"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 18, 2013

QUEM NÃO TE CONHECE QUE TE COMPRE : Só A MAIS PREPARADA 1,99 não ouve o barulho


Dilma Rousseff comandou ontem mais um espetáculo de alheamento da realidade. Apresentou ao chamado "Conselhão” um diagnóstico tão róseo e edulcorado da situação do país que deve ter feito os participantes do encontro corar de constrangimento. A presidente mostra-se surda ao barulho que emana de um Brasil mergulhado em dificuldades.

A primeira coisa que se espera de um governante – supondo-se sua boa-fé e suas boas intenções – é que faça uma leitura precisa dos problemas, a fim de encontrar caminhos menos penosos para solucioná-los. É justamente o que Dilma recusa-se a fazer: quando o calo aperta, a presidente sempre envereda pela mistificação.

Foi o que ela exercitou na reunião de ontem do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Pelo que Dilma afirmou ao longo de 52 minutos de discurso, o país está com inflação controlada, com as contas públicas em ordem, com boas perspectivas econômicas. Tudo o que não condiz com a avaliação oficial é fruto da maledicência de incorrigíveis pessimistas.

Pelo que a presidente disse, a escalada de preços que se vê no país não deve ser problema para ninguém. Afinal, "vamos fechar o ano com a inflação dentro da meta”. Não, não vamos: o alvo estipulado pelo Banco Central é de 4,5% e, nem neste nem em nenhum dos quatro anos da gestão Dilma, a meta será atingida.

Há anos, a inflação brasileira mantém-se perigosamente próxima do limite superior da banda de flutuação que o nosso regime prevê para situações de emergência. Ou seja, o que era para ser conjuntural passou a ser estrutural: os preços no país continuam subindo a um ritmo próximo a 6% ao ano. Isso não pode ser considerado normalidade nem aqui nem na China.

Em 10 dos 30 meses da gestão Dilma transcorridos até agora, a inflação brasileira furou o teto. Atualmente, o acumulado em 12 meses está em 6,7%. No caso dos serviços, a média sobe para 8,5%. Mas a situação é pior nos itens que mais pesam na cesta de consumo dos mais pobres: em um ano, os alimentos acumulam aumento de 12,8%, segundo o IBGE.

"Não entender tal coisa, que gasto com comida é tanto mais pesado quanto mais pobre o cidadão, atribuindo o pessimismo a 'forças ocultas', é de fato entender muito pouco de gente e de 'voz das ruas'”, comenta Vinicius Torres Freire na Folha de S.Paulo.

Se, na visão de Dilma, a inflação não assusta, o pibinho, menos ainda. A presidente ontem pelo menos se eximiu de fazer prognósticos furados sobre o desempenho futuro da nossa economia, deixando-os para o especialista Guido Mantega. Mas pululam entre analistas projeções que nos alinham, mais uma vez, entre os países com pior desempenho no mundo neste ano: entre os sul-americanos, só superaremos a Venezuela.

A presidente reputa a percepção negativa sobre o cenário econômico atual a um "ambiente de pessimismo”. Se crê mesmo nisso, deveria começar a procurá-lo dentro do próprio Banco Central de seu governo. Ou, pelo menos, ler o que está escrito nas atas do Comitê de Política Monetária sobre a economia como um todo e a respeito da inflação brasileira em particular.

No documento divulgado nesta manhã, referente à reunião que elevou a Selic a 8,5% ao ano na semana passada, está dito, no item 26: "O nível elevado de inflação e a dispersão de aumentos de preços – a exemplo dos recentemente observados – contribuem para que a inflação mostre resistência”.

E no item 32: "A política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação como o observado nos últimos doze meses persistam no horizonte”.

Se a inflação fosse um fantasma ou um "barulho” produzido num "ambiente de pessimismo”, como quer Dilma, o BC não precisaria ter elevado, por três vezes seguidas, a nossa Selic e o Brasil não estaria novamente na iminência de exibir-se ao mundo na condição de país onde se cobram as mais altas taxas de juros reais do planeta – só falta passar a China, mas já já a gente chega lá...

A presidente também tentou convencer o distinto público que as contas públicas de sua gestão estão absolutamente sob controle. Não estão. Tome-se o superávit primário, medida que sintetiza a solidez fiscal do governo: nos 12 meses terminados em maio, foram economizados apenas 1,6% do PIB, ante uma meta que é de 2,3%.

Dilma diz que a dívida líquida do país está caindo, mas omite que isso só tem sido possível por causa de uma manipulação sem tamanho dos dados – a ponto de nem o BC usar mais as estatísticas oficiais, como mostrou o Valor Econômico há duas semanas. E se esquece (será?) que a dívida bruta brasileira está aumentando muito e já é a mais alta entre os países em desenvolvimento, conforme informou O Estado de S.Paulo em fins de junho.

