"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 16, 2012

A IDIOTIA NO PODER

Os idiotas estão por toda parte, avisou já no título o artigo aqui publicado em 21 de janeiro de 2011 e reproduzido na seção Vale Reprise.

Depois de registrar no primeiro parágrafo que foi Nelson Rodrigues o primeiro a detectar, numa crônica do fim dos anos 60, “a ascensão espantosa e fulminante do idiota”, o texto constata que a o fenômeno atingiu dimensões alarmantes neste começo de século.

No início do 9º ano da Era da Mediocridade, a tribo dos cretinos fundamentais, que antes se limitava a babar na gravata, chegou ao coração do poder e perdeu de vez quaisquer inibições.

Seis meses mais tarde, no jantar em homenagem ao 80° do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ainda ministro Nelson Jobim evocou a mesma crônica de Nelson Rodrigues para afirmar que “os idiotas perderam a modéstia”.

Jobim nunca escondeu que é leitor desta coluna. Mas esta é outra história. Não estou tratando de direitos autorais.

O tema é a crescente desenvoltura da espécie que, sempre em acelerada expansão, hoje é representada no governo e nos partidos da oposição, no Ministério e no segundo escalão, no Congresso, nos tribunais e na imprensa, na plateia que assiste à passagem do cortejo ou nos andores da procissão de espantos.

Há um ano, ao fim de um passeio de helicóptero pela Região Serrana do Rio, Dilma Rousseff prometeu fazer amanhã o que Lula jurou ter feito em 2005, solidarizou-se com as famílias assassinadas pela incompetência do Planalto e do governo estadual e elogiou o comparsa Sérgio Cabral.

O governador devolveu o elogio, agradeceu a Lula por oito anos de providências imaginárias e debitou o massacre premeditado na conta dos antecessores, de São Pedro, do imponderável e dos mortos.

Ambos foram desmoralizados por Luiz Antonio Barreto de Castro, demissionário do cargo de secretário de Políticas e Programas do Ministério de Ciência e Tecnologia, durante um depoimento no Congresso.

Castro encerrou a conversa fiada com seis palavras: “Falamos muito e não fizemos nada”. O espetáculo da inépcia foi reapresentado ao longo de 2011, sob o silêncio obsequioso da oposição partidária.

A idiotia é pluripartidária.

Mas há limites até para a cretinice, precisa aprender o governador Sérgio Cabral. Nesta segunda-feira, ele voltou a comparar o que houve na Região Serrana em janeiro passado com a passagem do furacão Katrina por New Orleans em 27 de agosto de 2005.

Se Nova Friburgo fosse atingida por um furacão de categoria 5, nível máximo na escala de Saffir-Simpson, não sobraria ninguém para contar a história.

Se New Orleans fosse castigada por uma chuva torrencial de 20 horas, só morreriam os que resolvessem suicidar-se por afogamento.

A menos que o prefeito da cidade fosse Sérgio Cabral: quem faz de conta que temporal é furacão não precisa de mais que uma enxurrada para produzir outra tragédia.

BRASIL MARAVILHA .BALANÇA COML : déficit de US$ 589 mi na 2ª semana de janeiro. NO ANO : já acumula um déficit de US$ 694 milhões

A balança comercial brasileira registrou um déficit de US$ 589 milhões na segunda semana de janeiro de 2012.

O resultado é fruto de US$ 3,795 bilhões em exportações e US$ 4,384 bilhões de importações.

A média diária das vendas externas foi de US$ 759 milhões. Nas importações, a média diária ficou em US$ 876,8 milhões.


Os números foram divulgados nesta segunda-feira, 16, pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e consideram o período dos dias 9 a 15 de janeiro.

Na primeira semana de janeiro, houve um déficit de US$ 105 milhões. As exportações somaram US$ 3,539 bilhões no período, enquanto as importações ficaram em US$ 3,644 bilhões.


No ano, a balança comercial acumula déficit de US$ 694 milhões. As exportações somaram US$ 7,334 bilhões. As importações totalizam US$ 8,028 bilhões.

Média diária

A média diária de importações da segunda semana de janeiro somou US$ 876,8 milhões, uma alta de 20,3% ante a média da primeira semana do mês, de US$ 728,8 milhões.

De acordo com dados do MDIC, o aumento foi puxado pela expansão de gastos com combustíveis e lubrificantes, equipamentos mecânicos, equipamentos elétricos e eletrônicos, químicos orgânicos e inorgânicos e instrumentos de ótica e precisão.


