"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 12, 2012

CADA FARINHA NO SEU SACO


O maior desejo do PT é transformar o escândalo do mensalão em conto da carochinha. O segundo maior é fazer colar na sociedade a impressão de que todas as forças políticas são iguais e nivelam-se por baixo.

São estas as teses que o partido de Lula, Dilma e José Dirceu irá tentar fazer prosperar na CPI do Cachoeira.


Desde que veio a público, em maio de 2005, o mensalão assombra o PT. Feita por um dos maiores aliados dos petistas à época, a revelação de que o governo Lula funcionava à base da compra descarada de votos no Congresso desnudou a aura de moralidade que, por anos, acompanhara o partido.

Anos de investigações e um devastador parecer da Procuradoria-Geral da República acabaram por revelar em detalhes o funcionamento da "organização criminosa", com a participação de dezenas de próceres petistas. Mas, para o PT, isso nunca passou de uma "conspiração" das elites, da mídia, da oposição.

O partido sempre contemporizou com os acusados, deu-lhes apoio institucional e cargos de relevância no governo. Jamais puniu quem quer que fosse. Compactuou, recorrentemente, com os que se locupletaram com o dinheiro sujo, vindo, inclusive, dos mesmos jogos de azar de Carlinhos Cachoeira.

Mas a principal preocupação dos petistas, vocalizada, principalmente, pelo ex-presidente Lula, sempre foi fazer prosperar na sociedade a tese de que o mensalão foi uma "farsa", uma desimportante operação de contabilidade paralela de contas de campanha eleitoral. Nesta estratégia, interessa, especialmente, atrapalhar, postergar e azucrinar o julgamento do caso no STF, previsto para ocorrer neste ano.

O PT espera usar a CPI do Cachoeira neste seu estratagema, como ficou muito claro ontem, mais uma vez, com o discurso de Rui Falcão, presidente do partido. Para ele, a comissão servirá "para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão", informou O Globo.

Não:
a CPI cuidará de investigar como gente do mundo político se relacionou com - e, em alguns casos, se vendeu a - um contraventor cujas ligações com os petistas são íntimas desde a época do mensalão.


Senão, vejamos:
até agora, afora o envolvimento do senador Demóstenes Torres, prontamente expurgado pelo DEM dos quadros da oposição, são petistas ou seus aliados os principais implicados na teia de corrupção tecida pelo bicheiro baseado em Goiás.


O mais graúdo destes envolvidos é o governador petista do Distrito Federal. Aliás, ligar o nome de Agnelo Queiroz, agora alcunhado "01", a escândalos já se tornou redundância. Hoje, os jornais - com destaque para a Folha de S.Paulo - publicam farto material com suspeitas de que sua desgovernada gestão é alimentada por propina paga por uma empreiteira.

A mesma empresa, a Delta Construções, é, também, a maior beneficiária do PAC e foi a empresa que mais recebeu recursos do governo federal nos últimos três anos: R$ 2,43 bilhões desde 2009, segundo O Estado de S.Paulo.
Surgem, daí, indícios de que as portentosas cifras que acompanham o programa podem servir para algo distinto da construção de obras, que, de resto, nunca ficam prontas mesmo.


Na lista de petistas muito enrolados, há também auxiliares de Agnelo e um assessor direto da ministra Ideli Salvatti, outro nome do governo do PT que rima com escândalo e que terá, agora, de explicar no Congresso a compra suspeita de lanchas fantasmas. E há, ainda, o deputado comunista e ex-delegado Protógenes Queiroz.

Não custa lembrar que esta animada ponte aérea PT-Cachoeira é ativa há muito tempo. O contraventor quase conseguiu emplacar a legalização dos jogos de azar no país:
a proposta foi defendida pelo Planalto lulista em 2004 e só foi abortada depois que Cachoeira protagonizou vídeo em que é achacado por Waldomiro Diniz, assessor de José Dirceu na Casa Civil.

Está evidente que o PT pretende manobrar a CPI do Cachoeira e embaralhar o jogo do mensalão. É um escárnio que o partido cujo governo afogou-se em seguidos casos de corrupção ao longo dos últimos anos pretenda acuar a oposição, fazendo dela o suposto alvo das investigações.
É o PT fazendo o que mais gosta:
juntar no mesmo saco farinhas que não se misturam.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Cada farinha no seu saco

171 ? Provarei que sou inocente, diz Demóstenes

O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) participou na manhã desta quinta-feira da reunião do Conselho de Ética da Casa. Demóstenes chegou de surpresa, sorridente, cumprimentou os colegas e falou pela primeria vez dizendo que vai provar sua inocência.