Dilma Rousseff parece deter uma visão peculiar das coisas: "O barulho tem sido muito maior que o fato”, disse. Talvez só ela enxergue o que ninguém mais vê: um país que cresce e se desenvolve, uma inflação que não encarece os alimentos, investimentos acontecendo aos borbotões, consumidores e empresários confiantes, um Estado ajustado e eficiente, serviços públicos prestados com "padrão Fifa”. Ou, talvez, a presidente esteja sendo acometida por uma surdez crônica e um irrealismo incorrigível.

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Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica
estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

Inadimplência cresce 5,6% no primeiro semestre

A inadimplência do consumidor aumentou 5,6% no primeiro semestre, segundo o Indicador Serasa Experian. A pesquisa revela que, apesar da alta, essa é a menor variação verificada nos primeiros seis meses do ano desde 2011, quando o aumento dos inadimplentes chegou a 21,6%. Na comparação mensal, entre junho e maio, o índice recuou 4%. 

Para os economistas da entidade, os dados indicam que o consumidor está mais cauteloso.

Já a Fundação Getulio Vargas e o Conference Board, instituto privado americano ligado à pesquisa e consultoria em negócios, informaram que a economia brasileira caminha para uma desaceleração no curto prazo, embora ainda seja prematuro falar em recessão. As instituições lançaram o Indicador Antecedente Composto da Economia (Iace), que tenta prever o início de ciclos recessivos. O índice mostrou recuo de 0,6% em junho, em relação ao mês anterior.


Segundo o economista Paulo Picchetti, da FGV, a economia brasileira passa pelo fim de um período sustentado pelo consumo privado, ao mesmo tempo em que, externamente, já não conta com o mesmo impulso da China, que também vive uma desaceleração:
- É um sinal amarelo, principalmente depois de termos um PIB decepcionante, uma queda forte da produção industrial em maio e já que não há sinais de uma retomada inequívoca.
O novo índice é formado por oito componentes que vão desde indicadores do mercado financeiro, juros futuros a exportações.

Bart Van Ark, do Conference Board, mostrou uma visão menos otimista a respeito da economia brasileira. A entidade revisou de 2,5% para 2% a perspectiva de crescimento para o país neste ano, abaixo da previsão de desempenho da economia mundial de 3%.
O Globo

Qual meta?



Disse ontem a presidente Dilma: 
"Temos certeza que vamos fechar o ano com a inflação dentro da meta."
Diz o Conselho Monetário Nacional:
 a meta de inflação é de 4,5%, considerando-se o índice do IBGE (o IPCA).
Logo, o Brasil chega a dezembro de 2013 com a inflação em 4,5%, certo?

Errado. 
Quer dizer, não é bem assim. 
Começa que ninguém, nem mesmo no governo, acredita que o IPCA termine o ano naquele nível.
 O próprio Banco Central, justamente o encarregado de acertar a meta, se compromete com um objetivo mais folgado:
 alcançar uma inflação menor que a do ano passado, que foi de 5,84%. Estará feliz com uns 5,80%, que é consenso entre analistas fora do governo.

Isso significa que a presidente, digamos, faltou com a verdade?
Bem, quer dizer, tem aqui um joguinho de palavras ou de conceitos. 
A mesma resolução do CMN que fixa a meta de 4,5% acrescenta:
  "com intervalo de tolerância" de dois pontos para mais ou para menos.

Quem for ao site do BC, encontrará informação com o mesmo conteúdo. 
Meta: 
4,5%; banda, 2 pontos.

A regra, portanto, é clara. 
Os dois pontos são extrameta, uma margem para acomodar momentos excepcionais em que ocorram eventos inesperados, fora do alcance dos controles do BC.

Pode ser desde uma guerra entre países do petróleo ou uma escassez de alimentos, eventos que provocam altas de preços. Nesses casos, em vez de agir imediatamente elevando juros, o BC topa conviver algum tempo com a inflação elevada.

Mas, pela lógica do sistema e pela prática mundial, inclusive brasileira, isso é necessariamente provisório. O BC deve organizar suas políticas para logo buscar de novo a meta.

Ocorre que a inflação no governo Dilma foi de 6,5% em 2011 e de 5,84% em 2012. Pela regra, comenta-se assim: 
a inflação esteve acima da meta, mas dentro do intervalo ou banda de tolerância.

Mas aqui entra o jogo oficial de palavras: da presidente aos ministros e ao BC, passou-se a dizer que os 4,5% são o "valor central" de uma meta que vai até 6,5%. Torturaram a regra e a deixaram meio grogue.

Por isso que a presidente Dilma não dá o número. 
Ela diz que vamos ficar "dentro da meta". 
Só pela linguagem governamental passada e presente, pode-se concluir que é qualquer coisa abaixo de 6,51% - e este é o novo objetivo oficial.