Já a média diária das exportações na segunda semana de janeiro aumentou 7,2% em relação à média da primeira semana do mês. Na segunda semana de janeiro, as vendas externas atingiram US$ 759 milhões, ante US$ 707,8 milhões na semana anterior.

O crescimento foi impulsionado pelos semimanufaturados de ferro ou aço, ferras-ligas, óleo de soja em bruto, alumínio em bruto e couros e peles, cujas exportações aumentaram 27,8%, de US$ 91,6 milhões para US4 117,1 milhões.

As exportações de manufaturados tiveram alta de 6,6%, de US$ 286,7 milhões para US$ 305,5 milhões, com destaque para energia elétrica, máquinas e aparelhos de terraplanagem, polímeros plásticos, autopeças, açúcar refinado, veículos de carga e transportes.

Já as vendas externas de básicos cresceram 4,7%, de US$ 302,7 milhões para US$ 316,9 milhões, em razão de petróleo,
café,
farelo de soja,
carne bovina,
milho em grãos,
fumo e folhas e algodão.

Célia Froufe e Anne Warth, da Agência Estado

Manual antiabutre


Entre as cidades atingidas em 2011 pela tragédia das chuvas na região serrana do Rio de Janeiro, Nova Friburgo foi a que mais sofreu.

Das 918 vidas ceifadas.
426 feneceram na cidade. Os desabrigados ali somaram 12000, ou 7% da população.

O hospital chegou a ficar submerso e 27 escolas foram invadidas pela lama. Exatamente um ano depois da tragédia 7000 pessoas continuam sem casa, três escolas deixaram de existir e nenhuma das quarenta, pontes levadas pela enxurrada foi reconstruída - cenário parecido com o das vizinhas Teresópolis e Petrópolis.

Os escândalos que se seguiram à tragédia culminaram, em novembro, com a cassação do prefeito de Teresópolis, Jorge Mário, e o afastamento por decisão judicial do prefeito de Friburgo, Dermeval Barboza. Em dezembro, uma CPI concluiu um relatório de 3000 páginas sobre os desvios e um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) determinou a devolução de 4,3 milhões dos 12 milhões de reais enviados à cidade pelo governo federal.

Na semana passada, VEJA teve acesso aos dois documentos. Encontrou um enredo de desmandos que, esmiuçado, bem poderia servir para ajudar a, evitar a ação dos abutres que lucram com a desgraça alheia - e, certamente, estão prontos para faturar com o espólio das chuvas deste ano.

A CPI da Tragédia rastreou o destino dos 24 milhões em dinheiro federal, estadual e doações enviados a Friburgo. Foram fechados 45 contratos. Todos irregulares.

Como não havia necessidade de licitação, dado o caráter emergencial das despesas, os abutres não se preocuparam nem em disfarçar. Lançaram mão de falsificações roscas de notas fiscais e planilhas de serviço, simularam pesquisas de preço com firmas-fantasma e compraram uma quantidade abissal de material hospitalar.

A farra maior ocorreu na limpeza e retirada dos escombros.
Dos 8,3 milhões de reais destinados a esses serviços, metade foi paga sem comprovação. Uma única empresa, a Vital Engenharia, recebeu 4,3 milhões de reais para tirar o entulho de sete bairros, mas limpou somente dois. Apenas dois fiscais vigiavam a aplicação do dinheiro.

Segundo o Ministério Público Federal, eles integraram o esquema.
Assinaram planilhas em branco, atestaram ter visitado obras que nem sequer haviam começado e ignoraram o fato de duas empresas terem sido pagas para limpar a mesma rua.


Nem a tentativa de fazer com que as crianças retomassem a rotina escapou da sanha dos inescrupulosos.

A empresa contratada para levar 1700 alunos para as escolas municipais durante quarenta dias não conseguiu comprovar que eles foram de fato transportados. Descobriu-se que pelo menos quatro vans fizeram trajetos já cobertos pelo transporte público.

E mais:
de acordo com as notas fiscais, cada van teria percorrido, em média, 140 quilômetros - o suficiente para levar a todos de Friburgo ao Rio de Janeiro diariamente. Os contratos para a saúde não causam espanto menor.

Foram comprados 2 milhões de pares de luvas cirúrgicas e 532 000 seringas. Será possível atender cada friburguense pelo menos dez vezes e ainda aplicar três injeções.