Usando seu conhecimento do Regimento interno do Senado e sua experiência de jurista, Demóstenes tenta obstruir o processo contra ele no conselho. Ele questionou a escolha de do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) como presidente interino, sem eleição, usando como critério o fato de ser o mais velho. Ele disse que apresentará sua defesa prévia por escrito:

- Quero provar minha inocência no mérito. Provarei que sou inocente disse o senador, que falou pela primeira vez após divulgação de sua ligação com Carlinhos Cachoeira.

O colegiado vai escolher, por sorteio, ainda nesta manhã o relator do processo por quebra de decoro parlamentar.

Sem conseguir convencer nenhum senador a aceitar o cargo, o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), anunciará oficialmente que o partido abre mão da presidência do colegiado. O processo de quebra de decoro contra Demóstenes será presidido pelo senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) , que ocupava a função interinamente.

Renan tentou, sem sucesso, convencer os senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Waldemir Moka (PMDB-MS) de ocupar a presidência do colegiado.

O Globo

BECO SEM SAÍDA ! Investigação já põe PT em colisão com PMDB

Um dia depois de anunciar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as ligações políticas do contraventor Carlinhos Cachoeira, o Congresso e o Palácio do Planalto tomaram um susto com o alcance das investigações, que ameaçam expoentes do governo, da oposição, dentro e fora do Executivo, em Brasília e nos Estados, e pode atingir uma forte doadora de campanha do PMDB e com negócios em vários Estados:
a
DELTA CONSTRUÇÕES .

Com isso, PMDB e PT entraram em rota de colisão. Apesar do clima de arrependimento, no entanto, já não havia espaço para brecar a CPI.
"Agora não dá mais para segurar.

Avançamos demais, e não tem retorno", avisou o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), a petistas que ensaiavam um recuo na quarta-feira.

"Eu avisei... Esses caras são irresponsáveis", desabafou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que na véspera recebera em seu gabinete o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), para propor a criação de uma CPI mista das duas Casas do Congresso.


"Estamos numa enrascada que não tem fim", queixou-se um dirigente do PT, defendendo a tese de que é preciso dar um jeito de "melar" a CPI.

O líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), disse que a única alternativa para reduzir o estrago, a esta altura, é limitar o objeto da CPI ao senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e à arapongagem.

Enquanto os petistas reclamavam da falta de articulação do Planalto, que deixou a CPI correr frouxa, aliados diziam que só voltam atrás se houver um pedido público da presidente Dilma Rousseff.


"Ninguém queria ficar com o ônus da recusa e a ideia da CPI acabou vingando no jogo do deixa que eu deixo", diz o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB). "O governo não acreditava que topássemos e nós não achávamos que ele levaria isso adiante".

?Vingança?

Quando a CPI começou a ser discutida, os alvos eram o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o senador Demóstenes - em grande parte porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca uma espécie de "vingança política" contra Perillo.

O que assustou foi a rede de contatos e negócios de Cachoeira, que percorre prefeituras goianas comandadas por vários partidos e avança de Goiás para o Centro-Oeste, o Sudeste e o Nordeste.


A empresa Delta, que tem vínculos com integrantes do esquema de Cachoeira e entrou na mira da CPI, também tem negócios com o governo federal, com governadores do PMDB, do PSDB e do PT e com prefeituras de vários partidos.

Isso explica a irritação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que foi a Brasília e reclamou da CPI.

CHRISTIANE SAMARCO E EUGÊNIA LOPES O Estado de S. Paulo

APERTEM OS CINTOS ! HERANÇA DO CACHAÇA : PAÍS RICO CORRUPTO E MISERÁVEL

O piloto sumiu.
Pelo menos, ao que tudo indica, não é o piloto oficial (ou será a piloto? Ou pilota?) que está no comando, mas seu tutor político, que acaba de armar uma grande confusão com a intenção explícita de derrotar um adversário, o governador goiano Marconi Perillo, do PSDB, e, quem sabe, conseguir embaralhar o julgamento do mensalão.

Perillo estava na lista negra de Lula desde quando anunciou que avisara o presidente que estava em curso um esquema de compra de apoios políticos no Congresso que depois veio a ser conhecido como o mensalão.

