus na quarta-feira e com ACM Neto em Salvador na semana passada.

 Ou seja, sobra-lhe disposição para atacar, mas nenhuma para esclarecer. É lamentável que o partido que governa o país há dez anos não tenha aprendido até hoje a conviver com quem não lhe diz "sim, senhor". 

Não tenha desenvolvido, neste longo período, o apreço e o carinho que a democracia merece. Não tenha reservado às instituições o respeito que qualquer partícipe de uma república lhe deve devotar. 

É lastimável que o PT trate tão mal a liberdade, os direitos e os valores que o povo brasileiro tanto preza. 

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
O PT e o horror à democracia

EM REPÚBLICA DE TORPES... O RISCO DE URNAS ABERTAS PARA FRAUDES.

 
A menos de um mês das eleições municipais, o País continua mergulhado em dúvidas quanto aos caminhos definidos para suas escolhas - e sujeito a eventuais acontecimentos que poderão ser graves. 

Trata-se do modelo de urna eletrônica adotado para a votação, que especialistas já há algum tempo vêm mostrando que é suscetível a fraudes e teve seu modelo recusado por dezenas de países. 

Mas, ainda assim, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) insiste em mantê-lo, sob a alegação de que outro modelo teria custo alto, permitiria identificar o votante (quebrando o sigilo do voto) e poderia retardar a votação, se implantado. 

A história recente nessa área tem lances dramáticos. 

Para ficar apenas em um, pode-se retornar à eleição presidencial de 1989, quando um dos candidatos, Leonel Brizola, contestou a decisão do TSE de mandar para o segundo turno, contra Collor de Mello (que tivera 20,6 milhões de votos), o candidato Lula, com 11,62 milhões (Brizola tivera 11,16 milhões, 456 mil menos). 

Mas o presidente do TSE, o então ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Francisco Rezek, alegou que a recontagem seria impossível, porque as cédulas usadas pelos eleitores já haviam sido incineradas. 

Rezek depois renunciou ao STF, tornou-se ministro de Collor e, ao deixar o Ministério, foi nomeado de novo ministro do STF - caso único na História nacional. 

De lá para cá houve denúncias em outros casos, escaramuças. Mas não se avançou.

Há uns poucos anos a Câmara dos Deputados, que pretendia preparar um novo sistema para 2014, pediu parecer do TSE sobre os caminhos a seguir. 

O tribunal, entretanto, alegou não ser necessário, dada a confiabilidade que atribuía ao sistema vigente. 

A Câmara pediu, então, a um "comitê multidisciplinar independente" (CMI), composto de dez pessoas, entre elas juristas e especialistas em tecnologias de informação, um parecer sobre o sistema brasileiro de votação eletrônica, dadas as dúvidas levantas aqui e em outros países. 

A principal delas é que, com as regras e os formatos atuais, é impossível para os representantes da sociedade auditar o resultado da apuração. 

Como diz o relatório do CMI, "caso ocorra uma infiltração criminosa determinada a fraudar as eleições, a fiscalização externa dos partidos, da OAB e do Ministério Público, do modo como é permitida, será incapaz de detectá-la". 

Por isso julga necessário "regulamentar mais detalhadamente o princípio da independência do software em sistemas eleitorais, definindo claramente as regras de auditoria com o voto impresso conferível pelo eleitor". 

Fraudes eleitorais ocorrem no mundo todo (basta relembrar as que Al Gore alegou na sua disputa com Bush). E no mundo todo, em dezenas de nações, o sistema adotado pelo Brasil não é aceito. 

O último país que o adotava, a Índia, mudou no ano passado. 

A Venezuela já mudara em 2004, 
assim como a Argentina, 
o Peru, 
o Equador, 
a Costa Rica e o México. 

O Paraguai desistiu desse caminho, que não aceita o controle da sociedade - basicamente, porque não permite recontagem e concentra poder na autoridade eleitoral. O eleitor não tem como fiscalizar; a segurança eletrônica não é suficiente, "não substitui o exercício da soberania pelo eleitor-médio". 