O pagamento foi embargado judicialmente. mas metade do material foi entregue. "Até hoje há seringas se estragando nos depósitos da cidade", diz o relator da CPI, Pierre Moraes (PDT).


Não é só no Brasil que grandes tragédias são vistas por pilantras como oportunidade de lucro. Nos Estados Unidos, constatou-se que houve desvio de pelo menos 1 bilhão dos 40 bilhões gastos após a devastação provocada pelo furacão Katrina.

Pagaram-se de ingressos para shows a custas de divórcios e até entradas em clubes de striptease com o dinheiro das vítimas.

Lá, centenas foram processados e muitos acabaram presos - algo que até agora não se viu por aqui. Mas, se serve de consolo, pelo menos o governo federal adotou alguma medida para tentar evitar mais lambança.

As prefeituras atingidas pelas chuvas deste ano receberão uma espécie de cartão de débito para usar os recursos federais. Assim, o governo espera poder acompanhar os gastos pela internet, via Portal da Transparência - e coibir no ato as irregularidades.

Em Friburgo, o cartão poderia ter ajudado a prevenir o desvio de 4,3 milhões de reais que a CGU está cobrando.
Mas não teria evitado a farra com o dinheiro das doações e do governo estadual.

Diz o procurador da República Marcelo Medina, que instaurou nove inquéritos contra a prefeitura de Friburgo:
"O ideal é que todos os gastos, e não só uma parte, sejam acompanhados on-line".

Enquanto não for assim, os abutres continuarão a bicar o dinheiro das vítimas.

Leslie Leitão/Veja

O NÓ DE 2012


Em conversas reservadas, os técnicos do Poder Executivo são praticamente unânimes em afirmar onde o bicho vai pegar este ano para a administração da presidente Dilma Rousseff, a ponto de incomodar o sono presidencial:
a pressão por reajustes salariais.

Além da campanha no primeiro escalão, apontada hoje na reportagem do Correio, há outras bem piores. O funcionalismo público prepara uma greve para tentar recompor a inflação acumulada de 2007 para cá — 24,5%, segundo as organizações dos servidores.

O funcionalismo está quieto desde 2007, quando um acordo com o governo previu reajustes até 2010. Mas, agora, diante da perspectiva de aumento zero em função da crise econômica externa e a necessidade de o governo conter seus próprios gastos, as associações e centrais de servidores vislumbram uma paralisação generalizada.

A presidente não se mostra interessada em ceder.
Tanto é que nem colocou no Orçamento os recursos necessários ao reajuste do Poder Judiciário e criou uma celeuma que não tem data para terminar.

Além disso, ainda existe o movimento dos policiais militares, conforme relatamos aqui no começo deste mês.

Para quem não acompanhou as notícias da primeira semana de janeiro, vale lembrar que houve a greve da PM do Ceará conforme noticiado em todos os jornais e comentado aqui. Naqueles dias, o governador Cid Gomes, diante de uma paralisação de policiais armados, acabou se rendendo e concedeu o reajuste.

O governo já detectou movimentos semelhantes no Amazonas, no Pará, e em mais quatro estados. No início deste mês, comentei aqui que, se a greve da PM eclodir em todo o país e os governadores se renderem, vai ser um levante geral em favor da PEC 300, aquela que equipara os salários dos policiais de todo o país com o que recebem os do Distrito Federal.

Na semana passada, ouvi de uma autoridade do governo que a aprovação da PEC 300 seria o caos.

No caso de Brasília, os salários são melhores porque o Distrito Federal conta com recursos da União para suprir despesas nas áreas de saúde, educação e segurança pública. Os estados da federação não têm esse suporte.

Além disso, qualquer reajuste da ordem do que pede a PEC 300 geraria um efeito cascata. Depois de PMs e bombeiros contemplados, seria a vez de outras categorias pedirem o mesmo. No Ceará, tão logo terminou a greve dos policiais militares, veio a da Polícia Civil.

Em relação ao Poder Executivo nacional, a aprovação da PEC 300 provocaria um efeito cascata, conforme detectado pelo próprio governo.
As Forças Armadas, por exemplo, imediatamente apresentariam um pedido por melhores salários.

O argumento para tal está definido e é justo:
um capitão ou sargento não poderia ganhar menos do que um oficial da PM que estivesse no mesmo nível hierárquico.

Por falar em hierarquia...
A presidente Dilma já avisou que quem manda no governo é ela. E, embora como demonstrou o Correio, algumas autoridades tenham salários elevados por conta de participação em conselhos, esse recurso é considerado a única maneira de atrair gente da iniciativa privada e de gabarito para trabalhar no segundo escalão.