Mas por que estamos discutindo estes quase detalhes? 
Na verdade, a presidente tenta passar a conclusão de que a inflação está sob controle e em níveis aceitáveis.

Não está. 
Começa que os 4,5% já constituem uma meta elevada. Nos países emergentes, em geral, não passa de 3% - e vem sendo cumprida na maior parte dos casos. Aqui na vizinhança da América Latina, o nível mais alto depois do Brasil é do México, com 4% ao ano. 
(Claro, Argentina e Venezuela não contam, pela desorganização, assim como outras nações, como a Índia, pelo histórico de inflação elevada).

Além disso, uma inflação rodando a 6%, por tanto tempo, é danosa para a economia brasileira. Querem saber por quê? 
Basta dar uma lida nos documentos recentes do BC, nos quais a instituição explica por que resolveu iniciar um processo de alta de juros. Se a inflação estivesse confortável e sob controle, o BC não precisaria elevar juros, não é mesmo?

No mesmo discurso de ontem, a presidente Dilma reclamou do "ambiente de pessimismo", criado a partir de suposta exploração de informações parciais e em "desrespeito aos dados, à lógica".

Pois em nome da clareza também seria bom para o debate que a presidente explicitasse a que meta de inflação se refere. 
Isso faz muita diferença. 
Por exemplo: 
se 6% ou 6,5% ao ano estão dentro da meta, então o BC está errado em aumentar os juros.

Por outro lado, se a meta é mesmo 4,5%, a taxa de juros precisa subir mais forte - e isso afetaria consumo e produção.
É exatamente a crítica que se tem feito ao governo: 
a falta de clareza na definição dos objetivos e na execução de política econômica.

E por falar em ambiente: 
todos os recentes índices de confiança, baseados em pesquisas junto ao consumidores e empresas, mostraram um aumento do pessimismo em relação à situação atual e futura da economia.

Estarão todos equivocados? 
Seriam todos vítimas dos críticos parciais? 
Ou seria melhor admitir que as pessoas sabem de si e de sua situação?

Insuportável
É evidente a necessidade de uma reforma tributária, se diz nos EUA: quem pode lidar com uma Receita Federal cujas regras ocupam 72.536 páginas (dado de 2011)?
Bom, se a gente considerar dez regras por página, teríamos 725 mil normas e uns quebrados.

Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, foram editadas no Brasil, desde a Constituição de 88, nada menos que 4,4 milhões de normas tributárias.

Carlos Alberto Sardenberg O Globo

Rombo de US$ 2 bi


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicPhwoy-M2ubd2jIiCLZ8BsZlrihGAzFHjJMPOR4Nz7d82i8YX9Ik1sxIDvBA6Zq3TDte70JJBZpkHgNsp6iEBxO71zEimVMhLJ2tJwtwse0VEysq-qWP-XZoQ8P3ZDI_baHubgS06lr1V/s320/dilma13.jpg

Nem a recente alta do dólar poderá salvar o país de um saldo negativo na balança comercial em 2013. A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) acaba de revisar suas projeções e passou a prever déficit de US$ 2 bilhões este ano. Antes, esperava um superávit de US$ 14,6 bilhões. Se a previsão se concretizar, será a primeira vez desde 2000, quando as importações superaram as exportações em US$ 731 milhões, que a conta comercial fechará no vermelho. No ano passado, o resultado positivo foi de US$ 19,4 bilhões.

O presidente da AEB, José Augusto de Castro, lembrou que a cotação das commodities, que representam 65% das exportações brasileiras, está em queda no mercado internacional. Por isso, o câmbio não vai ajudar as estatísticas. "Nos manufaturados, poderia haver um ganho, mas o atual patamar do dólar ainda é insuficiente para elevar a competitividade dos produtos nacionais. Além disso, a volatilidade da taxa cambial traz incerteza. Se houver impacto, será apenas em 2014" afirmou. 


Pela nova perspectiva da associação, as importações totais devem crescer 4,2% em 2013, para US$ 232,5 bilhões. Esse valor é 0,9% maior do que os US$ 225 bilhões projetados anteriormente. A estimativa para as exportações teve um corte de 1,2%, passando de US$ 239,7 bilhões, para US$ 230,5 bilhões —queda de 5% na comparação com o ano passado.
Petróleo

Castro destacou ainda que, até junho, a quantidade de petróleo exportada caiu 43%, e o preço recuou 11%. Ele recordou também que US$ 4,5 bilhões de importações realizadas em 2012 foram contabilizadas somente em 2013, o que contribuirá para o saldo negativo do ano. A AEB prevê aumento de 9,2% nas importações de petróleo em 2013, para US$ 38,5 bilhões, e de 11,9% nas compras dos demais combustíveis, para US$ 14,9 bilhões.

ROSANA HESSEL Correio Braziliense -