E mesmo que fosse possível, como diz o procurador da República Celso Antônio Três, citado no parecer do CMI, "isso não seria suficiente; impõe-se disponibilizar aos cidadãos, através de suas faculdades normais, motu próprio, a possibilidade de sindicar a devida observância à sua vontade eleitoral". 

No atual sistema brasileiro, diz o relatório do CMI, "há exagerada concentração de poderes, resultando num comprometimento do princípio da publicidade e da soberania do eleitor". 

Lembra o engenheiro Amilcar Brunazo Filho, especialista em tecnologia de informação e um dos autores do parecer do CMI, que a Alemanha em 2009 considerou contrário ao princípio da publicidade e à sua Constituição o uso de máquinas apenas, sem o voto impresso do eleitor, verificável por ele. 

"Máquina eletrônica não basta", concluíram os técnicos alemães, se o eleitor não tem como ver o que foi gravado no registro digital do voto. 

 "O princípio da publicidade no processo eleitoral era perfeitamente atendido no sistema da votação manual", observa o parecer. 

"O eleitor via o conteúdo do Registro do Voto - a cédula eleitoral - antes de ser colocada na urna. Na apuração, todos esses registros do voto eram abertos para serem vistos e contados perante os representantes dos candidatos.

Porém, com a adoção das máquinas DRE no Brasil em 1996 o princípio da publicidade no processo eleitoral eletrônico teve seu alcance restringido". 

E se o eleitor não tem como ver ou conferir o que foi gravado no Registro Digital do Voto - feito depois que ele confirma sua escolha -, nunca terá como saber se o registro consignou seu voto conforme digitado.

Trata-se, no todo, de parecer feito por uma comissão independente de partidos ou de qualquer organização, com colaboração espontânea de seus membros, todos experientes na área da legislação e das tecnologias de informação.

E que ainda tem o acerto de suas conclusões referendado pelo professor Diego Aranha e por um grupo de especialistas do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília, que em agosto mostrou na prática que o sistema referendado pelo TSE é vulnerável, permite a quebra de sigilo dos votos.

Não é preciso ter muita imaginação para supor que, num país com as dimensões do Brasil, mais de 5.500 municípios, existe a possibilidade de tentativas de fraude. Se o mundo todo está dizendo que nosso sistema é vulnerável, por que não mudar ou corrigi-lo?

Identificação digital apenas não resolve, como já se mostrou: 
de que adianta pôr no papel as impressões de dez dedos se depois só se podem reconhecer duas?

E ainda é preciso ter em conta que todos os dias surgem notícias de hackers que invadem sites eletrônicos, até de órgãos das nações mais poderosas do mundo.

Cautela, pois. 

Washington Novaes O Estado de S. Paulo

Entenda : 

Urna eletrônica

UM PRIMEIRO BALANÇO DO JULGAMENTO DO MENSALÃO

Muito já se disse e se escreveu sobre o caso mensalão (AP 470). Expectativas iniciais, defesas algumas elogiáveis, outras nem tanto, votos e discordâncias entre os ministros enfim. 

 Condenações, divagações em alguns campos incompreendidos, mas de sutileza jurídica peculiar, marcaram os tantos dias de julgamento. Mas, o que se dizer de seu real balanço? Defesa e acusação já tiveram seus momentos de glória e de crítica. 

Um ataque devastador foi feito às teses de acusação durante o primeiro momento do julgamento. 

Muitíssimo criticado, o parquet aguardou e esperou, já que sua palavra já havia sido posta aos destinatários primeiros de seu pensamento: 
os ministros julgadores. 
A defesa teve belos momentos, ainda que alguns críticos vejam com parcimônia alguns de seus expoentes. 

Vitórias foram marcantes, quer no reconhecimento de nulidades que viciaram o processo de determinado réu, quer na absolvição de outros. Sem dúvida, contudo, as condenações se viram mais presentes nesses dias iniciais. Disso, talvez, se possam evidenciar algumas lições. 

A primeira delas diz respeito ao posicionamento de alguns dos novos integrantes da Corte. Se existia indagação acerca do entendimento de alguns dos novos ministros sobre temas de direito penal econômico, agora não mais. 

Resta saber como serão os entendimentos em colocações menos diretas do que as até agora presentes. Talvez seja o campo do chamado núcleo econômico que tenha frisado as maiores mudanças de óptica judicial. 