Para completar, dizem técnicos do governo, se a presidente Dilma fosse conceder todos os pedidos de aumento, teria que arrumar mais R$ 40 bilhões. E não há de onde tirar tanto dinheiro.

Para completar, o ano é eleitoral e, se Dilma se render aos reajuste, dirão que foi para beneficiar os petistas. Por isso, conforme anunciado na reportagem de hoje, nem o aumento do segundo escalão deve sair, para desespero dos ministros que esperavam algum espaço para trazer gente de sua total confiança para cargos-chaves na Esplanada dos Ministérios.

Embora os ministros tenham perdido as esperanças, os servidores que aguardam a correção da inflação ainda vislumbram uma réstia de luz no fim do túnel. Eles torcem para que, lá na frente, a presidente Dilma acabe negociando algum dim-dim.

Afinal, se nem o corte orçamentário anunciado no ano passado ela cumpriu — em vez dos R$ 50 bilhões prometidos, cortou apenas R$ 21 bilhões — talvez não cumpra também a promessa de aumento zero.
Por isso, a pressão virá e será forte. Podem esperar.
Esse será o grande desafio da gestão pública este ano.

Por falar em gestão...
Os prefeitos de Minas Gerais não se cansam de telefonar para Brasília pedindo que o governo providencie uma operação tapa-buraco nas rodovias federais.

Alguns levantaram a hipótese de colocarem seu pessoal para fazer esse serviço, mas foram avisados pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) que não podem fazer isso porque a rodovia é federal.

Enquanto isso, você que paga seus impostos, que fique ilhado ou espere até que os burocratas se entendam...

Os prefeitos estão à beira de uma ataque de nervos e prontos para dar o grito de socorro de Fred Flinstone, trocando o V pelo D:
Dillllmaaaaa!

Denise Rothenburg Correio Braziliense

TUDO A VER : A NADA E COISA NENHUMA E O POVO BOBO


"Eu estou vendo a serpente nascer. Não posso calar". (Ministra Eliana Calmon, em defesa do Conselho Nacional de Justiça)


A presidente Dilma vai muito bem, obrigado. Manda lembranças. Pouco fez no seu primeiro ano de governo, é verdade. Mas deu a forte impressão de ter feito muito. De fato, é isso o que importa na Idade das Aparências. Estão aí as pesquisas de opinião para
atestar sua popularidade. Em resumo: dotado de fraca memória, no geral, o povo é bobo.

Ai dos governantes e dos políticos, em sua maioria, se o povo não fosse bobinho. E se não carecesse de boa memória. Por bobo, deixa-se enganar com uma facilidade espantosa. Por desmemoriado, esquece rapidamente em quem votou – e também as promessas que o atraíram.

E o mais notável: se perguntado, responderá conformado que político é assim mesmo e que política se faz assim em toda parte. Na próxima eleição, procederá da mesma forma. E até lá se dará ao desfrute de falar mal dos seus representantes como se nada tivesse a ver com eles.

Lances de marketing político à parte, o que Dilma entregou de concreto no ano passado? A primeira e a segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento avançaram devagar quase parando. Perguntem ao Movimento dos Sem Terra se a reforma agrária avançou alguma coisa.

No primeiro mês de governo, os mais apressados enxergaram indícios de uma possível mudança para melhor na política externa. Dilma parecia disposta a expurgar maus hábitos adquiridos nos oito anos de Lula. Hoje, ninguém está certo de que isso aconteceu.

Concebida para esclarecer crimes da ditadura militar de 1964, a Comissão da Verdade derrapou sem sair do lugar. Ampliaram de tal modo o período sujeito às suas investigações que ela não terá tempo razoável para investigar coisa alguma. Para completar, esvaziaram-lhe os poderes.

O governo foi bem na área da Saúde? Dos brasileiros ouvidos pelo Ibope na última pesquisa de 2011, 67% responderam que não. Foi mal também nas áreas de impostos (66%), segurança (60%), juros (56%) e combate à inflação (52%). A aprovação de Dilma, contudo, aumentou para 72%.

A presidente pode ir bem e seu governo não? Pode. Dilma foi eleita porque era "a mulher de Lula". Ainda é. A crise econômica que flagela parte do mundo não bateu em nossas praias. Tomara que não bata. Enquanto a vida não apertar, Dilma poderá se divertir montando e desmontando ministérios.

