"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 04, 2010

A LUTA CONTINUA E O AUTORITARISMO PERMANECE NO HORIZONTE.


Escrevo este artigo antes da abertura das urnas. Mas o quadro nacional, independentemente do resultado das eleições, desperta graves preocupações.

O presidente Lula começa a descer a rampa do poder.
Em janeiro, agasalhado por uma popularidade sem precedentes, cravará seu nome na história.

A caneta, no entanto, mudará de dono.

O Brasil melhorou.
Mudamos de patamar.
Tal desempenho, apropriado sem pudores pelo governo petista, decorreu de um cenário internacional muito favorável ao Brasil.

Mas, internamente, é, em parte, uma consequência das políticas sociais adotadas pelo governo.

O Bolsa Família foi um instrumento de promoção social.
Mas é preciso que essa ferramenta de inclusão seja a porta de entrada da cidadania.
E isso não aconteceu.

Os programas sociais renderam milhões de votos, mas não fizeram cidadãos.
Só a educação é capaz de transformar eleitores de cabresto em pessoas livres e conscientes.

A última fase do governo Lula, marcada por constantes episódios de corrupção, cumplicidade com oligarquias nefastas e manifestações de desprezo pelas liberdades públicas, vai ganhando contornos de um indesejável populismo autoritário.

O lulismo que se avizinha lembra muito o peronismo que empurrou a Argentina para o lusco-fusco do desenvolvimento.

Recente manifesto de juristas, intelectuais e artistas, divulgado em São Paulo, no Largo de São Francisco, acendeu a luz amarela no cenário da nossa democracia.

O país vive um caudilhismo que se impõe assustadoramente”, declarou José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça de Lula. Na certeza da impunidade, (Lula) já não se preocupa mais nem mesmo em valorizar a honestidade”, disse Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT.

É o grito de lideranças insuspeitas.
Gente que lutou contra a ditadura denuncia o presidente da República como demolidor das instituições.

Na verdade, cabe à imprensa um papel fundamental na salvaguarda da democracia.

O presidente da República, seu partido e sua candidata, independentemente das declarações de ocasião em favor da liberdade de imprensa, resistem ao contraditório e manifestam desagrado com o exercício normal das liberdades públicas.

Não é de hoje a fina sintonia do petismo com governos autoritários.
O Foro de São Paulo, entidade fundada por Lula e Fidel Castro, entre outros, e cujas atas podem ser acessadas na internet, mostra que não há acasos.

Assiste-se, de fato, a um processo articulado de socialização do continente de matriz autoritária.
E o presidente da República é um dos líderes, talvez o mais expressivo, dessa progressiva estratégia de estrangulamento das liberdades públicas.

A fórmula Lulinha paz e amor acabou.

Agora, com o Estado aparelhado, o Congresso dominado (a aliança governista terá ampla maioria no Legislativo) e a imprensa fustigada, o lulismo mostra sua verdadeira cara: o rosto do caudilhismo.

Tentativas de controle dos meios de comunicação, flagrantemente inconstitucionais, serão repudiadas pela imprensa séria e ética, pelos formadores de opinião (que não vendem suas consciências em balcões de negócios) e pela sociedade.

CARLOS ALBERTO DI FRANCO, diretor do Master em Jornalismo (www.masteremjornalismo.org.br), professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco — Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com).