Note-se que a Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei nº 9.613/1998) nem sempre foi devidamente analisada em sede de Suprema Corte. 

No mais das vezes, quando questões a essa instância eram levadas, avaliavam-se nulidades e vícios processuais. Dificilmente questões de fundo foram, ali, submetidas ao crivo judicial. Essa, a colocação próxima futura. Mas não só.

Ao mencionar que agentes do sistema financeiro nacional - diretores e altos executivos de determinado banco - acabaram em incidir em crimes, quer de gestão fraudulenta, quer, ainda, por Lavagem de Dinheiro pelo simples fato do não cumprimento de obrigações normativas do Banco Central - as regras de compliance - o Supremo Tribunal Federal verdadeiramente inova, já que isso se mostra além da própria previsão legal, que encontrava fronteira no campo administrativo. 

Como esses entendimentos serão agora vistos em instâncias inferiores é algo que inquieta a vários setores, como observado neste espaço há alguns dias. Não se questiona, aqui, a importância do compliance, tido e havido, mundo afora, como uma situação obrigatoriamente a ser observada. 

Apenas se destaca que esse novo entendimento deve conduzir a própria operacionalização do compliance daqui para frente. 

É de se recordar que, da mesma forma que o direito penal quando atua expansivamente acaba por fornecer instrumentos de pressão e sanção, por questão de sua própria autorregulação, ele também acaba por criar mecanismos de contenção dessa expansão. 

Isso talvez não se mostre tão claro na medida em que a cultura jurídica nacional ainda é muito focada em seu aspecto positivo, mas, sem dúvida, chaves hermenêuticas hão de ser postas para a gestão penal. 
Uma palavra quanto ao tratamento do contexto probatório.

 Até o momento, de um modo ou de outro, as avaliações foram bastante pontuais. 

A quadra que se inicia, em relação ao chamado núcleo político, abrirá amplo espaço para esse debate. A partir de agora, as discussões se darão, necessariamente, sobre a realidade existencial das provas e de como devem elas ser avaliadas. 

Talvez, contudo, a grande questão que se avizinha, desde um ponto de vista jurídico-penal, seja a sempre mencionada avaliação do domínio do fato. 

Em que pese essa tese ser absolutamente sedutora - desde uma perspectiva acusatória - existem limites para sua utilização, quanto mais em não se tratando, necessariamente, de estruturas organizadas de poder não estatal.

A semana que se inicia, por certo, trará novidades nesse contexto. 


Renato de Mello Jorge Silveira é professor titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP)

O "DEUZ" DEMO E SEU INFERNO ASTRAL

Ou Lula errou feio ou a fatura do mensalão parece, enfim, estar sendo cobrada do PT, e em menos tempo do que se esperava. 

Caso se confirme a tendência apontada ontem pelo Datafolha em São Paulo, Fernando Haddad se tornará o petista que menos votos obteve proporcionalmente numa eleição para prefeito paulistano. 

Mais: 
nunca antes na história da política brasileira o partido tinha ficado fora do segundo turno numa disputa eleitoral pela mais poderosa, importante e cobiçada prefeitura do país. 

Será que Lula não é o deus que certos petistas imaginam ser? 

Ou será que o julgamento do mensalão — e a possível condenação de Dirceu, Delúbio e Genoino — pela mais alta corte de Justiça do país acabou com a farsa de que o escândalo era invenção da mídia "golpista"? 

Abalados pelo bombardeio de acusações e provas de como foi montado o esquema de desvio de dinheiro público para comprar apoio de parlamentares e partidos ao então governo Lula, petistas já tentaram até impedir que as sessões do STF sejam transmitidas ao vivo. 

Seja erro de Lula ou efeito mensalão, o fato é que hoje, em São Paulo, assiste-se a um retrocesso. O favorito para vencer a eleição, Russomanno, encarna a ascensão do bispo Edir Macedo ao poder, tudo o que há de mais atrasado e nefasto para a política no país. Isso ocorre hoje, em grande parte, por culpa de Lula. 