Nunca mais. A não ser...

Quem priva da intimidade de Lula garante sem deixar brecha para dúvida: uma vez que se recupere do câncer na laringe, ele jamais será candidato a cargo eletivo. Agradecerá a Deus por ter conseguido preservar a voz. Embora reconheça a fraqueza da carne, tudo fará para resistir à tentação de tomar uns tragos vez por outra e de fumar cigarrilhas.

Continuará funcionando como o principal conselheiro político de Dilma. E não abrirá mão de fazer política dentro e fora do PT. Mas é só. Eleição? Bem, concorrerá numa única hipótese: caso Dilma fracasse.

Ricardo Noblat O Globo

"GOZANDO" AS DELÍCIAS DAS MISSÕES INTERNACIONAIS : 'Tour' pago pelo Congresso

O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), e sua mulher, a deputada federal Marinha Raupp (PMDB-RO), fizeram, juntos, seis viagens internacionais nos últimos sete anos, sendo cinco delas custeadas pelo contribuinte.

As viagens incluem destinos como Japão, China e África do Sul, roteiros de sonho para qualquer casal, mas que a dupla de parlamentares transformou em realidade na forma de missões ao exterior, pagas com recursos do Legislativo.


Três viagens foram integralmente custeadas pelas duas Casas legislativas, enquanto as visitas ao Japão e à Alemanha renderam ônus apenas ao Senado.

Somados, os périplos do casal pelo mundo totalizam 144,2 mil quilômetros, ou três voltas e meia ao redor da Terra. Neste ano, o casal já está de malas prontas para o Catar.

Valdir Raupp não vê nada de errado nas viagens com a mulher pagas pelo Congresso, argumentando que muitas missões são desempenhadas em conjunto por senadores e deputados. "Se ela é deputada e pode participar, qual é o problema?"


As missões internacionais fazem parte da rotina parlamentar e contemplam roteiros tradicionais, como Assembleias Gerais das Nações Unidas e conferências da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

No entanto, o que chama a atenção no caso de Raupp e Marinha, casados há mais de 20 anos, é que as missões de ambos sempre coincidem, proporcionando ao casal "luas de mel" extraordinárias fora do Brasil.

A primeira viagem conjunta foi em 2005, quando passaram 12 dias na Coreia do Sul. O objetivo da missão era "melhorar as relações de amizade, cooperação de intercâmbio dos deputados e a expansão do intercâmbio econômico entre Brasil e Coreia", explicou a parlamentar no relatório apresentado à Câmara.

Ela relatou visitas a ministérios e ao parlamento coreano.
Mas sobrou tempo para conhecer a Província de Jeju, ponto turístico onde se encontra o vulcão adormecido na montanha Hallasan, patrimônio da humanidade.


No ano passado, o casal cruzou o Atlântico rumo à Alemanha.
Para proferir uma palestra sobre a Amazônia no parlamento de Renânia-Palatinado, na cidade de Mainz, agendada para 3 de novembro, Raupp pediu licença do Senado por 11 dias, de 27 de outubro a 6 de novembro.

O convite, intermediado pelo Consulado do Brasil em Frankfurt, foi dirigido ao senador, mas a deputada obteve autorização da Câmara para acompanhá-lo - sem ônus para a Casa, mas, igualmente, sem penalidade pelas faltas.

Mainz abriga a Catedral de São Martim, que atrai turistas de toda a Europa, e fica a apenas 20 quilômetros de Frankfurt.


Ainda no ano passado, em julho, Raupp e Marinha voaram para Johannesburgo, na África do Sul, a fim de participar da Africa"s Big Seven/Saitex, "uma das maiores feiras do setor alimentício do continente africano", esclareceu Raupp em discurso na tribuna.

Ele relatou que representou Rondônia no evento, quarto maior exportador de carne bovina do Brasil, e apresentou aos africanos o "avanço da tecnologia de produção".


Em janeiro de 2010, o casal viajou para a China a fim de conhecer a tecnologia do trem bala. A missão originou-se de um convite do Ministério dos Transportes chinês a deputados da Comissão de Viação e Transportes da Câmara. Raupp foi o único senador integrante da comitiva.

Dos cinco deputados que integraram a missão, apenas o presidente da comissão, Mauro Lopes (PMDB-MG), e Marinha tiveram as despesas integralmente pagas pela Câmara. Os outros deputados arcaram com as respectivas passagens.