O ex-presidente dedicou-se na eleição de 2010 não apenas a eleger a sucessora saída do bolso de seu colete, mas a derrotar políticos da oposição que por alguma razão caíram em sua desgraça:
os senadores Heráclito Fortes, Arthur Virgílio e Marco Maciel não conseguiram se reeleger, enquanto outros dois escaparam da sanha presidencial:
o senador Agripino Maia não só se reelegeu como a candidata de seu partido ao governo no Rio Grande do Norte ganhou a eleição, e o senador Marconi Perillo elegeu-se governador de Goiás.

Agora, está prestes a receber o troco lulista, embora até o momento haja menos evidências contra ele do que, por exemplo, contra o governador petista de Brasília Agnelo Queiroz. Mas, como Goiás parece ser um domínio amplo de Carlinhos Cachoeira, a ponto de a ministra do Superior Tribunal de Justiça Laurita Vaz ter se declarado impedida de julgar o habeas corpus do bicheiro simplesmente por ser goiana, tudo é possível acontecer.

Perillo já dissera que não havia no estado quem não tivesse tido relacionamento social com Cachoeira. É nesse clima de incertezas que a CPMI será aberta, relembrando outra CPI do Senado sobre os bingos, conhecida como a do fim do mundo, designação cunhada pelo presidente Lula, o mesmo que agora está por trás dessa nova CPMI.

Convocar uma CPI sempre foi instrumento das minorias, e por isso todo governo, petista ou tucano, tenta barrá-las quando tem a maioria para controlar as decisões do Congresso. Desta vez, é a maioria petista que está querendo a CPMI, sob os auspícios dos presidentes das duas Casas, deputado Marco Maia e senador José Sarney, influentes líderes da base aliada, o que está causando espanto entre as lideranças políticas.

Como Lula tem fama de ser invencível estrategista político, cumpre-se a sua ordem. Mas que muita gente está com um pé atrás, isso está.

Não houve uma rebelião de partidos aliados nem foi uma maioria pontual da oposição no Senado - como aconteceu com a antiga CPI dos Bingos - que convocou a CPMI, mas um movimento de bastidores alimentado por Lula na sua fome de vingança contra o governador de Goiás e tentativa desesperada de criar um fato político que possa influenciar a decisão do Supremo sobre o mensalão.

A manobra arriscada revela o temor de que o julgamento do STF acabe por confirmar o que os governos petistas querem apagar da História, a compra de apoio político pelo maior esquema de corrupção já descoberto no país.
A presidente Dilma, enquanto esteve no comando, mantinha-se na firme disposição de não autorizar a CPI e queria até demitir o assessor palaciano apanhado em ligações telefônicas com o braço-direito de Cachoeira.

A mistura de atividades legais e ilegais do bicheiro facilitou uma desculpa de apoio político na eleição ao assessor palaciano, que continua no cargo depois de chorar copiosamente assumindo sua culpa para o ministro Gilberto Carvalho, mas revela que o estado de Goiás pode estar dominado pela máfia do jogo do bicho e dos caça-níqueis em todas as instâncias políticas e institucionais.

Além do fato de que a quadrilha de Cachoeira tem muitos tentáculos, e multipartidários, a CPMI pode acabar ampliando seu foco de ação como ocorreu com a dos Correios, que acabou alcançando o mensalão, ou a dos Bingos, que terminou na demissão do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, confrontado com as declarações do caseiro Francenildo.

Num momento em que a base está em crise, sem encontrar seu ponto de equilíbrio e sem entender as reais intenções da presidente Dilma. Ontem mesmo houve uma rebelião, e a convocação da ministra das Relações Institucionais para explicar a esquisita compra de lanchas para o Ministério da Pesca foi aprovada, com o apoio de deputados do PP, do PR e do PMDB.

Nada melhor do que uma CPMI para avivar as rivalidades, especialmente entre o PMDB e o PT. Enquanto os petistas querem tirar proveito político da Comissão Mista para deixar apenas com a oposição os danos das relações promíscuas entre o bicheiro e os políticos, não é impossível que em algum momento a oposição receba o apoio de parte da base aliada para colocar o PT em situação delicada.

Vamos assistir a uma verdadeira briga de foice no escuro, e mesmo o ano eleitoral poderá, em vez de reduzir, aumentar o nível de tensão da CPMI.

Não é demais lembrar que as CPIs anteriores entraram pelo ano eleitoral de 2006 adentro. Nunca a frase feita que diz que CPI todo mundo sabe como começa e não sabe como termina foi tão apropriada quanto hoje, com a classe política em crise tão forte que o ambiente é "de vaca não reconhecer bezerro", outra frase do mundo político muito usada em situações como as de hoje.

Merval Pereira/O Globo
Apertem os cintos