Ninguém como ele empunhou a bandeira de que era possível fazer política com ética no Brasil e depois saiu em defesa do mensalão, dos aloprados e sujou ainda mais a biografia ao levar o PT para a direita da direita de Maluf. 

 O fiasco do PT em São Paulo não é caso isolado. 
 O dedaço do chefão também se revela um fiasco no Recife, onde o petista Humberto Costa foi atropelado por Geraldo, um "poste" inventado pelo governador Eduardo Campos (PSB). 

Ele já caiu tanto que, segundo o instituto Opinião, se houver segundo turno, estará fora da disputa: 
foi ultrapassado por Daniel, um tucano que começou no embate quase como traço nas pesquisas. 

Em BH, o atual prefeito, Márcio Lacerda, também do PSB, caminha para derrotar ainda no primeiro turno mais um ungido por Lula (e Dilma): 
Patrus Ananias. 

Derrota em dose tripla.

Plácido Fernandes Vieira Correio Braziliense
Deus e o mensalão

ENQUANTO ISSO NO brasil maravilha dos FARSANTES... O pior agosto em nove anos

 A geração de empregos formais foi fraca em agosto. 

Segundo os dados divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho, no mês passado o saldo líquido do emprego foi de 100.938, praticamente a metade dos 190 mil postos de trabalho criados no mesmo período de 2011. 

Foi o pior resultado para agosto nos últimos nove anos e também o mês com menor criação de vagas neste ano. 

No acumulado dos oito meses do ano foi gerado 1,37 milhão de vagas com carteira assinada, o que representa uma queda de 24,5% frente ao desempenho de igual período do ano passado, quando foi criado 1,82 milhão de empregos formais. 

É também o pior resultado para períodos de oito meses desde 2009, quando foram criados 842 mil empregos com carteira assinada. 

A perda de ritmo na geração de emprego surpreendeu até mesmo os técnicos do Ministério do Trabalho. Depois de julho, que apresentou um bom resultado, a expectativa era de que o número de vagas para os trabalhadores com carteira assinada deslanchasse. 
Não foi o que aconteceu.

"O movimento do mercado de trabalho neste ano está bastante irregular, com enorme grau de imprevisibilidade", observou o secretário interino de Políticas de Emprego e Salário, Rodolfo Torelly. Impossível repetir Torelly já está convencido de que não será possível repetir, em 2012, o desempenho do mercado de trabalho em 2011 que, depois dos ajustes feitos, ficou com um saldo líquido do emprego formal de 2,2 milhões. 

No máximo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) chegará à criação de 1,7 milhão de empregos — o mais provável é um número em torno de 1,5 milhão. 

Outros 300 mil poderão ser agregados com a incorporação das movimentações de pessoal informadas com atraso pelas empresas e também com os dados dos funcionários públicos, extraídos da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). 

Para ter certeza de que esse cenário se concretizará, o Ministério do Trabalho aguarda ansioso os dados de setembro. 

"Assim como maio, setembro sempre é um mês muito dinâmico no mercado de trabalho. Esperamos um número bom, mas mesmo assim abaixo do resultado de setembro do ano passado", disse Torelly. Em setembro de 2011 foram criados 251 mil novos empregos. 

Agricultura 

Em agosto, com exceção da agricultura e de alguns subsetores da indústria, que tiveram desempenho negativo por conta de fatores sazonais, todos os grandes setores da economia expandiram o nível do emprego. 

O problema é que a expansão foi baixa. Os serviços, por exemplo, geraram 54.323 postos de trabalho, o comércio 31.347, a indústria de transformação 16.438 e a construção civil 11.278 postos de trabalho. 

 A perda de 16.615 vagas na agricultura se deve ao encerramento do ciclo do cultivo do café. Isso foi determinante, por exemplo, para que Minas Gerais registrasse o fechamento de 2.787 vagas em agosto. No mês, além de Minas, só o Espírito Santo reduziu em 501 o número de postos de trabalho. 

Nos demais estados o desempenho foi positivo, apesar do fechamento de 3.340 vagas na indústria da borracha e na de fumo. Foram registrados 831 postos de trabalho a menos na indústria metalúrgica e um resultado também negativo de 136 vagas fechadas na indústria de calçados.

Vânia Cristino Correio Braziliense