Em abril de 2008, Raupp e Marinha voaram 18,5 mil quilômetros rumo a Tóquio para representar o País nas comemorações do centenário da imigração japonesa ao Brasil.

Mais uma vez, Raupp foi o único senador que fez parte da missão.
"É uma forma de ficarmos mais tempo juntos", arremata.


ANDREA JUBÉ VIANNA O Estado de S. Paulo

"ELE$ $Ó PEN$AM NAQUILO" : DEPUTADOS NO RINGUE DO MMA . A BANCADA DO OCTÓGONO .

O apelo do empresário Dana White, dono do UFC, conseguiu formar uma bancada no Congresso a favor das lutas de MMA.

Os congressistas querem regulamentar a modalidade para que tenha acesso a incentivos com verbas públicas

Próximos de Dana White, dono da marca UFC, parlamentares fazem lobby pelas lutas MMA até no Ministério da Justiça. A meta é regulamentar a modalidade para que ela tenha acesso a incentivos do governo

Habituado com a adrenalina dos campeonatos de luta que costuma acompanhar por todo o país, o senador Magno Malta (PR-ES) assistiu à chegada do meio-médio Paulo Thiago ao octógono da primeira edição do UFC Rio, em agosto do ano passado, ao lado do empresário Dana White.

Na ocasião, o todo-poderoso do Ultimate Fighting Championship (UFC) se desdobrava em atenções com um seleto grupo de celebridades e políticos que conseguiu atrair para o evento com muita habilidade social e envelopes de ingressos para a área VIP do HSBC Arena.

Foi um mimo luxuoso:
a zona de cadeiras mais próxima dessa ala de convidados teve entradas vendidas a R$ 1,6 mil. O lobby deu certo e hoje a bancada que defende o MMA no Congresso une de governistas, como o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), ao presidente do PSDB e deputado federal, Sérgio Guerra (PE).

O amparo dessa máquina, que vale só em direitos de televisão US$ 120 milhões, está garantido no Congresso. O apelo do esporte e o trânsito construído pelo empresário norte-americano entre os parlamentares conseguiram formar, no Parlamento, uma verdadeira bancada do octógono.

O deputado José Mentor (PT-SP) teve uma amostra do que significa estar no corner oposto a esse grupo. Em 2010, tentou aprovar um projeto de lei proibindo a transmissão de lutas não olímpicas na televisão. Não conseguiu avançar um milímetro.

Admirador do UFC, o deputado Fábio Faria (PMN-RN) relatou o projeto e conseguiu derrubar a proposta. "Levei atletas do MMA, exibi um vídeo mostrando cenas violentas no futebol, na Fórmula 1. Vão proibir a transmissão desses esportes também?", questionou Faria.

A atuação não se resume ao parlamento. Sérgio Guerra e Magno Malta lideraram um grupo de parlamentares que foi ao Ministério da Justiça, no ano passado, interceder para que não houvesse mudanças na classificação indicativa das transmissões de lutas de MMA.

"Fomos ao Ministério da Justiça explicar que não se trata de um esporte que estimula a violência, mas de uma atividade que gera emprego, gera renda, muda a vida dos atletas", diz o tucano.

O presidente do PSDB afirma ter sido apresentado ao universo das lutas pelo ex-senador tucano Arthur Virgílio, ele mesmo faixa-preta de jiu-jitsu e figura fácil — como expectador — nos campeonatos nacionais de artes marciais. Desde então, acompanha todas as edições possíveis do UFC, sempre a convite de Dana White.

Neoaliado do MMA

Ex-boxeador e antigo crítico do MMA, o deputado Acelino "Popó" Freitas (PRB-BA) aparou as arestas com a modalidade em jantar com White, em junho do ano passado.
"Ele (White) foi muito gentil, se lembrou de ter me visto lutar em 2002, em Las Vegas (EUA).

Conversamos muito sobre o esporte", relata o deputado. O ex-boxeador gostou tanto da conversa que, em novembro, apresentou à Câmara um projeto de lei regulamentando a prática do MMA.

Agora, Popó pretende ser o padrinho de uma confederação que pretende unificar as entidades representantes dos lutadores no país.

O passo seria fundamental para que os praticantes da modalidade tenham acesso a recursos de programas federais de apoio ao esporte, como o Bolsa-Atleta, que terá orçamento de R$ 80 milhões em 2012, segundo estimativa do Ministério do Esporte.


KARLA CORREIA Correio Braziliense